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Lugi Ep 1

 

 



Sinopse:
Após ser purificada de seus pecados, uma alma recebe uma proposta inesperada: uma nova chance de viver. Renascida, terá a oportunidade de reescrever sua história. Entretanto, o destino guarda seus próprios mistérios, e só o tempo dirá quais caminhos essa nova vida irá percorrer.



















Capítulo 1 - Proposta:

"Às vezes, a única forma de encontrar a luz é primeiro atravessar a escuridão mais profunda."

Em meio a uma paisagem onde o céu resplandecia um vermelho carmesim, como se estivesse permanentemente tingido por um crepúsculo sanguinário, estendia-se um terreno desolado e rochoso. O solo, áspero e irregular, parecia consumir qualquer vestígio de vida. Espalhadas por toda a extensão daquele lugar sombrio, poucas árvores se erguiam, mas suas formas eram grotescas e perturbadoras. Carbonizadas até o cerne, não tinham folhas ou sinais de vitalidade; seus galhos secos pareciam garras petrificadas, estendendo-se em direção ao céu como se clamassem por socorro. Algumas dessas árvores possuíam algo ainda mais sinistro: gravadas em seus troncos, rostos de agonia retorcida pareciam gritar silenciosamente, com feições tão detalhadas que mais pareciam almas aprisionadas em madeira morta.

Para os que ousassem observar mais atentamente a vastidão daquele local macabro, um cenário ainda mais aterrorizante se desdobrava. Por toda parte, incontáveis pessoas gritavam e se debatiam em meio a um sofrimento incessante. Algumas estavam isoladas, enquanto outras se agrupavam em números variados — grupos de quatro, cinco, até mesmo dez pessoas. Apesar das diferenças, havia algo em comum entre todas elas: eram vítimas de torturas inimagináveis, atormentadas por criaturas de aparência tão antinatural que só poderiam ter emergido do mais profundo pesadelo.

Essas criaturas eram humanoides, mas suas características eram distorcidas. Seus corpos, cobertos por uma pelagem negra como carvão, exibiam marcas de cortes e arranhões profundos, como se tivessem lutado em batalhas incessantes. De suas costas brotavam asas enormes e desproporcionais, formadas por finas membranas negras que mais pareciam lâminas. As asas se estendiam como sombras ameaçadoras, e suas extremidades pontiagudas pareciam feitas para perfurar qualquer coisa. Os rostos desses seres assemelhavam-se aos de lobos, mas carregavam uma expressão que misturava crueldade e insanidade. Seus olhos, de um amarelo brilhante e hipnotizante, contrastavam com o cenário sombrio, irradiando uma luz fria que parecia penetrar diretamente na alma de quem os encarasse. No topo de suas cabeças, um par de chifres grotescos, semelhantes aos de cervos, se destacava. Alguns desses chifres estavam quebrados, mas isso apenas contribuía para a aura de brutalidade que emanava dessas criaturas.

O aspecto mais aterrador, contudo, eram os sorrisos. Todos exibiam um sorriso permanente e amplo, com dentes tão afiados quanto lâminas de espada ou as mandíbulas de um tubarão. Esses sorrisos eram acompanhados por gargalhadas ensurdecedoras que ecoavam por toda a extensão do local. Cada risada reverberava como uma onda de terror, impregnando o ambiente com uma sensação de desespero absoluto.

Esses seres não eram meros espectadores do sofrimento que se desenrolava diante deles; eles eram os autores de tamanha crueldade. Espalhados por diferentes pontos do local, aplicavam diversas formas de tortura em suas vítimas, como se participassem de um espetáculo mórbido. Em um canto, um grupo de homens e mulheres tinha os braços e línguas arrancados brutalmente, enquanto gritos de agonia se misturavam às risadas histéricas das criaturas. Em outra área, pessoas estavam amarradas a estacas cravadas no chão, enquanto os torturadores disparavam repetidas vezes contra elas com armas rudimentares mas letais. Mais adiante, outros seres seguravam lâminas afiadas, que eram usadas para esfaquear incessantemente aqueles que jaziam no chão, contorcendo-se de dor.

Por toda a extensão do lugar, essa cena de horror se repetia. Cada ato de crueldade era executado com uma precisão sádica, e as gargalhadas das criaturas transformavam o ambiente em um verdadeiro inferno. O som das risadas, intercalado com os gritos das vítimas, formava uma sinfonia macabra que parecia não ter fim. Não havia um único canto onde a dor e o sofrimento não reinassem absolutos. O cenário era um verdadeiro espetáculo dos horrores, onde o tempo parecia ter parado e a esperança era uma memória distante. Observar tal cena seria o suficiente para abalar até mesmo as mentes mais fortes, pois ali, naquele cenário infernal, a escuridão reinava soberana e absoluta.

O local era vasto, uma extensão quase infinita de terreno infernal. Nas áreas mais afastadas, onde a paisagem parecia se dissolver em um horizonte vermelho carmesim, o horror persistia. Embora à primeira vista tudo parecesse deserto, com mais atenção era possível perceber que até mesmo ali, no limiar da desolação, a tortura continuava sem trégua. Mais ao fundo, entre os limites quase invisíveis do lugar, serpenteava um rio extenso e sinuoso, cujas águas possuíam a mesma tonalidade vermelho-sangue do céu acima. O rio parecia circular por todo o local, como uma artéria pulsante de dor e sofrimento.

Nas margens do rio, as criaturas continuavam suas práticas macabras. Algumas seguravam pessoas, submergindo-as repetidamente nas águas carmesins. O som dos gritos e da luta desesperada por ar ecoava, enquanto as vítimas eram trazidas à tona apenas para serem mergulhadas novamente em um ciclo interminável de agonia. O rio, com suas curvas quase intermináveis, parecia envolver todo aquele inferno, como um guardião inescapável do tormento. 

