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Além das Fronteiras - Viagem 10 (Final)

Bom dia, boa tarde, boa noite, pessoal.

Este é o último capítulo desta história.

Espero que gostem.


10. Possibilidades

E assim que conseguiu hackear sua entrada na sala do mainframe, ele encontrou lá dentro ninguém menos que Gilson.

- Bem previsível, caro Eduardo. - Disse ele com um sorriso maligno no rosto.

- Há quanto tempo você está confinado nesta sala, caro cunhado? - Perguntou Eduardo com um tom relativamente amargo e sarcástico na voz.

- O suficiente para lhe impedir de fazer o que quer. - Gilson estava furioso. Sabia que o futuro cunhado era impetuoso e decidido, mas esse era um nível impensado de tomar as rédeas para si e fazer o que era preciso. - Você sabe que posso lhe usar como refém para obter o que quero sem que ninguém morra, não é?

- Tenho toda a ciência. Mas você não me fará refém, porque eu não sou indefeso. Não sou um simples engravatado que ganhou suas promoções lambendo as botas corretas. - Eduardo sorria, quase de maneira maníaca, mostrando o quão grande sua força de vontade era.

- Tenho orgulho e raiva ao mesmo tempo, caro cunhado. - Gilson sorria quase da mesma maneira.

E os dois começaram seu embate físico. Gilson tentou pressionar um botão em um painel, ação que Eduardo não deixou que se completasse. Os dois eram equiparados em força física e não acionaram suas armas para não danificar os equipamentos dentro daquela sala sem necessidade, então foram vários minutos em que os dois mediram forças.

Porém, ao contrário de Gilson que ganhou muito de suas promoções fazendo trabalho de escritório, Eduardo não deixava de treinar sequer um dia, então o que decidiu a luta dos dois não foram as técnicas ou a força, porque nisso eles eram equiparados, mas sim, a resistência física. Eduardo era, de muito longe, mais resistente que o cunhado.

E, em um movimento calculado, Eduardo aplicou um golpe de mata-leão e desacordou Gilson, o deixando momentaneamente sem ar. Foi algo digno de um profissional de luta. Arfando fortemente, Eduardo aproveitou o momento em que Gilson estava desacordado – ele não o eliminaria, porque senão sua amada ficaria abalada com tal atitude, mesmo que fosse necessária - e trancou de vez a sala do mainframe com a digital de Gilson, para evitar interrupções desnecessárias.

Então, usando um teclado e um monitor de luz, Eduardo inseriu o pen-drive na entrada USB-C do servidor e deu o comando para que seu conteúdo fosse carregado e instalado. Mesmo com toda a tecnologia avançada, o sistema operacional utilizado era muito similar ao que ele conhecia, usando os comandos quase iguais para o que era necessário.

Eduardo suava com a possibilidade de alguém ter um acesso maior do que o do irmão de sua amada, entrasse no lugar e interrompesse o processo, mas nada disso aconteceu. O upload foi concluído com sucesso e a instalação da aplicação também o foi, começando o processo de inutilização das armas da espaçonave.

Era hora de fugir.

Eduardo teve muito mais sorte do que antes, seu traje não foi detectado por quem quer que fosse, passou pelos corredores da espaçonave sem ser visto, enquanto Gilson seguia desacordado. Segundo o que Eduardo pensava, ele ficaria desacordado por mais três horas, e isso daria tempo o suficiente para que ele escapasse já com o processo de inutilização das armas completo, selado por uma criptografia de 1024 bits, feita pra não ser traduzida, e para implodir a aplicação assim que o processo de inutilização fosse concluído.

A mente de Eduardo estava vazia, inteiramente focada em sair dali, não pensava em mais nada que não fosse sua missão, era este seu foco. O que Eduardo soube tardiamente (graças a uma artimanha) enquanto fugia foi que, caso o sistema de armas fosse inutilizado, as bombas atômicas que Gilson havia plantado ao longo de todas as naves explodiriam em cadeia para afetar seus inimigos.

