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Além das Fronteiras - Viagem 4

 

Bom dia, boa tarde e boa noite a você que lê as minhas histórias.

Obrigado por você sempre acompanhar e comentar. Porém, não é sempre que conseguimos escrever!  Infelizmente Eu fui vítima de um bloqueio mental, não tive muitas ideias pra poder escrever  e assim entrei num hiato gigantesco na postagem dos textos aqui do blog.

Quando olhei nos meus arquivos de escrita e vi que tinha um capítulo disponível para esta história, fiquei feliz de poder postá-lo para vocês. Espero que gostem, e não deixem de postar seus comentários. Eles são o combustível de nós escritores,  portanto de muita valia.

4.                Se Acostumando

O helicóptero enfim pousou e o casal foi recepcionado por todas as pessoas que os esperavam. Cintia foi apresentada a todos, várias perguntas foram realizadas e Matias se mostrou mais receptivo do que o cuidado implícito que ele pediu que ela tivesse.

Mas ela entendeu o que ele quis dizer, o homem não parava de olhar para ela, e Cintia se sentiu incomodada, ainda mais pelo simples fato de dizer que ele era casado e a mulher dele estava em seu escritório, esperando seu retorno.

Depois de toda a sabatina que Eduardo sofreu por aqueles que o recepcionaram, eles o deixaram em paz. Matias informou que ele teria até o final do mês de licença para poder descansar, e caso sentisse que precisasse mais, era para avisar. Afinal de contas, ele havia passado por uma situação dificílima de ser suportada.

O carro de Eduardo já havia sido removido e levado pela esposa dele, Clarissa. Precisaria pedir um carro de aplicativo para ir para casa com sua nova amiga, o que não foi difícil, graças ao celular que ele manteve junto ao seu gabinete.

Enquanto passava pela cidade com Cintia ao lado, Eduardo ficou pensativo.

- Muita coisa para digerir? - Perguntou ela.

- Muita coisa para pensar em dizer à Clarissa.

Foi quando ela se lembrou que, naquele mundo, ele era casado e ela não havia falado nada para ele, que gostava dele. Mas ela acreditava que ele resolveria a situação, fosse para ficar com ela ou não.

O carro de aplicativo era automatizado, não possuía motorista ou painel de piloto, era apenas um carro que possuía apenas dois assentos. Um coupé auto pilotado. Singrava as ruas com agilidade incomparável, com sensores que o ajudavam a evitar acidentes e mesmo virar em ruas conforme seu GPS embutido. Eduardo e Cintia conversavam muito, e por mais que tivessem tempo para fazer isso enquanto estavam no planetoide da fenda, eles trabalharam muito para sair dali. 

Agora não tinha mais pressão.

As conversas eram, em sua quase completude, amenas, sobre frivolidades, um tentando conhecer melhor o outro. Ela já gostava dele, claro... Mas ela não sabia que o sentimento era mútuo.

Nem ele mesmo sabia a respeito disso.

Quando chegaram no prédio de Eduardo, saltaram do carro de aplicativo, e a corrida foi cobrada diretamente de seu cartão de crédito. Entrou, o porteiro estava feliz por vê-lo bem, afinal de contas, ele era um cara querido mesmo entre seus vizinhos.

Ao chegar no andar de seu apartamento, percebeu que a porta teve o algoritmo trocado e a senha de entrada fora trocada. Ele bateu.

- Clarissa! Está aí? – Perguntou Eduardo.

Logo foi possível ouvir um barulho intenso do lado de dentro da porta, e passos remetendo que a pessoa ali dentro estava correndo para atender a porta. Quando a porta abriu, Clarissa estava inteiramente desalinhada, cabelos desgrenhados, olheiras intensas e cheirava a bebida. Seus olhos estavam meio mortiços, e quando olhou para ele, ela desmaiou. Desmontou, literalmente.

Não esperando saber o que aconteceu com ela enquanto ele estava “fora”, Eduardo pegou a esposa no colo e entrou no apartamento, enquanto Cintia entrou e fechou a porta atrás de si.

Era fácil ver que outrora o apartamento devia ser bonito, bem-cuidado, até mesmo bom para receber visitas... Mas a situação que Cintia via era diferente. O lugar tinha várias manchas nas paredes alvas, o chão de carpete de madeira estava riscado e, em muitos pontos, com sulcos profundos; Os sofás estavam inteiramente desalinhados, vários jarros de planta estavam em cima da mobília, e alguns jaziam no chão, espatifados.

