Capítulo 5: Prelúdio |
“Quintessência... encontre a si mesmo”
A criatura monstruosa se revelou perante os três. Ken
e Joji estavam firmes; porém Shizuka estava espantado. Era uma criatura
deformada de cor marrom, com grandes braços.
JOJI – Você não tem limites mesmo, Kido? É
capaz de vender sua alma para acabar comigo?
CRIATURA – Eu vou te levar comigo, Joji! Vou te
levar para o inferno para que faça companhia ao seu irmão!
JOJI – Isso só prova a sua mediocridade, Kido! Meu
irmão não está no inferno!
CRIATURA – Como você pode ter tanta certeza?
JOJI – Eu sei.
A criatura, outrora o criminoso conhecido como
Kido, avançou contra os três, que saltaram para direções distintas. De dentro
do carro mal se escutava algo, já que as janelas estavam fechadas. Kaname
decidiu pegá-lo e se afastar por segurança ao ver aquela cena bizarra cujo
relato dificilmente teria credibilidade.
KEN – Você sabe no que se envolveu, criatura?
CRIATURA – Isso pouco me importa, eu só tenho um
objetivo! (e avançou contra Ken, que
desviou)
A criatura seguia avançando contra cada um dos
três, sem qualquer sucesso. Enquanto isso, uma figura vestida formalmente de
negro observava a uma certa distância, de modo que não podia ser notada pelos
envolvidos. Era um rapaz misterioso de longos cabelos negros, pele um pouco
parda, esguio e alto.
Enquanto isso, a criatura ficava cada vez mais
furiosa. Sua ira consumia cada vez mais o seu corpo, e o fazia se mover mais
lentamente.
SHIZUKA – Tudo isso parece loucura. Eu nunca
vi nada assim: uma coisa disforme que se move pela força do ódio... será que
não percebe?
KEN – Sim... isso afeta a ordem natural das
coisas... Um espírito não deveria adotar tal postura por conta do rancor. Por
que não busca se redimir de seus erros?
CRIATURA – Já não tenho mais nada a perder! Tudo o
que quero é me vingar do Joji Sasaki por ele ter destruído tudo aquilo que
planejei!
De repente, o tal rapaz misterioso se revela,
posicionado contra o sol, perante aquele combate. Não é nítido o seu rosto, mas
a sua silhueta pode ser enxergada, enquanto seus longos cabelos balançam.
RAPAZ – Marionete patética... sequer sabe lutar, ou
usar o corpo novo que recebeu... sua falha não atingiu o propósito, porém valeu
a experiência... A humilhação que você passa sequer é divertida; talvez seja
melhor enviar você à penitência eterna.
CRIATURA – O quê?! Mas quem é você?
Com o movimento do braço, o rapaz fez surgir uma
espécie de corrente que fez sibilar no ar e, para a surpresa de todos, atingiu
a criatura; de imediato destroçando aquela deformidade ali, que explodiu e se
desintegrou num fulgor tão veloz quando o movimento da corrente de volta a mão
do seu usuário.
KEN – Quem é você?
RAPAZ – Não adianta explicar agora, vocês nunca
entenderiam. Mas posso ver que nos encontraremos novamente.
SHIZUKA – O quê? Mas por que?
JOJI – Ele não me parece estranho...
RAPAZ – Já estive nos seus sonhos, Joji Sasaki.
Conheço você e o Dr. Igarashi muito mais do que pensam. Mas terei de fazer um
dever de casa referente a este rapaz com vocês. Agora, com sua licença...
Tão súbito quanto surgiu, o rapaz desapareceu.
Qualquer um juraria que ele se tornou pó e sumiu com o vento, deixando os três
incrédulos. Logo perceberam que, por algum motivo, não estavam mais usando as
armaduras.
SHIZUKA – Acho que vou enlouquecer...
JOJI – Não vai, não. Pode nos acompanhar?
Shizuka se calou pela dúvida. Não sabia o que
responder, nem como reagir àquilo. Muitas coisas acontecendo em tão pouco
tempo, como se não bastassem a ele todas as questões pessoais pelas quais havia
passado até então. Ele olhou para o rosto imponente de Joji, e em seguida, o
sorriso gentil de Ken, e assentiu com a cabeça. Ken se aproximou dele e apoiou
o braço em seus ombros.
KEN – Pessoas sempre serão pessoas, doutor. Conte
conosco sempre.
