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Agente 088

 



Capítulo 1 - Resgatando uma Idol

Caso 0 – Ai Hoshino


A noite caía sobre o Japão como um enorme manto azul-escuro, pontilhado por luzes distantes. O céu de Tóquio brilhava com prédios acesos, anúncios coloridos e o movimento constante da cidade que nunca dormia. Lá embaixo, carros corriam como pequenos feixes luminosos, enquanto multidões caminhavam sem perceber que algo terrível estava acontecendo naquele exato momento.


Acima de tudo isso, cortando o céu com o som forte das hélices, um helicóptero de reportagem avançava pela metrópole. As luzes vermelhas piscavam em seu casco metálico enquanto a câmera externa capturava a imensidão urbana.


Dentro dele, segurando um microfone com firmeza, estava uma mulher de aparência jovem, cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo e olhos determinados. No crachá preso ao colete, lia-se Fernanda D. Kisaragi. Apesar do vento sacudindo a aeronave, sua expressão era séria e profissional.


A transmissão entrou ao vivo, a imagem estabilizou, e Fernanda começou a falar:


“Boa noite, Tóquio. Aqui é Fernanda D. Kisaragi, da NEX News, trazendo uma atualização urgente sobre o caso que está abalando o país.”


Ela respirou fundo antes de continuar, enquanto ao fundo a câmera mostrava a cidade abaixo.


“A ídol em ascensão Ai Hoshino, de apenas 20 anos, foi sequestrada no início da tarde por um grupo ainda não identificado. As autoridades confirmam que os criminosos estão mantendo Ai como refém em um local desconhecido. Até o momento, nem mesmo heróis licenciados conseguiram rastrear a posição exata do cativeiro.”


O som das hélices ecoou pelo interior do helicóptero, dando um clima ainda mais tenso ao momento.


“Os sequestradores fizeram um único pedido: o pagamento de 100 milhões de dólares. Repetindo: cem milhões de dólares. Uma quantia absurda que demonstra que isto não é um crime comum.”


O vídeo cortou para imagens ao vivo das ruas. Pessoas se aglomeravam em frente a telões, algumas segurando celulares com transmissões abertas, outras de mãos trêmulas, sem acreditar no que ouviam.


Fãs com varinhas de luz rosas e tiaras características da idol choravam, se abraçavam e tentavam entender como alguém tão brilhante quanto Ai Hoshino poderia ter desaparecido assim.


Em um café, jovens assistiam pela televisão enquanto a repórter continuava:


“Milhares de fãs de Ai estão realizando vaquinhas e doações emergenciais na tentativa de reunir o dinheiro exigido pelos sequestradores. Até o momento, já foram arrecadados mais de quarenta milhões de dólares em menos de quatro horas. A mobilização é mundial.”


A imagem mudou para um prédio onde pessoas assistiam da janela. Em outro canto, um homem via a transmissão em um enorme letreiro digital. No metrô, a notícia se repetia nas telas internas, e o murmurinho entre os passageiros se espalhava como fogo.


Ninguém sabia o que aconteceria com a estrela querida por tantos.


Fernanda olhou diretamente para a câmera, o rosto iluminado pelas luzes da cidade lá embaixo.


“Continuaremos atualizando vocês ao vivo. A situação está em desenvolvimento e qualquer nova informação será transmitida imediatamente. Aqui é Fernanda D. Kisaragi… direto do helicóptero NEX 01.”


A tela tremeu levemente enquanto o helicóptero mudava de direção, sumindo entre as sombras da noite.















Numa estação de trem quase deserta, apenas o som distante dos trilhos e o eco do vento preenchiam o ambiente. A luz fria dos postes refletia no piso metálico, e a única coisa viva naquele lugar era uma grande tela suspensa exibindo as últimas imagens da transmissão sobre o sequestro de Ai Hoshino.


