Eu
ia morrer, mas antes o desgraçado queria que eu sofresse.
E
muito.
Minhas
mãos estavam prestes a serem totalmente destroçadas, sentia o metal nas
manoplas começando a rachar, pequenos fiapos metálicos estavam entrando
lentamente em minha pele, o suor que escorria pelo meu corpo começava a ensopar
todo o uniforme básico que eu usava, responsável não apenas para servir de
proteção entre meu corpo e a armadura, mas também para monitorar meus sistemas
vitais.
Eu
conseguia ver nitidamente o rosto preocupado de minha esposa, lágrimas
começando a se formar nos cantos dos olhos, conforme ficava evidente a total
falência de meus órgãos.
Conseguia
ver isso, além de todo o trabalho desesperado que ela iria iniciar em breve,
procurando qualquer maneira de me manter vivo, mesmo que eu estivesse a
quilômetros de distância, enfrentando um monstro que tinha mais de quinze
metros.
Ao
menos estávamos em pé de igualdade quanto ao tamanho, mas era o único detalhe
em comum que eu e meu oponente tínhamos, o que ele deixava claro a cada novo
aperto, mais e mais perto de quebrar minhas mãos.
Entenda
bem, nunca em minha vida eu havia pensado em me tornar um herói, ou guerreiro,
ou qualquer coisa que não implicasse ficar horas e horas sentado em uma
confortável cadeira, analisando, pesquisando, sendo um ordinário cientista.
Nem
sempre podemos ter o que queremos certo?
Eu
estava realmente muito perto de entregar os pontos, afinal ninguém me culparia,
eu já havia atingido meus limites, tanto de sanidade, quanto dos poderes que
essa armadura me dava, mas havia dois detalhes que não me deixariam desistir.
O
primeiro, claro, era minha esposa. Eu simplesmente não poderia aceitar morrer e
deixá-la desprotegida para que o monstro a matasse.
O
segundo era a voz insistentemente irritante que ecoava em minha mente, me
lembrando a cada segundo que o amor da minha vida não morreria rapidamente...
Não... Era mais provável que ela morresse de forma lenta e sofrida.
Imaginar
aquilo, por apenas um instante sequer, foi mais do que suficiente.
Cerrei
os dentes, mandei para o inferno a maldita dor que eu sentia, pouco a pouco fui
fechando os punhos, indo contra a força titânica que tentava quebrá-los, forcei
minhas pernas a me obedecerem, primeiro a que ainda se apoiava em meu pé
direito, ajudando o joelho esquerdo, enterrado no que um dia fora um pequeno
morro, a começar o doloroso caminho para endireitar minha postura.
Sentia
o suor escorrendo de minha testa, ajudando a minha visão ficar mais e mais
embaçada, pisquei algumas vezes e então fiz força.
Me
peguei rezando para um deus em que não acreditava desde os treze anos.
Não
apenas por mim, mas principalmente por ela.
Em
toda a minha vida adulta tudo o que eu fazia era sempre por ela.
Conforme
ia fazendo mais e mais força para inverter aquela luta, minha mente, sem
cerimônias, voltou no tempo até os momentos que antecederam a loucura em que
minha vida havia se transformado.
XXX
-
Olá... Meu nome é... Saeko Mirai.
-
Oi... E-eu sou... Hum... É...
-
Ichigo Kusanagi... Pelo menos é o nome que tá aqui no seu crachá...
Ela
riu, o riso mais lindo do mundo e então eu fui totalmente fisgado.
Foi
assim que conheci aquela que viria a se tornar minha esposa.
Éramos
cientistas recém contratados de uma força de proteção da terra contra invasões
alienígenas, que muitos acreditam estar desativada desde que o Gigante de Luz,
Ultraman, deixou nosso mundo.
A
Patrulha Científica.
Éramos
também muito jovens quando fomos contratados, melhor seria dizer alistados, e
após uma centena de papéis preenchidos, deixando claro principalmente tudo o
que aconteceria caso divulgássemos quem nos havia contratado, logo fomos
levados até o laboratório principal.
Chorei
como criança, de felicidade é claro, pois ali estava toda aquela ciência maluca
que eu adorava ver em filmes ou quando, no noticiário da noite, mostravam
imagens da Patrulha, lutando ao lado do Ultraman.
Por
isso, quando nos revelaram o projeto para criar uma armadura que pudesse emular
os poderes do Gigante de Luz, mal conseguimos nos recuperar de tamanha notícia,
mal conseguimos absorver a grandiosidade daquela informação, antes de sermos
rapidamente direcionados para nossa área.
