18 -Conversas ao coração
Escrito em parceria com o Treinador_Pokemom
Atenção
Esse spin-off deve ser visto após o capítulo 26 de Amizade Estelar
Músicas indicadas para escutar junto ao episódio:
Música de Flashman: Yuhi no Requiem
https://youtu.be/HWUiqwVzfc0?si=0uCsxeBngLvxxmAm
Música de Changeman: Omoide no Soudake
https://youtu.be/UyuLp9bvEA4?si=O0w5yGFOP3uPHNnc
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Planeta Flash...
Após terem acompanhado os eventos na Terra, Jin conduz Nana a uma parte afastada da Titan Base...
O que Jin tinha para dizer à Nana era algo muito difícil e delicado...
Fruto de uma decisão amadurecida diante da última e duríssima batalha enfrentada por seus companheiros na Terra, os Bioman e os Changeman, onde ambos quase perderam suas vidas, Jin estava convicto de sua decisão.
Provavelmente, Nana não a aceitaria de bom grado...
Portanto, ele precisaria ter cuidados com suas palavras...
Tudo o que Jin menos queria era magoar o amor da sua vida...
Ele jamais a enganaria, ou brincaria com os sentimentos dela...
Ainda mais agora, depois que eles assumiram seus sentimentos perante todos.
Em sua mente, Nana não merecia aquilo!
Não querendo ser interrompido por ninguém, Jin se certificou que ele e Nana estavam a sós...
Ao se sentir suficientemente seguro, ele abre o seu coração. Segurando com delicadeza as mãos de Nana, ele começa dizendo:
-Nana...minha querida!
-A gente está junto há tão pouco tempo, mas sinto uma confiança tão grande em você, que parece que já nos conhecemos há décadas...
Nana sente o seu rosto corar.
Num primeiro momento, ela prefere somente escutar...
Mas, intuitivamente, seu coração suspeitava que o que Jin tinha a dizer não iria lhe agradar...
Psicologicamente, Nana começava a se preparar para o cenário que ela mais temia...
O que ela mais queria evitar!
Jin prossegue:
-Sabe..., eu não quero, e não tenho o direito de te enganar...
-Você é muito importante e preciosa para mim...
-Mas, diante dos últimos acontecimentos lá na Terra, como os de hoje, onde nossos amigos quase perderam a vida...
-Eu estive pensando e...
Nesse momento, Nana não se contém de ansiedade e o interrompe, nervosa:
-Não me diga que você quer voltar à Terra, sem ao menos ter descoberto a cura do Efeito Flash Negativo!
-É isso?
-Isso é loucura, Jin! – ela diz, apertando as mãos de Jin com um pouco mais de força, como se tentasse impedi-lo de seguir com aquela ideia.
Jin fica sem graça...
Desconcertado...
Ele já sabia que Nana iria discordar de sua decisão, mas isso não aliviava a culpa que sentia naquele momento por fazê-la se sentir assim.
Nana continua a argumentar, sua voz já demonstrando desespero:
-Jim, meu amor..., por favor, seja racional!
-Eu entendo a sua angústia de querer estar lá na Terra, ajudando os Changeman e os Bioman...
-De fato, os sacrifícios pelos quais eles estão passando são imensuráveis...
-Também entendo que a Terra é o seu planeta natal, e que você deseja muito que a paz reine, e que os terráqueos possam ser felizes...
-Eu, como technoliqueana, vivi situação parecida quando Gozma invadiu o meu planeta...
-Eu sei perfeitamente como se sente...
-Eu também entendo que você deseja descobrir o paradeiro dos seus familiares, e poder abraçá-los um dia...
-Quando estive na Terra, fui acolhida amorosamente por uma família... (*01)
-No entanto, eu tinha um poder que em determinado momento se manifestaria, e que era cobiçado por Gozma.
-Quando esse poder se manifestou, da noite para o dia eu me tornei uma adolescente, assumindo essa forma que você conhece...