A transmissão terminou com o logotipo da emissora, e a tela voltou para o modo silencioso, repetindo manchetes em letras vermelhas.


Diante dela, duas garotas colegiais — uniformes bem passados, mochilas pesadas e olhos marejados — permaneciam paradas como se o mundo tivesse congelado.


Uma delas, de cabelos castanho-escuros presos em tranças, segurava o celular com força.


“Ai-chan… por favor, fica bem…”


A amiga, mais baixa e com óculos redondos, apertava as mãos juntas, quase em prece.


“Eu… eu mandei uma mensagem no grupo de fãs. Todo mundo tá escrevendo palavras de apoio. Talvez ela consiga ver quando voltar…”


A garota das tranças respirou fundo, a voz embargada.


“Os heróis precisam fazer alguma coisa logo. Não é possível que ninguém encontrou ela até agora…”


“Será que… será que eles tão escondendo alguma coisa?” — perguntou a de óculos, quase sussurrando.

“Essa demora toda… tá me deixando assustada.”


Foi nesse momento que alguém passou atrás delas.


Uma figura masculina, alta, envolta por uma capa preta pesada que se movia suavemente com o vento da estação. Seus cabelos verdes eram visíveis mesmo sob a baixa luz. Andava devagar, quase arrastando os passos, como se estivesse perdido em pensamentos — mas seus olhos atentos revelavam o contrário.


Ele escutava tudo.


Na sua boca, um pirulito pop verde. Uma cor vibrante demais para alguém tão silencioso.


Quando as garotas mencionaram a demora dos heróis… algo nele mudou.


Ele mordeu o pirulito com força.


CRAC.


A haste de açúcar se partiu inteira na boca dele. Lentamente, ele retirou o palito de madeira, agora solitário, e sem pressa o jogou com precisão dentro de uma lixeira próxima. O barulho seco ecoou pelo espaço vazio.


A figura parou por um instante diante de outra tela menor, que mostrava o rosto de Ai Hoshino acompanhado da legenda:


“AINDA DESAPARECIDA.”


Seus olhos ficaram mais sérios.


Ele virou o rosto e começou a caminhar para fora da estação. O som dos passos ecoou pelo chão metálico, cada um carregado de peso, propósito… e algo mais profundo.


Ao atravessar a saída, colocou a mão direita sobre o próprio ouvido, como se estivesse ativando um comunicador invisível. Sua voz saiu baixa, firme, quase inaudível.


“Vou cumprir minha missão.”


E desapareceu na escuridão da noite de Tóquio.











A área portuária estava silenciosa naquela noite.

Um galpão antigo, de metal enferrujado, conectava-se a um prédio estreito e mal conservado, escondido entre contêineres e armazéns abandonados. A maresia comia as paredes, e o vento fazia portas soltas baterem como batidas de fantasmas.


Ao longe, as luzes do centro da cidade pulsavam vivas — um contraste cruel com aquele espaço esquecido.


Dentro do prédio, no quarto andar, uma sala iluminada por lâmpadas fracas abrigava doze pessoas: sete homens e cinco mulheres, todos com pesadas capas pretas, capuzes cobrindo seus rostos.

Exceto um.


Perto da porta, um homem baixo, com barba mal feita e um sorriso nojento, segurava um tablet onde aparecia o valor arrecadado pelo resgate da estrela raptada: Ai Hoshino.


Ele riu.


“Hah… olha isso aqui… o tanto de gente idiota depositando dinheiro por causa de uma idolzinha. Nem conhecem ela e fazem esse drama todo!”


Ele se virou, apontando para o centro da sala.


Ali, amarrada em um suporte improvisado de madeira reforçada com correntes, estava Ai Hoshino.


Seu corpo tremia.


Seu rosto estava cansado.


Mas beleza… ela ainda tinha de sobra.


Seus longos cabelos roxo-escuros caíam em ondas suaves e bagunçadas.