Seríamos
os responsáveis pelo acompanhamento dos sistemas vitais de quem quer que
entrasse naquela armadura.
E
faríamos o possível para manter o usuário vivo.
Confesso
que esperava mais ação, trabalhando para uma agência secreta e tudo mais, mas
nos primeiros anos realmente a maior emoção que tivemos foi quando descobrimos
um dos grandes segredos da Patrulha.
Uma
cidade inteira, escondida do grande público e habitada por diversos
alienígenas.
Em
nossa primeira visita uma criatura cheia de tentáculos se aproximou de Saeko de
uma forma... Vou dizer apenas “indelicada” para não parecer grosseiro
demais... Depois nos disseram que ele
havia acabado de chegar à Terra e que acreditava que era comum relações sexuais
com mulheres humanas, devido a ter lido muitos hentais.
Nem
preciso dizer que antes de conseguirem separar a briga, minha linda esposa já
havia decepado, ao menos, três dos tentáculos da criatura.
Eu
já disse o quanto amo essa mulher?
Algumas
semanas depois estávamos morando junto, num dos apartamentos pagos pela
Patrulha, que não era muito grande, mas sinceramente nem precisávamos de muito
espaço, uma vez que era cada vez maior o tempo que ficávamos no laboratório.
Ainda
mais depois que ele apareceu.
Os
detalhes não chegaram até nós, mas pelo que pude entender, o hospedeiro do
Ultraman foi contatado pelo Senhor Ide, o líder da Patrulha e pouco tempo
depois começou a agir em algumas missões, mas não foi isso que agitou nosso
laboratório.
Foi
por causa de Shinjiro Hayata.
O
filho do lendário Shin Hayata, o hospedeiro original do Ultraman.
Muitas
informações desconexas chegavam até nós e, provavelmente éramos mantidos no
escuro de propósito, mas o fato é que nosso serviço aumentou muito, priorizando
a melhoria nas armaduras Ultra de modo a proteger a vida de quem as estivesse
vestindo.
Durante
algum tempo sentíamos verdadeiramente estar fazendo parte de algo incrível,
algo maior, que visava proteger não apenas nosso país, mas o mundo inteiro.
Éramos
quase como heróis.
Foi
um período cheio de felicidade e realizações.
Infelizmente
não durou.
Fomos
chamados até a cidade alien para ajudar numa investigação onde eu acabei
exposto a um tipo de esporo. Não demos atenção ao caso, mas pouco depois minha
vida começou a degringolar.
Primeiro
foram as ondas de dor que vinham com intensidade suficiente para quase me
enlouquecer, depois os leves tremores das mãos, que começamos a esconder sempre
que alguém vinha até nosso laboratório.
As
visitas a vários médicos resultavam sempre no mesmo diagnóstico: Ninguém jamais
havia visto uma doença degenerativa tão agressiva quanto aquela e ninguém quis
nos iludir quanto ao tempo que eu ainda tinha de vida.
Passamos
muitas noites conversando e listando as possibilidades para encontrar uma cura,
mas sempre acabávamos em um beco sem saída. Um beco que levava direto à minha
morte.
Era
frustrante. Não apenas pela perspectiva de que eu estava ficando sem tempo, mas
por arrastar minha amada esposa nessa espiral de infelicidade que só tendia a
aumentar mais e mais.
Foi
nessa época que fizemos nossa maior descoberta.
Certo
dia uma equipe, sob ordens diretas do Senhor Ide, levou até nós duas manoplas
quebradas da armadura que foi desenvolvida para dar vida ao novo Ultraman, com
ordens para que descobríssemos se algo na energia Spacium pudesse ser nociva ao
jovem Shinjiro.
Fizemos
uma longa e demorada bateria de testes e tudo indicava que estava tudo bem, que
graças à sua fisiologia única o jovem Hayata não seria afetado de forma
negativa.
Não
sei bem o que passou pela minha cabeça, mas em uma tarde em que os tremores em
minhas mãos, o sintoma mais incomodo da doença, estavam especialmente incômodos
eu tive uma ideia, praticamente uma compulsão, para colocar as manoplas e,
mesmo sem ter ideia de como eu consegui, acionar a energia Spacium que ainda
residia ali.
Após
tomar uma baita bronca de Saeko, retirei as luvas e, para nossa surpresa total,
os tremores haviam cessado completamente.
Uma
ideia, nascida desse fato e do pavor que estávamos sentindo conforme a
ampulheta do meu tempo de vida ia se escoando sem parar, surgiu como aquelas
lâmpadas de antigos desenhos.
No
dia seguinte começamos aquele que seria um longo trabalho de paciência versus
urgência.
