Dia de escuridão – Parte 3 – Kumico Yoshida.
CIDADE DE NAGOYA –AGOSTO
DE 2015.
Quinta feira, já era fim de tarde e após um exaustivo dia de trabalho no hospital onde fazia residência, Kumico se joga no confortável sofá da sala. Cansada da longa jornada, recosta-se levemente e apoia a cabeça em sua almofada favorita, fechando os olhos em seguida.Sua mãe, que acabava de terminar o preparo do jantar, entra no recinto e, sorrindo orgulhosa, coloca carinhosamente a mão na testade suafilha.
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Minha querida, não durma ainda, o jantar está quase pronto, tome seu banho e
venha se alimentar.
Ainda de olhos fechados, Kumico abre um pequeno sorriso.
- Claro mamãe, já estou indo. – Ela responde com a voz serena e preguiçosa. Encaminhando-se em seguida para o banheiro.
Após a partida de Jaspion, Kumico e sua família, mudaram-se para outra cidade, onde puderam viver tranquilamente. A garota cursou medicina na faculdade e tornou-se uma grande profissional, especializada em geriatria. Possuía uma ótima reputação, e era considerada por seus colegas como uma das melhores do Japão na sua área.
Já com 42 primaveras, ela havia se casado com um colega de faculdade e profissão, porém, seu relacionamento chegou ao fim 5 anos mais tarde, o que a levou a voltar a morar com sua mãe. Já no banho ela traz aos seus pensamentos passagens de seu dia de trabalho e que também, a lembranças de sua vida após a derrota de Satan Goss.
Lembrou que apaixonou-se pela medicina, devido a ocasião em que sua mãe, ainda grávida de seu irmão Ryuichi, acidentou-se caindo de um barranco, quando as duas estavam em fuga dos soldados de Macgaren, em que seu irmão e mãe foram salvos graças ao excelente trabalho dos profissionais daquele hospital. Lembrou também que naquela época em que ingressou na faculdade, reencontrou um velho conhecido também lá estudava, Daizuke Uehara, que também foi uma das cinco crianças irradiadas pela luz, e lá, estava cursando culinária. Por já possuírem uma amizade consolidada, eram inseparáveis e estavam sempre a conversar nos intervalos e frequentavam as festas da universidade juntos. Pois só os dois sabiam dos dons que possuíam, e isso os ajudava a proteger-se e estarem sempre em anônimato.
Pois foi nesse período que Kumico percebeu que os poderes que adquiriu ao ser irradiada pela luz, haviam aumentado, que eram poderes de manipulação de mentes e telecinese. Ela sempre fora uma aluna exemplar, focada e inteligente, o que infelizmente provocava inquietação em outras alunas. Certa vez, essas alunas a encurralaram em um beco próximo a universidade e, ao ser atacada, ela apenas com um pensamento, arremessou suas algozes metros para longe dela. E essa foi a primeira vez que além de utilizar seu enorme poder telecinético, também manipulou as mentes das garotas para que esquecessem tal fato.
Após refrescar-se com um delicioso banho, Kumico retorna ao andar de baixo, onde sua mãe já a esperava sentada à mesa. Ela toma assento a esquerda de sua mãe, que lhe transmite um recado deixado por sua amiga Kanoko Nambara.
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Querida, a senhorita Nambara telefonou hoje, disse que precisava falar com você
urgente, mas, não me adiantou o assunto, tem ideia do que se trata?
A moça, que estava com a boca cheia de lamen, arregala os olhos por um instante, disfarçando em seguida. Ela com certeza sabia do que se tratava, porém, para não assustar sua mãe, ela tenta dar um motivo qualquer.
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Ah mamãe, Kanoko é um pouco exagerada, não deve ser nada de mais, assim que
terminarmos aqui, falarei com ela. Não se preocupe.
De repente a campainha toca.
- Mãe, a senhora está esperando alguém? – Kumico pergunta.
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Não minha querida, quem será?
Eis que de surpresa, seu irmão e sua esposa chegam para uma visita. Ryuichi beija a testa da irmã e em seguida, abraça a mãe com carinho. A senhora Yoshida mesmo feliz de ver o filho, o repreende pegando em sua orelha esquerda.
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Menino... Como me aparece aqui sem avisar? Não temos comida suficiente para
todos.
Após abraçar a cunhada, Kumico nota que ela carregava algumas sacolas e as segurava em ambas as mãos. Ela então olha para a senhora Yoshida pronunciando-se em seguida.