Os olhos rosa brilhantes, conhecidos por carregarem estrelas dentro deles, estavam molhados e trêmulos, mas ainda chamativos demais para aquele lugar.


Ela usava seu traje de show:


Um vestido rosa claro, com detalhes amarelos e azuis, adornado com estrelas, babados e um grande coração vermelho no peito.

Ainda tinha as luvas rosa, as botas brilhantes, e no cabelo, preso com carinho, um pequeno coelhinho enfeite.


O sequestrador caminhou até ela.


Passou a mão devagar pelos cabelos macios da idol, como se estivesse tocando uma boneca cara.


Virou o rosto com expressão de falsa pena.


“É uma pena… mesmo com todo esse ‘amor’ dos fãs…”


Fez aspas com os dedos.


“… eles não vão ter tempo de salvar a idolzinha deles.”


A palavra atingiu Ai como um choque.


Amor…?


Na mente dela, o termo se repetiu.


Amor… amor… amor… o que… o que isso quer dizer?

Por que todos usam essa palavra… como se fosse tão simples?

Se é algo tão importante… por que eu não consigo entender?


Ai apertou os olhos, confusa, frustrada.

Um pequeno vinco formou-se entre suas sobrancelhas.


Enquanto isso, o sequestrador seguia rindo, exibindo o tablet para o grupo como um troféu.


“Isso aqui já é mais que suficiente! Dinheiro limpo, fácil… dinheirinho de fã idiota!”


Ele gargalhou alto.


“O chefe vai adorar esse valor.”


Deu um estalo nos dedos.


“Podem dar cabo dela agora.”


Mas então, como se algo perverso tivesse passado por sua mente, ele puxou um facão largo, com a lâmina brilhando fria.


Seus olhos ficaram famintos.


“Mas antes… eu mesmo quero me divertir um pouco. Uma torturinha leve… e quem sabe…”


O facão desceu.


CLANG.


Foi parado no ar.


A lâmina estava presa… entre os dedos ensanguentados de alguém.


Um dos encapuzados, silencioso até então, havia avançado tão rápido que ninguém viu. Agora, ele segurava o facão com a mão esquerda, completamente calma, mesmo enquanto algumas gotas de sangue escorriam pelos seus dedos e pingavam no chão.


Todos congelaram.


O sequestrador ficou vermelho, furioso.


“MAS QUE MERDA VOCÊ TÁ FAZENDO, SEU INÚTIL?! POR QUE ENTROU NA FRENTE?!”


O encapuzado não respondeu.


Não disse uma palavra.


Até que…


… debaixo do capuz…


… algo escapou.


Um riso.


Um riso baixo, lento, carregado de desprezo, um riso sarcástico…

… como se ele estivesse debochando de todos ali.


Um riso que parecia dizer:


“Vocês fizeram tudo errado… e vão pagar por isso.”


O riso ecoou pela sala… frio… cortante…


O encapuzado continuou rindo…

… e, lentamente, esse riso foi crescendo — mais claro, mais ousado, mais cheio de certeza.


Todos ficaram tensos.

A mão que segurava o facão ainda sangrava… mas ele parecia não sentir dor alguma.


Então, sem aviso, ele soltou a lâmina.


E, com um único movimento suave, ele levou ambas as mãos até o colarinho do próprio sobretudo…


… e arrancou-o para trás.


O tecido caiu no chão com um peso surdo, revelando uma silhueta completamente diferente do capuzado comum que todos imaginavam.


Sob a capa, agora a mostra, estava um homem jovem — muito mais jovem do que qualquer um ali suspeitaria.


Seu cabelo era verde-escuro, bagunçado, volumoso, com algumas mechas pretas espalhadas como sombras entre fios. Cada mecha parecia rebelde, cheia de pontas e desordem — e, ainda assim, havia uma estranha elegância naquela selvageria.


Os olhos dele eram grandes, verdes, atentos.

Verdes como luzes que enxergam tudo.