Se alguém fosse corajoso ou insano o suficiente para adentrar as águas daquele rio, perceberia algo estranho e perturbador. Abaixo da superfície, não havia nada além do mesmo tom vermelho profundo, opaco e hipnotizante. No entanto, para aqueles que ousassem mergulhar mais fundo, algo inesperado se revelaria. No leito do rio, bem além do alcance fácil, existiam buracos misteriosos, grandes e irregulares, que pareciam levar a algum outro lugar. Esses buracos eram mais do que simples formações geológicas; eram passagens.

Ao atravessar essas aberturas, o cenário mudava completamente. Os buracos serviam como portas para cavernas escondidas, um labirinto subterrâneo de escuridão e desespero. As cavernas eram íngremes, com paredes ásperas e traiçoeiras. No teto, estalactites afiadas pendiam como lâminas prontas para despencar a qualquer momento, ameaçando esmagar qualquer intruso que ousasse passar por ali. A atmosfera era opressiva, com o ar carregado de umidade e o cheiro metálico do sangue, como se o próprio ambiente estivesse impregnado de sofrimento.

Nas paredes das cavernas, tochas lançavam uma luz vacilante, criando sombras dançantes que pareciam ganhar vida própria. O chão era irregular e traiçoeiro, cheio de rachaduras e saliências que dificultavam a passagem. Quanto mais alguém avançava pelo interior das cavernas, mais o som dos gritos e gemidos que dominavam a superfície começava a diminuir. Embora ainda audíveis, os ecos de dor se tornavam mais distantes, como se estivessem sendo abafados pela própria estrutura da caverna.

No entanto, havia outro som que começava a emergir à medida que se avançava: gritos isolados, intensos, mas distintos dos que vinham da superfície. Esses gritos eram mais profundos, mais carregados de desespero, como se pertencessem a alguém que estava além do limite da dor humana. Seguindo o som, o caminho levava a uma abertura maior dentro da caverna. Ali, deitado no chão frio e úmido, encontrava-se um homem.

Sua aparência era absolutamente aterrorizante. A pele do homem tinha um tom cinzento, opaco, como se toda a vida já tivesse abandonado seu corpo. Seu corpo estava coberto de ferimentos profundos e sangrentos, cortes que pareciam nunca cicatrizar. Suas roupas estavam em frangalhos, encharcadas e impregnadas com o líquido carmesim do rio, a ponto de já não serem reconhecíveis como vestimentas. Seu estado era tão degradado que era difícil reconhecê-lo como humano. Ele mais se assemelhava a um cadáver em avançado estado de decomposição, um corpo que de alguma forma ainda respirava, ainda sofria.

Enquanto ele jazia ali, imóvel, uma cena brutal se desenrolava. De repente, um chicote longo e grotesco cortou o ar com um estalo aterrorizante, "Blaushhhhhhhh!", e atingiu suas costas com força implacável. 

O som seco e doloroso do chicote se chocando contra as costas do homem ecoou pela caverna, um barulho profundo e cortante, como se o próprio ar fosse dilacerado pela força do golpe. O impacto fez com que o sangue fluísse das feridas abertas, escorrendo pelas costas já desgastadas e cobertas de marcas. O homem gemia de dor, o corpo tremendo, como se fosse quebrar a qualquer momento. O chicote, com uma precisão quase macabra, voltou para as mãos da criatura, mas algo estava diferente. Esta criatura, ao contrário das outras, era menor, mais esquelética, com uma aparência ainda mais desumana. Suas mãos finas e retorcidas seguravam o chicote com uma facilidade sobrenatural, e quando o chicote retornou para sua posse, faíscas saltaram de sua lâmina, como se o próprio chicote estivesse em combustão.

A criatura olhou para o homem com um sorriso cruel, um sorriso largo e sádico, como se se divertisse imensamente com o sofrimento alheio. Com um movimento ágil, ela lançou o chicote de volta contra as costas do homem, que, já à beira da exaustão, mal podia reagir. O som do impacto foi mais uma vez seguido pelo eco dos gritos do homem, mas não havia piedade, não havia misericórdia. A criatura repetiu o movimento várias vezes, cada vez mais rápido, como se o torturador tivesse se esquecido do próprio tempo, preso em sua obsessão por dor e destruição.

Após incontáveis golpes, o homem parecia prestes a desintegrar-se de tanto sofrimento. Seu corpo estava em ruínas, e a cena era tão grotesca que qualquer observador poderia jurar que o homem estava prestes a explodir, tal era a pressão acumulada em suas carnes dilaceradas. A criatura, porém, não parecia se cansar, ainda sorrindo, até que, finalmente, o sorriso desapareceu de seu rosto e uma palavra saiu de sua boca, como uma sentença definitiva:

"Depois de tanto tempo, parece que sua purificação está quase se encerrando."

A criatura falou isso com um tom quase de satisfação, como se tivesse cumprido seu propósito, e com um sorriso ainda mais largo e perverso, levantou mais uma vez o chicote, que agora estava envolto em chamas intensas, como se o próprio fogo fosse uma extensão da dor que causava. Quando o chicote atingiu as costas do homem pela última vez, as chamas se espalharam rapidamente, envoltas em uma luz vibrante e intensa. O corpo do homem, já à beira do colapso, explodiu em uma onda de luz verde-água, iluminando toda a caverna com uma intensidade cegante. O clarão que se seguiu à explosão foi tão forte que parecia quase consumir o próprio ar ao seu redor. 