E lá se foram os três para o carro de Joji, onde
Kaname e Kokoro esperavam para voltarem para casa.
Na região norte da cidade, havia uma enorme
propriedade bastante conhecida por conta de um roseiral que a rodeava. Era como
o reino da Rainha de Copas do País das Maravilhas. As rosas carmesins eram
vívidas e majestosas, e diversos operários as cultivavam dia após dia. No
centro, havia uma mansão construída no pós-guerra, ainda nos tempos do
Imperador Showa. A mansão era amarela de aspecto diferenciado, provavelmente
inspirado em arquitetura europeia. Pelo conjunto de tudo, ela era conhecida
como a Mansão das Rosas Vermelhas. Em seu interior, havia uma belíssima e
luxuosa decoração, de tapeçarias e objetos valiosos, além de uma grande
biblioteca.
A dona de toda aquela propriedade peculiar era uma
mulher radiante e refinada, aparentando pouco mais de quarenta anos. Seu nome:
Sayaka Hanajima. Ela se encontrava no salão degustando vinho de ótima safra em
taças de cristal. Era atraente e sedutora, possuía cabelos negros como a noite,
olhar fatal e lábios carnudos. Era nítida a sua fixação pelo vermelho, pois era
a cor com a qual pintava os lábios e as unhas, e também a sua preferida para
vestir, tanto que era vermelho o robe que usava.
O rapaz que outrora interagiu com o trio de heróis
adentra a sala tranquilamente. Sua presença logo é notada pela mulher, que
sorri levemente.
SAYAKA – Vejo que retornou, Yashiro. Aceita uma
taça?
YASHIRO – Não, mamãe, obrigado. A experiência de
usar uma alma com rancor não funcionou. O rancor não basta se não há instrução
necessária para agir devidamente.
SAYAKA – Bem como eu imaginei. Sabe, meu filho,
como eu sempre digo: tudo depende de decisões. Para cada decisão que tomamos,
se há algo que almejamos, devemos estar conscientes de que teremos que abrir
mão de algo de igual valor nesse caminho; porém nem sempre as decisões valem a
pena. Uma alma cheia de rancor muitas vezes é guiada pela ignorância e toma
decisões para as quais não está preparada para as consequências. Você ainda tem
muito o que aprender.
YASHIRO – Eu compreendo, mamãe. Agora vou me
retirar, preciso descansar um pouco.
O rapaz subiu as escadas em direção ao quarto,
deixando mais uma vez a mãe sozinha. A mulher levantou-se e se dirigiu à
biblioteca, e lá parou em frente à janela, observando o céu.
SAYAKA – Sim, meu filho. Eu mesma sou a prova de
que decisões devem ser conscientes.
E então, curvou a cabeça observando o seu imenso
roseiral, que para ela era um sonho de toda uma vida; ou melhor, de toda uma
existência.
Enquanto isso, o tal rapaz Yashiro se refrescava em
sua banheira após aquele dia atribulado. Era uma pessoa muito intimista e procurava
ser independente de todos, inclusive da própria mãe. Com uma frieza
surpreendente, ele apenas analisava os fatos ocorridos anteriormente e pensava
em como poderia encontrar quaisquer informações relevante sobre o jovem ruivo
que acompanhava Joji e Shizuka.
YASHIRO – Apesar de eu não conhecer aquele rapaz
cheio de vida, tenho certeza de que não será difícil descobrir quem ele é. Não
entendo porque mamãe me preveniu sobre os quatro guardiões regidos pelos Quatro
Deuses Bestiais, mas preciso averiguar.
De súbito, batem à porta. Um funcionário do
escritório chegara com os relatórios contábeis. Yashiro se levanta e veste o
roupão, ordenando que o funcionário fosse até o quarto. O mesmo adentra e
encontra o chefe de pé, próximo a uma poltrona no canto do aconchegante e
luxuoso aposento.
YASHIRO – Aproxime-se, Jun.
O rapaz obedece. Era sempre muito estranho para ele
estar perto de alguém tão reservado e sério como o seu patrão, e ainda mais
naquela situação. Nunca havia entrado em um quarto alheio, e ainda mais
naquelas circunstâncias.
JUN – Com licença, Sr. Yashiro, aqui estão os
relatórios contábeis desta semana. Subi porque a Sra. Hanajima sugeriu e, desde
já peço desculpas.
