11. A primeira impressão é a que fica
Muitos quiseram cumprimentar Arisa depois da ovação. Para
impedir que tudo aquilo virasse baderna, Keisuke primeiramente levou a menina
até seu escritório.
- Arisa, você quer mesmo falar com todos eles? São muitas
centenas de técnicos que você ajudou a salvar... E cada um deles quer falar
contigo. Para falar apropriadamente, levaria mais de um ano inteiro. E, nem
você, nem nós, faríamos outra coisa.
- Fica complicado mesmo, Keisuke-san. Tem alguma sugestão?
- A minha sugestão é você continuar a sua viagem. Não quer
encontrar a Dra. Orinori?
- Sim... Quero ver se e possível eu voltar para casa. Mas
sei que ainda me falta, e muito. Porém... Eu queria deixar alguma coisa para
que eles pudessem se lembrar de mim... Algumas palavras.
- Pode deixar. Escreva alguma coisa e eu transmitirei a
todos.
Arisa deixou-se ficar no quarto de hóspedes que Keisuke
havia arrumado para ela, e ela levou algum tempo para escrever uma mensagem que
a deixasse satisfeita com o que poderia ser dito. Quando ficou satisfeita, isso
depois de algumas horas a parte, ela foi falar com o líder de Crecentia
novamente.
- É uma boa mensagem – Disse ele em resposta – Pode deixar
que deixarei todos os técnicos cientes dos seus sentimentos. Agora eu sugiro
que vá, antes que fique presa a eles aqui.
E Arisa pegou o caminho de saída de Crecentia. Primeiro voltaria
para Aerial, para falar com Yuyu, e contar o que havia acontecido no evento.
Pegou sua nave e partiu em voo para lá, e não encontrou muita oposição, afinal
de contas, havia muita gente que queria sair dali rapidamente, para esquecer de
todo o sofrimento que havia passado no cativeiro, e ninguém a havia reconhecido
- ainda.
Devido às boas correntes de vento, Arisa chegou rapidamente
a Aerial, e logo se dirigiu ao escritório de Yuyu, para contar-lhe as
novidades.
- Poxa, que aventura você teve, hein, Arisa? E ainda
conheceu o Keisuke... Já te contei que trabalhei com ele?
O jeito com que Yuyu falava de Keisuke entregava um
sentimento reprimido, mas Arisa não se meteria no relacionamento dos dois.
No fim, veio a pergunta cabal...
- Yuyu, qual é a próxima cidade que eu posso seguir para
poder ir em sentido a Shining Future?
- Deixa eu ver aqui... Faz tempo que eu não vejo a
professora.
Arisa levantou uma sobrancelha...
- Professora?
- Sim, todo mundo que trabalha com tecnologia um dia já teve
aula com ela, sendo técnico ou não. Os técnicos falam mais com ela, claro, mas todos
que têm cargos relevantes em Nova Star já conversaram com ela e tiveram aulas
com ela. Keisuke já falou com ela, minha irmã também... Enfim, todo mundo que
você conhecer que teve alguma relevância na cidade onde mora, pode ter certeza
de que já falou com ela.
Arisa não sabia disso, e essa informação era muito
importante. Qualquer um que fosse relevante em uma das cidades de Nova Star já
tinha falado com a doutora Orinori. Tratou de gravar isso em mente.
No momento seguinte, Yuyu abriu um emissor holográfico e
nele havia um mapa completo de Nova Star. Crecentia não era muito longe de
Aerial, mas era de difícil acesso, por isso, para chegar lá, era preciso chegar
pelo ar.
Do mesmo jeito que a próxima cidade que ela iria.
Torphal.
Disse também que a maneira mais fácil de chegar lá, sem
problemas, era voando. Não explicou mais do que isso, o que deixou Arisa com
mais perguntas do que quando chegou, mas Yuyu não quis explicar à menina o porquê
daquilo. Ela descobriria facilmente.
Depois de algumas conversas amenas para discutir algumas
frivolidades, afinal de contas estamos falando de duas garotas, uma delas ainda
na flor da idade – e Nanako realizou uma chamada de vídeo com a irmã e conversou
também com Arisa. Momentos amenos assim são raros em uma vida comum.
Descansando mais uma noite em Aerial, Arisa pegou sua nave e
partiu sentido à nova cidade, Torphal. Quanto mais a pequena se afastava da
cidade conhecida, mais o tempo ia piorando. Saindo de um dia ensolarado e sem
nuvens para uma quase completa tempestade.