Verdes que não piscavam.


O rosto apresentava pequenas sardas, discretas, salpicadas como pequenas gotas de tinta natural.

Inocentes demais para um homem parado no meio de criminosos.


Sua camisa social branca tinha as mangas três quartos dobradas, mostrando os antebraços marcados. O branco puro fazia um contraste gritante com o restante do look — negro, tático, militar.


Um colete peitoral com tiras e fivelas atravessava seu tronco, preso de forma firme, funcional e esteticamente precisa — um harness tático, feito sob medida.


O cinto preto com um detalhe vermelho marcava a cintura, e abaixo dele, calças cargo pretas cheias de bolsos, zíperes e reforços, tudo projetado para utilidade.


Coldres e suportes pendiam das laterais, completando o conjunto.

E nos pés, botas pretas de cano médio, robustas, presas por cadarços longos e grossos.


Ele parecia alguém que não pertencia àquele lugar.

Alguém que não deveria, nem poderia, estar ali.

Mas estava.


E sorria.


O sequestrador líder travou o maxilar, a veia na testa pulsando.


“Q-Quem… quem diabos é você?!”


O homem de cabelo verde-escuro apenas fechou os olhos por um segundo, respirou… e abriu-os de novo — mais frios, mais afiados, mais perigosos.


Quando falou, sua voz saiu calma, controlada, quase suave.


“Quem eu era… não importa mais.”


Ele inclinou levemente o rosto, aquele mesmo sorriso debochado retornando ao canto dos lábios.


“Agora sou o Agente 088.”


A sala ficou gelada.


O sequestrador recuou meio passo, enquanto as mãos trêmulas apertavam o facão novamente.


O jovem virou apenas o suficiente para olhar Ai Hoshino, ainda amarrada, os olhos úmidos de desespero.


“Você está bem?”


A idol hesitou… confusa, assustada… mas seu corpo respondeu antes da mente.

Ela apenas assentiu com a cabeça, tímida, tremendo.


“B-Bem… sim… eu acho que sim…”


O sequestrador líder avançou um passo, cuspindo palavras.


“Como… COMO VOCÊ VEIO PARAR AQUI?! Como se infiltrou?! Ninguém entrou ou saiu desse prédio!”


088 ergueu uma sobrancelha.


E seu sorriso cresceu, carregado de deboche puro.


“Segurança ruim demais.”


Antes que o líder pudesse responder, a câmera da narrativa cortava — como um filme revelando um detalhe macabro.


No corredor atrás daquele galpão…


… corpos.


Corpos empilhados, tortos, desfigurados por golpes rápidos demais para serem compreendidos.

Alguns amarrados uns aos outros pelas próprias roupas, costuradas com nós impossíveis de soltar.

Outros largados no chão, com sangue escorrendo em linhas finas, sombrias.


A obra silenciosa de alguém que se moveu pelo prédio como um fantasma.


De volta à sala, o líder arregalou os olhos, rosnando.


“O que quer que você esteja planejando… vai FALHAR! Mesmo que tenha chegado até aqui… você é só UM!”


E então ele avançou, brandindo o facão com toda força.


Mas 088 não se virou.


Não se mexeu.


Não respirou.


E, no último instante, sem sequer olhar, ele inclinou o corpo para a esquerda.


O facão passou pelo ar vazio.


E sua perna direita se ergueu…


O golpe veio como o coice de um cavalo selvagem.


Um IMPACTO seco e devastador.


O líder foi lançado para trás com tanta força que largou o facão no ar — a lâmina caiu no chão, escorregando até parar exatamente ao lado dos pés de 088.


O corpo do criminoso voou, bateu contra a parede com um estrondo que fez rachaduras surgirem no concreto.


Ele caiu sem ar, sem rumo, sem entender o que o atingira.


Os encapuzados restantes, finalmente entendendo a gravidade da situação, entraram em formação e avançaram todos ao mesmo tempo.


