Ato 01 – Renata Silveira dos Santos (Sophia_ Lovers)
O Natal passou...
A virada do ano se aproximava.
Mas, Renata Silveira dos Santos, enfermeira de profissão e, nas horas vagas, escritora fictor de vocação, estava com a cabeça a mil...
O encontro inusitado que tivera com o famoso e misterioso “Caçador Noturno” na noite de Natal, salvando-a de uma provável violência sexual, mexeu com a sua cabeça.
No trabalho, ela tenta disfarçar, mas as amigas mais próximas percebem.
Principalmente, Regina, a mesma que na confraternização de Natal,um pouco alta pela bebida lhe falou algumas coisas inconvenientes.
Dessa vez, pelo menos, ela foi mais discreta.
- Amiga...o que tá rolando?
-Você está esquisita...
-Distante...
-Tá chateada comigo?
-Eu sei que na festa de confraternização, eu te constrangi...
-Estava “alegre”...
-Acabei me empolgando com o assédio sutil dos meninos e falei demais...
-Não foi legal...Me desculpe mesmo!
Renata desconversa...
-O que é isso, Regina?
-Você não fez nada demais!...
-Eu é que estou estressada...
-Final de ano é assim mesmo...
-Perdi meus pais pra Covid...
-Me lembro deles e fico triste...
Embora, não fosse exatamente isso que a incomodava, Renata pareceu convincente.
Foi uma desculpa adequada.
Regina só pontuou...
-Eu0 sinto muito por seus pais e por você...
-Eu entendo...
-Deve ser uma barra pesada mesmo...
-Ainda bem que não está chateada comigo...
-Eu fui inconveniente e indelicada...
-Cada um faz o que quer...
-Ninguém, muito menos eu tem o direito de te julgar, só porque você é mais reservada...
Renata responde:
-Sabe...,Regina...
-Apesar de você ter pisado na bola, você não deixa de ter certa razão...
-Eu sou certinha demais, mesmo...
-Acho que isso cria uma barreira e os rapazes não se aproximam...
-Vou tentar mudar isso...
-Preciso ser mais acessível mesmo...
-Não quero ficar pra titia...
-Embora nem irmãos e irmãs eu tenha...
-Não quero ficar uma solteirona chata e encruada...
-Quero encontrar alguém...
-Vejamos o que 2025 me reserva...
Regina, sóbria era totalmente diferente da Regina alterada por algumas cervejas e drinks na cabeça.
Ela pondera:
-No seu tempo..., amiga!
-Não faça isso porque eu falei...
-Tenho que cuidar dos meus afazeres...
-Fique bem!...
E se retira em seguida.
Renata ficou com aquilo na cabeça...
Dentro dela, o seu lado “fanfiqueira” estava falando mais alto...
Suas abstrações em forma de pensamento judiavam-na sobremaneira.
Ela não se conformava até agora com a sua atitude ousada para com uma pessoa que jamais conhecera.
“Como eu fui fazer aquilo?”
“O que deu em mim?”
“Louca”...
“Bem feito pelo fora, Renata!”...
“Quando que o Caçador em São consciência, ia parar o que tava fazendo e ia comemorar o Natal comigo... , a sós?”...
“Só na minha cabeça desmiolada e sem juízo”...
“Que vergonha!”...
“Pra quem tem a fama de séria e fechada, fui assanhada demais”...
“Mas, não resisti”...
“Esse cara misterioso me fascina”...
“Desde que apareceu no noticiário há alguns anos , ele mexeu no meu imaginário”...
“Não à toa, fiz uma fic sobre ele”...
“Caçador Noturno”...
“O justiceiro das madrugadas paulistanas”...
“Personagem misterioso”...
“Fascinante!”...
“Se eu contasse, ninguém iria entender”...
“Sou uma completa idiota, mas é com esse cara misterioso e inacessível que quero ficar”...
“Ele me atrai”...
“Sem conhecê-lo me apaixonei”...
“Jamais confessaria essa doideira pra ninguém”...
“Coisa de adolescente boba que já nem sou mais”...
“Como que ele é, sem aquela máscara?”
“Será um cara legal ou um mala?”
“Como fazer pra encontrá-lo de novo?”...
“Será que o destino o colocará no meu caminho?”...
“Enquanto não acontece, o jeito é fanficar”...
“Mesmo que eu não publique de imediato, é isso que vou fazer”...
“O papel aceita tudo...,inclusive, as minhas mais loucas fantasias”...
“É isso!...Vou voltar a escrever”...
“Nem que seja pra mim”...
“Não preciso postar...Embora não tenha problema nenhum, pois uso um “Nick Name”...
“E o nome já diz...fic..., algo fictício”...
“Sophia_Lovers voltará com tudo!”...
E ao chegar em casa , naquele resto de fim de ano , foi isso que ela se pôs a fazer, até mesmo na virada de ano , a qual passou sozinha.
Sua imaginação estava tão fértil que ela produziu duas versões ...
Uma mais romantizada, a qual ela não via problemas em publicar futuramente e outra, digamos, mais ousada, que ela decidiu guardar pra ela...
Com uma taça de vinho ao lado como única companhia, sozinha, em seu apartamento , enquanto as pessoas comemoravam a chegada de 2025, Renata colocava no papel, suas expectativas e frustrações do que ela viveu e do que gostaria de ter vivido...
Ao ler as duas versões, ela fala consigo mesmo...
-Espero que a versão mais romantizada chegue a ele...
- E que ele se lembre de mim...
-A versão mais “hot”, vou sublimar...por enquanto...
-Mesmo que seja uma escrita só pra mim, pelo menos, pus pra fora o que sinto...
-Que os céus reservem o melhor pra mim em 2025...
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Ato 02 – Nicolau de Oliveira (Nico)
Caçador Noturno
Após a ocorrência com a linda jovem, Nicolau de Oliveira, chamado pelos amigos de “Nico”, o alter-ego do “Caçador Noturno” teve uma noite agitada.
Nada menos que quatro novas ocorrências, em plena noite de Natal...
Ironia do destino, ou não, quatro casos de abuso sexual.
Quatro homens deixados como vieram ao mundo para a polícia.
Ao chegar em sua kitnet, já no amanhecer, tudo que Nico queria era um sofá amigo pra se deitar.