-Foi duro para mim, mas tive que abandonar minha família terráquea, por mais amor e carinho que tivesse por eles...
-Eles jamais entenderiam aquela repentina mudança...
-E eu não queria envolvê-los ainda mais naquela guerra.
-Uma segunda manifestação desse mesmo poder me fez avançar em idade uma vez mais. (* 02)
-Foi aí que eu decidi me unir aos Changeman..., para não permitir que meu poder fosse mais usado para o mal, como ocorreu com Ahames da Estrela Amazo, e Giluke da Estrela Guiráz...
-Você não sabe a falta que aquele porto seguro me faz!
-Então, eu te compreendo, meu amor...
-Te compreendo e te admiro muito...!
-Seu senso de justiça e dedicação é tudo que uma mulher como eu, deseja de um homem!
Nana faz uma pausa, hesitante em continuar, mas prossegue mesmo assim, sabendo da necessidade de dizer aquilo:
-Mas, temos um grave impeditivo...
-Você, mais do que ninguém, sabe disso...
-Se você e os Flashman voltarem à Terra, vocês terão no máximo poucos dias de vida!
-Meu amor..., isso é muito pouco tempo para vocês derrotarem La Kéferus e Neo Mess, e ainda se encontrarem com as famílias de vocês...
-Sem falar que, uma vez debilitados pelo Efeito Flash Negativo, vocês podem mais atrapalhar os nossos amigos do que ajudar...
Nana se sentia culpada em falar tudo aquilo para Jin...
Era algo muito triste, e que poderia acabar com quaisquer esperanças não só dele, como dos demais...
Mas, mesmo assim, ela precisava chamar seu (agora) namorado à razão.
Afinal, era a vida dele que estava em jogo.
Ela continua:
-No seu caso, é ainda pior...
-Diferente dos demais, você é o único que não tem sequer uma pista do paradeiro dos seus pais...
-Pense o quanto isso pode te ferir...
-Mesmo que vençam Neo Mess, eles ainda terão a chance de abraçar, nem que seja uma vez, os seus parentes, como é o caso do Dan com a Jun...,
-A Lú com a Mai...,
-A Sara com o casal Tokimura e suas filhas...,
-E até, eventualmente, o Go com o seu irmão Ryu.
-Mas, e você...?
-Meu amor..., eu realmente não quero te desanimar, mas você tem noção do tamanho dos riscos e do grau de dificuldade...?
Jin ouvia atentamente os argumentos de Nana.
Tecnicamente, ela estava mais do que certa em sua linha de raciocínio.
Mas, o inconformismo de Jin com a situação, aliado à sua dor e ao desejo de lutar, também produzia seus argumentos...
Argumentos difíceis, mas plausíveis e também convincentes...
Após a fala de Nana, ele diz:
-Bem...,
-É muito difícil argumentar com uma pessoa tão inteligente quanto você, minha querida...
-Seria leviano e presunçoso da minha parte não levar em consideração os seus preciosos apontamentos...
-Embora você esteja certa na maioria das coisas que disse com tanta propriedade, eu também tenho motivos e argumentos para te fazer, ao menos, refletir...
Nana fica curiosa em relação ao que seu namorado acabara de dizer. Jin então prossegue:
-Eu estive pensando...,
O Efeito Flash Negativo faz com que nossos corpos rejeitam contato com qualquer substância ou ser vivo de fora do Planeta Flash...
-Porém, e se não precisássemos pousar na Terra?
-E se ficássemos na órbita do planeta, só entrando na atmosfera terrestre quando estritamente necessário?
-A Star Condor é dotada de toda a tecnologia para nos manter vivos por um tempo razoável...
-Ela possui sistemas internos de renovação de ar e água, sendo praticamente autossuficiente, e dispensa a necessidade de trazer esses elementos da Terra...