Porém, quando a luz se dissipou e o som do impacto finalmente cessou, o que restou não foi o corpo do homem, mas algo completamente diferente. Em seu lugar, flutuava uma entidade de forma irregular, parecendo uma chama fluente e etérea. Sua cor era um verde profundo e radiante, como se a própria essência da alma tivesse se manifestado ali. A coisa flutuava no ar, em um silêncio absoluto, como se estivesse aguardando algum tipo de reconhecimento ou comando. 

A criatura, com um sorriso de satisfação no rosto, pegou o chicote mais uma vez, desta vez com a mão direita, e, em um gesto simples, o chicote evaporou diante de seus olhos, desintegrando-se no ar com um leve estalo. A criatura riu, um riso abafado, mas que ainda carregava um tom de prazer sádico.

"Bem," disse ela, com um tom quase casual, "parece que eu terminei meu serviço com você, depois de tanto tempo."

A criatura então se virou e se aproximou da chama verde que flutuava diante de si, como se fosse algo digno de admiração. Sua voz, agora mais suave, ressoou pelo espaço vazio da caverna.

"Essa é a primeira vez que vejo uma cor tão única em uma alma. Uma cor tão diferente, tão... pura." A criatura fez uma pausa, observando a chama que representava a alma, antes de continuar. "Bom, com o meu trabalho concluído com você..." 

A criatura se afastou lentamente, caminhando em direção à parede da caverna, que parecia ser o fim do caminho. A sala onde estavam era uma câmara sombria e estreita, uma última parada antes de algo além, mas a parede à frente parecia intransponível, como uma barreira final. A criatura, no entanto, não hesitou. Erguendo sua mão direita, ela tocou a parede com a ponta dos dedos. Quando seus dedos entraram em contato com a rocha, um tremor percorreu a estrutura da caverna. A parede pareceu respirar, como se estivesse viva, e depois de alguns momentos de tensão, ela começou a se desfazer.

A parede se desfez, revelando uma escadaria que descia para um local completamente diferente, como se fosse um portal para outra realidade. O ambiente agora parecia menos opressor, como se houvesse algo mais à frente, uma saída, talvez, para uma nova jornada. A criatura, com um olhar contemplativo, se afastou e voltou a se virar para a alma verde que flutuava diante de si.

"Olha," a criatura falou, com uma voz que carregava uma certa melancolia, "mesmo eu não podendo me comunicar com você da maneira como eu gostaria, sei que você entende o que está ao seu redor. Sei que você compreende o que estou dizendo. Agora, finalmente, você pode sair daqui. Só precisa seguir em direção às escadas e subir."

A alma, embora imutável, brilhou intensamente em um tom verde-água, como se compreendesse as palavras da criatura. A cor vibrante de sua essência era um sinal claro de que ela entendia o que havia sido dito. Sem mais hesitação, a alma começou a se mover, flutuando em direção à escadaria. Cada passo parecia ser uma liberação, uma fuga do sofrimento que havia enfrentado por tanto tempo.

Quando a alma alcançou a base da escada, começou a subir. Cada passo que dava a levava mais longe daquele lugar sombrio, mais perto de uma nova existência, de um novo futuro. Assim que ela desapareceu de vista, a entrada para a escada começou a tremer novamente. Como um ciclo que se completava, a parede se fechou, repondo-se ao seu estado original, e o eco do lugar se silenciou, como se tudo tivesse acontecido em um suspiro breve e doloroso. 

Conforme a alma ascendia pela escadaria, cada movimento parecia carregado de propósito, ainda que flutuasse de maneira quase etérea, sem esforço aparente. As escadas eram de um branco imaculado, contrastando com a escuridão opressiva que ela deixava para trás. À medida que seguia em frente, o ambiente ao redor parecia hipnoticamente uniforme: paredes de um branco similar ao das escadas, lisas e impecáveis. No teto, uma iluminação contínua se estendia de um ponto a outro, como uma linha que guiava o percurso, irradiando uma luz suave e constante. 

Nas paredes, gravuras enigmáticas e ilustrações decoravam o percurso, embora não fizessem sentido aparente. Uma delas, em particular, destacava-se: um triângulo estranho com um grande olho ao centro, ladeado por dois dentes afiados, como se fosse uma criatura abstrata de alguma realidade incompreensível. Próximo a ele, o símbolo do beta parecia flutuar entre as gravuras, um enigma entre tantos outros. No entanto, a alma, desinteressada pelos detalhes ao redor, mantinha-se focada em sua jornada. Seu único objetivo era seguir adiante e deixar aquele lugar para trás.

O tempo, naquela escadaria, parecia perder todo o significado. Não era possível discernir se minutos ou horas haviam transcorrido, e a percepção de continuidade parecia distorcida. Apesar disso, a alma não hesitou, avançando passo a passo. Eventualmente, as paredes brancas, tão características no início do percurso, deram lugar a um tom azul-escuro, profundo e denso. A mudança foi sutil no começo, mas logo se tornou impossível ignorar. A iluminação acima permanecia inalterada, projetando sua luz sobre a escadaria branca, enquanto a alma flutuava, imperturbável. 

Mesmo notando a mudança ao seu redor, a alma manteve-se determinada, sem permitir que a transformação do ambiente desviasse sua atenção. Conforme subia, o azul-escuro das paredes começou a desaparecer gradualmente, sendo substituído por um tom de preto profundo, quase absoluto. Era uma escuridão diferente de qualquer sombra natural; parecia um vazio tangível, algo que não apenas absorvia a luz, mas a negava por completo. O contraste entre a escadaria branca e as paredes escuras tornou-se cada vez mais inquietante.