Não pensou em mais nada...
Apagou...
Naquele Natal , ele foi acordar lá pelas duas da tarde.
Ao abrir a geladeira, encontrou algumas besteiras que gostava.
Ao olhar o noticiário no celular, o susto...
A polícia deflagrou uma operação de busca com recompensa para quem denunciasse o justiceiro das noites, tido agora como inimigo do Estado de São Paulo.
-Ih...exagerei... – constatou.
Enquanto lia a reportagem, Nico dizia pra si mesmo:
-Eles se sentiram ultrajados pela ineficácia deles mesmos...
-Querem limpar a barra junto a população...
-Hipócritas!
-Não fazem o quem que tem se fazer junto ao desvalidos e marginalizados e tentam encontrar um bode expiatório para seu fracasso enquanto instituição...
-Não poderei agir tão cedo...Terei que ficar na miúda...
-Terei que dar uma parada no Caçador Noturno se não quiser ser pego e “foder” com a minha vida”...
-Não preciso ser inteligente para entender que as patrulhas ostensivas na cidade vão aumentar...
-Eles precisam dar uma resposta à sociedade...
Pensativo, Nico lembrou-se em ordem decrescente de todas as ocorrências da agitada noite anterior.
Todos os casos de abusadores sexuais.
Até que chegou na que mais lhe chamou a atenção...
A primeira ocorrência!
A da moça do carro com pneu furado e seu inusitado convite após a ocorrência.
Dando um riso involuntário, Nico diz pra si mesmo:
-Que azar!
-Deus, de fato , “não dá asa a cobra”...
-Duvido que se eu estivesse como Nico, um preto pobre e lascado como eu, ela se interessaria por mim...
-Ela parece uma boneca...
-Aquele olhar...
-Aquela boca sedenta de beijo...
-Não sei como me segurei...
-Talvez, se eu tivesse cedido ao desejo que senti, não estaria nessa encrenca...
-Um caso é bem diferente de cinco casos na mesma noite...
-Cinco vagabundos capados é um exagero...
-Não chamaria a atenção da polícia...
-Mas, não tenho o direito em envolvê-la em minha loucura...
-Como ela se chama mesmo?
-Ah...sim..
-Renata é o nome dela...
Suspirando, Nico diz:
-Poxa...que pena, Renata!
Nico ligou o streaming de música de sua TV e começou a ouvir a sua playlist, numa tentativa de esquecer aquela jovem que chamou a sua atenção...
Quem disse que conseguiu?
Enquanto a música tocava, uma frase dita pela jovem ficava martelando na sua cabeça:
“Por trás dessa máscara existe um ser humano maravilhoso, tão solitário quanto eu...”
Deitado no sofá novamente, Nico, olha pro teto, lamentando:
-Um solitário e uma solitária...
-Dois solitários juntos...
-Não consigo tirar essa moça do meu pensamento...
Os dias seguintes foram de tédio para Nico.
Principalmente quando estava a sós com seus pensamentos.
Nico percebeu que a polícia estava mais ativa nas ruas de São Paulo.
Se não pela segurança da população em si, mas para caçar o famigerado “Caçador Noturno”...
Nas festividades de Ano Novo, seria inútil ele dar as caras...
O jeito era hibernar por tempo indeterminado...
Não iria rolar...
Nico passou o Ano Novo sozinho.
Deprimido...
Dormiu o máximo que pôde ou conseguiu.
Quando acordava, dois pensamentos fixos na sua mente:
Primeiro, como voltar a ativa sem dar na vista ou ser preso?
Segundo, como parar de pensar naquela jovem dos olhos verdes?
E os dias foram se passando...
Um tanto entediado por ser ver compelido a não fazer o que considerava sua missão de vida, Nico começou a buscar nas redes qualquer alusão à figura do “Caçador Noturno “...
Conforme suspeitava, sua figura gerava sentimentos extremos e discussões acaloradas.
Nada de meio a meio!
Nada de meio termo!
Era igual sobre discussão sobre time de futebol, estilo musical ou política.
“Ame-o, ou odeio-o!”
Quem gostava de sua ação, defendia-o com os unhas e dentes.
Os críticos queriam a sua caveira, literalmente.
Ao olhar as redes sociais sobre as notícias sobre o Caçador Noturno, Nico se assustou...
Estava pior que a disputa entre os adeptos da direita e da esquerda da política nacional.
Os comentários de quem odiava o Caçador Noturno eram violentos.
Embora nada tivesse a ver, muitos misturavam a sua ação com a ideologia política.
O Caçador foi chamado de tudo e mais um pouco...
Comunista...
Fascista...
Golpista...
Patriota...
Reacionário...
Anjo justiceiro
Encarnação do demônio...
Só a sua mãe (desconhecida por ele mesmo) não foi chamada de santa, porque o resto...
Mas, o destino tem suas ironias...
Era dia 13 de janeiro ...
Numa dessas buscas por coisas relacionadas ao Caçador Noturno, Nico se deparou com algo inusitado.
Dois romances fics envolvendo o seu nome.
“Caçador Noturno: meu romance com o justiceiro urbano” e “O meu Natal com o Caçador Noturno”...
Esses eram os títulos das obras.
Fruto da imaginação pra lá de fértil da também misteriosa Sophia_Lovers, uma autora cuja a imagem era de um avatar em forma de um coração repleto de chamas.
Nico parecia não acreditar:
-Era só o que me faltava! – ri.
-Uma maluca disse que viveu um romance tórrido comigo...
-Quem é essa tal de Sophia_Lovers?
-Que louca!!
-Mais louca do que eu ou do que a...
Sem saber explicar o porquê os pensamentos de Nico foram parar novamente naquela moça dos olhos verdes da Noite de Natal ...
Nico diz pra si mesmo:
-Eu não teria essa sorte...
-Se fosse a tal da Renata do Natal, eu seria o cara mais sortudo do mundo...
-Além de linda, pelo visto, ela conhecia a ação do Caçador Noturno e aprovava o seu trabalho...
Mas, Nico cai na real:
-Que bobeira é essa, Nico?
-Tá virando obsessão, já seu “pulha”!
-No mínimo essa Sophia_Lovers deve ser uma “nerd baranga”...
No entanto, conforme ia lendo a história fic, mas ele se imaginava naquelas cenas descritas na referida história.
