Loading....

A verdadeira história do desterro do Doutor Gori (capítulo 3)

 

                                      Capítulo III - A história e a sociedade do planeta Épsilon, parte II

Mas, antes de nos atermos aos primeiros anos de vida de Gori II em específico, vamos falar a respeito da sociedade e da história do Planeta Épsilon, assim como de seu sistema político. Até para podermos entender melhor o mundo no qual Gori II não só nasceu, como também viveu seus primeiros anos até se tornar o homem que nós conhecemos.

Há cerca de 800 mil anos, surgiu uma raça de simióides em Épsilon, em uma das regiões mais férteis do planeta da constelação de Sagitário. Tal raça com o passar do tempo foi povoando todos os cantos de Épsilon, até mesmo as regiões mais inóspitas, áridas, úmidas e frias do planeta. E, como não poderia deixar de ser, fez a mesma coisa que o Homo Sapiens fez no Planeta Terra em relação a outros hominídeos tais como o Homem de Neandertal: desalojou-os, massacrou-os e ao fim de tudo levou-os ao limbo da extinção. Mas não sem antes terem tido certo grau de mistura com tais simióides mais antigos. Ou seja, pode-se dizer que os simióides de certa forma também os absorveram em seu genoma.

E, tal qual o Planeta Terra, Épsilon também passou por uma série de períodos glaciais, nos quais grandes geleiras cobriam grandes extensões de terra e faziam com que os níveis dos mares baixassem algumas dezenas de centímetros, por vezes até centenas de centímetros, no que, a despeito do frio severo, por vezes facilitava a movimentação não só da fauna local, como também dos simióides entre as diferentes partes de Épsilon. O último deles terminou há cerca de 7500 anos e os cientistas locais não se sabem ao certo quando que será o próximo.

Com o passar do tempo, os simióides evoluíram, tiveram seus saltos tecnológicos e formaram poderosas nações, impérios e reinos ao longo de séculos de história. Até que por volta do ano 3000 antes de Cristo surgiu em um desses reinos, o reino de Kongar (situado em uma área de florestas no norte do continente de Madar), um chefe guerreiro chamado Larigo.

Por meio da força das armas combinada a uma hábil diplomacia na hora de se relacionar com outras tribos e reinos, Larigo unificou uma série de tribos simióides sob sua autoridade e iniciou um processo de expansão imperial.

Por meio de seu poder bélico, conquistou muitos reinos sob sua autoridade, e seu nome entrou para a história como um grande conquistador cujo nome inspira ao mesmo tempo terror, medo e horror por um lado e admiração, fascínio e orgulho por outro. Muitos o odeiam pelas atrocidades que ele cometeu durante suas conquistas, ao passo que outros o admiram por sua habilidade no campo de batalha e por ter criado um império praticamente que do zero.

As conquistas de Larigo foram tamanhas que unificaram, ainda que por um espaço temporal não muito extenso, uma grande extensão territorial que permitiu um grande salto tecnológico para os simióides das diversas partes de Épsilon sob sua autoridade. Seis gerações se passaram, e o império forjado por Larigo aos poucos foi se estilhaçando em várias partes entre seus herdeiros, com cada um reivindicando ser o seu legítimo sucessor e não raro entrando em conflito com os outros. Além disso, problemas como epidemias que começavam em uma parte do reino e se alastrava por todo a extensão e até mais além, assim como fortes secas e inundações e até mesmo pequenos ciclos glaciais, igualmente ajudaram a minar a autoridade desses impérios outrora muito poderosos e ricos.

Outros impérios e reinos se sucederam aos Estados sucessores do império de Larigo, com os saltos tecnológicos entre eles ora sofrendo grandes avanços, ora grandes revezes. Isso até que em meados do século XVII outro conquistador chamado Hannon enfim logrou repetir os feitos de Larigo e mais: conquistou todas as terras de Épsilon sob sua autoridade. Assim, foi estabelecido um grande governo sobre as terras de Épsilon. E é assim que nasceu o atual governo de Épsilon centrado na cidade de Virunga que nós conhecemos.

Terminada a conquista de todo o Planeta Épsilon, os domínios foram divididos entre os generis de Hannon que lá operavam e que a partir daquele momento passaram a atuar como governadores locais (que obviamente deviam obediência a Hannon). E, evidentemente, com o passar do tempo, novos saltos tecnológicos foram ocorrendo, tecnologias foram sendo desenvolvidas, a tal ponto que hoje em dia as autoridades afirmam que o Planeta Épsilon é o lugar ideal para se viver para qualquer um. Em outras palavras, que é um verdadeiro paraíso, onde qualquer um pode realizar seu sonho e se tornar o que quiser nessa sociedade.