YASHIRO – Eu não sou nenhum monstro, Jun. Mamãe
deve ter achado melhor não me privar de descansar, ela sempre procura me
poupar. (Folheando os relatórios) Pois muito bem, sua equipe fez um ótimo
trabalho como sempre. As vendas estão estáveis, mas a época não é favorável
para maiores lucros.
JUN – Sim, senhor, agradeço pelo elogio. Agora, se
me der licença, devo voltar ao escritório e terminar alguns pormenores.
Educadamente, Jun o cumprimentou. Yashiro não tinha
o costume de observar rostos, mas naquele momento, ele viu com clareza o do
rapaz diante dele e mudou totalmente sua expressão fria.
YASHIRO – Jun, quando você se candidatou à vaga de
auxiliar, disse que vinha de uma família grande, não?
JUN – Sim, senhor, mas... o que isso pode importar
agora?
YASHIRO – Não é por nada, mas, quantos irmãos você
disse que tinha?
JUN – Eu nunca disse, não me perguntaram.
YASHIRO – E de onde você veio mesmo?
JUN (assustado)
– Senhor, eu não estou entendendo...
YASHIRO – Não estou fazendo perguntas difíceis de
serem respondidas, Jun. Sou seu empregador e apenas quero saber melhor sobre
quem trabalha para mim. Apenas responda as minhas perguntas.
JUN – Bom, senhor... eu... venho de um vilarejo ao
norte de Quioto. Eu sou o quinto de seis irmãos, sendo que dois já são
falecidos.
YASHIRO – Há quanto tempo não fala com a sua
família?
JUN – Isso... desde que eu saí de lá.
YASHIRO – Quanto tempo, Jun...?
JUN – Cinco anos, senhor.
YASHIRO – Cinco anos, sem notícias de nenhum dos
lados, sem saber como estão seus pais, ou seus irmãos... e isso não incomoda a
você?
JUN – Senhor, juro que não compreendo esse
interesse repentino no meu passado. O senhor sabe de algo que eu precise saber?
Yashiro então se conteve. Sua curiosidade o deixou
afoito a ponto de inquirir o jovem Jun sobre coisas particulares, uma atitude
que ele jamais havia tido e sequer aprovado em outra pessoa. Mas, como uma
cobra sorrateira, ele saberia agir para atingir o seu objetivo de esclarecer
uma suspeita.
YASHIRO – Está tudo bem, Jun. Eu soube de um roubo
ocorrido na empresa de um velho amigo da mamãe, no qual alguns funcionários
estavam envolvidos e, fiquei cismado com isso. Espero que compreenda que é
normal ficar preocupado. Mas, me diga só mais uma coisa: dentre seus irmãos,
quantos são homens?
JUN – Bom... éramos três homens. O mais velho é
falecido, então somos só eu e o caçula, o Ken...
YASHIRO – Ken?! Muito bem... Pode ir, Jun, está
tudo bem. Se superarmos as metas, haverá uma boa bonificação para você.
Agradeço pelo bom serviço prestado. Agora, com licença, preciso descansar.
Jun o cumprimentou novamente e se retirou. Por
alguns momentos, questionava para si mesmo a razão daquelas perguntas do chefe;
mas era um rapaz ambicioso, e de pronto resolveu focar em superar as metas de lucros
propostas pelo patrão e conseguir a bonificação. Com o tal dinheiro, poderia
comprar uma moto nova como tanto queria.
Enquanto isso, Ken, Joji e Shizuka acabaram de
retornar, com Kaname e Kokoro em segurança. Tomoe e Sakura estavam ansiosas e
as receberam com muita alegria: Kokoro era uma menina doce e gentil, mas também
muito amorosa e já havia se afeiçoado bastante às irmãs Mizushima.
SAKURA – É tão bom ter vocês de volta, em
segurança. Depois da volta do nosso caçula, faltavam vocês aqui.
KANAME – Sim, também estou muito feliz por estar de
volta; mas infelizmente, nem sinal da Hotaru... É como se ela tivesse se
tornado poeira e sumido com o vento. Mas, Joji e seu irmão me falaram sobre a
menina recém-chegada. Não há problema nenhum em ficarem aqui, mas precisamos
ampliar o espaço para que todos fiquem confortáveis. Infelizmente não tenho
verba para reformas.
TOMOE – Não se preocupe, ajudaremos no que for
necessário. Pensaremos em algo para arrecadar o dinheiro e comprarmos material
de construção, e podemos ajudar também no serviço.
KANAME – Eu agradeço. Bom, vamos conhecer a nova
moradora?