Só que na fantasia dele, ignorando a provável nerd, a Sophia_Lovers era ninguém menos que a Renata.
-Como ela estará? – ele diz pra si mesmo.
O que Nico, entretanto, jamais poderia imaginar era que o destino, definitivamente estava querendo zoar com a sua cara.
De uma maneira que, nem nas abstrações mais absurdas ele poderia imaginar ...
xxxxxx
Ato 3 : Os caminhos de Nico e Renata novamente voltam a se cruzar.
17 de janeiro de 2025...
Uma sexta-feira.
Um dia normal como outro qualquer...
Ou, pelo menos deveria ser assim...
Nico sai do final do expediente de seu trabalho.
Mais uma semana vencida.
Pelo menos, ele assim pensava.
Sem ter muito o que fazer, Nico decide dar uma caminhada nos arredores.
Sexta-feira, aa pessoas ficam mais animadas .
Muitos aproveitam o início do final de semana para os happy hours pós-trampo, ou para as baladas da cidade .
Convites não faltavam para Nico.
Mas, ele queria fazer seu happy hour a sua maneira: ele com ele mesmo.
Vez por outra, quando sua cabeça não estava bem, ele curtia olhar as vitrines das lojas, para espairecer um pouco as ideias.
Era uma forma de distrair a cabeça e se centrar.
Numa lanchonete próxima, ele decide entrar.
Pensando consigo mesmo, Nico decide:
“Hoje vou meter o pé na jaca!”
“Nada de musculação, comida saudável e bebida shape por hoje”...
“Não aguento mais comer ovo cozido, banana com granola, filé de frango ou batata doce”...
“Quero judiar do meu fígado”...
Olhando as opções do letreiro, ele decide :
-Quero um pastel de carne seca e outro de frango com catupiry e um caldo de cana grande bem gelado!
Após alguns minutos, ele é servido e se senta para comer o seu lanche recheado de gordura.
Parecia que nunca tinha comido um pastel tão bom ou bebido um caldo de cana tão saboroso.
-Nossa! -diz pra si mesmo – Tinha esquecido o quanto isso é bom!
Enquanto comia e bebia, porém, alguém novamente lhe ronda a mente...
Renata, a garota dos olhos verdes!
Olhando pro copo repleto de caldo de cana , ele diz:
-De novo, ela...
-Tô enlouquecendo...
-Eu não sei onde ela mora..., mas, sei onde ela foi atacada...
-Ela disse que morava lá perto...
Nesse momento, Nico tem uma ideia:
“Já sei!”...
“Vou dar um pulo naquela região”...
“Não tô fazendo nada mesmo”...
“Vai quê”...
Decidido, Nico, termina seu lanche calmamente .
Saboreando cada mordida e cada gole, agora ele é que começa a fanficar em sua mente:
“Não é muito longe daqui...Dá pra ir a pé”....
“Lá tem muitos barzinhos descolados com mesas do lado de fora”...
“Duvido que ela não curta!”...
“Algo me diz que vou encontrá-la”...
“O não eu já tenho”...
“Vou tentar a sorte”...
“No máximo, não verei ninguém”...
E ele foi!
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Naquela sexta, Renata, após relutar bastante, decide participar de um happy hour com Regina e outras colegas de clínica...
Era num barzinho perto da casa dela e ela estava entediada...
No mínimo, ia ficar de ressaca...
Mas, ela se permitiria...daquela vez.
Uns “drinkzinhos” e um pouco de emoção não faz mal a ninguém...
Até segunda-feira quando ela começaria a dar plantão num hospital particular localizado nas proximidades, ela estaria bem...
Eram 8 e meia da noite...
Lá estavam elas: Renata e suas colegas.
Na mesa, uma porção de anéis de cebolas fritas e batatas fritas com muito ketchup , mostarda e barbecue, algumas latas de cerveja e suco de laranja.
Renata, decidiu iniciar com um drink não alcoólico feito a base de groselha e soda limonada decorado com uma cereja.
Papo vai, papo vem; em mais de uma hora de happy hour , em meio às gargalhadas das amigas (como de costume) meio altas , Renata , de repente, põe as mãos no rosto grita, assustando a todos:
-MEU DEUUUUS!!!!
Milésimos de segundos depois, um estrondo é o que todos nas mesas ouvem...
A cena era chocante.
Um rapaz negro de camisa social branca, de alta estatura é arremessado longe por uma motociclista que avançou o sinal vermelho em alta velocidade.
O rapaz estava no meio da faixa quando a moto, vinda de uma rua de esqment1, entrou na referida rua com tudo.
Ele não teve a mínima chance de desviar.
O impacto foi tão grande que o rapaz caiu desacordado com várias fraturas expostas e perdendo muito sangue .
O motociclista tentou fugir, mas foi parado pelas pessoas .
Uma confusão generalizada tomou conta da rua .
Enquanto muitos focavam em parar o motociclista e agredi-lo, outros só se preocupavam em filmar com seus celulares, para colocarem em suas redes sociais numa típica e lamentável cena desses novos tempos, onde empatia era uma palavra em desuso, importando mais os “likes”.
Renata agradeceu aos céus por não ter ingerido bebida alcoólica.
Numa surpreendente rapidez que ela se questionaria depois, Renata estava ao lado da vítima, medindo sua pulsação.
Percebendo a gravidade do quadro e a falta de empatia das pessoas, ela teve tempo de dar um esporro geral:
-“PORRA, GALERA”!!!!...
-Ao invés de filmarem, façam alguma coisa!!!!
-Ele está vivo , mas perdendo muito sangue...
-É uma vida humana que corte risco de morte!!!
-Chamem o SAMU, rápido!!!!!
Foi então, que algumas pessoas com bom senso fizeram o que se deve fazer nessas horas.
Alguns se aproximaram, inclusive suas colegas de trabalho, enfermeiras como elas.
Mas, ao contrário de Renata, elas não iam poder ajudar muito, pois já haviam bebido bem.
Por sorte, o SAMU e a polícia chegaram rápido ao local
Enquanto a polícia autuava o motociclista, que apresentava visíveis sinais de embriaguez, os enfermeiros do SAMU fazem algumas perguntas à Renata, que esclarece :
-Sou enfermeira!
-Seguindo os protocolos, eu só aferi os batimentos cardíacos e os sinais vitais...