Conforme
nosso Ultraman se envolvia em batalhas cada vez mais frequentes e assim sua
armadura sofria mais e mais danos, conseguimos, relativamente rápido, montar
uma armadura com várias partes sucateadas, tanto da armadura do Ultraman, como
também do modelo sete, que estava sendo usado por um agente conhecido como Dan
Moroboshi.
Muitos
na base o admiravam, diziam que ele sim merecia ser o Ultraman e acabaram
batizando-o de Ultraseven.
Quanto
a nós, por mais que o esforço em dupla avançava na direção de uma cura, devido
ao excesso de trabalho, nosso avanço real era mera ilusão. Talvez em dez ou
quinze anos poderíamos achar uma cura.
O
último médico que visitamos me deu pouco mais de cinco meses.
Após
uma longa sessão dentro da armadura que havíamos montado, o que me fez sentir
bem pela primeira vez a... Puxa, não me lembro quando fora a última vez que me
sentira bem, me sentira vivo.
Justo
nesse dia recebemos uma visita que iria transformar nossas vidas.
Os
alarmes secretos que instalamos no corredor que dava acesso ao nosso
laboratório tocaram e mal tivemos tempo
para esconder a armadura quando ele entrou.
O
senhor Ide. Em pessoa.
Trocamos
um rápido cumprimento, algumas amenidades, enquanto ele andava pelo
laboratório, chegando perigosamente perto do esconderijo, ficando parado ali
perto por alguns minutos.
-
Podemos ajudar em algo senhor? – foi Saeko quem deu voz para o que se passava
em nossas cabeças. – Quero dizer... Tudo bem com o Ultraman?
-
Sim... Sim... – nosso chefe parecia absorto, pensamentos longe, conforme
continuava o que parecia uma inspeção pelo laboratório, mas sem prestar atenção
verdadeira a nada que estava à vista. – Bem, bem, bem... Onde está?
Fizemos
nossa melhor “cara de paisagem”, tentamos desconversar, mas fala sério... O
cara era um dos patrulheiros originais, lutou várias vezes ao lado do Gigante
de Luz... Nunca que iríamos enganá-lo.
Em
menos de meia hora ele já havia arrancado todos os nossos segredos.
-
Então é isso? - o comandante estava a alguns minutos admirando nossa obra,
parecia capaz de dissecá-la apenas com seu olhar. - E funciona? Pode realmente
curar tudo?
Diante
de todos jazia a armadura, toda cinza pois não havíamos concordado numa paleta de
cores interessante e não queríamos simplesmente replicar as dos modelos já
criados, montada a partir de peças sobressalentes, minha última esperança.
-
Hã... - demorei alguns instantes para responder, me preparando para dar adeus à
nossa criação, nossos empregos e, no meu caso, à vida. - Para ser sincero não a
utilizamos em sua totalidade... Apenas poucas sessões comigo, mas que servem
apenas para diminuir minhas dores...
-
O que os está impedindo? Digo, de usá-la totalmente?
-
Bem... - comecei a falar, mas o fato do nosso primeiro contato com o comandante
era muito, mas muito intimidante. - Na verdade estávamos desviando parte da
energia da base, mas não poderia ser demais ou... Ou seríamos...
-
Pegos não é? - ele deu um sorriso simpático, o que ajudou a aliviar o clima. -
Acho que não precisamos mais nos preocupar com isso não é?
Ficamos
em silêncio. Tenho certeza de que Saeko tinha a mesma ideia passando por sua
linda e genial cabecinha.
Seríamos
demitidos e eu morreria em total agonia em poucos meses.
-
Vou transferi-los para uma de nossas bases secretas no interior... Lá poderão
se dedicar total e exclusivamente para que essa armadura faça realmente o que
estão planejando.
Mas
hein?
Isso
foi realmente a maior surpresa do dia.
-
Uma tecnologia capaz de curar doenças até então desconhecidas? Como não
investir o máximo de recursos em algo assim? - a cada frase um sorriso
encantador, ele estava se esforçando para nos deixar tranquilos e nos
convencer. - O objetivo máximo da Patrulha Científica é a proteção da
humanidade e acredito fielmente que a invenção de vocês será de suma
importância para nossa missão...
Ele
ainda falou mais, sobre todas as esperanças que estava depositando em nosso
trabalho, mas confesso que minha noção de tempo ficou seriamente comprometida,
tanto que os próximos dias correram de forma borrada, acelerada.
Quando
dei por mim já estávamos a cerca de cinco meses no laboratório que nos fora
prometido e que correspondera totalmente às nossas expectativas.