Então, Sakura, Kaname e Kokoro entraram em busca de
Yuna. Do lado de fora, Tomoe aguardou para poder falar a sós com os três
rapazes; sua sensibilidade já havia sinalizado o que acontecia ali.
KEN – Minha irmã mais velha é sensitiva: ela
enxerga e sente as coisas. Ela sabe de tudo, assim como Sakura. Minha família é
devota de Genbu há gerações, então nós temos uma grande ligação com esse lado
da espiritualidade.
TOMOE (para
Shizuka) – Eu entendo perfeitamente a sua dúvida, mas também entendo o
motivo de custar a compreender. Sua existência é nova, doutor. Você outrora fez
parte de outra distinta, assim como todos nós um dia fizemos e nos tornamos
centelhas pouco a pouco uma da outra.
SHIZUKA – Eu confesso que para mim é difícil
compreender.
TOMOE – Somos estranhos para você, doutor?
Aquelas palavras ressoaram o interior do jovem
médico. Realmente, estar com Joji e Ken para ele não era como algo novo, e sim
como se sempre tivesse sido assim. Ele sentia paz e segurança. Sentia coisas
inexplicáveis. Sentia que ali era onde ele queria estar. Não admitia, mas o
abraço de Ken o revigorava, e as palavras fortes de Joji o motivavam a isso.
SHIZUKA – Eu passei a minha vida inteira,
sozinho...
De repente, uma luz cintilou de cada um dos três, e
eles se viram em meio ao céu, as nuvens... E então, podiam ver estrelas
cruzando a atmosfera, e muitos brilhos ao seu redor.
Então, as três divindades bestiais se revelaram
diante deles.
SEIRYU – É quase chegada a hora, guardiões.
GENBU – Firmais teus desejos.
BYAKKO – E não hesitais.
Subitamente, puderam ver mais adiante um fulgor e
uma explosão, que revelaram brevemente um bater de asas. Shizuka sentiu vontade
de se aproximar daquele fenômeno e impetuosamente começou a flutuar naquela
direção. Os três o seguiram num impulso, quando Ken parou e olhou para baixo.
Naquele momento ele pôde enxergar quilômetros abaixo alguém e reconhece-lo
prontamente.
KEN – Jun!
Imediatamente, o rapaz desceu como um raio acerca
de alguns metros de onde o outro estava. Caía uma chuva moderada na cidade. O
outro rapaz pensou haver escutado algo; mas como sempre, não deu importância,
também pelo barulho das gotas de chuva. Ken então começou a se aproximar dele
pelas costas e mais uma vez, parou.
KEN – Jun...
O outro logo percebeu: não era impressão. Ele
realmente ouviu algo, e ali se repetiu mais claramente. Pela segunda vez
naquele dia, a insegurança o havia tomado e o deixado imóvel ali onde estava.
Jun então virou-se para direção da voz.
JUN – Ken... o que... mas como?!
KEN (avançando
na direção dele) – Desgraçado!
E Ken então lhe deu um golpe no rosto, que o
desestabilizou. Aquilo foi inesperado para Jun, que olhou fixamente o rosto do
seu agressor, cheio de revolta e tristeza.
JUN – O que você pensa que eu sou, Ken? Vem até
aqui, me encontra e me dá um soco na cara?!
KEN – É pouco perto do que você merece, seu
ingrato! Você sempre teve ar de superioridade, e quando foi embora nem olhou
para trás! Você nem sequer pode imaginar o quanto todos sofreram, e sem
notícias suas!
JUN – O que você queria que eu fizesse, Ken? Eu
queria ir embora daquele lugar: nossos pais nunca me apoiaram, nem ninguém
nunca me apoiou! Como eu iria embora de outra maneira? A vida que eu queria não
estava ali no pé daquela montanha!
KEN – Você poderia ter dado notícias! Nossos pais
sentiram muito a sua falta! Todos os dias eles esperavam alguma coisa sua, para
saber se você estava bem! Nem que fosse um pedido de socorro! E as manas, até
hoje elas sentem sua falta, ficam se perguntando sobre você!