-Eu não mexi nele por causa das lesões...
-Ele está vivo, mas apresenta um quadro de múltiplas fraturas e perda de sangue.
Com aquelas importantíssimas informações, os profissionais agilizaram os procedimentos de remoção da vítima, encaminhando para o hospital.
Renata e suas amigas, no entanto, passaram a noite na delegacia, prestando depoimentos como testemunhas do acidente.
Ao chegar em casa, tudo que Renata queria era descansar. Mas, ela sabia que não conseguiria.
Aa cenas do atropelamento estava em sua retina como um filme cuja a cena se repetia infinitas vezes.
Foi quando ela se deu conta que a vítima do atropelamento foi encaminhado para o hospital que ela iria iniciar na segunda.
E o que é o pior. Na UTI, local onde ela iria prestar serviços.
Ela diz pra si mesma:
-Se ele não morrer até lá, provavelmente, eu serei uma das plantonistas que atenderão o seu caso...
-Isso é muito louco!...
-Terei que não me deixar dominar pelo impacto do acidente na minha mente...
O que Renata não poderia imaginar era que a referida vítima era um conhecido dela.
Não muito habitual, é verdade...
Mas, ainda sim, um conhecido!
O domingo foi de angústia e expectativa.
Colocada no grupo de zap dos enfermeiros da UTI do referido hospital, ela soube que o paciente, identificado como Nicolau de Oliveira, havia tido uma fratura na costela, que por milagre não perfurou o pulmão direito, uma fratura exposta e no antebraço esquerdo, além de um traumatismo craniano nível 1 e uma hemorragia interna que obrigaram a equipe médica a sedá-lo e fazerem uma transfusão de sangue em caráter emergencial...
Seu quadro era considerado grave.
Após estabilizar a hemorragia, ele teria que passar por algumas cirurgias complexas.
Sua recuperação total poderia demorar meses, ainda que tivesse alta num curto período de tempo segundo previsões mais otimistas.
Tudo dependeria do pós-operatório e como o corpo dele reagiria depois de acordar.
Já na segunda, no plantão Renata pôde acompanhar Nico, embora não havia muito o que se fazer.
A hemorragia, felizmente foi estancada, e o trauma craniano felizmente se mostrou mais leve que o diagnosticado inicialmente, mas Nicolau permanecia sedado em coma induzido.
As próximas 48 horas seriam decisivas para a definição das cirurgias necessárias.
Renata, embora mantivesse a postura profissional adequada, internamente sentia uma angustiante inquietação.
Sem explicar o porquê, algo naquele rapaz a sua frente lhe chamava a atenção...
Talvez fosse a terrível cena do acidente, ela supôs inicialmente.
Mas, tinha algo além disso...
Renata, acostumada a lidar com as mazelas humanas, como doença, dor e finitude humana, típicas de uma profissional da saúde, se sentia incomodada com ela mesma porque aquele caso lhe despertou tanta empatia e comiseração interna.
“O que estava acontecendo com ela?”, ela se perguntava ...
Por que ela estava sendo dominada por seu lado passional, algo desaconselhável para um enfermeiro ?
Alguns dias se passaram.
Nicolau foi operado.
Uma operação bem sucedida, apesar de demorada e complexa.
Segundo os últimos boletins médicos, seu porte físico atlético e saudável, típico de quem era adepto de exercícios físicos estava fazendo a diferença na recuperação.
Já estávamos no dia 27 de janeiro, portanto, dez dias após o acidente.
Renata estava ansiosa pelo seu próximo plantão naquele hospital.
No grupo de enfermeiros e enfermeiras do zap, ela soube que o paciente Nicolau Oliveira havia despertado no dia anterior, após exatos dez dias em coma induzido.
Na troca de turno às sete da manhã, ao render a colega Andressa, Renata se apresenta a Nicolau, que apesar das talas de gesso o braço e faixas no tórax, se mostrava bem lúcido e aparentando estar disposto, apesar das fortes dores no corpo que o incomodavam ainda...
Sem nada se lembrar do acidente em si, Nico reclamou das fortes dores que sentia no corpo e, principalmente na região da costela e braço direito, que passou por cirurgia.
Todo enfaixado e sentindo muito desconforto além de agitado; algo normal para quem sofreu um acidente daquele envergadura; Nico visivelmente mostrava uma recuperação clínica muito além do esperado.
E ele faria de tudo pra sair dali.
Sua maior preocupação era com a sua mobilidade.
Embora não tivesse nenhuma fratura exposta nos membros inferiores como pernas, joelho, tornozelos e pés, o que seria mais grave, para que o Caçador Noturno pudesse atuar plenamente, era preciso estar em plena condições físicas, o que não era o caso.
Tudo o que Nico não queria era ficar de molho muito tempo.
Mas, ele reconhecia que não dependia dele.
Contrariado com aquela situação e perdido em sua ansiedade, de cara, ele não reconheceu Renata.
A enfermeira à sua frente, por sua vez, de modo formal e gentil, lhe diz:
-Bom dia, senhor Nicolau! Eu sou a Renata e estarei com você durante as próximas horas...
-Fico feliz que o senhor tenha acordado ontem, segundo o relatório que me foi passado e se mostra num quadro de franca evolução clínica, algo sequer cogitado por nossa equipe, dado o seu estado de saúde...
-Creio que, em torno de 48 horas, o senhor sairá da UTI para iniciar uma nova fase do seu tratamento, com sessões de fisioterapias localizadas, até ter condições mínimas de alta médica.
-Estarei à sua disposição...Se precisar, é só acionar o botão de alarme...
Renata, no entanto, percebe algo estranho.
Enquanto ela falava, Nicolau olhava-a de modo não habitual, parecendo ter visto uma assombração.
Um pouco constrangida, ela pergunta:
-O senhor está bem? Falei alguma coisa de errado?
Foi quando Nicolau se dá por si, saindo do estado de choque e se justificando:
-Me desculpe se te assustei...
-Eu tive a sensação de que te conheço de algum lugar...
Ao ouvir aquelas palavras, agora era Renata que, internamente se assusta, ficando em choque.
Agora ela entendeu o porquê que o paciente a olhava de um modo singular.
Ela reconhece imediatamente a voz de Nicolau...