Seria
mais correto dizer que as superou.
Nossas
projeções mais otimistas davam conta de que nosso protótipo só ficaria pronto
em dois anos, muito tempo depois da data da minha morte, indicada pelos vários
médicos que continuamos a visitar na esperança de um prognóstico diferente.
Mas
graças à Patrulha Científica e mais ainda ao Senhor Ide, após um período tão
curto de tempo, estávamos a um passo de fazer o primeiro teste.
Nós
tínhamos não só esperança, mas uma certeza absoluta de que daria certo, que eu
entraria quase morto na Zero, como começamos a nos referir à nossa versão da
armadura que construímos e sairia totalmente recuperado.
Um
breve beijo, era tudo o que podia oferecer à minha esposa naquele estado
avançado da doença, para só finalmente entrar na armadura, rezando para um deus
no qual eu já não acreditava desde meus quinze anos.
Poucos
segundos se passaram desde que Saeko acionara toda a sequência de controles que
iriam iniciar a Zero, tempo que me pareceu uma eternidade, mas quando
finalmente senti a energia Spacium se espalhando pelo meu corpo o mundo virou
de ponta cabeça.
Literalmente.
Começou
com um insistente zumbido, que eu julguei ser meu corpo reagindo ao tratamento,
mas quando Saeko disse estar ouvindo também, mal tivemos tempo para abortar o
teste.
Todos
os monitores indicaram um aumento energético repentino e, teoricamente,
impossível de acontecer, resultando numa exposição excessiva de Spacium que fez
meu corpo começar a convulsionar.
Saeko
correu na direção dos controles de emergência, o que iria desligar toda a
aparelhagem, mas não conseguiu ser rápida o suficiente.
Ocorreu
uma explosão de luz, aterradoramente silenciosa, parecia que todo o som do
mundo havia sido roubado de repente e acabou iluminando o lado esquerdo da
instalação, justamente ao lado de nossa janela e só dias depois ficamos sabendo
que não se tratava de um ataque, mas da abertura de um portal.
Um
portal para outra realidade.
Tudo
ficou escuro, mas logo uma dor aguda, vinda do alto da minha cabeça me trouxe
de volta e a primeira coisa que vi foi o amontoado de fios e cabos que saíam da
parte de baixo do nosso maquinário e levou alguns segundos para eu perceber que
estava caído no chão.
Sem
esforço algum eu me levantei, uma surpresa considerando o fato que estava
vestindo a Zero e que nos últimos dias eu mal tinha forças para comer sozinho,
mas no momento eu tinha outras preocupações.
-
Sa-Saeko? - minha foz soava estranha, devido ao sistema de comunicação da Zero,
mas logo acabei perdendo a voz.
Vi
minha esposa se levantando, ela havia caído do outro lado da sala, enquanto
tentava desligar os aparelhos, temendo que a explosão de luz fosse um ataque,
que eu pudesse ter morrido por causa do pico de energia que nossos controles
haviam indicado.
Mas
nada disso importava naquele momento. No momento exato em que fixei o olhar em
minha esposa.
Saeko
se aproximava e para meus olhos era como se ela fosse feita de uma energia
cintilante, como se ela fosse uma estrela, ao alcance de minha mão, emanando
luz como eu nunca tinha visto antes.
Só
viria a descobrir dias depois que eu estava vendo sua energia vital, algumas
pessoas mais esotéricas diriam que eu estava vendo sua aura.
O
cientista dentro de mim, meu lado racional, estava totalmente sobrecarregado
com as informações que a Zero me enviava, graças ao display eletrônico do meu
visor, com vários menus brilhando.
Por
mais que eu quisesse começar uma análise imediata, havia algo que eu precisava
fazer antes.
Com
um comando de voz eu tirei tudo aquilo da minha frente, falei que queria apenas
as informações mais importantes e naquele exato instante isso significava uma
varredura completa de minha esposa.
Só
voltei a me acalmar quando os dados foram chegando e a conclusão foi de que ela
estava cem por cento bem.
Tudo
aconteceu muito rápido naquele dia, antes que eu pudesse sequer levar uma das
mãos até o controle do pulso esquerdo, que começaria a desativar a Zero, uma
voz desconhecida pareceu explodir em minha mente.
“Protege
ela AGORA!”
Reagi
de pronto e me coloquei diante de Saeko, quando uma nova explosão aconteceu,
destruindo o que havia restado do laboratório... Confesso, com muita vergonha,
que fechei os olhos quando um mar de chamas e destroços nos alcançou.