-Podemos também levar daqui, do Planeta Flash, estoques de comprimidos proteicos e suplementos alimentares altamente concentrados, capazes de nos manter nutridos e fisicamente saudáveis por bastante tempo...
-Eu creio que, nessas condições, estando ali próximos, podemos ajudar com mais eficácia...
-Eventualmente podemos até servir como defesa contra o Cruzador Neo Mess no espaço...
Àquela altura, Jin e Nana ainda não tinham ciência de que MAG e LAG, ajudados por Ibuki e Peebo, já haviam feito esse ataque contra a nave-mãe de Neo Mess.
Nana, entretanto, ainda tinha suas dúvidas:
-Mas, Jin, e quando vocês precisarem descer à Terra para lutar...? Para se encontrarem com seus familiares...?
-Se daqui, do Planeta Flash, a situação já está sendo torturante, vai ser pior ainda com vocês tão próximo da Terra!
-Como vocês vão fazer?
Jin responde:
-Sim, logicamente o contato físico com as pessoas da Terra é uma questão difícil...
-Eu me lembro bem das descargas elétricas que sofremos quando tocamos os pais da Sara, nos nossos últimos dias na Terra...
-Aquilo realmente nos deixou muito abalados na época...
-Inconformados com isso, assim que retornamos ao Planeta Flash, uma das primeiras coisas que tentamos entender foi justamente esse fator...
-Com a autorização de Lorde e Lady Titã, foram iniciados estudos para tentar amenizar esses sintomas mais agressivos do Efeito Flash Negativo, num hipotético retorno futuro...
Jin faz uma pausa, um pouco hesitante.
Nana percebe que seu olhar ficou distante.
Mas, Jin retoma imediatamente a postura e prossegue:
-Os cientistas do Planeta Flash, que há gerações se dedicam a estudar o Efeito Flash Negativo, conseguiram então aprimorar nossas vestimentas Flashman, de modo que elas se tornassem termicamente isolantes e não-condutoras de energia...
-Eles também conseguiram instalar respiradores artificiais nos nossos capacetes, para que o ar terrestre não entre em contato com nossos pulmões.
-Eu sei que não é o ideal, mas isso torna os encontros com os nossos familiares, ainda que com algumas restrições, pelo menos possível...
-Também poderemos lutar na Terra dessa maneira, se a situação exigir...
Nana faz uma cara surpresa e comenta:
-Não tinha pensado nisso...
-A uma distância segura, e com toda a tecnologia da Star Condor e dos seus uniformes à disposição, não deixa de ser razoável...
-Será muito sacrificante...
-Vocês só poderão interagir com suas famílias enquanto estiverem vestindo seus uniformes...
-Será como abraçá-los, com uma barreira entre vocês...
-Vocês também não poderão comer ou beber nada vindo da Terra...
-Mas, tecnicamente, isso é até possível...
Nana, entretanto, ressalva:
-Mesmo assim, será perigoso, meu amor...
-Não podemos prever os efeitos da entrada na atmosfera terrestre...
-Basta um acidente, ou alguma avaria mais séria na Star Condor, para vocês serem forçados a pousar na Terra...
-Ou se, durante uma luta, os seus uniformes sofrerem algum dano sério...
-Poderá ser o fim de vocês!
-Embora sua ideia seja algo factível, eu ainda me sinto insegura...
Aquela resposta de Nana admitindo a possibilidade daquela ideia vingar, mesmo que com objeções e restrições, ao invés de desanimar Jin, teve justamente o efeito contrário...
Ele ficou entusiasmado!
Pela primeira vez, Jin consegue visualizar uma remota, porém possível, luz no fim daquele túnel.
-Nana, minha querida... Pense comigo...
-Dan, Go, Sara e Lú já sabem quem são seus parentes...
-Com exceção de Go, os demais ou são parentes de um membro dos Bioman, como é o caso da Jun e o Dan, ou dos Changeman, no caso da Mai e a Lú...