Jun cedeu. Há cinco anos ele havia tomado uma das
decisões mais drásticas da sua vida: sempre dizia que um dia deixaria o
vilarejo e todo aquele modo de vida rústico para seguir mundo afora e
conquistar o que tanto almejava. No entanto, fez de maneira radical:
simplesmente, antes do amanhecer de um dia comum, arrumou sua bagagem e partiu
sem nem se despedir. A partir dali: decidiu começar uma nova vida deixando tudo
para trás. Tinha receio de se comunicar com a família para que eles não
insistissem com seu retorno. No início, sentia falta; mas à medida que tudo
começou a se direcionar para onde ele queria (lar novo, emprego, pequenas
conquistas, novas relações interpessoais), simplesmente deixou a saudade de
lado e passou a viver como se o passado não existisse. E de fato, ele raramente
lembrava de sua origem. Mas naquele momento, algo o fez repensar.
JUN – E os nossos pais, Ken?
KEN – Eles morreram, Jun! Morreram cerca de um ano
depois que você partiu! Adoeceram, definharam, e acabaram nos deixando! (Seus olhos se encheram de lágrimas mais uma
vez) Nós três ficamos sozinhos lá, mas infelizmente não dava mais para
viver! Passamos necessidades, adoecemos, e as coisas ficaram piores quando a
maldição se tornou forte!
JUN – A... maldição?! Aquela... maldição?!
KEN – Sim! A maldição causada pela Umi! Quando
vimos que era inútil resistir, deixamos tudo o que um dia fomos para trás, e
agora estamos aqui!
Os irmãos, Jun e Ken, embora ainda atordoados por
todas aquelas revelações, caíram em prantos. Ken sentia uma grande mágoa do
irmão, e de certa forma acreditava que a partida dele tinha a ver com todos os
outros infortúnios que caíram sobre sua família. Jun procurava ser cético
referente a fé que sua família sempre teve, mas ele ainda temia que muito
daquilo fosse real. Então, ambos os irmãos puderam sentir uma energia diferente
que apaziguava aquela tensão.
GENBU – Irmãos, uni-vos! Abraçai-vos! Perdoai-vos!
Somente o amor pode mostrar o caminho.
Ambos pensaram em relutar, mas mesmo que cada um
tenha uma característica distinta do outro, o sangue é o mesmo e eles sempre
foram ensinados a jamais ignorarem os laços de sangue criados pelo amor.
Primeiro o amor de seus pais, depois o amor entre todos os irmãos. Ken e Jun se
aproximaram e se abraçaram firmemente, e em seus íntimos, se perdoaram. A luz
dourada brilhou entre eles, e a Chave Celestial do Copo foi recebida pelo
espírito de Ken.
KEN – Vamos ver Tomoe e Sakura. Elas vão ficar
felizes em te ver!
JUN – Não sei o que dizer a elas, Ken.
KEN – Diga que as ama. Isso basta.
E os dois seguiram juntos em direção ao destino
planejado.
Joji ficou no plano astral, e em algum momento,
parou de seguir Shizuka. Logo olhou para baixo, e notou um lugar em particular:
o cemitério. Lá, jaziam seus pais, seu irmão Osamu e também um túmulo
específico ao qual repentinamente ele quis visitar. Assim como Ken, ele desceu
como um raio e já estava diante do túmulo. A chuva ainda caía moderadamente, e
Joji leu a inscrição talhada “Ai Ito.”
JOJI – Não sei porque senti vontade de vir aqui
agora, Reina. Não sei porque depois de tanto tempo ainda sinto essa dor diante
de você.
O homem então chorou. Começou a lembrar do rosto
daquela jovem moça, de cabelos curtos e franja, sempre com um sorriso no rosto,
mas, com um fardo tão complexo. Joji chegou a nutrir um carinho por ela,
carinho esse que nitidamente ainda perdurava. Era uma das culpas que ele ainda
carregava.
JOJI – Eu juro que, se eu pudesse, teria te
protegido melhor. Teria feito o impossível...
Parecia uma espécie de delírio, mas Joji podia
vê-la nitidamente ali, sentada em seu túmulo, vestida de branco e violeta e
sorrindo para ele como nos velhos tempos. Um rosto tão cândido... Joji caiu de
joelhos.
JOJI – Espero que me perdoe, Reina...
VOZ – Ainda não superou mesmo, não é, Joji?
JOJI – Risa?
RISA – Em pensar que ela foi o estopim para você
jogar a sua brilhante carreira fora... você era mesmo apaixonado por ela, não
é, Joji?
Joji nada respondeu. A oficial Risa naquele momento
estava fora de plantão, usando roupas convencionais e por alguma razão foi até
o cemitério.
RISA – Naquela época, eu me senti péssima por
perder você para ela, mesmo sabendo que dificilmente daria certo entre vocês.