Enquanto fugia, fazendo a nave voar na maior velocidade que podia – descobrindo que o sistema de camuflagem funcionava normalmente mesmo com alta demanda das turbinas, ele voltou à frota aliada, porém antes que ele pudesse adentrar os escudos, a nave principal começou a incandescer e explodiu, instantaneamente matando a todos os que estavam dentro dela.

Os membros da equipe de Cintia perguntaram entre si se alguém tinha inserido alguma medida autodestrutiva, e todos disseram que não. Os escudos das espaçonaves da Terra impediram que a explosão de todas aquelas naves afetasse o planeta, mas todos os escudos haviam sido destruídos. A nave de Eduardo foi atingida na explosão, mesmo que por muito pouco, e acabou, pela propulsão, sendo ‘ejetada’ em direção ao planeta, triplicando a velocidade da nave, que já era bem alta.

Cintia tentou, em vão, contatar a nave de seu amado. Sem resposta, ela tomou pra si uma das naves reservas da Estação Espacial e voou na direção da última coordenada conhecida da nave onde Eduardo estava, tomada pelo desespero. A todo momento, enquanto estava sozinha, chorava. Não queria perder o amado que levou tanto tempo para encontrar.

Poucos minutos depois de chegar à coordenada, percebeu que o rastro de destruição levava diretamente ao planeta, e viu que havia um ponto vermelho na atmosfera terrestre. Tendo total ciência de que aquela espaçonave só faria a reentrada se ela se destruísse no processo, voltou à Estação Espacial, demandando uma espaçonave própria para realizar a reentrada no planeta. Em pleno desespero, ela não mediu esforços para que pudesse ir atrás de seu amado, conseguindo até mesmo alguns desafetos no processo.

Àquela altura ela amaldiçoava o irmão, recém vaporizado por aquela explosão massiva, por sua ganância ter feito com que ela perdesse o amor de sua vida. Conseguindo a espaçonave, ela fez a mesma voar o mais rápido que pôde para alcançar as coordenadas de queda da nave de Eduardo. Ninguém sabia o estado daquela nave, uma vez que ela foi atingida, mesmo que de raspão, pela explosão nuclear massiva que acometeu os exércitos da Terra paralela.

Depois que terminaram, com êxito, a reentrada no planeta, começaram a buscar pela nave, porém os radares não podiam fazer nada, uma vez que o modo de camuflagem ainda estava ativo, fazendo com que eles o procurassem em modo visual.

Porém a esperança não deixava o coração de Cintia, por mais que ela tenha dito antes que seu amado poderia ter morrido, ela queria ter certeza de que o pior havia acontecido. Um dos tripulantes da nave que levou Cintia à Terra avistou uma coluna de fumaça preta, então rapidamente foram em direção ao sinal, encontrando a nave de Eduardo.

E ele estava sentado à beira de uma praia na ilha em que ele pousou... No Atol das Rocas, no mesmo lugar em que eles haviam pousado quando saíram da dimensão em que estavam antes, pouco depois de se conhecerem. Aquele fato fez com que Cintia sorrisse. Era mesmo providência divina? Ele parar no mesmo lugar em que eles haviam chegado àquela Terra?

Quando ele percebeu uma espaçonave pousando próximo de si, ele se levantou, colocando a mão direita à frente de seus olhos, protegendo-os contra o vento e a areia soprados em sua direção. Quando viu a porta se abrindo, viu uma Cintia desesperada correndo em sua direção.

Ele sorria, parado, esperando com os braços abertos. Ele também sentiu falta dela, não deixando de pensar nela o tempo inteiro. Logo, o abraço aconteceu, Cintia derrubou o amado no chão arenoso, enchendo seu rosto de pequenos beijos.

- Eu achei que ia te perder quando vi a explosão. Sério. Não foi nenhum de nós que fez as naves explodirem, juro. - Disse uma Cintia extremamente aliviada por seu amado estar bem e em seus braços.