-Somado ao fato dos pais da Sara, a querida família Tokimura, já estarem lá juntos aos Defensores, isso já facilita tudo...
-Mesmo que não possamos pousar na Terra com frequência, com a ajuda da Base Shuttle e da Bio Dragon, que a essa altura já devem estarem próximas à Terra, é possível que as famílias visitem a gente no espaço...
-Quanto às batalhas, estou ciente dos riscos das nossas vestimentas sofrerem avarias e sermos expostos aos elementos terrestres...
-Mas, se isso acontecer, estaremos em posição de socorrer rapidamente os atingidos e levá-los à Star Condor, onde eles poderão se recuperar, e os danos, reparados...
-Lembre-se que não estaremos sozinhos... os Bioman e os Changeman estarão lutando ao nosso lado.
-Dessa vez, temos amigos que sabem da nossa situação e podem nos ajudar.
-Não tenho o orgulho tolo de achar que podemos resolver tudo por conta própria. E tenho certeza que os demais pensam assim também...
-Mas estaremos ajudando, e isso é o que importa para nós!
Nana concorda, pensativa:
-Isso é verdade...
Porém, ela ainda resistia à ideia. E o motivo era o mais empático possível: o próprio Jin.
Sua ideia era por demais altruísta e, de certa forma, aliviaria o sofrimento dos demais Flashman...
Todavia, Jin esquecera de um detalhe que Nana considerava fundamental...
Ele mesmo!
Todos os Flashman, mesmo numa situação não tão favorável, estariam felizes, mas... e ele?
O gesto era por demais bonito, e tocara o coração de Nana, fazendo-a ter certeza de que escolhera o homem certo para a sua vida.
Mas, Nana não considerava isso justo com Jin.
E ela verbaliza isso:
-Jin, meu amor! Que lindo de sua parte!
-Meu coração não estava enganado quando te escolheu...
-Você é um homem justo e de alma nobre...
-Mas, e você?
-Você não descobriu nada sobre seus pais...
-E depois que a guerra com La Keférus acabar...?
-Todos terão visto seus familiares pelo menos uma vez..., menos você!
-A menos que seus pais sejam encontrados até lá, você ficará sozinho...
-E isso não é justo...! – ela finaliza, franzindo a testa de indignação.
Jin sorri em resposta, deixando Nana sem entender.
Com delicadeza, ele acaricia o seu rosto:
-Bobinha! Eu não estou sozinho...
-Eu tenho você...,
-Esqueceu...?
-E isso é mais do que suficiente para que eu não desista...
-Com você do meu lado, mesmo as maiores dificuldades ficam mais fáceis...
-Com você, eu encontro todos os argumentos e motivações possíveis para enfrentar os obstáculos mais espinhosos...
Aquela fala, como a flechada de um cupido imaginário, atravessou o coração romântico e juvenil de Nana, de modo definitivo e arrebatador...
O seu conto de fadas ganhava forma...
O seu príncipe encantado se mostrava real...
O seu cavaleiro de armadura vermelha, também cavalheiro, corajoso e destemido, estava ali, bem diante dos seus olhos...
Nana sente suas pernas faltarem, o coração bater mais forte...
Aquela declaração de amor lhe minava as já poucas resistências.
Jin, percebendo que suas palavras surtiram efeito, dá a sua cartada final:
-Venha comigo, Nana!
-É lógico que quero, e anseio descobrir quem são meus pais...
-É um grande sonho meu...
-Seria mentira se dissesse o contrário...
-Enquanto puder, vou procurar por eles...
-E, quem sabe, um dia sentirei a mesma emoção que meus companheiros...
-Mas, se isso não estiver no meu destino, por mais triste que seja, eu vou superar com você ao meu lado..., enquanto viajamos por esse universo infinito, ajudando a reconstruir os planetas destruídos por Bazoo, Mess e outros tiranos...
Nana sente seu rosto esquentar...
Suas já frágeis resistências acabaram de vez.
Jin não poderia ter sido mais certeiro...