“Essa voz... Não é possível!”...
“Então?”...
Mas, ela disfarça bem, procurando ser técnica em sua fala:
-Deve ser algum engano...
-Isso é normal quando o paciente acorda, após alguns dias em coma...
-Chamamos isso de transtorno pós-traumático associado distorção do senso de realidade...
-Por isso essa sensação de estar desnorteado...
Mas o olhar incisivo e expressivo de Nicolau lhe perturbava profundamente.
Mas, ela não poderia dar bandeira.
Ali ela era a profissional de saúde. Ela tinha um nome a zelar.
Mas, Renata precisava respirar. O impacto da descoberta pegou-a desprevenida.
Ela, tentando organizar os seus pensamentos e emoções, diz que precisava verificar outros pacientes e se retira, pedindo licença.
Enquanto tomava uma água, no corredor de acesso ao quarto onde o paciente Nicolau se encontrava, ela pensa:
“Ele é o Caçador Noturno!”...
“Puta que pariu! Que loucura é essa?”
“Não posso estar enganada”...
“É a mesma voz”...
“E ele me reconheceu também..., tenho certeza!”...
Seu coração parecia pular fora do seu peito.
Sem acreditar naquilo, ela enquanto se dirigia a outro quarto, pensa:
“Que tapa na minha cara!”...
“A vida só pode estar de sacanagem comigo”...
“Se a Sophia_Lovers escrevesse isso, ninguém iria acreditar”...
“Tô fudida”...
Mas, profissional que era, Renata se recompõe rapidamente.
Os pacientes não tinham culpa da adrenalina que pulsava em suas veias...
E ela, pela ética profissional que sempre pregou, também não poderia contar a Nico que ela foi testemunha do seu atropelamento.
Enquanto isso, no quarto de UTI, Nico também parecia não acreditar no que seus olhos acabaram de presenciar.
Seus pensamentos estavam a mil:
“Quem diria?”...
“Ela é a Renata da noite de Natal”...
“E ela é uma das enfermeiras que cuidou de mim em seus plantões, enquanto eu estava em coma”...
Se contorcendo de leve , devido a dor no corpo, Nico fica perturbado:
“E eu dei uma mancada agora”...
“Se ela prestou a atenção na minha voz, não terá dificuldade em me associar com o meu outro eu”...
“Eu nunca impostei a minha voz para atuar como Caçador”...
“Preciso falar o mínimo possível, a partir de agora”...
“Mas, ela, de enfermeira ficou ainda mais bonita”...
“Mas, não posso me trair, senão ponho tudo perder”...
“E o Caçador Noturno, embora todo quebrado e ainda que demore, terá que voltar”....
“Será difícil, mas terei que me conter”...
Das vezes que foi necessário alguma intervenção de Renata, quer via aplicação de medicamento, quer monitoramento dos sinais vitais, ambos mantiveram suas posturas, evitando, inclusive olhares.
As horas passam...
Ao final da tarde , após a meia hora de visita, ao entrar no quarto de UTI onde Nico estava instalado junto a outro paciente, Renata faz um anúncio, tentando se mostrar a mais formal possível:
-Senhor Nicolau..., o senhor vai pro quarto...
-Está de alta da UTI!...
-Eu peço que o senhor preencha esse formulário, com seus dados pessoais e e-mail para que o hospital envie um relatório completo de todos os procedimentos pelos quais o senhor passou.
Nico responde:
-Sim, claro...
Enquanto Nico preenchia seus dados , Renata diz:
-Espero que o senhor se recupere rápido!...
Assim que Nico preenche o formulário e lhe entrega, Renata, agradece e faz menção de sair.
Nico, acaba se traindo novamente e a interrompe:
-Espere!...
Renata se assusta, na expectativa que Nicolau falasse algo fora do protocolo.
Nico disfarça:
-Nada não...
-Obrigado por ser atenciosa comigo...
-Soube que fiquei dez dias em coma induzido...
-Eu não tenho parentes aqui em São Paulo, só recebi uma visita do meu patrão...
-Então, seu tratamento humanizado foi muito importante pra mim...
-Grato...
Renata se decepciona, mas mantém a postura:
-Ah...sim! Os pacientes devem ser tratados com respeito e humanidade...
-Já estão fragilizados emocionalmente...
-É o mínimo que um profissional deve fazer...
-E é como eu gostaria de ser tratada se estivesse na sua situação...
-Com licença...
E se retira...
Minutos depois, uma nova equipe de enfermeiros, vem buscar Nico, que é levado para um quarto normal.
Já instalado em seu novo quarto, ele lamenta em pensamento:
“Que droga!”
“Não verei mais aqueles olhos verdes que me fascinam”...
‘Daria tudo pra ficar uns dias a mais para poder vê-la”...
“Mas, eu não vou desistir”...
“Eu me acidentei na esperança de vê-la”...
“Ela conheceu o Caçador”...
“Eu quero que ela conheça o Nico”...
Ao final do seu plantão, tudo o que Renata queria era se deitar e tentar esquecer a peça que vida lhe pregou...
28 de janeiro ...
Ela não iria esquecer aquele dia tão cedo...
Deitada em seu sofá, ela começa um monólogo íntimo consigo mesma, confessando o que não teria coragem de confessar, por exemplo, para um padre (católica que sempre fora, embora não praticante).
-Que arrependimento!
-Então, o Nicolau é o Caçador...
-Ele é mais bonito que eu supunha...
-As vezes, ser certinha demais é um porre...
-Eu decorei o e-mail dele e o telefone...
-Coloquei até nos meus contatos...
-Mas, não posso fazer isso, por mais que queira...
-Isso é antiético...
-Poderia muito bem dar uma de “João sem braço” e mandar uma mensagem pra ele em seu e-mail ou mesmo no zap...
Se lembrando de sua colega de trabalho, ela ri involuntariamente:
-Rssss... A Regina com uns “álcool” (sic) a mais na cabeça, me zoaria, me chamando de boba...
-Consigo escutar a sua voz me dizendo: “Miga, sua boba! Quem nunca?”...
-Mas quem disse que eu consigo burlar regras?
-E outra...
-Essa atitude daria muito na cara que eu sei quem ele é...
-Se na noite de Natal eu o assustei, imagine agora?
-Quero-o muito...Tenho certeza disso!