Eventualmente, a transição foi completa. As paredes e o teto perderam toda a cor, dando lugar a um vazio opressor. Era como se o ambiente tivesse deixado de existir, cedendo espaço a um vácuo infinito. A iluminação suave que antes acompanhava o percurso também foi consumida pela escuridão, desaparecendo como uma chama sufocada por completo. Agora, tudo ao redor da alma era um breu absoluto, uma ausência tão densa que parecia engolir o som e a percepção de espaço.

A única coisa que se destacava naquele nada era a própria alma, sua chama de um verde-água brilhante, dançando no ar como uma luz resistente em meio ao caos. Junto a ela, as escadas brancas permaneciam inalteradas, desafiando a escuridão que tudo consumia. Essa persistência era peculiar, como se tanto a alma quanto a escadaria fossem intrinsecamente imunes ao estranho fenômeno.

Por um breve momento, a alma hesitou. Parou, girando levemente no ar, como se analisasse o vazio ao seu redor. Não havia som, não havia forma, apenas a imensidão preta que se estendia para todos os lados, ameaçando engolir tudo. Era uma sensação quase sufocante, mas a alma, firme em sua determinação, voltou a seguir em frente. A cada passo flutuante, o cenário parecia reagir de forma sutil, como se o próprio vácuo se expandisse, engolindo o espaço que ela deixava para trás. 

Se alguém pudesse observar de fora, perceberia que, à medida que a alma avançava, a escuridão consumia lentamente a escadaria abaixo. Era como se o percurso estivesse sendo desfeito, apagado do tecido da realidade assim que a alma o deixava para trás. No entanto, a parte à frente permanecia intocada, a escadaria branca estendendo-se infinitamente em meio ao vácuo. 

Conforme a alma continuava a subir pela escadaria, o ambiente ao redor permanecia imutável, envolto naquele vácuo escuro e infinito. O vazio absoluto parecia engolir qualquer vestígio do espaço que ela deixava para trás, enquanto a escadaria branca persistia como a única âncora em meio ao nada. A chama verde-água da alma era a única fonte de luz visível, iluminando fracamente os degraus à sua frente. 

O tempo ali era uma ilusão. Dias poderiam ter passado, ou talvez apenas algumas horas, mas a sensação era de uma eternidade percorrida. O som do silêncio era ensurdecedor, e a solidão daquele percurso parecia pesar mais a cada passo. Ainda assim, a alma seguia em frente, determinada a encontrar o fim daquele caminho.

Finalmente, depois de um intervalo de tempo impossível de mensurar, algo diferente surgiu no horizonte da escadaria. À distância, um portal de madeira tornava-se visível, sua forma contrastando com a monotonia do vazio. Parecia o fim da escadaria infinita, o destino final daquele percurso surreal. A alma, percebendo que se aproximava de algo novo, intensificou sua luz, como se essa descoberta despertasse nela uma excitação mista com um toque de apreensão.

Ao alcançar o topo da escadaria, a alma parou diante da porta. Era uma estrutura robusta, feita de madeira envelhecida, com uma aparência rústica, mas misteriosa. Havia uma maçaneta simples, feita de metal escuro, que parecia convidar qualquer viajante a abri-la. Acima da porta, gravuras detalhadas adornavam sua superfície. Dois elefantes, majestosos e imponentes, estavam esculpidos em lados opostos, suas trombas erguidas como se estivessem em reverência. No centro deles, uma figura misteriosa ocupava o espaço: um ser humanoide, sentado com os braços cruzados, irradiando uma presença enigmática.

A alma hesitou. Ela sabia que aquela porta representava o fim do caminho, mas a incerteza sobre o que viria a seguir despertava medo. Como uma alma sem forma física, era impossível abrir a porta de maneira convencional. Esse obstáculo aumentava a tensão da situação, mas ela também sabia que não havia outra escolha. Voltar pela escadaria era impensável. O lugar de onde viera, antes de perder o corpo, era um destino que ela jamais desejava revisitar.

Ainda relutante, a alma flutuou mais próxima da porta. A chama verde-água pulsava levemente, como se refletisse o medo e a dúvida que a consumiam. O que havia além daquela porta? E se atravessá-la significasse cair eternamente no vazio ao redor? Esses pensamentos a assombravam, mas, mesmo assim, ela reuniu toda a coragem que lhe restava. Não havia alternativa. 

Finalmente, a alma tocou a superfície da porta. Assim que o contato foi feito, um feixe de luz intenso explodiu no local. A luz era ofuscante, preenchendo o vácuo com um brilho que parecia desafiar a própria existência daquele vazio. A alma, confusa e tomada pela surpresa, foi completamente envolvida pelo clarão. O brilho parecia possuir uma energia pulsante, quase viva, e em questão de segundos, ele consumiu a alma por completo, como se a absorvesse.

Quando o feixe de luz desapareceu, tudo mudou. A alma havia sumido, e a porta, que antes marcava o fim da escadaria, também não estava mais ali. O lugar foi reduzido novamente ao vazio, com o preto absoluto tomando conta de tudo ao redor. Até mesmo a escadaria branca, que antes se estendia como um fio de esperança, foi apagada pelo vácuo, sucumbindo à escuridão. 

Naquele espaço agora completamente desolado, restava apenas a memória de algo que havia existido, mas que fora consumido pelo mistério daquela jornada. O que esperava pela alma além daquele portal? Essa resposta, escondida em outra realidade, permanecia fora do alcance daquele mundo, perdido no infinito silêncio do vácuo eterno.