O cheiro do ar, além de parado, era forte em bebida, mas não era de uma só, não. A cozinha, de estilo americano, contava com várias garrafas de uma variedade absurda de bebidas, passando pelos fermentados, destilados e outros tipos sintéticos.

Quando chegaram ao quarto do casal, havia consenso de que aquilo ali estava em total desalinho, desarrumado ao extremo, e em uma das paredes, um pôster de uma foto antiga de Eduardo ocupava o espaço, como se ela o adorasse durante o período em que ele esteve ‘morto’.

Muita coisa havia acontecido no período em que ele esteve fora.

Arrumando Clarissa na cama, Eduardo percebeu como ela estava. Havia pintado o cabelo de louro, estava muito magra, suja até. Roupas rasgadas em alguns pontos, mas não era uma roupa de sair, muito pelo contrário; Era uma roupa de dormir. Era fácil ver que ela vestia aquilo havia semanas, as olheiras eram profundas e ela realmente fedia a bebida.

Eduardo tentou discernir se ele tinha pena ou não dela, porque ela pareceu sofrer, e muito, com a sua ‘pretensa’ morte, enquanto ele não tinha mais certeza de que gostava dela, ainda tinha em mente todas as discussões que teve com ela, tudo em que os dois não concordavam mais, não dividiam mais nada... E tudo isso vinha de antes de ele fazer aquela fatídica viagem que quase resultou em sua morte.

-        Cintia, você pode ficar aqui, por gentileza, pro caso de ela acordar?

-        Claro, Eduardo. Fico sim.

Enquanto isso, o dono da casa foi até à cozinha, pegou o primeiro líquido de cheiro forte que encontrou, colocou em um pano e voltou para o quarto, colocando embaixo de seu nariz. Ela acordou, tonta por causa do estado ébrio em que se encontrava, e aí ela o viu.

-        Pronto... Agora estou alucinando... Será que é a bebida?

-        Não, Clarissa. Estou bem, e vivo. Já não posso dizer o mesmo de você, não é mesmo? Cadê aquela mulher forte que eu conheci?

Foi quando ela arregalou os olhos. Ele nunca havia falado com ela daquele jeito, e foi quando ela teve a total certeza de que ele estava vivo.

-        EDUUUUUUUUUUUUUU!!!!!! - E ela correu a abraçá-lo, beijá-lo, e tudo o mais que tinha direito como esposa.

-        Calma, Clarissa. Primeiro, vou te ajudar a se recompor. Você vai tomar um banho primeiro, vou te dar um café, você vai curar essa bebedeira braba e depois você vai me contar o que aconteceu.

-        Tá... Tá... Mas voccccxxzzzzêêêê tá de volta, não tááááá???? - A incongruência dela era absurda, mas compreensível.

-        Cintia, perdoe esse estado deplorável que ela está. É certeza que não está em seu juízo perfeito.

-        Eu entendo, Eduardo. Se fosse o meu marido que tivesse morrido e voltado depois, eu nem sei se estaria diferente.

-        Vou cuidar dela. Você consegue me ajudar? Pode arrumar um pouco dessa bagunça que a casa se tornou?

-        Claro! Vamos ver o que eu consigo fazer.

-        Obrigado. De verdade.

E ela olhou para toda aquela bagunça e tentou organizar mentalmente por onde começar, e tentou também organizar seus sentimentos. Ele conversava com a esposa de maneira fria e amorosa com ela, o que fez com que ela tivesse esperanças de que aquilo pudesse ser revertido em algo interessante para ela – embora em detrimento de Clarissa.

Os dois trabalharam em seus frontes – ele em cuidar da esposa bêbada, ela em cuidar da casa semidestruída. Ele terminou depois de duas horas, mas ela, não. Havia coisa demais para ser arrumada, a ser limpa. Depois do banho forçado, Clarissa estava sóbria novamente, mas com uma dor de cabeça homérica.

Mais uma hora se passou, agora com Eduardo e Cintia arrumando a casa, Clarissa ficou na cama. Com tudo terminado, os três sentaram-se na sala, para explicar o que aconteceu com ele e como ela chegou ali, com ele.