Sensível, romântico...
Altruísta e empático...
Ainda que a proposta de Jin carecesse de alguns pontos e cuidados a serem observados, naquele instante, Nana não pensou mais em nada.
Ela se motivara ainda mais a buscar uma solução para Jin e os demais Flashman.
Em sua mente, ela prometeu para si mesma conseguir...
Trêmula, ela balbucia:
-Jin..., eu... eu...
Jin se aproxima, fitando-a nos olhos.
Novamente, ele a acaricia no rosto e o inevitável acontece...
Um apaixonado beijo.
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No dia seguinte, na Base dos Defensores do Planeta Terra.
Por decisão de Tsurugi e Shirou, quem estivesse em condições físicas estaria dispensado naquele dia, podendo ir cuidar de assuntos pessoais.
Os dois, com o aval de Sayaka, julgaram a ação necessária...
Todos os Bioman e os Changeman, após o duríssimo combate contra os dez monstros criados por La Kéferus, e depois contra o terrível Bio Hunter Silver, precisavam urgentemente de um tempo para recarregar as energias.
Claro, isso só foi possível porque as robôs MAG e LAG, recém-chegadas do planeta Flash, ao atacarem o Cruzador Imperial Neo Mess, deram a certeza de que, pelo menos pelos próximos dias, La Kéferus não estaria em condições de exercer um novo ataque.
Por mais que a situação dos heróis não estivesse nada confortável, principalmente em relação ao ressurgimento do Bio Hunter, Tsurugi sabia que uma equipe esgotada e ansiosa não era nada produtiva...
Essa pausa, mesmo que breve, daria um necessário respiro a todos.
Oozora foi um dos que aproveitaram a folga e foi até o seu restaurante na cidade de Kamakura, ver como estava a situação do estabelecimento.
Shingo e Ryuuta participaram de uma partida de beisebol organizada por alguns oficiais dos Defensores.
Ryuuta posteriormente também pretendia contactar sua prima, Kanoko Nambara. Alguns dias atrás, Shirou havia questionado se ele a conhecia, por possuírem o mesmo sobrenome. Ante a confirmação de Ryuuta, Shirou então lhe pediu que entrasse em contato com ela e tentasse marcar uma conversa a respeito de um assunto importante. (*03)
Hikaru e Jun, já recuperadas dos ferimentos, foram passear num shopping para espairecer.
A tecnologia médica flashniana, trazida por MAG e LAG, ajudara muito na recuperação de todos que foram feridos no último combate.
Tsurugi, Shirou e Sayaka, por opção, decidiram permanecerem na base. Tsurugi e Shirou, sendo os líderes de seus respectivos esquadrões, pretendiam analisar as gravações da última batalha e planejar uma maneira de contrabalançar o poder do Bio Hunter, numa inevitável revanche futura. Sayaka também se dispôs a ajudar, embora ela estivesse mais focada nos seus projetos científicos, como o antídoto contra os Zumbi-Zollos e a busca pela cura do Efeito Flash Negativo.
Por outras razões, Mai também decidira ficar na base, pois Hayate, embora tenha recobrado a consciência, estava ainda internado e requeria alguns cuidados.
Assim que soube que Hayate acordara, Mai imediatamente foi visitá-lo.
Muitas coisas se passavam na mente de Mai...
Por mais que se recusasse a admitir, poucas vezes em sua vida ela se sentiu tão vulnerável e fragilizada.
Uma angustiante sensação de medo passou a atormentar a sua mente.
Principalmente os torturantes questionamentos de “e se...”
“E se eles (os esquadrões) tivessem sido derrotados?”
“E se ela nunca mais conseguisse dar um abraço em sua prima Lú?”
“E se o destino de sua outra prima desaparecida fosse o que ela realmente suspeitava?”
“E se o Hayate tivesse morrido?”
“E se o Hayate resolvesse trocá-la por outra mulher?”