A luz intensa que havia envolvido a alma se dissipou, revelando um lugar majestoso e surreal: um templo indiano incrivelmente detalhado e repleto de símbolos místicos. O vazio negro e a escadaria branca haviam sido substituídos por paredes ornamentadas com relevos em ouro e pedras preciosas, refletindo a luz de lamparinas que flutuavam magicamente no ar. O aroma de sândalo e incenso preenchia o ambiente, enquanto cantos suaves, quase inaudíveis, ecoavam ao longe, criando uma atmosfera ao mesmo tempo reverente e enigmática. O chão, feito de mármore polido com detalhes intrincados, parecia conter padrões que mudavam conforme eram observados, como se guardassem segredos milenares.

No centro do templo, em uma plataforma elevada de mármore branco adornada com detalhes dourados, estava Shiva, o Deus da destruição e renovação, em toda a sua glória divina. Sua figura irradiava uma energia esmagadora, como se a própria existência ao redor dependesse dele. Sua pele era de um tom lilás profundo, brilhando levemente sob a luz ambiente, e seus músculos perfeitamente esculpidos revelavam uma força sobrenatural. Seu corpo era decorado com tatuagens tribais em tons azulados, que pareciam vivas, pulsando suavemente com um brilho etéreo. 

Shiva possuía quatro braços, e cada um deles transmitia um simbolismo único. Um de seus braços segurava um pequeno tridente ornamentado, representando sua autoridade sobre os ciclos de criação, preservação e destruição. O segundo braço sustentava uma taça dourada, repleta de um líquido que parecia brilhar, como se contivesse a essência da vida. O terceiro braço estava erguido em um gesto de bênção, a palma aberta emitindo uma luz quente e acolhedora. Já o quarto braço descansava sobre a mesa à sua frente, com os dedos firmemente apoiados, transmitindo uma presença de domínio e estabilidade.

Seu rosto era imponente e sereno, carregando um equilíbrio perfeito entre calma divina e força absoluta. O terceiro olho, fechado no centro de sua testa, exalava uma energia que parecia sondar cada aspecto da existência. Seus olhos dourados observavam a alma com uma profundidade quase insondável, como se ele pudesse ver através do tempo e do espaço. Diferente de algumas representações, Shiva tinha cabelos curtos e bem alinhados, presos por uma faixa amarela que lhe conferia um ar majestoso. A ausência de longos cabelos tornava seu semblante ainda mais nítido e poderoso.

Ele trajava um dhoti amarelo vibrante, que caía de maneira elegante e fluida ao redor de sua cintura, preso por um cinto azul-escuro que parecia feito de material celestial. Seus pés, ligeiramente erguidos da plataforma, estavam nus, mas mesmo assim irradiavam uma aura divina. Braceletes dourados adornavam seus pulsos, refletindo a luz ambiente e complementando os anéis em seus dedos, que pareciam gravados com runas de um idioma antigo e indecifrável.

À sua frente, uma mesa de madeira escura esculpida com maestria repousava como se fosse um trono terreno para seus artefatos. Os entalhes na mesa representavam lótus, elefantes e formas geométricas sagradas. Sobre ela, estavam dispostos vários objetos carregados de simbolismo: uma tigela de cinzas sagradas, colares de contas rudraksha e um manuscrito antigo, com suas páginas irradiando uma luz fraca, mas constante.

Shiva estava sentado com uma postura relaxada, mas sua presença emanava autoridade absoluta. Ele cruzava uma das pernas sobre a outra, e seus braços adicionais pareciam se mover sutilmente, como se dançassem em perfeita harmonia com sua respiração. Atrás dele, uma estátua monumental de Nandi, o touro divino, observava silenciosamente, como um guardião eterno.

A alma hesitou ao flutuar para mais perto. O olhar de Shiva era profundo e enigmático, carregado de um conhecimento vasto, como se ele já entendesse a história completa daquela alma. Apesar da imensidão de sua presença, havia algo convidativo, quase acolhedor, nos gestos sutis e no brilho gentil de seus olhos. Era como se ele estivesse esperando, pacientemente.

"Bem, Max, tenha calma", disse Shiva, com um tom suave e reconfortante, sua voz ecoando com a autoridade de quem conhecia os mistérios do universo. A alma, que antes flutuava de maneira instável, agora brilhava em um tom verde água, refletindo sua ansiedade, e respondeu, sua voz ressoando com uma leveza etérea:

"É bem difícil se manter calmo com uma presença tão... forte assim, senhor." Sua resposta parecia quase um sussurro, como se a vastidão do poder de Shiva a envolvesse em cada palavra. O brilho verde da alma que irradiava parecia se intensificar, refletindo a magnitude do que sentia.

Shiva, sentado de maneira tranquila e majestosa, com seus quatro braços descansando elegantemente sobre a mesa dourada, apenas sorriu. Ele se divertia com o choque da alma diante de sua presença divina. Com um gesto suave, ele deixou os objetos que segurava cair de suas mãos – mas antes que caíssem no chão, eles desapareceram em um piscar de olhos, como se nunca tivessem existido.

"Ah, ah, ah", riu Shiva, suas risadas suaves, mas cheias de uma energia cativante. "Isso nunca perde a graça... ver a reação das almas quando enfrentam uma presença como a minha", disse ele, enxugando uma lágrima de prazer que brotou de seus olhos dourados.

Max, agora visivelmente confuso, mas também cativado pela situação, olhou para Shiva e disse, em um tom pensativo: "Han? Parece que realmente aquela criatura lá de baixo estava certa. Você me entende?"

