Capítulo 2 - Sol Radiante!
"O prefeito, vereador ou qualquer político que seja é um funcionário público e deve total honra ao público que lhe paga seu almoço."
Era uma tarde de sol forte, por volta das 16 horas, no centro movimentado de Leifastad, capital de Brasillien. Carros passavam lentamente pelas ruas estreitas, mas o que mais chamava atenção era a grande quantidade de veículos estacionados no caminho que leva à praça principal, antes da ponte onde uma placa indicava o trajeto para a praia chamada Shell City. A rua era tão estreita que os para-choques quase se tocavam, e mesmo os estacionamentos oficiais estavam completamente lotados, como se algo muito importante estivesse prestes a acontecer.
Nos arredores do centro, porém, o movimento era bem diferente: poucas pessoas caminhavam, muitas lojas permaneciam fechadas e apenas algumas abertas recebiam os últimos clientes do dia. O contraste entre aquela calmaria e o frenesi perto da praça era evidente.
Ao chegar ao grande ponto de encontro, a praça revelou-se ampla e bem cuidada, com piso de paralelepípedos antigos e bancos de madeira circundando canteiros floridos. Havia vendedores ambulantes oferecendo pipocas recém-estouradas, algodão-doce e outros doces; um barzinho de madeira, protegido por guarda-sóis vermelhos, servia água gelada, refrigerantes e sucos naturais.
Na lateral direita, destacava-se a loja Love Galaxy, com fachada pintada em tons de rosa, amarelo e roxo, portas escancaradas e grande movimento de clientes. Poucos metros adiante, ficava o Banco Federal, em tons de verde e azul, cuja arquitetura sóbria contrastava com o colorido da vizinhança. Perto do centro da praça, um chafariz adornado por estátuas de bronze jorrava água cristalina, e ao redor dele cerca de dez árvores frondosas ofereciam sombra aos curiosos.
Atrás do chafariz, um pequeno parque estava tomado por uma multidão de pessoas de diferentes idades, etnias e estilos. Quase todos vestiam botons, camisas ou carregavam bandeiras estampadas com o número 3666 em vermelho. Muitas crianças reuniam-se à frente, olhos fixos no palco improvisado.
O palco, montado sobre estrutura de madeira e metal, contava com alto-falantes e refletores. Seguranças — homens e mulheres, em maior número masculino — mantinham vigilância discreta nas laterais. Ao lado do microfone, tremulava a bandeira de Brasillien: cruz escandinava amarela com bordas azuis, sobre quadrantes branco (à esquerda) e verde (à direita), deslocada para o lado, conforme o estilo tradicional nórdico.
Subiu ao palco um jovem de cabelos castanhos curtos e espetados, com duas pequenas mechas na parte de trás da cabeça. Seus olhos castanho-claros reluziam sob o sol. Vestia terno social preto impecável, gravata vermelha bem alinhada, calça social preta e tênis brancos da marca Abidas, com o discreto logo nas laterais. Com expressão confiante, segurou firmemente o microfone, apontou o braço direito para a multidão e disse:
"BOA TARDE A TODOS"
A multidão respondeu imediatamente, gritando em uníssono. Ele sorriu e prosseguiu:
"Espero que estejam todos muito bem e que tenham gostado dos lanches que foram cortesia das nossas cozinheiras e dos nossos cozinheiros da amada Prefeitura de Leifastad. Inclusive, peço desculpas à galerinha que gosta de bebidas alcoólicas: vocês sabem que eu não curto muito e quis evitar possíveis brigas por conta de excessos."
Fez um gesto de desculpas, juntando as mãos em leve reverência, e continuou:
"Bom, espero que bebam água ou sucos fresquinhos e bem gelados. Para aqueles que querem beber algo mais forte, fiquem tranquilos: após esta cerimônia de comemoração da minha vitória nestas eleições por 97% dos votos, teremos bebidas alcoólicas liberadas — cada um por si, hein?"
A multidão aplaudiu e balançou bandeiras com o número 3666 freneticamente. O jovem ergueu ambos os braços para o alto e declarou:
"É essa energia que eu gosto e amo, uma energia tão radiante quanto o sol que está nos dando a graça de sua luz nesta tarde!"
Apontou com a mão direita para o sol, enquanto, com a esquerda, varria a plateia. Em uníssono, quase todos os presentes entoaram:
"Issei Hyoudou"
Ele sorriu mais uma vez e disse:
"Obrigado"
Então, puxou os dois braços para a direita, agachou-se e, num impulso, ergueu-se fazendo o sinal de número um com a mão direita, enquanto a esquerda descia. Em seguida, gritou:
"SOL RADIANTE!!!!!"