“E se o poder máximo de seu Densetsu nunca mais se manifestasse?”
“E se ela não conseguisse suportar a pressão de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, haja vista a sua atitude imprudente na última batalha?”
“E se a sua atitude imprudente fosse responsável pela morte de algum dos seus colegas?”
“E se...?”
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Ao chegar na enfermaria, Mai percebe que Hayate também estava diferente do habitual...
Triste...,
Distante...,
Pensativo...,
Assim que a viu, ele tentou disfarçar, mas Mai, sem rodeios, já iniciou a conversa, num tom jovial:
-E aí, garotão?
-Que susto você me deu!
-Se você tivesse morrido, eu não ia te perdoar...
Mai falou isso na expectativa que Hayate reagisse ou fizesse algum tipo de brincadeira, típico dele...
Mas, não foi isso que aconteceu...
Todo enfaixado, principalmente na região torácica, e fazendo um esforço hercúleo para não demonstrar as dores que ainda o incomodavam, Hayate estava sério e tenso:
-Meu amor... não brinque!
-Nossa luta está muito complicada...
-Estou muito preocupado...
-Por que tudo isso tinha que acontecer logo agora..., que a gente enfim... se acertou?
-Estamos absorvidos dos pés à cabeça nessa questão dos Flashman, que inclusive envolve você diretamente...
Hayate faz uma pausa para suspirar, cabisbaixo:
-Eu pensei que, ao unirmos forças com os Bioman, nada nos pararia...
-Mas, eu estava enganado...
Um silêncio perturbador recai sobre o recinto.
Nenhum dos dois diz nada, apenas olham um para o outro, aguardando alguma resposta.
Até que Mai, surpreendendo Hayate, começa a chorar.
Ele fica sem entender e pergunta:
-Mai, o que foi?
-Eu falei alguma coisa errada?
Mai tenta, sem sucesso, enxugar as lágrimas:
-Não, Hayate...
-Você não disse nada errado...
-Não sei o que está acontecendo comigo...
-Desde que tudo isso começou...
-A guerra contra Neo Mess, a descoberta da Lú...
-Tenho andado muito emotiva...
-Não sou mais a mesma...
Hayate, em resposta, segura a mão de Mai.
Mai corresponde o gesto.
Ele diz:
-Mai, olhe nos meus olhos!
Mai reluta, mas cede. Ele continua:
-Pare de bancar a forte, eu te peço!
-Aí dentro tem uma pessoa...
-Eu não estou aqui... para te julgar...
-Muito menos... zombar de você...
-O momento não é para brincadeiras tolas, ou cantadas infames, como eu sempre fazia...
-Não se esqueça que você é humana...
-Eu consigo compreender toda a extensão da sua angústia...
-Afinal, são um turbilhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo...
-Quando os problemas vêm individualmente, podemos encará-los...
-Porém, mesmo as pessoas mais fortes não conseguem aguentar, quando todos os problemas se acumulam de uma vez só...
-É natural que, nessa situação, você se disperse...
Mai vira o rosto para o lado, num mal dissimulado gesto de culpa e contrariedade:
-Sim...,
-Eu fiz isso..., eu me dispersei...
-Quando você foi ferido daquela maneira, eu... eu não pensei em mais nada...
-Eu não vi mais nada...
-Eu fui até você..., sem os devidos cuidados... e coloquei a Sayaka e a Hikaru em risco...
-Eu já pedi perdão a elas...
-Elas me entenderam...
-Mas, mesmo assim, estou me sentindo péssima...
Hayate segura a mão de Mai com mais ênfase:
-Mai..., errar faz parte da caminhada...
-Quem nunca errou?
Hayate sente de repente uma dor aguda no corpo, causada pelos ferimentos, e franze a testa de incômodo.
Mai percebe e se preocupa com o namorado:
-Não se esforce, “boy”...
-Você ainda não está bem.
-Eu acho que já vou indo e...