Quando
voltei a ver as informações dos meus visores, me surpreendi com um imenso
escudo feito de uma energia azulada, parecendo sair das minhas manoplas,
demorei um tempo para perceber que era uma variante da Spacium.
“Na
verdade essa é a energia vital dos Ultras...”
Uma
voz na minha cabeça, certo, isso não era nada bom.
“Calma
cara, não dá tempo de conversar e o que está acontecendo precisaria de muito
tempo para explicar, por isso desculpa...”
-
Desculpa pelo q...
Mais
uma vez confesso minha vergonha, pois acredito que gritei como uma garotinha
quando senti minha mente ser invadida, inundada com detalhes da vida de uma
criatura que, em muitos aspectos, lembrava o gigante de luz que nós chamamos de
Ultraman e que de fato pertence à mesma raça.
Ele
se apresentou como Ultraman Zero.
Que
coincidência.
“Só
que eu vim de outra realidade...” foi o que ele disse, como se uma frase
simples dessas fosse suficiente para sanar todas as minhas perguntas.
“Não
temos tempo para perguntas Ichigo...” foi assim que percebi que, do mesmo modo
que eu fora invadido pelas memórias desse novo gigante de luz, ele também
aprendera tudo a meu respeito “Precisamos agir juntos para enfrentar...
Aquilo!”
Pelo
buraco aberto na parede do laboratório era possível ver outra criatura gigante,
este lembrava mais o Ultraman que todos em meu mundo conheciam, mas era como se
fosse uma versão distorcida, uma versão monstruosa dele.
“Ultraman
Belial...” acessei as lembranças do meu companheiro e vi a história do primeiro
de uma raça de guardiões da paz a sucumbir ao mal.
“Ele
estava prestes a destruir um planeta e eu estava fraco demais para impedir, só
consegui agarrá-lo e fazer um último salto entre realidades, mas isso me
consumiu por completo... Quando senti a sua energia, entrei em simbiose com
você... Mas não se preocupe, da mesma forma que essa armadura está curando-o,
estou me sentindo cada vez mais forte também, mas Belial não vai querer esperar
pela nossa recuperação. Precisamos colocar um fim nisso agora!”
Olhei
mais uma vez para minha esposa e vi em seus olhos um misto de horror e
curiosidade científica, ao ver tal monstruosidade olhando direto para nós, mas
quando me voltei para Belial, vi que o monstro parecia estar reunindo energia.
“Precisa
se decidir, Ichigo... AGORA!”
Diante
do fim iminente, não me sobrava qualquer outra escolha, por isso apenas voltei
meu rosto para minha esposa e com um leve aceno de cabeça, sem precisar de
palavras, corri e saltei na direção do monstro.
-
Espero que você tenha algo mais que um escudo!
“Eu
tenho... Pode acreditar. Zero Twin Sword!”
O
escudo se desativou, enquanto na manopla direita energia Spacium transbordou,
formando um tipo de lâmina curva, praticamente do tamanho do meu braço.
-
Isso não vai fazer nem cócegas nele!
“Não
faria... Se fôssemos ficar desse tamanho… Se prepara!”
Antes
que eu pudesse sequer pensar em algum questionamento, meu corpo foi tomado por
uma sensação de formigamento, seguido por uma dor aguda, como se eu estivesse
sendo rasgado de dentro para fora.
No
instante seguinte meu olhos iam se acostumando a uma nova realidade, onde o monstro,
antes de proporções gigantescas, agora parecia estar do meu tamanho. Ia
questionar como meu companheiro o havia diminuído, mas após uma rápida olhada
ao redor percebi o que de fato havia acontecido.
Eu
havia me tornado um gigante.
O
impacto de minha arma contra o corpo de Belial foi tão forte que quebrou
janelas numa área próxima de onde estávamos e foi quando percebi o perigo de
começarmos uma luta ali, meu companheiro entendeu e imediatamente agarramos o
monstro e o jogamos numa área de floresta, onde não machucaríamos nenhuma
pessoa.
Estava
tão confiante que disparei um soco na direção do rosto do monstro, acreditando
que poderia vencer facilmente.
Meu
punho foi contido de uma forma ainda mais fácil por Belial que, mesmo não
aparentando estar em sua plena forma, gargalhou ao perceber como eu estava
surpreso.
-
Pelo visto, arrogância é algo que você e seu novo hospedeiro tem em comum não é
Zero?
Ele
apertou ainda mais, até me deixar literalmente de joelhos, a dor ia ficando
insuportável, o desespero estava quase me sufocando, minha mente febril se
voltou ao passado, confesso com vergonha, mas já estava pronto para desistir.