Mas, mesmo com todo o poder de dispunha, nem Hannon e nem seus sucessores imediatos resolveram estender seu poder e influência para outros planetas. Isso mesmo já dispondo de tecnologias suficientes para tal. Preferiram se fechar em si mesmos e se focarem em administrarem o que já tinham conquistado.

O problema é que com o passar do tempo Épsilon caiu em uma verdadeira armadilha civilizatória: a sociedade que um dia cultivou muito suas virtudes e valores guerreiros com o tempo passou a rechaça-las e repudiá-los visceralmente, a ponto de dizer que elas não são mais parte dos valores que os cidadãos de Épsilon cultivam e que isso é coisa de gente burra, analfabeta e que odeia a ciência e a paz. Até mesmo tradições marciais voltadas para defesa pessoal passaram a ser rechaçadas e repudiadas nesse processo.

Segundo o que a propaganda governamental diz, os cidadãos de Épsilon são pacíficos e não admitem que guerra alguma seja conduzida no planeta. Um pacifismo tamanho e tão radical que com o tempo não só transformou em sucata as forças armadas de Épsilon, como também poucos querem nela entrar e fazer parte. Uma grande ironia do destino para uma sociedade que se forjou no calor de batalhas que verteram milhões de litros de sangue.

Outra armadilha civilizatória na qual o Planeta Épsilon diz respeito à ciência: as pessoas que vivem no Planeta da constelação de Sagitário afirmam se orgulharem muito de seus feitos científicos. O orgulho é tamanho que a ciência virou uma espécie de religião entre eles, um deus ex-machina capaz de resolver toda sorte de problemas. Isso ao mesmo tempo em que formas de religiosidade que existem há milênios por lá são tratadas com deboche e como coisa de gente atrasada e negacionista que odeia a ciência. Ou seja, resumindo a ópera, a ciência tornou-se a verdadeira religião de Épsilon. Cientificismo esse que, obviamente, está entre os principais valores que o povo nativo do Planeta Épsilon cultiva. E isso ao mesmo tempo em que a maioria dos cidadãos de Épsilon se diz ateia e livre de quaisquer dogmas e coisas do gênero. Mas, experimente falar em público que a fé dos habitantes de Épsilon é na verdade uma religião que trata a ciência como dogma para ver o que acontece contigo. Será cancelado sem dó nem piedade no mesmo instante e tratado como se fosse um pária por uma multidão raivosa. Isso geralmente acontece quando tais sujeitos se deparam com sujeitos que negam coisas como a esfericidade dos planetas, que os planetas se encontram em eixos que giram em torno de um Sol, que falam por ai que o planeta Épsilon é quadrado e não esférico, questionam certas teorias científicas, entre outras coisas.

Na esfera política, o Planeta Épsilon, que durante muito tempo teve um governo similar ao absolutismo (que virou história em face de diversas lutas sociais desencadeadas com o passar do tempo), é governado por uma espécie de Monarquia Senatorial. Os reis de Épsilon tem a denominação de o Grande Simiano. Eles dispõem de um poder considerável e o dividem com o líder do Senado, que igualmente desfruta de grande poder. Dessa forma, há em Épsilon uma bipartição de poder entre o Grande Simiano e o líder do Senado, cada um com suas tarefas no exercício do poder e na manutenção da ordem social do Planeta Épsilon. E, a despeito de existirem vários partidos em Épsilon, apenas dois deles se revezam no poder: o Partido da Democracia Científica (PDC) e a Socialdemocracia Científica (PCV). No essencial eles estão de acordo (vide os nomes de ambos), embora em questões menores discordem.

2 Comentários

  1. A narração dos históricos do Planeta Épsilon. segue a pleno vapor demonstrando que todo o radicalismo, seja qual for , pode gerar problemas.

    Com os habitantes Épsilon não será diferente.

    Abrir mão das Forças de Defesas militares será um erro grave.


    Aguardemos o que vem pela frente.

    ResponderExcluir
  2. Radicalismo e conservadorismo hipócrita permeiam o planeta Epsilon. Você descreveu isso muito bem, o que aponta como um cenário complexo e que, de fato, ajudou forjar a personalidade do DR. Gori.

    Vamos aguardar os próximos episódios.

    ResponderExcluir