A multidão repetiu o gesto e o brado. Ainda na mesma postura, ele concluiu:
"Quero que saibam que agradeço todo esse apoio por mim, mas principalmente pelas minhas ideias, porque elas que são importantes e não minha pessoa, pois um dia eu não estarei aqui. Por isso, vamos aproveitar o agora e tirar nossos projetos do papel. Quero viver isso como se fosse o último dia da minha vida, e com vocês podem ter certeza de que eu, como prefeito da capital de Brasillien, nossa amada Leifastad, tentarei proteger os inocentes e melhorar ainda mais a infraestrutura desta cidade, além de dar continuidade aos projetos já iniciados. Não vou parar: temos que avançar e farei com que estes três anos sejam trinta anos de avanços. Devemos servir de exemplo para os outros líderes da nossa nação e do mundo. Nosso país está avançando e seguiremos estendendo nossa bandeira com orgulho."
Ao terminar, a multidão vibrou novamente, batendo palmas em uníssono. Ainda ergueu o microfone e gritou mais uma vez:
"SOL RADIANTE!!"
E foi aplaudido com fervor por todos ali.
Ao mesmo tempo, em um prédio de cor cinza, no topo da construção, havia uma pequena figura agachada, observando tudo se desenrolar. A silhueta era feminina, de estatura reduzida, o que tornava difícil distinguir se se tratava de uma criança ou de uma mulher muito pequena. O cabelo, de tonalidade roxo-azulado, estava preso em uma longa trança lateral, adornada por uma presilha em forma de laço roxo. Ela vestia uma capa longa preta, com forro interno vermelho vivo, lembrando os trajes tradicionais de vilões ou caçadores; na parte inferior, a barra da capa tinha cortes pontiagudos. Sob a capa, um vestido preto de mangas longas, simples e elegante, exibia delicados detalhes brancos rendados na barra e nos punhos. As pernas eram cobertas por meia-calça marrom com listras verticais claras, que alongavam visualmente a silhueta, e, nos pés, botas pretas de cano médio com punhos dobrados e pequenos detalhes em roxo. No pescoço, um pingente dourado pendia de um laço roxo preso ao vestido.
O olhar verde intenso da jovem foi parcialmente ocultado por um scouter — aparelho com visor rosa — preso sobre o olho esquerdo. Pelo visor, surgiam números e símbolos, todos focados em Issei. Ela sorriu ao ver alguns dados piscando no display. “Humm… apenas 40 de força. Deve ser um alvo fácil, porém ele possui uma força maior do que a maioria da sua faixa etária”, murmurou, ainda sorrindo.
Num instante, um círculo mágico de cor roxa se materializou diante dela, do qual surgiu um rifle de precisão — sniper de cano longo tingido de roxo. A garota segurou a arma com naturalidade, ergueu-a e mirou diretamente na cabeça de Issei. “Uma pena eu ter que fazer isso. Aquela coisa de ‘sol radiante’ é bem legal”, comentou, dando de ombros, antes de apertar o gatilho.
Em câmera lenta, enquanto a multidão ovacionava Issei, o projétil avançou velozmente, camuflando-se na luz forte do sol da tarde. A jovem observava ansiosa, mas, por um triz, Issei desviou o movimento da cabeça. O rifle deslizou de sua mira — a bala passou raspando pela bochecha direita do prefeito, derrubou-lhe o microfone no chão e deixou um fino rastro de sangue, sem atingir profundidade, apenas um corte superficial.
Surpresa, a garota fez um “tsk” de desagrado e, decidida, disparou novamente. Desta vez, uma rajada de vários tiros foi disparada em rápida sucessão na direção de Issei. Habilidosamente, ele desviou de todos os projéteis como se pressentisse seus movimentos.
No parque, o choque foi imediato. A multidão entrou em pânico ao ver o prefeito manchado de sangue e a confirmação de um atentado. Os seguranças correram para intervir, tentando acalmar o público e proteger Issei. O caos se instalou em poucos segundos, mas Issei conseguiu sair ileso, amparado por seus guardas, que o conduziram para longe do palco.
O que ninguém percebeu foi o olhar trocado entre Issei e a atiradora no alto do prédio. Ele a fitou com olhos castanho-claros que, por uma fração de segundo, ganharam um tom de verde escuro. A garota sentiu o impacto daquele olhar penetrante — era o mesmo olhar que recebera apenas de sua irmã e de sua "mamãe", capaz de provocar verdadeiro temor em seu coração. Um suor frio escorreu por sua testa.