De
repente algo foi me dando mais e mais forças e me esforcei para conseguir
inverter aquele jogo.
Era
agora ou nunca.
XXX
“Volte
vivo para mim. Eu te proíbo de morrer.”
Não
posso afirmar se foi realmente a voz dela que eu ouvi, ou se foi parte das
alucinações que tomavam minha mente, entorpecida como estava pela dor, ou até
se o mesmo deus em que não acreditava arranjou um modo de me reanimar.
O
fato mais importante é que aquela simples frase, ouvida na voz de minha amada
esposa, foi o suficiente para renovar minhas forças, somada ao ódio crescente
que não vinha apenas de mim.
“Vamos
acabar logo com isso Ichigo!”
O
Gigante de luz, Zero, deveria estar realmente tomado por um ódio ainda maior
que o meu e foi exatamente isso que fez com que eu finalmente me levantasse com
uma violência que nunca julguei capaz de exercer.
Livrei
minha mão, cuja manopla estava quase destruída e acertei um gancho, de baixo
para cima, certeiro no queixo do maldito monstro, com força suficiente para
calar sua gargalhada zombeteira e jogá-lo longe.
Belial
tentou se reerguer, mas mal conseguia se mover. Foi quando percebi que, assim
como meu companheiro, ele também deveria estar fraco por causa do salto entre
dimensões e, por mais que eu ansiasse em entender aquele conceito, não seria
possível vencê-lo somente com teorias e palavras.
Até
por que, no estado de raiva em que eu estava, o cientista em mim simplesmente
ficou em segundo lugar.
Era
hora do Guerreiro emergir.
Nesse
momento ficou ainda mais evidente como era rápido o processo de simbiose entre
um humano e um Gigante de luz, pois meu corpo se moveu por instinto, um
instinto que, com certeza, não era meu, dando um salto prodigioso, acertando
com tudo um chute bem no meio do peito do monstro.
Belial
deu vários passos para trás e senti na minha mente a confirmação de Zero, a
respeito da fraqueza do nosso inimigo, antes de avançar, preparando novo golpe
com a Zero Twin Sword, numa curva descendente, cortando-o de cima para baixo.
Ele
caiu sobre uma clareira, localizada na floresta próxima do laboratório, apenas
afugentando alguns pássaros, mas sem causar mortes. No local atingido por minha
arma algumas explosões aconteceram, causando danos consideráveis no peito do
monstro.
O
Ultraman renegado não conseguia se erguer, caindo todas as vezes que tentou,
ficando com a guarda aberta por tempo suficiente para que meu companheiro
preparasse seu golpe mais poderoso.
Ele
desfez a lâmina de energia e posicionou as duas manoplas diante do peitoral da
armadura, acumulando energia Spacium até que ele afastou os braços, disparando
uma rajada concentrada.
“Zero
Twin Shoot!” o grito ecoou na minha cabeça, conforme Belial era atingido,
terminando por ser consumido em uma explosão que deve ter sido vista por todas
as cidades mais próximas.
Ficamos
parados por alguns segundos, eu ainda tinha dificuldade em aceitar o meu
tamanho e minha mente começava a analisar as implicações de tal transformação,
quando senti o mundo crescendo ao meu redor.
Antes
de me acostumar com a mudanças anteriores, agora eu havia voltado ao meu
tamanho natural e fui praticamente levado voando até o meu laboratório.
Pousei
diante de uma ainda atordoada Saeko, que correu ao meu encontro, parando a
poucos centímetros de distância, estendendo a mão até a armadura que
construímos juntos e agora exibia as cores do Ultraman Zero.
De
repente ela se abriu, permitindo que eu desse os primeiros passos firmes que
consegui em meses, as mãos sem nenhum tremor e quando finalmente abracei Saeko,
foi com braços fortes.
-
Meu amor...
-
Sim, querida... Estou curado...
“Que
bom.”
A
voz ecoou nas nossas mentes, eu percebi pelo modo como Saeko reagiu, da mesma
maneira que eu.
“Pelo
menos posso voltar para minha realidade tendo a certeza de que deixei você
totalmente recuperado... Essa sua armadura é sensacional!”
Diante
do buraco na parede do laboratório o Gigante de luz, Ultraman Zero, cuja cabeça
ocultava todo o cenário atrás de si, nos observava. Tive a impressão, mesmo que
sua face não revelasse nenhuma mudança, que ele sorria.
“Estivemos
ligados por pouco tempo Ichigo, mas percebi que sua dimensão é única, tendo seu
planeta conhecido apenas um dos meus conterrâneos, mas vejo como se
desenvolveram, criando toda uma nova linhagem de guerreiros Ultra... Tenho
certeza de que vocês serão grandes adições a essa força de proteção de seu
planeta.”