- E não foi nenhum de vocês. Foi uma armadilha de Gilson para um último momento caso ele perdesse inteiramente para a nossa incursão. Ele sabia que aconteceria, tanto que estava lá, me esperando. Eu o nocauteei, fiz o que precisava ser feito, mas quando a aplicação de vocês desativou o sistema de ataque e de defesa, eu pude acompanhar outra tela – porque eu deixei uma câmera para trás para ver se havia alguma coisa de diferente enquanto eu fugia, e a mensagem era que o sistema de autodestruição havia sido ativado com a desativação dos sistemas de armas e de defesa. Aumentei a velocidade da nave para o máximo para tentar fugir, e foi isso que me salvou quando a explosão atingiu a popa da minha espaçonave. A sorte é que o cockpit é blindado, à prova de explosões e eu só precisei selá-la com a porta antichamas antes que tudo me atingisse.

Eduardo estava realmente aliviado, não queria perder a vida e mais, não queria perder o amor de sua vida. Com isso, o casal se beijou apaixonadamente, ficando daquele jeito por vários minutos a fio.

Foi quando um dos tripulantes da nave que resgatou Eduardo pigarreou, tornando a cena ainda mais cômica, e o casal riu com aquilo. A ameaça, para o bem ou para o mal, havia sido eliminada, e o planeta estava salvo. A única coisa ruim era que seu irmão havia morrido no processo. Ela realmente não queria que ele morresse, mas ele levou a situação a patamares extremos, e ele mesmo havia trazido a si e a seus homens uma situação como a que ele enfrentou e que o eliminou.

Ao voltar para a base no Brasil, Eduardo foi recebido com honras de herói, afinal de contas, foram os esforços dele e de sua equipe que salvaram não apenas o país, mas o mundo inteiro. Numa cerimônia de recebimento que emocionou até mesmo os mais durões, todos prestaram reverência ao Major-Brigadeiro que estava ali presente, junto da mais alta cúpula, para promover Eduardo a um dos Oficiais Generais da Aeronáutica Brasileira.

Eduardo tinha conseguido arrumar-se com seu terno azul marinho, com suas condecorações de Coronel e medalhas de honra, e foi quando o Major-Brigadeiro chegou a Eduardo, apertou sua mão e trocou suas ombreiras, o promovendo a Brigadeiro. Eduardo estava muito orgulhoso de si mesmo, até mesmo o Coronel Matias Salão tinha orgulho de seu comandado, que havia assumido um posto maior do que o dele mesmo.

A equipe de Eduardo estava em êxtase. O chefe havia conseguido uma promoção, o que poderia fazer com que a equipe toda recebesse novos status, uma vez que Eduardo agora era um Oficial General. Além disso, ele havia recebido uma medalha de Mérito Aeronáutico, uma com uma das maiores condecorações possíveis.

Após receber todas as condecorações e promoções, Eduardo bateu continência ao Major-Brigadeiro que o outorgou as premiações, mostrando o completo respeito pela hierarquia da Aeronáutica Brasileira.

Após o término da cerimônia, todos os membros da equipe de Eduardo vieram conversar com ele, parabenizá-lo pela promoção, comemorar com ele. Cintia até mesmo quebrou o protocolo e ficou abraçada ao namorado.

O que ela não previa era o que ele ia fazer na sequência.

No meio da celebração da volta e promoção de Eduardo, este fica de frente para sua amada, e mesmo com a farda, agora ajustada para o novo Brigadeiro da Aeronáutica Brasileira, Eduardo se ajoelha, e puxa da parte interna do blazer uma aliança.

- Cintia... Aceita se casar comigo?

Cintia não cabia em si mesma diante do gesto que Eduardo havia feito em frente a todos, no dia de sua condecoração como Brigadeiro, usando o dia em que ele seria a estrela para torná-la a mulher mais feliz do mundo. Obviamente ela aceitou, erguendo Eduardo do chão, o guiando para que ele colocasse a aliança em seu dedo, e o beijando em seguida.

Houve uma surpreendente e alta salva de palmas para o novo casal, criado em adversidade e unido por ideais similares. A felicidade era a temática daquele dia.

No dia seguinte, Eduardo arranjou uma reunião com a equipe inteira, todas as pessoas lotaram a maior sala de reunião do quartel, e Eduardo pediu a todos por ideias para que pudessem seguir em frente, com um novo projeto que ajudasse o Brasil a prosperar.

