16. Ajustando os ponteiros
Agora os Tupangers eram 8. Isis mostrava ter temperamento forte, o suficiente para observar a todos com olhares ferozes, e seus pensamentos eram uma incógnita.
Mas Japeusá estava quieto por uma razão. Ele queria, sim, destruir os Tupangers, mas ele sabia dos pontos fortes de cada guerreiro e não os subestimava, porém ele ainda não sabia se a equipe havia aumentado ou não.
Não sabia mais o que criar para derrotá-los... Então algo lhe passou pela mente... Por que não usar o que eles tentam proteger contra eles mesmos? A partir daí ele começou a estudar meios entre os humanos para parar a resistência.
É quem melhor para usar senão o próprio presidente do país em que os guerreiros viviam?
Japeusá abriu um portal no Palácio do Planalto, abaixo da asa sul, seguindo oculto pelas paredes do local. Os seguranças não tinham quaisquer ligações com o sobrenatural ou possuíam mentes fortalecidas, com isso foram facilmente dominados pelo deus do caos.
É assim ele chegou facilmente à sala onde Bolsonaro se encontrava. Era tarde da noite, uma das poucas vezes que o líder máximo da nação ficava depois do expediente com muitas reuniões para articular os projetos de lei, e estava irritado por vários projetos não terem dado certo do jeito que ele queria.
- Quem é você? – Perguntou o presidente assim que viu Japeusá – Seguranças!
- Calma, Jair. Não sou seu inimigo. Quero apenas evitar que você perca o poder que você tanto custou para conseguir... – Falou o deus do caos com calma.
- O que você quer dizer com isso? Você não deveria estar aqui, você tem a noção de com quem está falando? – Seguiu disparando o presidente.
- Eu tenho total noção de onde estou, com quem eu falo e sobre o que eu falo. E é de uma equipe que esteve em destaque na mídia, mas parece que não deram a devida atenção. Eles querem te derrubar, e se eu fosse você prestaria mais atenção neles. – Japeusá respirou fundo e continuou falando, pausado, calmo e compassado.
- Que equipe? Enlouqueceu? Se você não sair daqui agora, vou ter de chamar alguém para lhe tirar à força! – O presidente continuou a gritaria inútil, achando que apenas no grito espantaria aquele ser estranho que estava à frente dele.
Foi quando Japeusá perdeu a paciência. Ele não queria dar o braço a torcer, mesmo que ele já estivesse envolvido.
- Cansei de tentar manter o seu livre arbítrio, humano. Agora você irá me obedecer, irá iniciar uma caça aos Tupangers, e não vai acabar até que eles tenham sido privados de sua liberdade, assim me dará tempo de conseguir mais poder para destruir o mundo. Estamos entendidos? – Enquanto falava, Japeusá mantinha a mão espalmada em uma reta sem obstáculos em direção à testa do líder do Executivo Brasileiro.
Na frase final, o presidente baixou sua linha de visão, claramente dominado pelo deus, anuindo com um gesto de cabeça.
Enquanto isso, os Tupangers se reuniam para conversar, fora do plano mítico, para conseguir um melhor entrosamento. Isis chegou na equipe pelas mãos de Iúna, e eles não sabiam nada a respeito dela.
A primeira conversa entre eles foi amistosa, porém, quando finalmente começaram a falar as verdades, Isis resolveu mostrar sua verdadeira face. Ela estava ali apenas porque Iúna havia prometido que estaria cercada de garotos bonitos, e que não teria de lutar muito.
- Será que o Iúna entende a importância da luta que temos contra o Japeusá? Isis, espero que você entenda. Não lutamos para ganhar fama ou fortuna, mas sim para evitar o fim do mundo! – Começou Ada.
- Mas eu não quero! Não me importo com o que aconteça ao mundo, só quero viver bem! – Refutou Isis.
- Você percebeu a merda que você tá falando? Se o mundo não estiver bem, você também não vai estar! Você acha que vai viver legal se Japeusá dominar o mundo e resolver fazer de você a concubina dele. E contra a vontade! – Disparou Amanda, já perdendo a cabeça com a frivolidade da garota.
- Mas ele não me falou isso!! Eu não quero me envolver nisso, não quero mesmo! – Isis replicou em cima do argumento de Amanda com algo que ela não abriria a mão, que era a sua vontade.
E a jovem ruiva fez o movimento de sair correndo, porém foi restringida pelas outras meninas. A fizeram sentar em uma cadeira e a amarraram.
- Vou ter que fazer um tratamento de choque, mas você vai entender no que foi inserida. Se mesmo depois disso você ainda assim quiser deixar o barco, não vamos te impedir. – Disse Débora com um tom muito baixo, porém extremamente ameaçador.
E assim as três passaram duas horas descrevendo os possíveis futuros com Japeusá no poder, e do que ele era capaz contra a humanidade. Contaram também do futuro alternativo que visualizaram por causa de Varpo, com a humanidade, exceto os sete na época, completamente aniquilada.
Isis não queria acreditar em toda aquela história que era contada a ela, mais por pirraça do que propriamente pelas outras meninas faltarem com a verdade. Para terminar o tratamento de choque, fizeram Isis morfar, e usando-se dos poderes dados pelos deuses, mostraram as lembranças da luta contra Varpo para que ela visse mais vividamente.