Clarissa entendeu e ficou surpresa com o fato de Cintia ter conseguido sobreviver tudo aquilo sozinha, sem ajuda... Mas ficou feliz pelo marido ter conseguido sair daquela situação e ainda salvá-la. Foi quando Clarissa se sentiu envergonhada. Ela estava em uma situação absurda, a casa estava parcialmente destruída... Ela estava uma ruína.

-        Edu, precisamos conversar... Nos entender... Voltar a sermos o que éramos antes... - Começou Clarissa.

-        Que precisamos conversar, isso é claro. Mas não na frente da Cintia. Isso é íntimo, coisa de casal. - Emendou Eduardo, frio.

Cintia sentiu que ele não queria discutir a relação na frente dela porque não queria que ela presenciasse aquilo. Já era a segunda vez que ele a tratava friamente, mesmo ela tendo mudado, segundo tudo o que ele já havia contado a ela, da água para o vinho.

-        Mas tem certeza de que não quer fazer isso agora? Ela não é só sua amiga?

Eduardo olhou para aquela situação e não sabia o que fazer. Mas uma coisa era certa, naquele lugar ele não podia ficar.

-        Absoluta. Primeiro, precisamos nos recompor. Você fica aqui. Eu vou pegar uma muda de roupa, meus cartões de crédito e débito e vou procurar por um hotel.

-        Como você quiser... – Clarissa não sabia se a volta dele tinha sido para o bem dela.

E, no momento seguinte, Eduardo se levantou, indo em direção ao quarto. Cintia viu que Clarissa, depois de um momento fugaz de felicidade, agora estava triste ali, repensando sua vida, o que tinha feito para que o marido, que praticamente havia voltado dos mortos, a tratasse daquela maneira.

Alguns minutos depois, Eduardo voltou com uma pequena mochila, com tudo o que ele havia juntado em separado.

-        Cintia, vamos.

A jovem concordou e foi com o amigo, e viu Clarissa ao longe com uma grande e grossa lágrima se formando ao canto do olho... Ela não deixou de sentir pena da mulher, mas ela não sabia de nada o que havia acontecido... E mal ela tinha coragem de perguntar para Eduardo o que havia acontecido.

Logo Eduardo abriu a porta da garagem e lá havia dois carros, um coupé e um esportivo, que foi para onde o Engenheiro Espacial se dirigiu. Cintia o acompanhou, e ele usou a chave para abrir o carro, e em seguida, puxou uma determinada alavanca para abrir a porta do passageiro para ela.

-        Não conheço a tecnologia deste carro. É nova? – Perguntou Cintia, curiosa.

-        Muito pelo contrário. É um carro de tecnologia antiga, que eu converti para motor elétrico, a fim de manter o ronco do motor. Você vai entender quando eu ligá-lo.

Quando ele girou a chave, um som mecânico de pistões girando e um ruído forte tomou conta daquele lugar, válvulas funcionando e o som era realmente incrível de se presenciar. Ela entendeu na hora o que ele quis dizer. O carro estava indo de ré, e quando ele passou com o veículo pela porta da garagem, seu portão começou a fechar automaticamente.

Ela percebeu que, ao contrário do carro de aplicativo que sequer tinha painel e que eles poderiam conversar de frente um para o outro, aquele carro dele possuía um painel com medidores – velocidade, conta-giros, combustível, e vários outros que ela não entendeu do que se tratava. Diferente dos carros inteiramente automatizados, aquele era uma descoberta para ela.

Quando partiram, Eduardo digitou uma série de comandos no painel enquanto dirigia e o carro entrou em piloto automático.

-        Era um dos antigos que sua construção permitiu uma conversão parcial, mas ainda mantendo o visual atraente. – Explicou Eduardo.

-        Muito interessante, gostei deste.

-        É, mas me custou um rim e um fígado para comprar, ainda mais depois para convertê-lo em parcialidade... Tem gente que não gosta deste modelo de carro. Enfim, quero te pedir desculpas por tudo o que eu te fiz passar e presenciar.

-        Não foi nada, só fiquei preocupada contigo... Sua esposa parecia querer voltar para você, e o jeito com que você falou com ela... Não parecia você mesmo.

E Eduardo começou a contar a história de seu relacionamento com Clarissa. O começo, por um ano e meio, foi uma lua de mel, os dois se davam bem, ela era bem-sucedida, ele ainda no começo de carreira, e aos poucos foi subindo de cargo. Era uma época feliz. Porém, ela foi conseguindo mais notoriedade, mais poder, e foi se afastando dele.