O barulho começou como uma explosão repentina de caos. Gunshots ecoaram pelo galpão, rasgando o ar. Facas deslizaram no escuro como presas de animais selvagens. Gritos se misturaram ao metal batendo contra concreto. Desespero vibrava no chão, nas paredes, no coração da idol que mal conseguia respirar.


088 abaixou-se sem hesitar, pegou o facão do chão e, com um único movimento, deslizou a lâmina afiada nas cordas que prendiam os pulsos de Ai. O som do corte foi abafado por uma bala que passou rente ao ombro dele. Ele não olhou para o projétil. Olhou apenas para ela.


Com um puxão firme, 088 a envolveu entre os braços, seu peito servindo de muralha. O disparo seguinte ricocheteou no metal atrás deles, tão próximo que Ai sentiu o ar da bala passando. Mas ela estava segura. Nas mãos dele, ela estava segura.


Izuku movia-se com a suavidade de alguém que já dançara milhares de vezes com a morte. Ele girou o corpo, mantendo Ai presa ao peito, e desviou de uma faca que passou pelo espaço onde sua garganta estava um segundo antes. Em troca, com a mão livre, ergueu o facão e cortou o tendão do agressor, que caiu sem gritar — porque Izuku já havia cravado o cabo contra sua traqueia, silenciando-o para sempre.


Outro veio por trás. Outro pela direita. Dois atiravam à esquerda. Três avançavam com machados improvisados. Isso sem contar os restantes circulando, buscando um ângulo que ele não pudesse cobrir enquanto segurava Ai.


Mas Izuku não precisava ver. Ele sentia.


O facão descreveu um arco sangrento. Um pescoço se abriu. Um peito foi perfurado. Uma mandíbula foi partida com um chute que ecoou seco pelo concreto. Ele não soltava Ai por nada. Cada desvio era calculado, cada passo guiado pelo instinto de proteger a mulher que segurava.


“Fique comigo.” murmurou ele, a voz baixa, grave, quente contra a orelha dela.


Ai sentiu o estômago revirar — não de medo, mas da sensação estranha de segurança absoluta. O calor dele envolvia todo seu corpo. O cheiro amadeirado, misturado ao suor, era forte demais para ignorar.


Tiros continuaram. Um, dois, três.

Izuku girou o corpo, inclinou-se, protegeu Ai com o torso, e as balas bateram em sua armadura interna com impacto seco. Ele avançou sem pausar o passo. Um dos encapuzados tentou atingi-lo com um cano de ferro, mas Izuku não moveu Ai nem por um centímetro. Ele apenas ergueu a perna e desferiu um chute lateral que rompeu a caixa torácica do inimigo como madeira podre.


A idol estava protegida.

Eles não.


Sangue respingou nas paredes.

Corpos deixaram manchas tortas no chão.

As lâminas cortavam o ar e encontravam carne antes mesmo que seus donos percebessem que estavam mortos.


Restavam apenas alguns… três, quatro… era difícil saber, porque tudo se movia rápido demais. Izuku segurava Ai pela cintura, mantendo-a presa ao corpo, enquanto cortava e derrubava inimigos como se fosse apenas mais um dia no trabalho.


Foi então que aconteceu.


Uma das poucas mulheres do grupo, escondida no ponto cego de uma pilastra, correu com um rugido de ódio. Ela agarrou Ai pelos cabelos com uma força insana, arrancando-a do abraço de Izuku. A idol mal teve tempo de gritar.


“ACHAMOS O PONTO FRACO DELE!”


E antes que Izuku pudesse alcançá-la, antes que seu braço pudesse estender-se…


… a mulher lançou Ai pela janela lateral do galpão.


O vidro explodiu em estilhaços como estrelas quebradas.


“AIIII!”


Izuku ouviu.

Viu.

Sentiu.