Sem contar que a distância era bem maior do que a compreendida
entre Aerial e Crecentia, mesmo indo pelo ar. Arisa, em determinado momento da
viagem, ficou impaciente, achando que não veria mais nada interessante pelo
meio do caminho, pois o tempo fechava mais e mais, e não dava para ver mais
nada de cima.
Depois de três dias de viagem – e dois dias em que Arisa
dormiu na própria nave, encolhida por causa da falta de espaço, finalmente ela
começou a vislumbrar as sombras das torres em meio a todas aquelas nuvens.
E a aparência não era das melhores.
Comparada às construções limpas de Aerial, às festivas de
Crecentia, às litorâneas de New Pier ou mesmo às desgastadas de Old Complex,
Torphal era sombria, dava calafrios... O termo veio à mente de Arisa quase
instantaneamente quando ela pensou em algo que ela poderia comparar...
Uma enorme e malfadada masmorra de torres.
Ao passo em que Arisa foi se aproximando com sua aeronave, os
sinais luminosos a levavam para a torre mais a leste. Ela também recebeu uma
comunicação via rádio, pedindo que ela pousasse em uma determinada torre para
passar pela inspeção, a fim de que não houvesse nada de errado enquanto ela
ficasse na cidade.
Arisa acatou o pedido para o local de pouso, e tão logo foi
se aproximando, guardas locais foram acenando para que ela os seguisse, a fim
de passar pela tão falada inspeção.
O pouso foi tranquilo. A inspeção foi para verificar se
havia armas na aeronave de Arisa, característica essa que nem sequer passou
pela mente da jovem garota quando construiu a aeronave que pilotava. Houve uma
revista, tanto na aeronave quanto na própria Arisa (que realmente não gostou
nem um pouco disso), e depois de alguns minutos tensos aguardando o resultado
da inspeção, ela havia sido aprovada.
Também ela deu graças às entidades que poderiam ser chamadas
de deuses naquele mundo... Mais um pouco sua aeronave havia caído... Aquela
viagem havia sido todo o teste que faltava para a construção de Arisa – a
autonomia de combustível. Antes que fosse levada para conversar a pedido dos
inspetores, ela havia pedido a eles que abastecessem sua aeronave e depois informar
qual seria o custo.
Ao chegar à sala em que os inspetores a levaram, ela
encontrou um homem. Ele tinha a aparência mista de um samurai dos períodos mais
antigos com um ciborgue, e este tentou sorrir quando Arisa adentrou a sala onde
ele estava, falhando miseravelmente na primeira impressão. A culpa não era
dele, apenas que o lugar já tinha prestado seu serviço como amedrontador ou
medonho.
- Desculpe pela primeira impressão, nossa cidade passou por
maus bocados ao longo de sua história. Meu nome é Kenta Yamashina, e é um
prazer conhecer alguém que ajudou tanto meu senpai..
Pela primeira vez desde que chegou a Torphal, Arisa
conseguiu sorrir. Era claro que ele falava de Keisuke, e o jeito com que Kenta
falava dele era de alguém que nutria muito respeito pela pessoa citada. Era
claro que o líder daquela cidade havia recebido um relatório sobre o que
acontecera em Crecentia, e já sabia como lidar com a menina, o que facilitava a
situação para ele, embora não para ela.
Ao menos ela já sabia que aquele Kenta já conhecia a doutora
Orinori, seria mais fácil obter informações assim que terminasse o
reabastecimento de sua aeronave.
A partir daquela apresentação, Kenta começou a contar um
pouco da história de Torphal. A cidade não tinha aquela aparência por acaso,
ela havia sido mesmo uma prisão no passado, a serviço da capital de Nova Star, Ascendance,
e que muitos criminosos haviam passado por aquelas torres.
Era claro que aquela cidade recebeu um banho de sangue ao
longo dos séculos, mas não precisava ter aquela aparência. Pouco havia sido feito
para melhorá-la. Ignorando aqueles pensamentos, quanto mais Arisa ouvia sobre a
história de Torphal, mais ela entendia o porquê de ela chegar em voo naquela
cidade de torres... As partes mais baixas deveriam ser as antigas prisões.
“Será que as pessoas da parte de baixo são malvistas aqui em
cima? Será por isso que eu não vejo ninguém malvestido? Será essa a parte de
uma discriminação não reprimida aqui?” – Várias perguntas pipocavam na mente da
jovem Hisami, e muitas delas, sem dúvida, ela sabia que não veria resposta a
respeito.
E que sequer faria perguntas a Kenta, pois tinha certeza de
que era um tópico sensível.