O meio do casamento foi algo estranho. Ela mal parava em casa, que ficava sozinha por dias a fio, porque ele estudava muito e pesquisava muito, e ela, por causa de seu trabalho, tinha que se ausentar por muito tempo seguido.

Mais para o final, quando ele tinha alcançado o posto que ocupava atualmente, e ela, havia conseguido se tornar sócia do escritório de advocacia onde trabalhava, os dois mal conversavam, mal se tocavam. Não era mais uma vida marital, era uma vida fraternal. Os dois conversavam sobre amenidades, alguns interesses em comum, mas o relacionamento parava por ali. 

Inclusive, ela era muito, mas muito seca com ele.

-        Ela deve ter mudado nesses dois anos que fiquei fora. Ela pensou que eu morri, então ela deve ter repensado todas as ações que tomou enquanto eu estava aqui, e depois da minha viagem, ficou claro que ela não queria mais continuar casada comigo. Acho que a dor da perda a mudou profundamente.

-        E você não tem pretensão de perdoá-la? – Cintia aproveitou o momento em que ele estava desabafando sobre sua vida para conhecê-lo melhor também, e entender o que todo o comportamento anterior de Clarissa o havia levado para tratá-la daquele jeito.

-        Não. Sinceramente, ela só está assim porque nunca gostou de ficar sozinha. Sequer sei se ela me traiu em algum momento, mas pelo estado em que ela ficou ali, deu pra perceber que ela se viu no estado em que ela menos gosta. – Eduardo estava desolado. Quase estava de luto pela atitude da esposa.

-        E precisamos entender o que vai ser de mim neste mundo, né? Afinal de contas, percebi que vocês ainda ostentam um sistema financeiro bem-construído, mesmo com as falhas do capitalismo. E eu não tenho nada disso. Em meu mundo, a forma de comércio era totalmente diferente, por causa da queda de uma determinada nação que regia o comércio, algo totalmente diferente do de vocês, que esta mesma nação foi substituída no topo. – Cintia avaliava friamente a situação, afinal de contas, ela não tinha lugar naquele relacionamento e não poderia depender dele para sempre.

-        Não precisa pensar nisso agora. Vou te levar para conhecer alguns lugares, tirarmos os pensamentos ruins da cabeça, eu tenho uma boa quantia de dinheiro guardada. Eu já verifiquei, ela sequer mexeu, não precisa disso. Então vamos passar alguns dias sabáticos. O que acha? – Perguntou Eduardo, bem ciente de que estava convidando a amiga para um encontro, mas o que ele não estava ciente era dos sentimentos dela.

Cintia, por sua vez, ficou surpresa com o convite. Afinal de contas, ele sempre se mostrou bem direto no que sentia, e não havia segundas intenções naquele convite, era fácil perceber. Mas como ela se sentiria naquela situação toda? Afinal de contas, ele ainda era casado e não era justo com Clarissa que acontecesse alguma coisa especial entre os dois naquele momento em que ele não havia terminado seu relacionamento com ela oficialmente.

-        Contanto que eu não atrapalhe em nada, vai ser sim uma boa.

Eduardo sorriu, Cintia também. Os dois realmente precisavam tirar um pouco a cabeça daquilo tudo que a vida deles se tornara com a fuga da dimensão paralela. O passeio dos dois naquele carro que parecia ter saído de livros de história, o roncar daquele motor semiautomático e ver ele pilotando aquele monstro (no bom sentido) fez com que a mente da mulher fosse levada a muito tempo antes de ter acontecido tudo isso…

Ainda em seu mundo.

Um mundo caótico, onde os humanos deixaram o planeta à beira da aniquilação… Onde os africanos tentavam brigar por um planeta que não tinha mais salvação… Onde agora havia a briga entre os espacianos, os antigos europeus e americanos do norte, e os terráqueos, aqueles que lideravam o mundo original com países antigamente ditos de 3º mundo.

O Brasil era um dos países que fora transportado para fora do mundo original, fazendo seu povo também se tornar espaciano… Mas ninguém se sentia muito bem com isso, não. Eles queriam voltar para o mundo original, mesmo que tudo ali estivesse condenado.