Shiva, sem perder a compostura, respondeu com uma leveza inusitada, seu sorriso amplo e acolhedor. "Isso é bem óbvio. Afinal, eu sou um Deus, Max. O mínimo que se espera de mim é entender as almas. E, ao que parece, eu entendi a sua."

Max riu, a tensão se dissipando levemente. "Bom, eu não sou um Deus, mas concordo com você." Ele fez uma pausa, como se ponderasse o que dizer a seguir. "Então, você deve saber meu nome e quem eu sou, né?"

Shiva, com seu olhar profundo e penetrante, pareceu ver até os recantos mais ocultos de Max. "Isso é um fato", disse ele com confiança. "Eu sei tudo sobre você, Max... Ou você prefere que eu lhe chame de Luis Guilherme?"

Max deu uma risada nervosa. "Me chame de Max, apenas."

"Ok, as suas ordens, senhor," respondeu Shiva com uma ironia suave, seu sorriso brincando com a situação. Ele parecia estar se divertindo com o desconforto da alma, mas sua autoridade nunca se abalava.

Max, agora mais relaxado, mas ainda curioso, olhou para Shiva e disse: "Bem, senhor Shiva, você não precisa se apresentar pra mim. Eu sei quem você é. Mas, desculpe a pressa... O que vai acontecer comigo?"

Shiva ficou em silêncio por um momento, como se ponderasse a melhor forma de explicar o que estava por vir. Finalmente, ele estalou os dedos de sua mão esquerda e, como por magia divina, uma cadeira apareceu diante de Max. A cadeira parecia flutuar no ar, com um design que refletia a harmonia do universo: entalhes de estrelas e lua, e uma madeira que parecia viva, pulsando com uma energia misteriosa.

Max ficou desconcertado e, com um sorriso forçado, perguntou: "Obrigado pela cadeira, mas como vou sentar nela sendo que sou... apenas uma alma agora?"

Shiva soltou uma risada suave, quase como uma brisa. "Hahaha, isso é fácil de resolver", respondeu ele, seu tom calmo e quase jovial. Com outro estalo de dedos, uma aura de luz envolveu a alma de Max. Seu corpo, antes uma chama etérea e fluida, começou a brilhar intensamente, transformando-se. Ele não sentiu nada – era como se o próprio tempo tivesse parado enquanto sua forma voltava a tomar a figura de um homem, mas ele ainda permanecia uma alma, uma essência imortal.

Max olhou para si mesmo, surpreso e sem palavras. Sua forma agora estava mais sólida, mais tangível, mas ainda carregava a leveza de uma alma. Ele olhou para Shiva, ainda atônito.

"Viu? Problema resolvido", disse Shiva, com um sorriso tranquilo. "Agora, sente-se aí. Vamos conversar sobre o seu futuro."

Max, sem saber o que esperar, se aproximou da cadeira e, com uma leve hesitação, se sentou. 

Após Max se sentar na cadeira, que agora parecia incrivelmente confortável, Shiva o observou por um momento, seu olhar atento e tranquilo. Com um sorriso sutil nos lábios, ele quebrou o silêncio:

"Não está ruim, né? Deve ser muito macia."

Max, ainda se acostumando com a experiência de estar sentado novamente, tentou disfarçar sua surpresa e respondeu com um leve sorriso: "Obrigado, senhor." A cadeira era mais do que apenas confortável; parecia que ela o acolhia, oferecendo uma sensação de segurança em um ambiente tão surreal.

Shiva, sempre com um toque de divertimento em sua postura, inclinou-se um pouco para frente, sua presença ainda mais imponente ao fazer o gesto. "Não gostaria de uma bebida?" disse ele, com uma expressão que misturava diversão e hospitalidade. E, sem dar tempo para Max responder, estalou os dedos de sua mão direita. Em um piscar de olhos, um copo cristalino de água apareceu diante dele, brilhando com uma pureza quase sobrenatural.

"Quer um copo de água natural? Ou, quem sabe, um pouco de água com gás?", continuou Shiva com um tom brincalhão, como se estivesse oferecendo uma escolha luxuosa em um restaurante celestial. No momento em que ele terminou de falar, o copo de água se transformou magicamente em uma garrafa de água com gás, que parecia ainda mais refrescante.

"Ou que tal um chazinho?", sugeriu Shiva, seu sorriso se ampliando. No instante seguinte, a garrafa de água com gás desapareceu, sendo substituída por uma elegante chaleira de chá fumegante, com vapor delicado se erguendo da superfície.

Max, um pouco atônito e já começando a entender o tipo de ser com o qual estava lidando, tentou se adaptar à situação. Mas antes que pudesse responder, Shiva, com uma risada leve, interrompeu seu momento de perplexidade. "Ahhhh, me lembrei... você é uma alma! Como pude me esquecer disso?", disse ele, sua risada agora ecoando suavemente, com um toque de sarcasmo divertido. "Você não pode comer nem beber, não é mesmo? Precisa de um corpo físico para isso. Hahaha!"

Shiva riu de forma leve e divertida, como se estivesse se divertindo com sua própria descoberta, e Max, agora sem saber se devia rir ou se indignar, apenas olhou para ele com um sorriso desconfortável. Era difícil não ser afetado pela energia brincalhona do deus diante de si. Shiva, ainda com aquele sorriso irônico, parecia se divertir com a situação, e Max não podia deixar de sentir que, de alguma forma, ele era mais parte de um jogo do que uma alma perdida. 

"Bom, já que você não pode se deliciar com essas bebidas", disse Shiva, com um tom ligeiramente debochado, "vamos falar sobre algo que realmente importa, né? Seu futuro."