Recuperando a compostura, ela limpou discretamente o suor da testa, respirou fundo e, sem hesitar, virou-se e começou a descer pelas estruturas do prédio, fugindo antes que pudesse ser identificada.
A garota desapareceu em um salto ágil do beiral do prédio, correndo velozmente pelos telhados de casas e edifícios baixos. Cada passo era preciso, as solas de suas botas emborrachadas encontrando apoio nos telhados irregulares enquanto ela se afastava do cenário de caos abaixo. O vento levantava mechas de sua trança roxo-azulada, que batia contra seu ombro em cadência com a velocidade dos seus impulsos.
Ao desviar de uma chaminé e contornar o cume de uma casa, ela sentiu – num estalo interior – a presença de alguém acima dela. Parou por um instante, o corpo tenso, e ergueu os olhos para o céu claro. Não havia nada além do sol intenso e de nuvens dispersas. Voltou a baixar o olhar, mas, no reflexo do pedaço de vidro que trazia no bolso, percebeu algo: uma sombra se delineava no beiral ao final daquele telhado.
Com o coração acelerado, ela ergueu os olhos de vez e encontrou-o: Issei Hyoudou estava ali, imóvel, as sobrancelhas levemente franzidas, encarando-a com seus olhos verdes intensos. O vento leve agitava a barra de sua capa, e um brilho estranho emanava de seu scouter — agora inutilizado pelo impacto anterior. A garota congelou. Um suor frio percorreu sua espinha.
“Vai a algum lugar, senhorita?” — a voz de Issei soou surpreendentemente calma, mas carregava uma nota autoritária que fez o sangue dela gelar.
Ela deu um passo para trás, o metal sob seus pés tilintando levemente, e instintivamente ergueu o scouter para medir novamente a força de Issei. Os números começaram a piscar na tela: 40… 42… 91… 562… 918… subindo em espiral até explodir em 12.000, quando o display travou. Olhos arregalados, ela murmurou para si mesma: “Que droga é essa? Como esses números aumentaram tanto? Não era só 40. Esses aparelhos não erram em medidas…” No fundo, sabia que aqueles valores só podiam indicar algo impossível para um humano comum.
Então Issei avançou um passo, a capa esvoaçando atrás dele, e falou sem perder a serenidade: “Foi você que disparou aquelas balas em mim, não foi?”
A garota torceu os lábios num meio sorriso debochado e cruzou os braços sob a capa. Com voz fria, respondeu: “Fui eu.” E, sem tirar os olhos de Issei, completou: “Você teve sorte. Há tempos nenhum alvo desvia de balas, especialmente um humano fraco.”
Issei inclinou a cabeça e abriu um sorriso largo, exibindo os dentes brancos. “Eu não sou qualquer um,” disse ele, a mão esquerda tocando o corte na bochecha. “Aquela bala quase me atingiu de verdade. O sol estava muito forte e bloqueou minha visão logo nos primeiros instantes do disparo.” Passou a mão pelo corte, limpando o sangue superficial. “Mas tenho que admitir: se fosse qualquer outro, teria se dado mal.”
Ela arqueou uma sobrancelha, franzindo o cenho. Issei continuou, num tom mais firme: “Bom… seria bom saber quem te contratou para me matar.”
O rosto da garota endureceu. Ela encolheu os ombros e retrucou, como se recusar fosse um direito intocável: “Isso não te interessa. Não falamos de nossos contratantes — é nosso código.”
Issei franziu a testa, mas seu sorriso voltou. “Só perguntei por cortesia. Aposto que foram aqueles malditos porcos da oposição. Eles são péssimos perdedores e nunca teriam chance contra mim — sou imbatível em popularidade e em tudo.” Ele ergueu os braços e rodopiou ligeiramente, exibindo confiança.
A garota rangeu os dentes, irritada com a arrogância do prefeito. Issei, percebendo sua fúria, baixou o tom e perguntou, quase em tom de brincadeira: “Então, senhorita… posso saber seu nome? A assassina que tentou me matar.”
Ela fechou os olhos por um segundo, depois abriu em expressão fria. Fez uma reverência curta, educada, e disse: “Sou Meili Portroute, a domadora de bestas mágicas.”