Hayate a interrompe:
-Espera!
-Não vá!
-Eu preciso... te dizer algumas coisas...
Mai se espanta e resolve ficar em silêncio.
Hayate diz:
-O que eu vou dizer..., não é uma cantada barata...
-Vem do fundo da minha alma...
-Eu não me importo com a minha vida, desde que você esteja bem...
Mai fica brava com aquela fala:
-Que bobagem é essa, Hayate?
-A gente mal começou e você já fala em morrer?
-Isso não se fala nem brincando!
Hayate não muda o semblante e prossegue:
-Escuta... Eu tô falando sério!
-Eu encontrei um novo sentido para minha vida...
-Eu tenho os meus defeitos... preciso me policiar em muitas coisas, principalmente no que tange às mulheres ...
-Não sou santo... Tô longe de ser perfeito, mas...
-Estou disposto a te fazer feliz...
-Farei o meu melhor para isso!
-Além de defender a Terra, que é a nossa maior missão, eu quero muito que você abrace a Lú...
-Eu quero que você volte a frequentar o dôjo do seu tio, o senhor Shiunsai...
-Eu quero que vocês se aperfeiçoem na arte ninja, que sempre foi uma especialidade sua...
-Eu também quero fazer aquelas viagens doidas com você, de moto, sem rumo, sem direção..., curtindo o vento na cara...,
-O Sol...,
-A chuva...,
-Vivendo a vida como ela deve ser vivida..., de modo leve..., sem frescuras..., sem falsos pudores...
Mai, por mais que tentasse bancar a durona, acaba cedendo e concordando:
-Eu também quero muito isso...
-Eu quero tentar...
-Muita gente acha que um dia essa nossa paixão terminará...
-Que será algo intenso, porém efêmero...
-Muita gente vê uma incompatibilidade gritante entre a gente...
-Não queria admitir isso para você, mas, sim, eu tô meio insegura quanto a nós...
-No entanto, “boy”, a gente não manda no coração, não é?
Hayate sorri:
-Agora você disse uma verdade...
-A gente fica meio bobo...
-Mas, é bom viver isso...
Mai concorda:
-Eu sinto que você está sendo verdadeiro...
-Você não está me prometendo coisas impossíveis, que eu e você sabemos que não serão cumpridas...
-Eu quero me permitir viver isso também, sem me arrepender de nada...
-E se um dia acabar, que possa ficar a amizade...
-Antes tentar e não dar certo, do que se arrepender de nunca ter tentado, não é mesmo?
Hayate tem os olhos marejados:
-Que bom que entendeu...
Mai tenta disfarçar a emoção.
Ela se aproxima de Hayate, acariciando de leve a sua face, dando-lhe em seguida um beijo rápido, tipo selinho...
Ela finaliza com um soco de leve no ombro não-enfaixado de Hayate.
-Não era esse tipo de beijo que queria te dar, garotão, mas você ainda não está bem...
-Descanse!
-Vou deixar você em paz agora...
-Fique bom logo, para a gente derrotar Neo Mess e poder se curtir!
Mai anda em direção à porta, mas antes de sair do quarto, ela dá uma piscada para Hayate:
-Essa conversa me deixou mais aliviada...
-Obrigada.
E então sai, sem esperar resposta.
Ao se ver sozinho, Hayate diz para si mesmo:
-Mai...
Mais tarde naquele dia, a guerreira rosada, mais aliviada, decidiu compartilhar aquele momento com Sayaka, que a ouviu atentamente.
Algo dizia a Mai que aquele romance não seria eterno...
Porém, ela queria que fosse eterno enquanto durasse...
Afinal, quem foi que disse que heróis não podem se amar?
Notas
(*01) Conforme visto na série Esquadrão Relâmpago Changeman;
(*02) Episódio 43 de Changeman, “O Super-Giluke”.
(*03) Conforme mencionado no capítulo 23 de Amizade Estelar.