Max respirou fundo, se preparando para o que viria a seguir, enquanto Shiva, com seu olhar penetrante e sua presença indomável, aguardava pacientemente e um pouco ansioso.

Shiva se acomodou em sua postura majestosa, parecendo absorver a gravidade do momento antes de lançar um sorriso enigmático. “Vamos direto ao ponto, Max”, disse ele, sua voz calma e quase hipnótica. "Você morreu. E, com base em sua vida passada, fez tanto o bem quanto o mal. Embora, devo admitir, o mal tenha superado um pouco, não é mesmo? Ah, sim, e antes de ser designado para aquele local de reabilitação de almas... Hum, isso foi deveras interessante", ele fez uma pausa, refletindo sobre o percurso de Max.

Com os olhos fixos em Max, Shiva continuou, parecendo divertir-se com o próprio resumo do que ocorrera. "Você sofreu, foi ‘perdoado’ pelos seus pecados e, eventualmente, foi liberado. Seguiu pela escadaria hindu, chegando ao fim dela, onde encontrou uma porta. E então, cá está você, exatamente neste lugar." Shiva fez um gesto amplo, apontando para o entorno onde ambos estavam, seu tom agora mais leve e sarcástico. “Me diga, Max, tudo o que eu falei está correto?”

Max ficou em silêncio por um momento, um arrepio percorrendo sua alma. Aquilo o fez recordar a primeira vez em que passou por tudo aquilo — o sofrimento, a condenação, a reabilitação. Foi um turbilhão de lembranças que o deixou momentaneamente atordoado. Então, com a voz firme, respondeu: "Sim, senhor, está tudo correto."

Shiva sorriu amplamente, satisfeito com a resposta de Max. “Bem, com esse meu mini resumo, vamos agora ao que interessa: o que faremos com você?”, disse ele, com uma das mãos no queixo, em um gesto quase teatral. “Deixe-me ver... será que há algo que eu possa fazer por você? Talvez uma reencarnação, quem sabe?”

Max, tomado pela curiosidade e pela necessidade de uma direção, perguntou: "Será que eu poderia reencarnar? Voltar para uma nova vida?"

Shiva soltou uma risada suave, mas cheia de sagacidade. "Ah, brilhante! Claro que sim, você pode reencarnar. Mas, preciso te ressaltar duas coisas." Ele fez uma pausa dramática, levantando um dedo, como se estivesse prestes a dar uma grande revelação. “Primeiro: você não pode voltar para o seu mundo original. Não mais, Max", disse Shiva, balançando a cabeça de forma enérgica, como se não houvesse espaço para discussão. "E, segundo: se você decidir reencarnar, será em um outro universo. O seu mundo, aquele que você conhece, não é mais uma opção.”

Max, surpreso com a revelação, respirou fundo, tentando digerir as informações. “Entendi… Então, qual seria a minha escolha?” Ele olhou para Shiva, que o encarava intensamente, como se estivesse avaliando suas palavras. A pressão da decisão fazia o ar ao redor parecer mais denso.

"Então, qual é a sua escolha, Max?", disse Shiva, com uma expressão impassível, mas com o brilho travesso em seus olhos. A intensidade de sua presença parecia fazer o tempo desacelerar, e Max, nervoso com o olhar penetrante de Shiva, hesitou antes de falar.

“Olha”, começou Max, buscando calma, “dado o que eu vi até agora, nem queria voltar para o meu mundo, nem que fosse em uma nova vida. Então... acho que escolho a outra opção.” Sua voz soou resoluta, mas dentro de si, ele ainda estava tentando entender a complexidade da decisão.

Shiva, visivelmente satisfeito, deu um leve sorriso. "Ótimo! Isso é ótimo! Mas, ainda tenho uma proposta para você", disse ele, com um ar de mistério, como se estivesse prestes a fazer uma oferta única. “Eu sei que antes de chegarmos ao ponto de você reencarnar, você iria me perguntar algo, certo? Algo sobre manter seus poderes, sua aparência, suas memórias... Não estou certo?", ele piscou com um olhar malicioso, como se estivesse rindo de algum truque por trás de sua própria sabedoria.

Max, mesmo sem corpo físico, sentiu um calafrio percorrendo sua essência. Ele sabia o que Shiva estava insinuando. "Isso mesmo, senhor. Mas... temo que não seja possível, certo?"

"Quem te disse isso?", perguntou Shiva, com um sorriso cúmplice. "Claro que é possível, mas em partes. Deixe-me explicar."

Shiva se inclinou para frente, com um olhar de seriedade quase divertida. "Quando você reencarnar, você será, querendo ou não, um novo ser. Uma nova essência. Então, para que você mantenha suas memórias, eu precisaria selar uma boa parte delas — um tipo de ativação, digamos, que seria feito em um momento específico. Quanto aos seus poderes, podemos dar um jeito nisso também." Shiva fez um gesto com as mãos, como se estivesse criando uma aura mágica no ar.

"Agora, sobre a sua aparência", ele continuou com um brilho nos olhos, "isso é fácil. Não haverá dificuldade alguma em manter a sua aparência, exatamente como era. E, quanto ao resto... Bem, você manterá sua essência intacta, mas de forma diferente."

Max ficou em silêncio, ponderando sobre a proposta. Shiva o encarava, como se aguardasse uma resposta. "Então, minha proposta é essa: você reencarna, mas não perde suas memórias, mantém seus poderes e sua aparência. O que acha?"

Max pensou por um momento, sentindo o peso da decisão em suas palavras. "Mas... para que universo ou lugar eu iria?", ele questionou, preocupado com a incerteza do destino que o aguardava.