Porém, para Cintia, era necessário evitar toda e qualquer crise relacionada ao que acontecera com o irmão dela e os outros da Terra de onde ela havia vindo, e que agora era a última sobrevivente.

- Eduardo, sugiro a criação do Centro de Observação de Realidades Emergentes. Com ele podemos estudar uma maneira de não ocorrer a ruptura do tempo-espaço caso venhamos a encontrar pessoas de outras realidades além da nossa. Precisamos proteger o nosso mundo, e deste jeito, acredito que o mundo inteiro pode cooperar nisso, não apenas os estudiosos brasileiros.

- Mas a cúpula de decisão tem que ser brasileira, Cintia. Afinal de contas, o projeto é nosso e a possível ascensão de tal estudo tem que partir daqui. Se houver algum cientista ou analista estrangeiro que queira participar de nosso estudo, será convidado e avaliado. Você sabe muito bem como algumas pessoas dos Estados Unidos adoram roubar a glória alheia.

- Concordo, Eduardo. Antes de qualquer coisa, vou criar um modelo de projeto e vou trazer pra você, para que analisemos e você aprove com maior tranquilidade.

- Exato. Obrigado por entender. - Eduardo respondia, sorrindo.

- Pessoal – Disse Cintia ao virar-se para a equipe dela – Vamos dar o nosso melhor, vou querer a ajuda de vocês!

E todos da equipe de Cintia estavam empolgados com a possibilidade, aquilo era potencial de crescimento dentro da Corporação, e de destaque.

Depois desta reunião, cinco anos se passaram. Cintia apresentou a proposta do departamento, com todos os prós, contras, custos, foi uma apresentação realmente completa, do jeito que ele gostava. Ele a usaria para passar a informação à frente, convencer seus superiores que o investimento era necessário e que eles estariam fazendo isso para a proteção não só do país, mas do mundo inteiro.

O casamento de Eduardo e Cintia aconteceu também nesse ínterim, sendo permeado pela mais alta cúpula da Aeronáutica Brasileira, nomes do alto escalão do Governo Brasileiro e algumas personalidades da alta sociedade Brasileira. Clarissa estava lá para dar seu apoio ao ex-marido, ficando feliz pela agora amiga – sim, Clarissa e Cintia agora eram amigas.

Ao final do prazo, finalmente Cintia podia dizer que o projeto estava pronto, e que o novo setor da Aeronáutica Brasileira estava sendo inaugurado. Cintia até havia ganho a “Medalha-Prêmio Força Aérea Brasileira” pelos esforços na proteção e avanço da tecnologia Brasileira.

Cintia ganhou também uma promoção, o que fez dela chefe de setor. Quando todos estavam na nova sede do novo departamento da Aeronáutica Brasileira, Cintia discursava. Era um discurso bonito, cheio das informações relacionadas ao novo campo de estudo, e também relacionando algumas coisas de seu passado.

Ao final, Cintia e Eduardo olhavam por uma janela, sozinhos na sala dela.

- Eduardo... A Terra em que nasci e vivi boa parte da minha vida não existe mais... Mas talvez esse seja o começo de algo ainda maior... Não acha?

- A humanidade sempre teve medo do desconhecido, meu amor. Até entender e saber como funciona. “Uma vez que se perde o medo do desconhecido, o medo anda ao lado da coragem”. Meu pai costumava me dizer muito isso.

- E ele está certo...

E ambos olharam para o horizonte, empolgados com o que de novo poderia vir.

3 Comentários

  1. Um final maravilhoso e , ao mesmo tenso pra caramba.

    Suei às bicas.

    Eu pensar que o Eduardo tinha morrido...

    Mas, ele nso poderia morrer!

    Não poderia!

    E não morreu!

    Ainda bem!

    Tú nao ia fazer isso comigo...kkkk.



    Parabéns!

    Mandou bem demais!

    Adorei!

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    Respostas
    1. Fico feliz que tenha curtido bastante, caro Rider.

      Isso mostra o quanto eu amo finais felizes... Mas um spoiler...

      Já estou planejando uma continuação. Vou deixar a história esfriar um pouco.

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