Ao invés de tentar pensar no que perguntar, Arisa resolveu
tentar, em um segundo momento, esquecer as dúvidas. Não achou que qualquer
informação vinda de Torphal fosse útil naquele momento. Apenas seria necessária
a permanência para reabastecimento e informação para chegar na próxima cidade.
E então, depois que terminou de ouvir a história de Torphal,
Arisa observou um pouco Kenta, ele não parecia gostar de contar a história da
cidade que administrava, parecia que estava ali forçado e que administrava somente
porque alguém havia mandado, provavelmente Keisuke. Mas ela resolveu partir
adiante, pedindo informações mais acertadas sobre a dra. Orinori.
- Então, senhor Kenta, o que o senhor pode me contar a
respeito da senhora Orinori?
Kenta observou bem a garota e depois desviou o olhar para uma
parte qualquer da parede enegrecida de seu escritório. “O que eu posso falar da
professora Orinori”, se perguntou. Este raciocínio durou por alguns minutos,
mas depois, ele continuou.
- Infelizmente não me vem à mente algo que eu possa
compartilhar contigo a respeito da professora Orinori, algo que a distinguiria
dos demais. No meu ponto de vista, ela é imensamente inteligente, cuida bem de
seus alunos, conversa bem com as pessoas... Mas fora isso, ela é uma pessoa
normal, claro, tirando o fato de ela ser uma elfa. Para poder te passar alguma
coisa a mais, vou precisar pensar com mais cuidado para poder te passar o que
sei sobre ela. Afinal de contas, ela não a conhece e você está indo atrás dela
por causa de algo que aconteceu contigo.
Arisa não gostou muito da resposta recebida de Kenta. Por
mais que ela tivesse ficado contente com o fato de que ele era relacionado a Keisuke,
mas parava por ali. Ele não parecia estar ali por ter sido boa pessoa, parecia
estar cumprindo uma pena. Então, ela resolveu aguardar o término do reabastecimento
para poder sair da cidade o quanto antes... Então resolveu deixar Kenta com
seus pensamentos e ir ver como estava o reabastecimento de sua aeronave.
Ao chegar no local, ela percebeu que havia alguém mexendo
nela ao invés de reabastecer.
- Perdão, houve algum problema com a minha aeronave?
O mecânico ficou branco quando viu Arisa atrás de si,
perguntando por algo que havia sido instruído a fazer. Ele, ao invés de
explicar o que estava acontecendo, largou tudo o que estava fazendo e saiu correndo.
Arisa resolveu verificar sua aeronave, e um dos giroscópios,
que mantinha a estabilidade dela, havia sido danificado... E logo um raciocínio
se fez presente na mente da jovem técnica: A falta de resposta de Kenta e esta
danificação deliberada da nave fez entender que tinha alguém, provavelmente o
próprio Kenta, não queria que ela saísse do local.
“Será que eles têm técnicos”, se perguntou a jovem Hisami. “E
isso não é maneira de pedir para alguém que fique...”
Foi quando Arisa resolveu passar um pente fino na aeronave.
Não era só o giroscópio que havia sido danificado, várias outras peças também
haviam sido danificadas ou até mesmo removidas. Elas estavam espalhadas por
toda a oficina, embora um galão de combustível havia sido deixado em um canto
só para fazer as aparências.
A menina consertou as peças danificadas e recolocou as peças
removidas, instalando um sistema de segurança na sequência, para que evitasse a
remoção de outras peças em um momento em que ela não tivesse material para
repará-las. Avaliou o conteúdo do galão e era realmente combustível, mas de
baixa octanagem, que até mesmo danificaria o motor da aeronave.
Tudo era realmente um complô.
Mas Arisa pegou aquele combustível e trabalhou nele, para
fazer alguma coisa decente antes que trancasse seu minilaboratório depois de
muitas horas trabalhando em tudo.
Assim que terminou, no final da tarde, perto do início da noite,
com a aeronave reparada e reabastecida, a trancou e foi falar com Kenta, claro.
Ela havia se preparado para caso qualquer coisa. A experiência que ela ganhou
em Crecentia mostraria que ela já não era mais uma inexperiente em combate.
Era hora de entender o que estava acontecendo.
2 Comentários
Grande George!
ResponderExcluirRise to the Skies está entrando naquela fase que chamamos de momentos de tensão.
Ao pousar na sombria Torphal, Arisa se dá conta que sua aventura será mais difícil que imaginava.
Sabotada por Kenta, o guardião desse local tenebroso, Arisa terá que mostrar que é muito inteligente e esperta e não cair nas lábias de Kenta.
Excelente capitulo!
Cara, obrigado por ler. De verdade. Espero corresponder ao que você espera da história.
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