A respiração dele foi arrancada do peito. O mundo ficou mudo por um segundo — e depois explodiu em fúria. Ele derrubou o inimigo à sua frente com um golpe tão forte que o crânio bateu no chão e não se moveu mais.


Os olhos verdes arderam.

O sangue pulsou.

A ferocidade tomou forma.


Ele ergueu o facão.


E jogou.


A lâmina cortou o ar como um raio verde.


Atravessou a distância entre eles num instante.


Perfuração limpa.

Cruel.

Final.


O facão entrou pela testa da mulher, atravessando o crânio e o cérebro com força suficiente para quebrar o vidro atrás dela. Ela caiu morta antes de entender o que aconteceu.


Mas Izuku não parou para olhar.


Ele já estava correndo.


Sem pensar, sem hesitar, sem medir riscos, 088 tomou impulso em uma das mesas viradas — e se lançou para fora do prédio, saltando pela mesma janela.


O vento cortou seu rosto.

Ele viu Ai caindo, girando lentamente no ar, os braços tentando agarrar o nada.

E ele jurou que não deixaria ela tocar o chão.


“Eu estou aqui!” gritou ele, a voz firme, carregada de uma promessa que ela não entendia.


Ele alcançou Ai no meio da queda, o corpo de ambos chocando-se no ar. Izuku a puxou para si com força, envolvendo-a em seus braços, segurando a nuca dela com cuidado — e, em um movimento desesperado, virou o corpo no ar, trocando as posições.


Ele colocou Ai por cima dele.

Ele por baixo dela.


E então…


O impacto veio como um trovão.


O chão rachou.

A poeira subiu.

O peso todo caiu sobre o corpo de Izuku.


Mas Ai… Ai não sentiu nada além do toque dele. O corpo dele foi a almofada, a proteção, o escudo que ela jamais teria sozinho.


Quando a poeira baixou, A neblina fria da madrugada ainda rodeava o galpão destruído. A lua — naquela fase minguante — brilhava atrás deles, iluminando os cacos de vidro espalhados no chão, os corpos, o sangue, a poeira suspensa no ar.


Izuku ainda estava deitado no concreto, com Ai protegida em seus braços. Ela respirava rápido, ainda tremendo, mas viva. Totalmente viva. Graças a ele.


Ai ergueu o rosto devagar, os olhos roxos ainda arregalados, e sussurrou com uma preocupação que quase doía de tão sincera:


“Você… você está bem…? Por favor, me diz que está bem…”


Ele piscou devagar. Olhou para o rosto dela tão de perto que podia ver os pequenos brilhos nos olhos, podia sentir a respiração suave batendo em seu queixo. E respondeu com a voz baixa, rouca, ainda carregada da adrenalina que queimava em seu sangue:


“Eu estou bem. Prometo.”


Ai soltou o ar em um suspiro trêmulo, mas suave… só que, no instante em que percebeu a posição deles — ela deitada sobre o peito dele, mãos apoiadas nos ombros, rostos separados por alguns centímetros — seu rosto corou.


Izuku percebeu também.


E ficou levemente envergonhado, desviando o olhar por um segundo, enquanto tentava se recompor.


Ai, sem perceber completamente o quanto aquilo o deixava constrangido, se levantou rapidamente, limpando a poeira da roupa com as mãos tremendo. Depois estendeu ambas as mãos para ele, ajudando-o a se erguer.


Ele aceitou.


E quando suas mãos se tocaram… havia uma faísca ali.


Algo que nenhum dos dois entendia.


Atrás deles, a meia-lua parecia observá-los silenciosa, um corte prateado no céu escuro.


Quando ele ficou de pé, Ai hesitou por dois segundos antes de perguntar, num tom gentil, quase tímido:


“Qual é o… seu nome?”


Izuku ficou imóvel.


O silêncio durou mais do que deveria. Talvez ele estivesse lutando com a resposta. Talvez estivesse pensando no que podia ou não dizer. Talvez só estivesse olhando o rosto dela mais uma vez.