-Ainda mais agora que descobri sua identidade secreta...
-Isso só uniu o útil ao agradável...
-Pra mim mesmo, admito: tô na dele, como nunca tive com homem nenhum...
-Nem nos meus rolos de adolescente.
-Mas, não desejo passar a imagem de uma mulher atirada...
-Um pouco de prudência e canja de galinha não faz mal a ninguém...
-Outro fora eu não iria suportar...
-Se bem quê!...
-Ele me reconheceu...Tá na cara que ele me reconheceu...
-Ele deu uma baita bandeira...
-Eu dei uma de “João sem braço”, me fazendo de desentendida, mas ficou óbvio que ele se ligou que eu era a garota do Natal...
-Eu pude sentir no olhar dele que ele gostou de mim também...
-Quer saber?...
-Ele que corra atrás de mim, agora....
-Quem quer, corre atrás...
-Mas, não sei se ele correrá o risco de se envolver com alguém por causa do personagem que ele criou...
-E o Caçador vai ficar um tempo de molho...
-Eu, pelo menos, acredito nisso, embora o Caçador seja imprevisível...
-Mas, a bola tá com ele...
-Vamos ver se o Caçador Noturno é tão ousado com as mulheres o quanto ele é com os bandidos da noite...
-Vamos ver o que acontece...
Renata, exausta, dorme...
xxxxxx
Ato Final:
É Carnaval, é a doce ilusão, é promessa de um novo amor em seu coração
Os dias passam...
Nico, três dias depois, teve alta.
Era o início de fevereiro...
Agora vinha a parte mais difícil: a da recuperação.
Pra não entrar de Licença Médica, ele fez um acordo com seu patrão e passou a trabalhar em Home Office.
Horas conectado ao Notebook, Nico, ainda convalescente pelo acidente, claro que, por mais que quisesse, teria que aposentar momentaneamente o seu alter-ego secreto.
Não bastasse o fato que a polícia estava atenta a uma futura ação sua, dificultando suas aparições, suas condições físicas não permitiam que ele, por exemplo pudesse fugir rapidamente, caso flagrado agindo como o justiceiro que era.
Nas horas vagas, durante a semana, as intensas e cansativas sessões de fisioterapia tomavam o restante do seu tempo.
Disciplinado, Nico queria se recuperar o quanto antes.
Dez dias depois, ele tirou a tala de gesso do
braço.
Os exames mostraram que a recuperação da cirurgia estava satisfatória, mas as dores persistiam.
Sua única distração, era esperar a saída de Renata de seu plantão e vigiá-la secretamente.
Não demorou muito para que ele identificasse as suas rotinas e hábitos, como academia, passeios e momentos de lazer, como a frequente ida a barzinhos junto às suas colegas.
Mas, faltava-lhe coragem pra se manifestar.
O fato de Renata sempre estar acompanhada por suas colegas, atrapalhava os planos de Nico, que era tímido por natureza.
Mas, Nico a queria...
Ele daria um jeito de, ao menos ser visto por ela, nem que fosse num suposto esbarrão...
E assim ele fez.
Quando ela passava, apressada para ir pra sua casa, após um dia cansativo de expediente no hospital, Nico fingiu esbarrar acidentalmente nela.
Quando os olhos se encontraram, o silêncio de segundos que, parecia milênios.
Mas, ele estava decidido:
-Nossa..., você não é a enfermeira Renata do Hospital aqui perto?
Renata sente o coração bater mais forte, mas disfarça, fingindo não se lembrar dele (embora fosse justamente o contrário)
-Sim, sou eu...
-Você não me é estranho...
Nico sorri:
-É claro...É tanto paciente que você não deve se lembrar...
-Mas, eu sou o Nicolau...
-O rapaz que foi atropelado...
Renata, bancando a atriz, faz uma expressão de quem tentava se lembrar até que diz:
-Ah...claro!
-Me desculpe!
-Como poderia esquecer?
Nico tenta quebrar o clima formal:
-Pode me chamar de Nico...
Antes que Renata pensasse em responder algo, Nico faz um convite:
-Eu sei que você está cansada e tal, mas você aceita tomar um café comigo?...
-Prometo que será rápido...E será por minha conta...
Sem jeito e pega de surpresa com aquela aparição repentina, mas tão desejada intimamente por ela, Renata decide aceitar...
Já na lanchonete, enquanto aguardava o pedido, Nico decide se expor, mas tomando o cuidado para não revelar seu grande segredo.
-Sabe, Renata!...
-Não me entenda errado, mas...
-Mesmo internado, quando te vi no hospital, confesso que você chamou minha atenção...
Era tudo o que Renata queria ouvir, mas o papel de atriz precisava permanecer.
Dessa vez, era ele quem teria que se mexer.
-Nossa! -diz -Estou surpresa!
-Jamais poderia imaginar que causaria esse tipo de reação....
Nesse instante, o pedido chega.
Nico pediu um lanche Bauru com café expresso, enquanto Renata, um pão de queijo recheado com catupiry e um suco de laranja.
Nico fixa o olhar em Renata.
Por mais que suasse frio, ele não estava disposto a recuar na loucura que acabara de cometer.
Tudo em nome do frisson que Renato lhe provocava
-Sabe...Eu não tenho pais conhecidos...
-Vivi a infância num orfanato...
Renata levanta a sobrancelha, mostrando espanto.
Ela jamais esperaria algo parecido.
Nessa hora a personagem criada cai por terra.
Ninguém falaria algo tão íntimo pra alguém , assim do nada.
Ela se viu compelida a ouvir o relato com olhar da empatia, mostrando real interesse, mas também dando suas bandeiras:
-Nossa, “Nico”!...,
-Er...desculpe!...
-Foi você quem pediu pra eu te chamar assim...
-Eu sinto muito....
-Se sentir confortável, me conte...
Nico, responde:
-Obrigado por querer me ouvir...
-Mas, voltando...
-Isso me tornou uma pessoa retraída...
-Não tô contando isso pra me fazer de vítima ou ganhar a sua simpatia....
-Mas, é importante tocar nesse assunto para que eu chegue onde eu quero...
-Na verdade, eu tive uns rolos passageiros, mas nunca sequer namorei alguém a sério...
-Eu nem sei chegar numa “mina” direito...
-Xaveco então?...