Issei ergueu uma sobrancelha. Sua expressão tornou-se séria ao pronunciar cada palavra: “Meili Portroute? Eu, Issei Hyoudou, como prefeito de Leifastad, declaro que, por sua tentativa de atentado contra minha pessoa, você será executada por mim como forma de punição.”
No instante em que terminou de falar, um aura vermelho-carmesim envolveu seu corpo em um clarão pulsante. Seus olhos verdes brilharam com intensidade sobre o scouter de Meili, que começou a expelir faíscas e a exibir leituras instáveis até que o visor deu um curto-circuito, apagando-se completamente. Meili ficou impressionada — o equipamento que ela mesma trouxera não suportara a energia emanada por Issei.
Sem hesitar, Meili arrancou o scouter do rosto e o esmaga com um único golpe seco. Um sorriso cruel surgiu em seus lábios: “Parece que isso vai ser bem divertido.”
E, com a determinação estampada nos olhos, ela recuou alguns passos, preparando-se para o próximo movimento naquele confronto inesperado e mortal.
Meli disparou em velocidade pelos telhados de Leifastad, o sol poente tingindo o céu de laranja e púrpura enquanto a noite se aproximava. Cada passo era preciso, num bailado sobre cumes e chaminés; suas botas tocavam o ardósia e o barro com leveza quase imperceptível. Ela esticou o pescoço para sentir a presença de Issei, mas nada percebia — o silêncio do crepúsculo parecia envolvê-la.
De repente, um chute certeiro explodiu nas suas costas. O impacto a lançou para a frente com força, mas Meli recuperou o equilíbrio num mortal reverso, pousando firme sobre o telhado. Virou-se e encontrou Issei flutuando alguns metros à sua frente, braços cruzados, os olhos verdes brilhando sob o último resplendor do dia.
“Achei que minhas teorias estivessem certas,” murmurou ela para si mesma, sentindo-se intrigada por sua habilidade. “Ele deve ser um mago básico… ou descendente de magos.”
Issei pousou suavemente, encarando-a com curiosidade. “Até que esse chute foi bem forte,” comentou em voz alta, enquanto Meli erguia os punhos e sorria. “Ardeu um pouco. Mas nossa brincadeira acaba agora, seu verme.”
Ela agachou-se, e as palmas das mãos começaram a cintilar em um violeta intenso. Colocou-as no solo, que começou a brilhar em forma de quatro pentágonos cor-de-rosa. No centro de cada figura, um rugido baixo ecoou: Meli havia invocado quatro cães de pelagem escura, olhos vermelhos flamejantes e dentes afiados como lâminas.
“Meus amores, cuidem desse aspirante a bom samaritano,” instruíu Meli, sentando-se num muro próximo com as pernas cruzadas. “Podem fazer o que quiserem com ele. Os clientes pediram a eliminação, mas não exigem corpo ou cabeça como recompensa. Vamos lá, sejam rápidos.”
Os cães avançaram em disparada. Issei aterrissou ao lado deles, fechou os olhos num instante e, num salto, posicionou-se à frente de um deles. O animal saltou para abocanhá-lo, mas Issei, num movimento relâmpago, segurou-lhe o focinho com as duas mãos e, com força brutal, abriu ainda mais a boca do cão, como se quisesse dilacerar-lhe a mandíbula. O animal rosnou, urrando de dor, enquanto Issei o mantinha erguido pela garganta, quase rasgando-lhe a carne.
Antes que os outros três pudessem atacá-lo por trás, Issei soltou o primeiro cão pelos pés, virou-se num salto e se impulsionou para trás, ainda segurando o animal pelo pescoço. Ele então girou o corpo, rodopiando o cão num movimento horizontal, como se usasse uma clava viva. “Vamos ver se gostam disso, seus cachorrinhos!” gritou, lançando o animal contra os troncos das outras três bestas.
O impacto foi violento: os quatro cães colidiram entre si e contra o telhado, estilhaçando as telhas e abrindo um buraco cravado pela força do golpe. Jorros de sangue jorraram, membros deformados e latidos agonizantes rasgaram o ar. Em poucos segundos, os corpos feridos ainda se contorceram e, um a um, desapareceram em farrapos de fumaça roxa — criaturas que não duram muito após sofrer danos críticos.
Issei pousou leve, ajustou o terno e endireitou a gravata, como quem ajeita uma mancha no uniforme após um ato de limpeza. Observou Meli, que, assustada, apertava os punhos com tanta força que os nós dos dedos se tornaram vermelhos e sangraram.
“Merda,” murmurou ela, saltando do muro para a beirada do telhado. Olhou-o nos olhos.