Shiva sorriu amplamente, seus olhos brilhando com uma diversão malévola. "Ah, isso será imprevisível! Existem inúmeros universos, Max. O seu mundo, aquele que você conhece, ele engloba todos. Todos eles. Então, você poderia ir para qualquer um desses mundos. Ou, se preferir, posso te dar uma 'chance' de escolher. Um tipo de roleta russa, onde você tenta a sorte e escolhe um universo. O que acha?", disse Shiva, rindo enquanto elaborava a ideia.

Max, sem perder a compostura, franziu a testa. "Sabe, essa última ideia... é horrível", ele disse, quase pensativo, "principalmente porque poderia acabar indo parar em um lugar perigoso, ou pior... seria minha culpa, já que eu escolheria o local." Ele deu um sorriso nervoso e concluiu: "Olha, prefiro a primeira proposta."

Shiva, com um leve sorriso sarcástico, falou: "Ah, sim, a maioria de vocês não gosta da emoção de escolher um universo por conta própria sem saber absolutamente nada sobre ele. Isso realmente não é algo que vocês, almas humanas, estão preparados para fazer, não é? Preferem uma vida mais 'segura', sem arriscar nada... hahaha!"

“Bom, já que você decidiu", respondeu Shiva, se levantando lentamente e ficando bem à frente de Max. Sua presença se tornou ainda mais imponente, como se estivesse prestes a enviar Max a algum destino épico. "Adeus, colega. Eu realmente não espero te ver por aqui tão cedo. Então, não tente morrer tão cedo de novo, ok?", disse ele, com um sorriso travesso, como se brincasse com o destino de Max.

Sem mais palavras, Shiva levantou um dos seus poderosos braços e, com um movimento ágil e preciso, deu um soco no vazio. Quando o soco atingiu Max, uma luz intensa envolveu a alma dele, e antes que pudesse reagir, a luz o consumiu completamente, fazendo-o desaparecer em um instante.


"Me pergunto o que o futuro lhe aguardará, Luis Guilherme...", murmurou Shiva, sorrindo enigmaticamente, enquanto assistia ao desaparecimento de Max.


 Nota do autor:

Oi, galera! Sou novo nessas áreas e ainda estou aprendendo a lidar com este capítulo. Peço desculpas pela qualidade, pois foi um dos primeiros que escrevi. Com o tempo, hoje já mudei um pouco minha forma de escrever. De qualquer forma, podem enviar perguntas, dúvidas ou críticas. Muito obrigado por ler aí.






8 Comentários

  1. Max Prost, seja bem vindo ao Mundo Mindstorm!

    Ficamos muito felizes que você te ga decidido publicar suas histórias em nosso blog!

    E começou muito bem!

    Texto muito coeso e muito bem escrito!

    Vamos acompanhar.

    Parabéns!

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    1. Opa muito obrigado, eu acho que já te vi de algum lugar mano, espero que goste da história

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    2. No Spirit, tenho alguns trabalhos.

      A Lya deve ter falado contigo.

      Ela lê minhas histórias lá.

      Eu a convidei pra fazer parte da Mindstorm.

      E felizmente, voce veio!

      Seja bem-vindo novamente.

      Primeiro capítulo, muito bom mesmo!

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    3. A Lya disse que aqui era bom pra publicar histórias e acho que já le vi não sei ao certo se já Favoritos minha história ou eu li alguma sua

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  2. Antes de mais nada deixo aqui minhas boas vindas meu caro. Que sua passagem pelo Mindstorm seja marcada por histórias tão boas quanto essa e que possa fazer boas amizades também.
    Agora vamos à história.
    Rapá! Tô boquiaberto com a sua capacidade de descrição de cenários... Tudo ficou extremamente bem escrito, cada passagem, literalmente cada "passo" do Max foi tão bem descrito que ficou fácil para o leitor imergisse completamente na história dessa reencarnação. Ficou fantástico.
    E, como se apenas isso não fosse suficiente, esse diálogo entre Shiva e o Max, cara, que sensacional, eu simplesmente adorei essa versão sarcástica de Shiva, tanto que torço para que volte a aparecer.
    Ajudou também nas pinceladas iniciais do Max, que começou a ficar mais tridimensional.
    Ficarei de olho atento nesse título. mandaste muito bem. Meus parabéns!

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  3. Valeu pelas boas vindas. O Shiva vai voltar sim mais será em um momento específico eu até anotei e guardei o momento em um bloco de notas e espero que goste do que vai vim ainda

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  4. Salve Max, seja muito bem vindo meu velho, espero que o MindStorm possa te ser tão agradável quando é pra nós! Cara, eu curti e muito tua saga, achei muito bem feita a parte das descrições dos locais como Norberto falou, e sem dúvida alguma, a gente consegue entrar na cena e perceber cada coisa acontecendo, eu me senti com a visão de uma câmera em um vídeo, onde vou acompanhando todo o trajeto, e seu texto era um narrador, mostrando o que eu estava presenciando, ficou muito bom mesmo! Destaque show também para a divindade escolhida, Shiva não aparece muito pelo MindStorm, então foi uma decisão mais que acertada, me lembrou Shurato, uma das obras que usa Shiva (apesar de ali ele ser maligno) mas que remete à essa cultura, assim como traz boas recordações de Shaka de Virgem e sua forma de ver o mundo, simplesmente fantástico! Parabéns por esse primeiro episódio e irei acompanhar a saga conforme meu tempo me permitir sem dúvida, parabéns pelo trabalho! \0/

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    1. Valeu cara, essa jornada eu queria muito ver ela animada seria bela e sobre o Shiva eu me inspirei em um texto que eu fiz quando tava vendo Shumatsu

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