-
Mas nós não pretendemos... Digo... Somos só cientistas e...
O
gigante colocou as mãos na cintura e nos olhou com a cabeça levemente caída
para o lado, como um adulto que diz às crianças que ele sabia perfeitamente o
que elas estavam prestes fazer, ou o que aprontaram.
“Sei...Sei...
Bom, preciso ir agora... Tenho um grupo e muitas responsabilidades pelo
multiverso... Mas tenho certeza de que voltaremos a nos encontrar.”
Dito
isso ele se foi, desaparecendo num halo de luz multicolorido.
Outra
vez o tempo passou rápido demais em nossas vidas.
Em
meio à reconstrução do laboratório, bem como da cidade ao redor, que sofreu
muitos danos durante a luta, antes de conseguir levar Belial para longe, o
senhor Ide veio nos visitar.
Após
uma longa bateria de testes e de verdadeiros interrogatórios, todos estavam
fascinados pela visita de um novo gigante de luz, fomos liberados para
continuar em nosso laboratório, com a nossa pesquisa.
Claro
que uma das condições para tanto é que o Ultraman Zero, no caso eu, estivesse
sempre à disposição, caso algum novo inimigo surgisse, principalmente algum que
tivesse o tamanho colossal.
Deixei
claro que não havia conseguido aumentar meu tamanho uma única vez sequer desde
que a simbiose com o Zero original se desfez e dei graças por todos terem
acreditado. Ou, ao menos, parecer que acreditaram.
Dei
graças também por termos, durante a reconstrução, criar uma sala especial e
secreta, onde eu e Saeko conduzimos alguns experimentos, como por exemplo, a
altura máxima que consigo atingir quando distribuo a energia Spacium por toda a
minha armadura.
A
cada dia fico mais e mais confortável tendo pouco mais de dezoito metros de
altura, o mundo já não parece tão estranho e estou cada vez melhor ao controlar
meu movimentos, se um dia, acho isso pouco provável, mas se um dia um monstro
gigante aparecer, sei que poderei ser ainda mais eficiente no combate.
Cá
entre nós, até meus golpes estão bem melhores, Saeko vive me dizendo isso, pelo
menos nos momentos em que ela está comigo e não trabalhando em seu projeto
secreto, não sei os detalhes, mas vivo ouvindo-a falar algo sobre “unidade
Tiga” ou algo assim.
Conhecendo
minha esposa sei que, o que quer que venha desse projeto será algo grandioso.
Vejo,
na verdade, agora que estou completamente curado, um futuro muito, muito
grandioso para nós dois.
E
para toda a humanidade.
Fim?
15 Comentários
Finalmente temos algo de Norberto Silva no Mindstorm!! Que venham outros Fictors!!
ResponderExcluirValeu mesmo amigo!
ExcluirEspero também que o mindstorm cresça cada vez mais em número de escritores e de fic de qualidade.
Espero também que você curta essa história.
Valeu Rodrigo!
ExcluirEspero mesmo ajudar o projeto a crescer cada vez mais e que outros talentos se unam a nós!
Obrigado Rodrigo!
ExcluirEspero acrescentar e torcer para que tenhamos muito mais escritores!
Que história fantástica hein!!!
ResponderExcluirCurti bastante a narrativa e os acontecimentos, uma história envolvente e que te prende.
Parabéns Norberto!!!
Valeu Renato! Que bom que você curtiu!
ExcluirMe esforcei para que meu primeiro texto na Mindstorm estivesse à altura de tal projeto.
Obrigado mesmo pelo comentário.
Eu curti o formato e estou ansioso pelos próximos! Seja bem vindo Norberto!
ResponderExcluirValeu Felipe!
ExcluirJá estou trabalhando o próximo, com uma nova versão do Ninja mais amado do Tokusatsu!
Aguarde e confie.
Norberto... que obra de arte. Confesso que prefiro o formato tradicional de séries longas. Mas, reconheço que essa linha one shot é mais a cara da nova geração. Os tempos mudam...
ResponderExcluirQuanto a história, posso dizer que achei fenomenal. Afinal, você recria e homenageia um gênero clássico: os ultras. Parabéns. Todo fan de toku tem que reverenciar ultras.
Outra coisa... essa pegada da ficção científica me agradou muito. O drama do episódio me lembrou o filme enigma do outro mundo.
Campeão: parabéns demais.
Muito obrigado pelo maravilhoso comentário Artur.