Joji, eu te amava... eu teria morrido por você no meio de toda aquela confusão.
Mas eu sabia que uma coisa que começou errada jamais se acertaria no final. A
começar por nós dois...
JOJI – Risa, eu sei muito bem que te magoei
involuntariamente. Eu sempre gostei de você, eu gostava da sua companhia, você
foi e ainda é muito importante para mim, acredite. Mas errei em te fazer crer
que poderíamos ir além...
RISA – Já sou mulher o bastante para entender,
Joji. Cada um é dono de si, mas os sentimentos não escolhemos. Eu teria sido a
mulher mais feliz do mundo se tivéssemos nos casado naquela época, mas e
depois? Como seriam as nossas vidas? Será que eu conseguiria conquistar o seu
amor? Será que estaríamos juntos até hoje? Não há como saber, mas... já estou
conformada. Admito que não gosto da ideia, mas já estou conformada. Não quer ir
tomar um café comigo aqui perto?
JOJI – Acho melhor não, Risa. Preciso voltar para a
escola e conversar melhor com a Kaname; aliás, era isso que eu já devia ter
feito.
RISA – Não está de carro? A escolinha não é perto
daqui.
JOJI (percebendo
a situação) – Não... não estou...
RISA – Bem... te dou uma carona, espero que a
Kaname faça um café para aliviar nessa chuva. Vamos!
Joji seguiu Risa para fora do cemitério e ambos
foram para o carro dela.
Ao mesmo tempo que Risa e Joji, Ken e Jun chegaram
à escola. Kaname foi recebê-los na entrada com Kokoro e Yuna devidamente
apresentadas e já se tornando próximas.
KANAME – Por onde vocês andaram? Sumiram do nada
daqui da entrada! (Para Risa e Jun)
Boa tarde para vocês, sejam bem-vindos! Tomoe e Sakura foram comprar coisas
para fazer o lanche da tarde.
KEN – Srta. Kaname, este é o meu irmão, Jun.
KANAME – Nossa, o seu outro irmão? Elas vão ficar
tão felizes! Vamos entrar, aqui está chovendo! A propósito, cadê o doutor?
Só então Joji e Ken se lembraram de Shizuka.
JOJI – Talvez, ele tenha voltado para casa.
Ken assentiu, e então o grupo estava se dirigindo
para dentro da escola, quando a pequena Kokoro olhou para a rua e viu algo a
caminho dali.
KOKORO – Olhem, é o doutor!
Todos olharam. O jovem estava com um semblante
desolado, como quem havia chorado bastante e, em seus braços ele carregava
alguém envolto em um enorme lençol branco. Joji e Ken foram até ele para
socorrê-lo.
KEN – Shizuka, o que houve? O que é isso?
JOJI – Está tudo bem, Shizuka?
SHIZUKA (em
prantos) – Ela... está aqui.
Ken então descobriu parcialmente o rosto daquela
pessoa nos braços do jovem médico. Joji também olhou, e ambos se espantaram.
JOJI – Mas... como?!
CONTINUA...
2 Comentários
Grande Lee Yu!
ResponderExcluirPercebe-se claramente que a carga dramática da narrativa vai ganhando em intensidade.
As conexões se estabelecendo...
Os encontros ocorrendo...
O passado vindo a tona...
O reencontro dos irmãos Ken e Jun, foi bem tenso e emocionante.
Mas, o capítulo também traz o que , suponho ser os vilões da trama: Sayaka a dona do roseiral e seu filho Yashiro.
É muito bom ver a narrativa ascendendo e começando a dar algumas respostas para o quebra-cabeça proposto.
O final,deixou um ponto de interrogação : quem é a moça morta que Shizuka carregava nos braços?
A conferir.
Parabéns pelo excelente capítulo e pelo belo trabalho !
Salve, meu amigo Jirayder!
ExcluirAgora os desdobramentos tomaram início, e muito em breve as coisas começarão a ficar agitadas. Apesar de tudo, a família Mizushima foi criada com muito amor, e apesar das diferenças, os irmãos fazem isso valer.
O passado de Joji vai além de tudo isso e muito mais que eu estou esperando para contar, e inclusive o do Shizuka começará a se desdobrar muito em breve.
Sayaka é uma mulher realmente excepcional, e tudo o que planejei sobre ela será ainda mais surpreendente.
Te agradeço muito por me acompanhar e, com certeza muito mais surpresas virão!