Isis acabou entrando em choque. A cidade estava vazia, não havia uma alma viva, e pelo que ela viu e as meninas contaram, ela ainda não estava na equipe, o que significava que naquele futuro ela também estava morta, desaparecida ou cativa.
Uma pessoa lhe veio à mente... Ela não poderia se dar ao luxo de perdê-lo. A pessoa a quem ela mais amava naquele mundo de maquiagens, purpurina, glamour e frivolidades, de garotos beijando seus pés e quaisquer outras fantasias que ela ousasse ter.
Com coisa demais em sua cabeça, ela desmaiou. Ela que normalmente fingia os desmaios, mas daquela vez a carga de informação foi tamanha que ela não aguentou a pressão psicológica colocada em cima dela.
- Ada, Amanda, vamos levá-la para o plano mítico e tentar entender porque Iúna fez isso com alguém que claramente não quer se tornar uma Tupanger. Mesmo que ela seja a mais compatível, ela está irredutível, tanto que tivemos apelar de maneira horrorosa. Não gosto de fazer isso com pessoas como ela que vivem só o hoje. – Disparou Débora, já de saco cheio com aquela situação esdrúxula que havia se formado.
As duas assentiram com as cabeças, pegando cada uma de um lado e Débora espalmando a mão entre as escápulas da ruiva desacordada, para em seguida abrir um portal físico em direção ao altar do panteão.
Já no plano mítico, Iúna se assustou ao ver as meninas chegando e carregando Isis desacordada. Débora chamou por Aiyra, que estava ali, fazendo uma prece à deusa da caça.
- Iúna, o que você fez foi uma completa irresponsabilidade. A menina sequer deseja lutar pelos outros, é egoísta e você não viu isso. Caupé não é assim, é eu acho que tem algo de muito errado no que você fez. – Disparou a Tupanger de Picê em frente à gêmea do guardião.
- Mas o que vocês fizeram para ela ficar desse jeito? – Perguntou o guardião, exasperado.
- Simplesmente mostramos a verdade a ela e, e as nossas lembranças do ataque que sofremos de Varpo. Ela tanto não aguentou que desmaiou. É só dar algo forte pra ela cheirar que ela acorda. – Disparou Amanda, já pau da vida com a atitude da guerreira de Caupé.
- Iúna, isso tem a ver com aquilo que aconteceu no início do século XX? – Perguntou Aiyra com a feição endurecida e os braços cruzados em frente ao peito, claramente insatisfeita com o que havia acontecido.
- Você acha que eu ia brincar com uma coisa dessas, minha irmã? Nunca! Em missões eu sou Caxias, ou você esqueceu daquela vez que você ficou bêbada no século XV? – Perguntou Iúna em meio à sabatina que as outras lhe prestavam.
Aiyra pigarreou, claramente mostrando que era verdade o que tinha acontecido e que o argumento dele tinha sido aceito.
- Meninas, já passou pela cabeça de vocês que ela pode ter usado as palavras para colocar vocês contra o Iúna? – Perguntou a guardiã original, usando de retórica.
As três pensaram por muito tempo, e aquilo realmente fazia sentido.
- Obrigado, mas isso ainda não explica ela ter sido trazida aparentemente contra a vontade! – Disparou Amanda.
- Isso nem eu sei explicar, ela parecia ter gostado da ideia. Se quiser ver a reação dela, compartilho a lembrança com as mentes de vocês. – Iúna também estava intrigado, e logo compartilhou a lembrança.
Ada, Amanda, Débora e Aiyra fecharam seus olhos e a lembrança de Iúna teve início.
Meses antes, Iúna havia partido em busca da representante de Caupé, e ele não podia mentir, ainda tinha em mente o que tinha acontecido entre ele e a deusa, mas isso não poderia nublar seu julgamento, afinal de contas, a missão era mais importante do que suas lembranças amargas de uma tentativa de encontro ruim.
Estava no Rio Grande do Sul em Porto Alegre. Passando em frente a uma floricultura, ele encontrou Isis, e o sentido mágico de compatibilidade com Caupé se aguçou, ela era compatível. Mais do que todas as garotas que haviam encontrado até o momento.
Isis olhava para um cartaz na vitrine da floricultura que falava de um recrutamento de meninas para modelo, para uma campanha de calças jeans, e o requisito eram meninas acima de determinadas medidas de quadril, e Iúna conseguiu ver uma grossa lágrima escorrendo pelo alvo rosto da garota, ela não cumpria a exigência.
“Agora não é o momento. Vou deixar para falar com ela depois”, pensou Iúna, e as garotas observaram isso com com uma expressão de curiosidade em seus rostos, afinal de contas, aquilo era uma prova de que era mesmo uma lembrança, sabiam o que ele até havia pensado naquela hora.
Mas Isis percebeu que estava sendo observada, e pensou que era um olheiro de modelos, e ela se aproximou de Iúna, se insinuando. Os dois partiram para uma confeitaria ali perto, e começaram a conversar.