-Não ria do meu jeito sem noção e atrapalhado...
-Por isso resolvi ser sincero...
Renata sorri:
-Eu não curto “xaveco” barato...
-Nisso, você já ganhou um ponto comigo...
-Mas, independente disso, fale!...
-Vou te ouvir...
A resposta aliviou a tensão de Nico, que se sentiu mais seguro em prosseguir .
-Conforme ia dizendo..., desculpe o mal jeito, mas eu me interessei em você...
-Nem sei se você é comprometida ou não, mas queria muito ter um lance contigo...
Renata mexe nos cabelos lisos, numa insinuação involuntária.
Por mais que quisesse, ela não conseguia disfarçar.
Ela diz:
-Eu não sou comprometida...E já tem um bom tempo...
-Não vou negar que o que você acabou de me dizer me surpreendeu...
-Ainda mais ocorrendo no meu ambiente de trabalho...
-Você é um cara bem apresentado...
-Forte fisicamente...
-Bonito e atraente...
-Não é difícil uma garota se interessar por você...
Nico fica animado.
Mas, contudo, Renata faz uma ressalva.
-Pela forma sincera como que você chegou em mim, eu até aceito a gente começar a conversar por mensagem, pra gente se conhecer melhor e ver se temos a ver um com o outro ...
Renata faz uma pausa proposital, para em seguida, dizer:
-Mas, também tenho que te dizer uma coisa...
Nico sente um arrepio nas costas...
Ele temia que Renata , a garota que ele conhecera na Noite de Natal enquanto atuava como Caçador Noturno, e que o destino colocou à sua frente novamente, ligasse os pontos e chegasse a sua real identidade.
Isso poderia ser o fim de algo que nem sequer começou .
Renata percebeu o medo no olhar de Nico e decidiu também se abrir:
-7
Nico arregala os olhos, mas nada diz.
Renata prossegue, segurando de leve a mão de Nico, que sua frio.
Ela fala baixo para as pessoas próximas não ouvirem:
-Desde antes daquela noite, eu já estava na sua,..., digo, no seu personagem, mesmo sem conhecer a tua real identidade...
-Através de dois romances que escrevi...
Nico se assusta.
-Então, você é a...
Renata sorri:
-Do mesmo modo que você é o...
-Não precisa ninguém saber, não é mesmo?
Sem saber o que dizer, Nico só ouve Renata, que prossegue:
-Não vou te expor..
-Fique tranquilo!
-Mas você me salvou de ser abusada ...
-No hospital, depois que você acordou e falou comigo, eu reconheci sua voz..
-Fui até ousada em te convidar pra passar o Natal comigo...
-Devo ter te assustado...
-Peço desculpas por isso...
-Mas, eu, na minha doideira já era louca pelo personagem que você criou...
Mudando o semblante, Renata abre o jogo:
-Fanfics e bobeira de mulher romântica à parte, a minha dúvida é se aquele herói que desafia a polícia seja uma coisa e você, outra...
Nico não sabia o que responder.
Renata fora sutil quanto à sua identidade, ao mesmo tempo que direta sobre seus sentimentos.
Renata, prossegue:
-Eu sou apaixonada pelo meu herói...
-Agora é você quem não ria de mim, por favor...
-Mas, de repente, eu também posso me apaixonar por você...
-Ficou até mais fácil...,não vou negar...
-Ainda mais agora...
-Mas, entendo que tem alguns complicadores...
-Então, vamos começar nosso lance com cuidado...
-Prefiro algo mais sutil, como conversas no zap, e algumas saídas sem compromisso de..., você sabe o quê...
Nico concorda com a cabeça.
Renata diz:
-Vamos respeitar algumas etapas e deixar fluir naturalmente...
Nico consegue falar :
-Eu concordo com você...
-Acho que começamos bem...
-Você, mesmo sem dizer, entendeu muita coisa que está em jogo...
-E isso é bom...
-Embora louco de vontade e tesão por você, sinto que tem que ser assim...
-Em nossas conversas no zap e eventuais rolês, prometo que eu não omitirei nada de você...
-Nem sobre o meu personagem...
-Eu vou te explicar tudo...Prometo!
Renata queria beijá-lo loucamente, mas se conteve, dizendo:
-Bom...O papo tá ótimo, mas eu estou cansada...
-Preciso descansar e pensar sobre nós...
-Vou deixar meu contato...
-A partir de amanhã, a gente vai se falando...
-Não quero te machucar e não quero me machucar também ...
Nico faz um sinal para o garçonete, como quem pede a conta, enquanto diz:
-Ok...Façamos assim!...
-Posso pelo menos te acompanhar até a porta da sua casa?
Renata aceita:
-Claro...Mas, sem intimidades, por enquanto...
Após pagar a conta, Nico acompanha a agora potencial namorada .
Na porta do apartamento dela, ele diz:
-Bom...está entregue!
-A gente se fala...
-Até mais...
Renata responde:
-Até mais, Nico...
Os dois se despedem com um beijo no rosto.
Já no apartamento , Renata põe a mão no peito, respirando fundo:
-Meu Deus!
-Foi tenso...
-Mas, eu fiz o certo dessa vez...
xxxxxxx
Semanas depois...
O Carnaval batia às portas ....
Nos finais de semana, já se notava a existência de alguns blocos de rua ,que comemoram antecipadamente o Carnaval.
Por mais que Renata disfarçasse, suas colegas notaram uma mudança significativa de comportamento.
Renata estava mais sorridente.
Mais vaidosa consigo mesma.
Mais leve!
Regina (sempre ela) , num dos intervalos do café, questiona a amiga:
-Miga...Você tá diferente...
-Pode me contar...
-Conheceu algum “bofe”?
Renata tenta desconversar.
Ela não queria expor o seu rolo com Nico.
-Regina, cê tá louca? – diz.
-De onde você tirou essa ideia maluca?
Regina não se dá por vencida:
-Esses olhos verdes brilhantes e esse sorriso no rosto não me engana...
-Você conheceu alguém...
-Tem “peguetti” na área...
Renata apenas diz:
-Deixa de ser enxerida!
-Não tenho “peguetti” nenhum... Que coisa!!!
Regina, vivida, percebe que Renata não queria abrir o jogo e alfineta:
-Tá bom! Eu finjo que acredito...