Issei deu de ombros, um sorriso tranquilo nos lábios. “Então era isso que você podia fazer? Acho que meus opositores jogaram dinheiro fora.”
Meli ergueu o queixo, lançando-lhe um olhar desafiador. “Acho que subestimei você,” admitiu, pousando o dedo indicador no queixo. “Mas isso foi só uma tropa de bestas de média classe — conhecidos como cães infernais. Pensei que seriam suficientes. Você superou minhas expectativas, prefeito-san.” A última palavra soou melíflua, carregada de sarcasmo.
Sem hesitar, Issei ativou novamente o poder carmesim que o envolvia. Num flash de velocidade, avançou contra ela. Desferiu um soco de esquerda no rosto de Meli, seguido de um joelhado certeiro no abdômen. O impacto a arremessou para frente, rompendo as telhas sob seu corpo e formando um pequeno crateramento no telhado. Poeira e estilhaços voaram enquanto uma nuvem de fumaça roxa se ergueu ao redor dela.
No silêncio que se seguiu, restaram apenas as sombras do crepúsculo e o eco dos últimos estilhaços caindo no chão lá embaixo.
Meli se levantou com dificuldades, cambaleando um pouco. Seu queixo sangrava.
"Que merda..." murmurou entre dentes cerrados, cuspindo um pouco de sangue.
Ela limpou o rosto com a mão direita e encarou a direção de onde Issei vinha.
"Eu subestimei demais ele... Que porra..." disse, ofegante. "Acho que não posso mais brincar... É melhor fazer uma invocação e bater em retirada por agora. Essa é a melhor opção. Mesmo que minhas bestas não o matem... eu o matarei em outra oportunidade."
Ela fechou os olhos por um breve segundo, depois os abriu com decisão. Meli ergueu novamente as mãos e tocou o chão com os punhos cerrados. Dois pentagramas começaram a brilhar, surgindo sob seus pés. Deles emergiram duas criaturas. Seus rostos lembravam o de uma cabra, mas o corpo era extremamente musculoso, coberto por uma pelagem negra espessa. Cada uma das bestas possuía três chifres curvos, e seus olhos vermelhos pareciam brilhar no entardecer já mergulhado em sombras.
As criaturas saíram da cratera com um rugido gutural, batendo os pés no solo com força. Enquanto isso, Meli se esgueirou pelas sombras, usando a penumbra para se camuflar. Em poucos segundos, ela havia desaparecido, evacuando o local com precisão.
Issei, que se aproximava da cratera, percebeu tarde demais os dois seres. Eles avançaram de forma brutal, tentando acertar-lhe um soco em cheio. Issei conseguiu desviar, mas com dificuldade. Não teve tempo nem de respirar: as criaturas continuaram sua ofensiva, agora com chutes e mais socos pesados, como se tivessem a força de carneiros demoníacos tentando esmagar ossos humanos.
O terreno tremeu com a fúria das investidas, e Issei mal conseguia acompanhar, ficando claro que, mesmo após derrotar os cães infernais, essa batalha ainda estava longe de terminar.
Aquelas bestas que se assemelhavam a cabras investiram em conjunto, desferindo uma enxurrada de socos e chutes. No início, Issei desviava com tranquilidade, mas conforme os segundos passavam, as criaturas pressionavam com mais força e precisão. O que o surpreendia era a sincronia delas — diferente das outras invocações que enfrentara até agora, essas duas lutavam em perfeita harmonia, como se tivessem treinado juntas por anos. Enquanto escapava de uma sequência interminável de golpes, Issei suava intensamente. A rua ao redor estava destruída, o asfalto rachado, postes tombados, e eles já haviam se afastado bastante do ponto inicial da batalha.
“Merda... se isso durar muito, eu posso morrer”, pensou ele.
No instante em que concluiu esse pensamento, uma das criaturas o acertou com um direto violento no rosto. Logo em seguida, quatro socos atingiram sua barriga, lançando-o para trás como uma boneca de pano. Issei bateu contra um muro, que rachou com o impacto. Seu terno estava rasgado em vários pontos, a gravata cortada, os sapatos praticamente inexistentes. Sangue escorria de seu queixo e de algumas outras partes do corpo. Ele tossiu, cuspiu sangue e resmungou em pensamento: “Acho que cometi um erro... duvidei da força dessas feras daquela garota.”
Seus olhos verdes desapareceram, voltando ao tom normal, assim como a aura que o envolvia. Mesmo cambaleando, Issei conseguiu ouvir os passos pesados das criaturas se aproximando. Ele olhou para cima e viu as duas bestas vindo em sua direção, prontas para o golpe final.