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Não se preocupe sogrinha, trouxemos algumas coisas pra completar o jantar.
Ryuichi insistiu que precisava vir hoje, queria muito vê-la.
A senhora Yoshida solta a orelha do filho se aproximando em seguida de sua querida nora, pegando as sacolas com um largo sorriso.
- Caramba mãe... – Ryuichi reclama do puxão que sofreu, levando a esquerda ao local da dor.
- Isso é pra você aprender a avisar as coisas para sua mãe, sabe muito bem que não gosto de ser surpreendida, principalmente nos horários das refeições.– Diz ela enquanto todos no recinto riem da cara do rapaz.
Kumico, Ryuichi e Yumi encaminham-se para sala, acomodando-se lá enquanto aguardam o preparo do restante do jantar, pois eles sabiam que a senhora Yoshida gostava de preparar suas coisas sem a interferência de ninguém, pois a cozinha era de seu comando.
Já confortáveis nos sofás, iniciam o assunto que estava em pauta em todas as mídias, o aumento da violência no mundo.
- Kumico, você tem acompanhado os noticiários?– Ryuichi questiona.
- Tenho estado muito ocupada irmão, a cada dia aumenta o número de pessoas que dão entrada lá no hospital, principalmente com marcas de violência. Pessoas esfaqueadas, espancadas ou feridas de arma de fogo, o pior, é que em muitos dos casos, tudo está acontecendo entre famílias, dentro dos lares, e com requintes de crueldade. Tudo muito triste. – Ela responde.
Yumi também comenta sobre o assunto.
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Li uma notícia na semana passada, que em alguns países as pessoas tem agido
estranho, parecendo até animais selvagens, fazendo coisas terríveis. Em alguns
flagrantes que foram gravados, parecia até que as pessoas emanavam um tipo de
aura, ou fumaça vermelha de seus corpos. Achei até que eram montagens, até que
vi dois vizinhos meus brigando a uns três dias, e pude presenciar que realmente
aquilo saía deles, fiquei muito assustada.
Após alguns minutos a matriarca da família chega até a porta da sala e chama a todos para se sentarem a mesa, pois o jantar já estava servido. Os três atendem o chamado e, após a higienização das mãos, acomodam-se e aproveitam o delicioso jantar. Como no dia seguinte seriam as folgas tanto de Kumico quanto de Ryuichi, ele e sua esposa decidem passar a noite por lá, o que deixou a mamãe contente, pois ela amava estar junto aos filhos no café da manhã. Kumico se distraíra tanto com as conversas e brincadeiras com o irmão e a cunhada que se esquecera completamente do assunto mencionado ao chegar em sua casa, a ligação de Kanoko.
Ela ajudou a mãe a preparar o antigo quarto de Ryuichi para que o casal passasse a noite confortavelmente, assim que estavam devidamente instalados, os irmãos se envolveram num caloroso abraço, que também foi estendido a Yumi. Kumico então deixa o quarto e vai até o aposento de sua mãe, lá ela deseja boa noite a ela e com um beijo carinhoso em sua testa, despede-se e dirigir-se a seu quarto. Já era mais de meia noite quando Kumico se deitou, bocejando intensamente ela recosta-se em seu confortável travesseiro.
- Nossa, amanhã acordarei tarde, preciso descansar.– Pensa ela, já caindo em sono profundo em seguida.
Pouco tempo se passa, Kumico então abre os olhos em meio a escuridão de seu quarto passando a procurar a cordinha que acenderia seu pequeno abajur que estava ao lado esquerdo da cama sobre um criado mudo, mas, apalpou somente o nada. Ela então senta- se a beira da cama e ao colocar os pés no chão, todo o ambiente se ilumina, porém era apenas um local totalmente branco e inteiramente vazio.
- O que é isso? – Ela se pergunta.
De repente um forte estrondo pode ser ouvido, o que lhe provocou um enorme susto. Imediatamente ela preocupa-se com sua família e começa a caminhar em meio ao clarão, então e diante dela vegetações estranhas começam a surgir ao mesmo tempo que um terremoto se inicia, o que fez com que o cenário branco começasse a rachar. Ela então interrompeu seus passos e ao olhar para cima, percebeu que diversos pedaços e destroços daquele cenário iriam atingi-la em cheio.
- NÃOOOOO...!!! – Ela grita com a voz carregada de desespero.