-Mas, pelo menos, aproveita o carnaval e “solta a franga”...
Renata finge ficar brava, embora não segurasse o riso:
-Se eu não soubesse que você é muito doida, teria ficado muito “puta” com você...
-Mas, vou relevar em nome da nossa amizade....
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O fato era que, às conversas no zap com Nico evoluíram e já mudara de estágio.
Tecnicamente, eles eram namorados, embora de modo discreto.
Nico decidiu investir na relação e sempre marcava um encontro com ela em restaurantes, shoppings e até cinemas.
Nico, também estava mais solto e sorridente.
Seus olhos irradiavam brilho.
Algo inédito em sua vida solitária.
Renata também...
Gestos simples como comer no mesmo prato ou um dar comida na boca do outro, troca de mensagens de amor e carinho eram grandes acontecimentos...
Tudo muito leve, sem cobranças e excessivas...
É claro que rolou uns beijos quentes. Mas, até então, nada além disso...
Nico estava tão apaixonado por Renata, que mesmo sem atuar como o Caçador Noturno, aceitou dar um rolê de carro, onde Nico constatava a atuar.
Nas ruas, a miséria humana e o mundo dos invisíveis e marginalizados que ele jurou defender.
Ele confessou suas motivações.
Dirigindo o carro, Renata constatou:
-Embora você seja bem espalhafatoso em seus métodos, eu consigo te entender...
-O que você acaba de me dizer, é apenas a confirmação da minha visão sobre você...
Nico sorri:
-Não sou só eu que sou espalhafatoso, senhorita Renata...
-Ou, devo dizer: Sophia_Lovers!
-Você fez duas histórias, digamos...bemhistóriass...
Sem tirar a mão do volante e atenta ao trânsito noturno, Renata responde:
-Nada diferente do que sinto...
Nessa instante, após retornar daquele rolê inusitado, na despedida, os dois se permitiram darem um beijo mais apaixonado.
Segurando a nuca de Nico, Renata diz:
-O personagem ganhou um concorrente a altura...
-Desse jeito, serei obrigada a trocá-lo por alguém mais interessante, não acha, Nico!
Nico, responde:
-Pode apostar que sim...
Os dois se beijam novamente...
A fanfic de Sophia_Lovers, finalmente a ganhar contornos e vernizes mais reais...
Mas, faltava um passo à mais!
Superando a sua timidez, Nico, no dia seguinte, decidido a ter Renata por completo, surpreendendo a própria, convidou-a para curtir o carnaval na Faria Lima com ele.
Ele ainda se ressentia das dores provocadas pelo atropelamento, mas estava disposto a fazer esse doce sacrifício.
O carnaval é uma data conhecida por estar relacionada a muitas histórias de paixão e até romances...
Quantos casais se conheceram e se apaixonaram em carnavais, não é mesmo?
No sábado de carnaval vários blocos de rua e alguns trios elétricos iriam se apresentar.
Em meio à multidão de foliões fantasiados, os dois entenderam que aquele clima de festa, era o ideal para o rolo dos dois avançasse mais um estágio...
Já não havia dúvidas!...
Os dois se queriam!...
Seus corpos pediam a presença do outro...
O cheiro da pele...
O gosto do beijo...
A maravilhosa sensação do toque...
O despertar dos sentidos...
A dopamina e a oxitocina, hormônios relacionados ao prazer e bem estar estavam no auge dos seus corpos, sedentos de desejos.
A incompreensível química da paixão inebriavam-lhes os sentidos.
A magia do carnaval vinha a calhar para potencializar tudo isso...
Todo esse mix de sensações...
Deliciosas e inesquecíveis sensações!
Entre, blocos, trios elétricos, micaretas, confetes, serpentinas, purpurinas, fantasias e jatos d’águas para reduzir o calor de uma multidão em festa, a paixão entre Nico e Renata, como um vulcão em erupção, explodiu.
Nico e Renata iriam aproveitar aqueles dias da melhor maneira possível, cada segundo, minuto horas ou dias de festejos de um intenso e inesquecível carnaval!
Até a quarta-feira de cinzas tinha chão...
Se não na folia da avenida, o carnaval dos pombinhos aconteceria num local mais apropriado e íntimo.
Inspiração para as fanfics românticas de Sophia_Lovers, o “nick name” de Renata não haveria de faltar...
Continua?...
Renata (Sophia_Lovers)
4 Comentários
Uma boa história de romance com o Carnaval de pano de fundo, com os acontecimentos logo após aos do Natal e os dois protagonistas engatam um namoro que combina com a estação mais quente.
ResponderExcluirparabéns
Grande Norberto!
ExcluirTentei manter uma certa coerência com os acontecimentos do primeiro conto , como uma continuidade natural mesmo.
Optei por frisar o romance, sem no entanto, citar o ato sexual em si, já que, quando utilizei esse recurso, não fui muito feliz...
Gratidão pelo comentário!
Que espetáculo de sensações, Jirayrider!
ResponderExcluirA escrita consegue capturar com perfeição a intensidade da paixão e da química entre Nico e Renata. Dá para sentir no ritmo das frases a pulsação do desejo e a energia do carnaval, como se a própria festa fosse um personagem que amplifica tudo ao redor!
A fusão entre a folia e o romance cria um cenário vibrante e irresistível, onde cada momento é vivido ao máximo, sem freios ou arrependimentos. O carnaval aqui não é só pano de fundo, mas o combustível perfeito para esse romance explosivo!
E esse toque final, ligando a história às inspirações de fanfics, foi um detalhe genial. Uma bela metalinguagem para fechar com chave de ouro!
Ansioso para ver onde essa paixão vai levar esses dois! 🎭🔥
Grande Artur!
ExcluirEmbora subentendido, eu não falei de sexo...
Isso foi um feito, nesse drama que começou no Natal e prosseguiu no Carnaval.
Como você disse, o carnaval é uma época que os desejos afloram.
Não foi diferente aqui.
Tentei trazer o enredo com o máximo cuidado possível.
Renata e Nico se amam.
Mas, devido às atividades de justiceiro de Nico como Caçador Noturno, isso pode atrapalhar no futuro.
E as fanfics foi uma homenagem a nós, criadores de sonhos através da nossa arte de escrita.
Veremos onde esse romance terminará.
Gratidão