Todo o papo que Iúna conversou com Isis estava ali, na íntegra. Ele falou a verdade desde o começo, falou dos problemas que o mundo tinha e ela, como heroína, poderia ajudar a impedir. O mais importante era que, naquele momento, elas também podiam ver os pensamentos dela, como ele os entendia.
“... Mulher Maravilha... Ótimo... Darei o meu melhor...”
- Foram só fragmentos... Ele não entendeu direito... Ele não tem culpa, meninas. Os pensamentos dela estavam todos nublados, talvez pelo excesso de materialismo. - Disse Aiyra, em defesa do irmão.
Foi quando eles voltaram ao plano mítico.
- E foi isso o que aconteceu - Disse Iúna.
- Então o que fazemos? A menina claramente aceitou vir contigo porque achou que era uma campanha em que ela faria o papel de Mulher Maravilha, e que você tava representando... - Disse Ada.
- O quanto essa garota é tapada? O Iúna falou 100% a verdade e ela pensou que era algo que ela queria que fosse? O quão iludida ela é? - Falou Amanda, cada vez mais pau da vida com Isis.
- Vamos ter uma conversa franca com ela. Caso ela se mostre consistente com o que disse até agora, devolvemos ela pra cidade dela, com as memórias apagadas e corremos atrás de outra representante para Caupé. - Disse Débora.
Isis já ouvia toda a conversa, ela tinha acordado pouco antes de Iúna mostrar suas memórias a todas, e ela entendera tudo, e da pior maneira. As garotas não gostavam dela, e os garotos nem bola lhe davam. Ela era apenas mais uma.
Foi quando todos perceberam que ela estava acordada.
10 Comentários
Eitaaaaa!!
ResponderExcluirQue virada!!!!
Muita coragem citar nominalmente o Birelibles que nos desgoverna.
Assim como você fez aqui, em Contos Mindstorm eu o coloquei como representante de um Quarteto Maléfico, que agia nos planos espirituais.
Nisso concordamos!
OS Tupangers estão em perigo com essa investida de Japeusa no Birelibles .
Agora, quanto a Isis , Iuna não poderia ter errado desse modo.
Será que essa garota fútil estará preparada para a missão confiada ?
Isso vai dar pano pra manga !
Muito bom , amigo !!!
Unir realidade e ficção do jeito que você está fazendo é pra poucos.
Parabéns!
Obrigado por acompanhar, fico feliz que você tenha gostado.
ExcluirEu to me esforçando...
Aguarde e confie.
Abraço
Caraca!
ResponderExcluirQue situação mais tensa e complicada!
Sério, tô passado... As heroínas apelaram pacas e, putz, que viajada que o Iúna fez... Caceta...
Sério, quero ver como isso se desenrolará!
Parabéns pelo episódio.
Veja só como as coisas andaram, Norberto... Não deixe de acompanhar. MUWAHAHAHAHA
ExcluirAbraço
Excelente episódio Jorge, realmente ver divindades ratiando desse jeito é algo bem incomum e chamou a atenção! A Isis realmente tá com um tipo de pensamento e o que foi dito ali é bem a realidade, ela acha que é uma encenação e não tem ideia de onde se meteu... Realmente uma situação complicada, parabéns pelo trabalho Jorge, muito bom! \0/
ResponderExcluirBom que vocês curtiram, Aldo. São situações assim que eu nunca vi em Sentais... Achei legal explorar.
ExcluirAbraço
Rapaz... Como já parecia, a virada total chegou na sua série. Que inflexão. Você ainda abordou questões ideológicas e filosóficas que acho essenciais nos dias de hoje. Você pôs em cheque até a sanidades das divindades. E, isso mostra o quão é complicado querermos salvadores da pátria ou seres místicos: super mitos e etc. Nada disso adianta se somos pessoas ou seres que não sabem amar ao próximo e não temos empatia alguma. O Ser humano precisa agir se deseja vencer.
ResponderExcluirSem palavras. Melhor episódio até aqui.
Valeu por ter acompanhado, Artur. Eu tenho lido os comentários de vocês, e vendo onde eu posso melhorar, eu tenho lido muita coisa diferente.
ExcluirAinda tem mais coisa... Mas Tupangers já tá em sua reta final.
Abraço
Por essa eu n esperava, bem q eu achei q ela seria do esteriotipo de patricinha q só pensa em si msm (coincidentemente, estou trabalhando com isso no momento :V), mas n pensei q seria nesse ponto. Tenho q concordar com a Amanda e Debora, essa aí mais parece cabeça de vento kkkkk. Isso vai gerar uma confusão bem grande pq n é simplesmente resolver daquele jeito dela "aprendendo a lição"... Pq isso literalmente acabou de ser feito, de uma maneira um tanto agressiva pra heroinas eu diria, mas foi feito querendo ou n, ent vamo ver como a Isis pode ser moldada a entender a importancia daquilo ou se parte pra proxima.
ResponderExcluirA possessão do Bonoro dispensa comentarios, acho q msm sem influencia do Japeusá ele meteria o loko nisso :v
Hehe... Eu não duvido nem um pouco.
ExcluirObrigado por ter lido.