Ela então posiciona os braços estendidos para cima e, ao mesmo tempo, seus olhos brilham em azul de forma intensa. Nesse instante, uma onda psíquica invisível destrói todos os detritos que iriam atingi-la. Após o forte baque da explosão provocada pelo seu poder, ela acorda num sobressalto, porém, o pesadelo estendeu-se para a realidade. Em seu quarto, mesmo em sono profundo, o seu poder abriu uma clareira em meio a escombros e vegetação que havia tomado conta de sua residência.
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Meu Deus, o que aconteceu? Não... Não pode ser.... MAMÃE.... RYUICHI... YUMI!!!
Seu brado clamando por seus entes queridos foi em vão, pois só o som de casas ruindo e pessoas gritando era ouvido. Mas, ainda assim, ela removeu diversos pedaços de alvenaria e plantas a procura dos corpos, e terminou por encontrá-los juntos, esmagados por paredes e partes do teto, com o corpo de seu querido irmão abraçado a sua irmã e cunhada, em uma última e derradeira tentativa de protegê-las. Kumico ajoelhou-se frente a cena, olhava em estado de choque ainda não crendo no que aconteceu. Enquanto isso, o céu tornou-se ainda mais negro e repleto de nuvens, de onde desprendiam-se diversos relâmpagos vermelhos, e fortes golpes de vento aconteciam em pequenos intervalos.
As lágrimas desciam abundantes em seu rosto enquanto ela olhava para suas mãos e pensava.
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“Tanto poder, e pra quê? Só pude salvar a mim mesma...”
Nesse momento, em meio ao caos, a voz de Kanoko chega a sua mente, dizendo que havia chegado a hora de os cinco se reunirem. Ela se levanta e ainda em meio as lágrimas, Kumico promete.
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Mamãe, Ryuichi, Yumi.... Eles pagarão por isso, me perdoem, não pude salvá-los...
Ela se despede, e corre escuridão a dentro, enquanto o Império dos Monstros inevitavelmente se levanta.
6 Comentários
Muito bom Renato, maravilhoso e tenso episódio como os demais! Eu creio que a Kumiko é uma das que eu mais lembro, e tinha grande simpatia por ela, não sei explicar o porque, mas era a que eu mais simpatizava mesmo diante da Kanoko! O fato dela ter um irmão Ryuichi (eu não lembro se ele já existia na série) deixou tudo mais "brilhante" ainda pra mim ahahaha! Mas enfim, triste ver que mais uma familia se foi sem que ela pudesse fazer algo, o poder dela a salvou por instinto eu creio, mas não houve tempo de salvar a familia e isso vai ficar marcado em seu coração pra sempre! Realmente um magnífico pano de fundo para o antes de Kumiko Renato, meus parabéns cara, Jaspion nunca teve tanta profundidade em seus personagens como agora, tu é o cara!! \0/
ResponderExcluirGrande Lanthys, obrigado pela leitura e comentário.
ExcluirO irmão da Kumico nasceu no final do episódio. O Jaspion até colocou um pedaço da Bíblia na mãozinha dele pra ver se era o bebê irradiado pela luz.... Kkkk
Acho que consegui passar a emoção também nessa parte.
Abraço!!
Pesado o capítulo...
ResponderExcluirAs crianças irradiadas, nas histórias da dua série principal, sempre deram a impressão de serem sofridas e terem comido o pão que o diabo amassou, para terem se tornado guerreiros duros e fortes.
E nessa leva de contos focados em cada um deles você mostra habilmente esse caminho... Muito, mas muito bom mesmo amigo!
Meus parabéns!
Grande Norberto.
ExcluirAgradeço o comentário.
Pois é cara, na série Ginga, Kumico e Hiroshi foram os mais prejudicados com o ressurgimento do império, por isso mostrei a verocidade dos dois no episódio "Em busca de vingança."
Obrigado por acompanhar.
Forte abraço.
Outra crônica brilhante que faz com que Kumico também tenha motivo de sobras para odiar Satã Goss.
ResponderExcluirEstá série de crocrônicas são essenciais para entender o restante da saga de Tarzan.
Divino, meu amigo.
Esculache mesmo o mundo da escrita, pois se há uma continuação do Jaspion de verdade... está é a sua!!!
Muito agradecido Artur!!!
ExcluirEmocionado pelo comentário, muito obrigado mesmo.
Forte abraço.