Mas ele abriu um sorriso e se levantou lentamente.
“O jeito... é usar isso.”
Com a mão direita, Issei tirou do bolso um anel robusto, com aro largo e uma parte frontal elevada, feito para parecer uma joia poderosa. Gravada nela havia uma figura: o rosto do lendário TyrannoRanger. Ele murmurou: “Acoplar.”
No mesmo instante, uma luz brilhante surgiu em sua mão esquerda. Ela se dissipou em poucos segundos, revelando um cabo ergonômico vermelho e verde com uma lâmina retrátil. Na parte superior do cabo havia um encaixe circular. Issei encaixou o anel no cabo e girou. Uma voz misteriosa, com o eco clássico de um narrador de Super Sentai, ecoou pelo ar:
“Tega Sword ativada. Sentai Ring inserido.”
Uma música animada começou a tocar ao fundo, como se o próprio mundo reagisse à sua transformação. A Tega Sword começou a brilhar. Issei jogou os braços para o lado esquerdo e bateu uma palma, depois fez o mesmo para o lado direito. Os monstros já estavam quase cara a cara com ele, prestes a atacá-lo.
Então, ele deu uma última batida de palma, agora no centro do peito.
No instante seguinte, seu corpo foi coberto por uma luz vermelha e branca intensa. As criaturas colidiram contra a luz, mas foram violentamente repelidas, lançadas metros para trás como se tivessem batido contra uma muralha mágica. A luz se dissipou, revelando Issei completamente transformado.
O capacete vermelho apresentava o design de um Tyrannosaurus, com uma fenda preta para os olhos e a clássica boca prateada estilizada como os dentes do dinossauro. Seu traje era inteiramente vermelho, com padrões de diamantes brancos no peito, braços e botas. O diamante central no peito brilhava com energia. As luvas e botas eram brancas, decoradas com diamantes vermelhos, e as luvas se estendiam até os antebraços, firmes e justas. No braço esquerdo, empunhava a Tega Sword, cuja lâmina verde contrastava com o corpo vermelho vibrante da arma.
No centro da cintura, um cinto branco com uma fivela prateada circular exibia o medalhão do Tyrannosaurus, usado para se transformar com o Dino Buckler. À lateral, uma bainha carregava outra arma misteriosa, pronta para ser empunhada.
Após a luz desaparecer por completo, a mesma voz poderosa ressoou pelo céu:
“Zyuranger! Tyranno Ranger!”
A luz da transformação ainda cintilava em fragmentos ao redor quando Issei deu o primeiro passo à frente. As duas criaturas se levantavam devagar após terem sido lançadas metros para trás, com os corpos trincados de energia e a raiva fervendo nos olhos animalescos.
Sem perder tempo, Issei levou a mão direita ao coldre em sua cintura e puxou uma pistola prateada com detalhes em vermelho. Com firmeza e precisão, mirou com os olhos por trás da fenda negra do capacete e disparou. Um, dois, três, quatro tiros. Cada bala mágica atingia a besta da esquerda como um punho de energia, abrindo cortes fundos e cuspindo sangue púrpuro no ar. Sem hesitar, mirou para a outra e repetiu a sequência — mais quatro disparos certeiros, que fizeram a criatura cambalear para trás com gritos distorcidos.
As duas feras sangravam, tentando manter o equilíbrio. Mas Issei já guardava a pistola e partia para o combate direto.
Ele correu como um raio, a Tega Sword empunhada em sua mão esquerda, lâmina retrátil já estendida, brilhando em verde vivo. Sua movimentação era fluida, elegante e letal. Deu um giro e desferiu o primeiro golpe com a espada, cortando o ombro de uma das criaturas. A lâmina se aprofundou com facilidade, arrancando um urro brutal da besta.
A outra avançou tentando agarrá-lo pelas costas, mas Issei deu um salto com giro no ar e aterrissou com um chute giratório no rosto dela. A criatura caiu de joelhos. Issei não deu espaço: avançou de novo e fez uma sequência rápida — soco no estômago, joelhada no queixo, e um corte horizontal que rasgou o abdômen da criatura.
A primeira fera tentou investir com as garras, mas ele bloqueou com o braço direito e, com a Tega Sword na esquerda, girou e desferiu um corte diagonal tão poderoso que decepou o braço esquerdo da criatura. Um jato de sangue grosso e escuro espirrou como uma fonte quebrada.