4 Comentários
Parece que finalmente os Flashman terão uma participação mais ativa nessa guerra. Até agora, eles foram obrigados a permanecer como meros observadores da luta contra Neo Mess. Debilitados pelo Efeito Flash Negativo e sem um horizonte próximo de cura, Jin e os demais Flashman devem chegando no auge do desespero, se sentindo impotentes após tantas lutas em que seus amigos na Terra quase morreram. Desse modo, torna-se perfeitamente compreensível que eles decidam jogar tudo para o alto e se arriscar a voltar para a Terra, tendo como único consolo se encontrar com suas famílias (porém em condições extremamente restritivas). Mas é como diz o ditado, "para quem está se afogando, jacaré é tronco". E os Flashman não seriam os heróis que são, se não estivessem dispostos a arriscar suas vidas para dar sua contribuição (por mínima que seja) na defesa da Terra, não concorda? Mal posso esperar para finalmente ouvir um grito de "Refração Flash!"
ResponderExcluir"Antes tentar e não dar certo, do que se arrepender de nunca ter tentado, não é mesmo?" Interessante que Hayate involuntariamente repetiu as mesmas palavras ditas por Jin a Nana, quando esses últimos iniciaram seu relacionamento alguns capítulos atrás. Esses dois casais (Hayate/Mai e Jin/Nana), apesar de terem personalidades bastante distintas, também possuem semelhanças, tais como: (1) ambos os casais estão inseguros se o relacionamento dará certo, mas decidem tentar mesmo assim; (2) a garota do casal, talvez por inexperiência em relacionamentos, tem uma visão meio idealizada do rapaz (Mai vê Hayate como um bad boy incorrigível, e Nana vê Jin como um cavaleiro de armadura reluzente); (3) a garota do casal (Mai e Nana) vive se preocupando muito pela segurança do rapaz, pois acha que ele (Hayate e Jin) toma decisões muito arriscadas. Interessante este capítulo mostrar a dinâmica entre os dois casais, fazendo um paralelo entre eles.
Grande trabalho, Jirayrider!
Grande Pokemon!
ExcluirAgradeço aos seus acréscimos textuais que deixaram o texto mais tridimensional e realista.
Jin jamais aceitaria ficar parado o tempo todo..
Não é do perfil dele.
Por mais arriscado que seja, ele deseja fazer algo para ajudar seus amigos Changeman e Bioman
Mas, ao mesmo tempo, ele não queria magoar a Nana, sua namorada.
Ele foi muito sensível e falou no.tom certo, convencendo-a, apesar dos riscos.
Já na Terra, Hayate mostrou que ele é muito além do mulherengo metido a garanto.
Ele se desnudou pra Mai, mostra-nos seus sentimentos, o que não deve ter sido fácil.
Mai sentiu verdade e baixou a guarda se permitindo acreditar naquele sentimento. Pelo menos, enquanto durasse.
O engraçado que é da mulher, algo bem feminino,as atitudes semelhantes de Nana e Mai em protegerem seus amados.
Nisso, apesar das diferenças de personalidades, elas foram iguais.
Te agradeço por deixar esse texto tão bom!
Gratidão!
O Jin pelo visto está pensando em fazer uma aposta para lá de ousada. Pretende cruzar o Rubicão. E até já estou começando a imaginar quem são os pais dele. E sobre o Hayate, não sei não, mas ele me passa a impressão de que ele não é lá muito afeito a relacionamentos duradouros.
ResponderExcluirGrande Eduardo !
ExcluirPrazer em revê-lo aqui no blog!
De fato, Jin faz uma aposta de altíssimo risco, mas não fazer nada enquanto os Changeman e Bioman arriscam suas vidas por eles não é algo fácil de se lidar.
Quanto a Hayate, é isso mesmo!
Relacionamentos duradouros não é praia dele.
Mas que seja maravilhoso enquanto dure.
Mai também pensa assim.
Vejamos no que dará...
Gratidão!