E ela, ela era só mais uma engenheira espacial com vários PhDs, não fez nada na vida a não ser estudar, a se dedicar, a obedecer ao que seus pais mandavam em sua vida… Até a supernova acontecer, até a pequena nave em que ela se encontrava ser varrida para uma fenda espaço-temporal com os ventos solares imensamente poderosos…

E, mesmo no vácuo do espaço, foi possível ouvir a explosão teragigantesca que sacudiu as estruturas da via láctea, uma supernova que engoliu todos os planetas mais internos e transformou toda a zona em um inferno nuclear sem fim… O planeta mais propício à vida foi Plutão, que foi para onde a maioria da humanidade que conseguiu escapar daquele lugar fugiu. O planeta degelou em poucos anos e o replantio de florestas foi rápido.

Cintia soube de tudo isso porque voltou para seu mundo natal depois de alguns meses e muito esforço. Só que ela não tinha mais lugar naquela sociedade. Um mundo superpopuloso com escassez aguda de alimentação, a tecnologia involuiu alguns milênios, e engenheiros como ela eram tidos como deuses… Mas havia quem, ao exemplo dela, que não queria aquela atenção toda.

Voltando para a fenda dimensional, notou que o tempo ali passava muito mais lento do que em seu mundo, então passou por dezenas de anos sem envelhecer, esquecendo até mesmo de como era aquele mundo onde nascera – e que agora não existia mais.

O silêncio fez com que todas as memórias bloqueadas pelo trauma voltassem lentamente, como um conta-gotas, como uma infusão de soro, pingando lenta e calmamente, e seu efeito surgindo do mesmo jeito.

Quando se deu por si, Cintia chorava, com toda a memória restaurada.

-      Houve algum problema, Cintia? – Perguntou Eduardo, preocupado.

-      Minha memória voltou integralmente, e agora entendi porque não tenho mais como voltar para o meu mundo… Ele foi destruído…

E Cintia começou a contar para Eduardo sua história, como chegou onde chegou, como havia perdido a memória por inação, e a morosidade daquele mundo havia feito com que ela perdesse todo o sentimento que tinha antes, em um estado de torpor quase infinito. Não sentia muita fome, sede ou mesmo quaisquer um dos sentimentos que costumava ter.

Com a chegada dele, tudo havia mudado, ela havia recuperado tudo o que havia perdido, até mesmo algo que ela julgava ter esquecido por vontade própria, ver com os próprios olhos a nave dos pais explodir com o vento solar, seguido da supernova – que havia sido filmada em 16k por algum engraçadinho com o celular...

A sorte que aquela reação que ela tivera não a afetava mais, mas era algo que ela considerou quando se lembrou de como havia reagido...

-        E está tudo bem contigo? Tantas memórias doloridas... Eu mesmo não sei se teria suportado tudo o que você suportou...

-        Sinceramente? Agora eu me sinto anestesiada por um tempo tão grande que eu passei naquele asteroide. Agora, graças a você, tenho a chance de recomeçar a minha vida em outro mundo, em outra situação, com a sociedade mudada por uma única decisão tomada de maneira correta... Obrigada.

Ele sorriu e ela sorriu de volta, mas não aconteceu nada além disso. Os dois eram bem conscientes da situação em que se encontravam. E ele, naquele momento de intimidade, entendeu os sentimentos que tinha por Cintia. Foi ali que ele entendeu que era correspondido e que ela tinha sido muito cortês em respeitar o tempo dele.

2 Comentários

  1. Grande George!
    Que capítulo maravilhoso!

    Quem revigorante ler algo bem construído,bem narrado!

    Foste soberbo em tratar de um.assunto tão delicado como o fim de um relacionamento e o provável nascimento de outro relacionamento.

    Sem ser apelativo, você foi de uma sensibilidade cirúrgica ao tratar do tema.


    Formou-se um triângulo amoroso ente Clarissa, Eduardo e Cinthia. Isso é fato,!

    Mas, você fez de forma inteligente e sutil,!

    Eu, que amo contar histórias sobre relacionamentos fiquei muito feliz com o que li!

    Meus parabéns!

    Aprendi muito hoje!

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    1. Posso dizer que é parte da minha experiência pessoal tratar disso. Obrigado por sempre acompanhar, mesmo que eu tenha demorado a responder. Obrigado, grande amigo.

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