A fera gritou, recuando, mas Issei não parou.
Com um impulso de corrida, ele usou o joelho como apoio e saltou alto. No ar, deu uma voadora brutal com os dois pés no peito da outra criatura. O impacto a jogou contra uma parede, quebrando o concreto com um estrondo seco.
Mesmo feridas, as bestas tentavam resistir. Arranharam o traje de Issei em alguns pontos. Uma conseguiu acertar um chute lateral no peito dele, fazendo-o recuar dois passos, e a outra encaixou uma patada em seu ombro, deixando uma marca brilhante de energia instável. Mas eram golpes desesperados, poucos e fracos diante da força e da técnica avassaladora que ele exibia.
As criaturas estavam quase derrotadas. Respiravam pesadamente, seus corpos tremiam. Sangue escorria de dezenas de feridas. Foi então que algo estranho aconteceu.
Elas olharam uma para a outra e começaram a emitir um som gutural e grave, como um cântico amaldiçoado. Seus corpos começaram a se fundir. Carne se retorcia, ossos se quebravam e se reencaixavam, peles se esticavam em um processo grotesco. Era como se uma criatura estivesse sendo moldada a partir de duas.
Issei recuou três passos, observando com atenção.
Diante dele surgiu um ser único. Alto. Musculoso. O corpo era uma massa viva de músculos e cicatrizes, com olhos múltiplos se abrindo e fechando em lugares aleatórios. Seus chifres eram maiores, curvados para trás como os de um demônio, e suas garras pulsavam com energia negra.
O monstro urrou com uma voz estrondosa, que sacudiu a rua ao redor. A transformação estava completa.
Issei respirou fundo, firme. A Tega Sword em sua mão esquerda brilhou mais forte, respondendo à presença daquele novo inimigo.
"Agora sim... isso ficou interessante."
A nova criatura, agora fundida e monstruosa, rugia com o peso de cem vozes. Suas mãos colossais se erguiam como muralhas vivas, prontas para esmagar. Issei não recuou. Correu, encarando o monstro de frente, e quando os dois colidiram, foi como um terremoto.
Ambos firmaram os pés no chão, os corpos tensionados. Mão contra mão. Músculo contra músculo. Um empurrando o outro com força total. O asfalto sob eles rachava, e faíscas surgiam do atrito da energia que os envolvia.
"Você é forte," grunhiu Issei, empurrando com os braços trêmulos.
"Mas não o suficiente."
A criatura rosnou, a saliva preta escorrendo das presas. Tentou morder o ombro de Issei, mas ele o empurrou para longe e, num giro ágil, desferiu um corte com a Tega Sword no peito da criatura. A lâmina brilhou e abriu uma nova ferida, jorrando sangue escuro.
O monstro respondeu com um soco, atingindo o abdômen de Issei. Ele voou para trás, rolando pelo chão. Levantou-se com dificuldade, ofegando, seu traje marcado por rachaduras de energia.
"Tá... ficando interessante mesmo."
A criatura avançou como um touro furioso, mas Issei estava pronto. Esquivou-se para o lado, passou por baixo das garras e girou, cortando a lateral do monstro. Saltou para o alto e chutou com força o queixo da criatura, fazendo-a cair de joelhos.
Mesmo com o corpo dolorido, Issei mantinha o ritmo. A Tega Sword dançava em sua mão esquerda — cortes nos ombros, nas costas, nos joelhos. Sangue e energia explodiam a cada golpe. Mas ele sabia que precisava encerrar aquilo.
Foi quando ele deu um passo para trás e girou o anel dourado na base da Tega Sword. A lâmina brilhou intensamente. Aquela mesma voz anteriormente ecoou dos céus:
"Invocação: Espada Lendária... Red Dragon Thunderzord!"
A Tega Sword se desfez em fragmentos de luz, flutuando no ar antes de desaparecer.
Issei então ergueu os braços para o céu. O firmamento se abriu por um instante e uma luz vermelha desceu como um raio divino. No centro dela, uma nova espada surgiu lentamente.
A lâmina era longa, afiada e reluzia em tom cinza metálico, com ondulações sutis como o aço damasco. A guarda era chamativa, em vermelho vivo com detalhes dourados e pedras verdes cravadas que pulsavam como corações. O cabo preto com losangos dourados parecia uma extensão do próprio poder de Issei. Na base, o emblema dourado de um dragão em relevo brilhava com majestade.
Issei segurou a nova espada com a mão direita, a lâmina sibilando no ar ao ser brandida pela primeira vez.