ExcluirAtualmente não posso me envolver numa série longa, tenho outros projetos para tocar e não poderia dar a atenção devida a uma fanfic que ficasse à altura do Mindstorm, por isso essa decisão de fazer esses "filmes".
A família Ultra tem alguns dos meus personagens Toku favoritos e o mangá está fanstástico, por isso escolhi esse universo como base para a minha fanfic.
Fico extremamente feliz por você ter curtido.
O próximo "filme" está em produção, espero que você goste também.
Até lá e mais uma vez obrigado!
Finalmente consegui ler a esperada saga de Zero de meu amigo Norberto, como comentei em conversa, eu precisava assistir as sagas de Zero, seus movies, para conhecer melhor o personagem e então ter uma noção melhor para reconhecer referências e demais situações em sua trama e o retorno foi excelente. Vamos ao seu trabalho agora: A primeira coisa que eu gostaria de dizer é que foi curto, muito curto. Sério, ao terminar as linhas eu fiquei assim, como assim, só isso? Terminou aqui??? Pôxa, eu queria mais, huhuahuahuauh. Mas entenda isso como um elogio, a narrativa foi tão agradável, tão bem construída, tão bem colocado que tu se prepara para ler uma tarde inteira como foi o caso e termina rapidão, isso é algo muito bom pois quer dizer que a trama me envolveu por completo. Eis outro ponto, eu estava dentro da armadura Zero, sim, tua narrativa me colocou lá dentro, não há como negar, eu vi as leituras de sinal de vida, eu vi Belial me observando, eu me senti o Ultraman Zero e isso foi uma sensação muito boa. Ver Ide como comandante, nossa, eu esperei por isso muito tempo, ele foi tratado como alívio cômico na série, mas era tão capacitado quanto qualquer outro deles e a forma como colocastes as ações e atitudes dele, me lembraram muito Capitão Sakomizu da Guys e eu sou muito fã dele. E o casal? Nossa, que perfeito ficou a relação entre eles, o apoio, a parceria, a união e determinação deles, até mesmo na hora do combate e nessa hora, trazendo um pouco pra vida real, a voz da pessoa amada te fazendo destruir um monte para superar seus próprios limites e com isso salvar a quem tu ama e toda a humanidade ainda por cima, é algo que vivemos, de forma diferenciada é claro, mas que vivenciamos a cada dia em nossas dificuldades e batalhas particulares. Sem palavras meu amigo, um movie fantástico, desde as motivações até os personagens escolhidos, Ultraman Zero Fusão foi incrível e me deixou com gosto de quero mais profundo, kkkkk! Parabéns pelo trabalho e quem me dera escrever com essa clareza e competência, obrigado por compartilhar conosco essas tramas incríveis e desculpe por demorar a responder! Grande abraço!
ResponderExcluirCá estou , visitando a estreia de um dos mais incríveis e versáteis fictors do time Mindstorm: O Grande Norberto Silva!
ResponderExcluirE que estreia !
Uma viagem maravilhosa ao mundo dos Ultras , retratada aqui, nessa one-shot.
Foi possível sentir todo o estranhamento de Saeko ao vestir a armadura e entrar em simbiose com o Ultra Zero.
A interpenetração de ambas as personalidades foi algo muito bem narrado .
A luta contra Ultra Belial foi outro ponto de destaque.
Pena que acabou tão rápido...
Só posso te parabenizar pelo excelente trabalho.
Parabéns!
olha... Esse texto é do longinquo 2017... Na época até falhei em não responder o, ainda não muito conhecido e hoje um dos meus melhores amigos, o Lanthys.. .Uma falha que só cabe mil desculpas.
ExcluirE obrigado pela leitura e comentário Jirayraider!
Fico feliz por um texto antigo e, talvez, não tão bem desenvolvido como os que procuro produzir hoje em dia tenha te agradado.
Valeu mesmo!
A estreia do Norberto no Mindstorm no longínquo ano de 2017 (4 anos já, hein, mano?)
ResponderExcluirE Ultraman Zero não me decepcionou. Muito bem descrito, cena de ação na medida, as implicações. Uma simbiose de uma luta só, mas que foi o suficiente pra abalar as estruturas do mundo conhecido.
E o mais legal foi que previu algumas das ações que aconteceram no seriado do Ultraman da Netflix, que veio muito tempo depois.
Obrigado por esta obra, grande amigo!
Valeuesmo pela leitura e comentário meu amigo!
ExcluirRealmente nessa época eu nem imaginava que o anime poderia sequer ser pensado... escrevi com a empolgação pelo mangá.
E, putz, quatro anos... O tempo, realmente passa voando.
Valeu mesmo!