Enfim, desviou o olhar e respondeu com frieza profissional — uma frieza que não combinava com o modo como ele a segurara antes.


“Você pode me chamar de… 088.”


Ai fez um pequeno biquinho fofo, inflando levemente as bochechas, não gostando do distanciamento do codinome. Izuku desviou o olhar de novo, quase como se aquele beicinho fosse mais perigoso que qualquer tiro que já desviara.


Ele ergueu a mão direita até o ouvido, tocando a microescuta presa ali. A compressão da conexão fez um pequeno clique.


“Consegui eliminar a ameaça. E cumprir boa parte da missão.”


A resposta veio quase instantânea, carregada de confiança e orgulho calculado:


“Muito bem, 088. Como sempre, você nunca decepciona na profissão.”


Ele baixou a mão.


E por um instante, havia apenas o vento passando pelas janelas quebradas… e os dois.


Ai encarou Izuku. Ele encarou Ai. Eles não falavam nada — mas falavam tudo com os olhos.


Ela não sabia por quê… mas seu coração batia rápido, estranho, quente. Como se estivesse tentando dizer algo que ela não entendia. E Izuku… mesmo com toda a frieza, disciplina e treinamento, sentia algo se desfazendo dentro dele. Como se aquela garota estivesse mexendo em partes dele que ele nem lembrava que tinha.


O clima entre eles se tornou denso.


Caloroso.


Suave.


A meia-lua brilhava atrás, mas… de forma imperceptível, sua luz começou a mudar. Primeiro um tom rosado. Depois um laranja profundo. E então…


… um vermelho carmesim forte e estranho.


Mas nenhum dos dois notou.


Izuku deu um passo à frente.


Ai deu um passo à frente também, sem perceber que estava acompanhando o movimento dele.


Os rostos se aproximaram.


As respirações se misturaram.


A distância entre eles virou quase nada.


O coração de Ai bateu mais rápido.


O de Izuku também.


A boca dela entreabriu.


A dele também.


Um quase toque.


Quase um beijo.


Quase o início de algo que nenhum dos dois sabia nomear.


Quando faltavam milímetros—


TÁÁÁÁÁÁÁÁ–N!

TÁÁÁÁÁ–N!

TÁÁÁÁÁ–N!


Um alarme estridente cortou a cena inteira como uma navalha.


A visão ficou branca por um segundo — e o som de metal batendo ecoou junto.


De repente, uma cama de solteiro apareceu. Bagunçada. Com o lençol meio caído. A luz fraca de um abajur amarelado iluminava o quarto estreito e simples.


Na cabeceira, um telefone m vibrava com o alarme ativado, junto com alguns objetos.


Izuku acordou com um pulo tão brusco que caiu direto da cama no chão, batendo o ombro no piso frio.


“Hgh—!!”


O coração ainda batia como se estivesse numa guerra. A respiração presa. O suor frio descendo pelo pescoço.


Ele olhou ao redor, confuso, tentando entender o que… foi aquilo.


E o alarme continuava tocando.


Continua?


2 Comentários

  1. Um primeiro capítulo interessante.
    A escrita e gramática continuam muito boas, a leitura flui de forma até tranquila.
    Como conheço alguns dos personagens/universos que foram misturados aqui, não consigo evitar uma estranheza inicial, mas, assim como quando eu era mais novo e li os personagens do universo Amálgama (mistura entre Marvel e DC). ao encarar esse título dessa forma, a estranheza passa.
    Vamos ver se o texto vai seguir os roteiros do Zeztz ou se irão por caminhos diferentes no futuro.
    No aguardo.

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  2. Intenso como Zeztz tem sido intenso.

    Episódio muito bem escrito e repleto de adrenalina do começo ao fim.

    Será que teremos romance entre Izuku e a Idol Ai (A Nenzinha dessa adaptação?

    A conferir!

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