"Agora sim… é hora de acabar com você."
Ele avançou como um raio vermelho. A criatura tentou reagir, mas Issei já estava diante dela. Num único corte feroz, ele arrancou o braço direito do monstro. Um grito de dor rasgou o céu. Sem perder tempo, girou o corpo e decepou o braço esquerdo também. Os membros caíram no chão como troncos derrubados.
A criatura, cambaleando, tentou recuar. Mas Issei cravou a lâmina bem no estômago musculoso do monstro. Com força e decisão, empurrou a espada até ela atravessar o corpo inteiro, surgindo pelas costas da criatura em um jorro de sangue.
"Acabou pra você!"
Ele puxou a espada de volta, se afastou com um salto para trás. Então, num movimento rápido e preciso, girou a espada sobre a cabeça e desferiu um corte cruzado — primeiro da esquerda para a direita, depois da direita para a esquerda. Faíscas explodiram dos cortes, acompanhadas por rajadas de luz vermelha e dourada.
A criatura parou. Um silêncio congelou o ar. E então, lentamente, o corpo do monstro se abriu em luz, rachando como vidro incandescente.
Um segundo depois, a criatura explodiu numa onda de energia escarlate, sacudindo tudo ao redor.
Issei ficou ali, parado entre os destroços e a fumaça, com a espada lendária repousando sobre o ombro. Respirava com dificuldade, mas estava firme. Vitorioso.
"Missão cumprida."
Assim que as últimas faíscas da explosão sumiram no vento, um flash branco intenso envolveu o corpo de Issei. A luz se dissipou em segundos, e lá estava ele novamente — com seu velho terno rasgado, descalço, com marcas de sangue seco espalhadas pelos tecidos e um olhar exausto, mas firme.
Na sua mão esquerda, a Tega Sword havia retornado à forma original, seu brilho suave pulsando como se respirasse junto com ele.
Issei cuspiu um pouco de sangue, virou o rosto e limpou a boca com a mão direita. Logo depois, se espreguiçou longamente, levando o tronco para trás e esticando os braços com um estalo audível nas articulações.
"Luta boa...", disse ele, abrindo um sorriso cansado.
"Realmente aquela garota e suas feras são um pé no saco... olha essa bagunça!"
Ele olhou ao redor, brincando com o cenário: carros destruídos, postes quebrados, as calçadas rachadas e o cheiro de pólvora e sangue no ar. Tudo fruto da luta violenta.
"Bom... azar deles. Mexeram com a pessoa errada.", disse com um sorriso maroto.
Com a mão direita, ele retirou o anel da Tega Sword e, assim que o puxou, ela sumiu em partículas de luz.
Ele observou o anel dourado, agora frio e silencioso. O pequeno emblema do Tyranno Ranger brilhava suavemente sob os últimos raios dourados do sol poente.
Issei levantou o anel em direção ao céu, onde a luz do crepúsculo lentamente dava lugar à escuridão da noite.
"Com isso… sou imbatível.", murmurou, com um sorriso de canto.
"A oposição pode mandar ela de novo… ou outros mais. Jamais vão me derrubar."
Ele soltou uma risada alta e orgulhosa, erguendo o peito como quem reconhecia a própria grandeza.
Fechou o punho direito com força, erguendo-o para o céu noturno como um símbolo de determinação.
"Estou cada vez ficando mais forte. Sei que existem mais anéis... vou buscar todos eles."
Sua voz soou firme, como um juramento.
"E quando eu conquistar cada um... serei o número um. Não por poder. Mas para proteger. Para guiar todos que depositaram sua confiança em mim."
O vento soprou forte naquele momento, como se o mundo tivesse escutado suas palavras.
Issei sorriu mais uma vez.
Continua.....
Notas Finais:
Se vocês gostaram, tem opiniões, ideias, teorias comentem caso queiram e me desculpe qualquer erro ortográfico aí.
^_^
1 Comentários
Surpreendente!
ResponderExcluirUm episódio eletrizante com três batalhas muito bem descritas e detalhadas, tornando dimensional as cenas , além de muitas reviravoltas!
Se levarmos em conta o episódio anterior, vemos que o renascido do inferno, reencarnou, se tornou prefeito ds cidade de Leifastad.
e tem o poder do Zyuranger Red.
Fiquei pasmo como você conseguiu colocar tanta coisa no episódio, sem torná-lo cansativo.
Você manda muito bem na escrita!
Parabéns pelo seu trabalho!
Talentoso e com futuro promissor!