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Changeman - Prelúdio de uma nova ameaça - Epílogo

 


EPÍLOGO – CONSPIRAÇÕES E CAOS

 

EM ALGUM LUGAR DO MONTE FUJI:

Nas redondezas do Monte Fuji, não muito longe do local onde havia se encontrado com Ahames, Kiroz saía de cena tranquilo, agora que a rainha de Amazo e seus subordinados já não estavam mais por perto.

Kiroz conhecia as cavernas da região como a palma de sua mão, então não fora difícil fugir de Ahames quando ela descobriu que estava sendo enganada. A caverna onde ele adentrou pode ter colapsado, mas ele simplesmente escapou por uma passagem subterrânea, conhecida somente por ele.

Parando por um momento, Kiroz saca sua foice e emana da arma uma energia azulada. Ele admira com satisfação seus novos poderes, adquiridos através da Aura Energética cedida por Ahames. Com esta força, ele certamente conseguiria o seu principal objeto de desejo: a princesa Ian, do Império Subterrâneo. E tudo que lhe havia custado era um Monstro Subterrâneo, o qual Kiroz não se importava se sobrevivesse ou morresse. Para ele, o importante era que conseguiu o que queria.

- Vejo que obteve sucesso na sua empreitada... – diz uma voz próxima, repentinamente.

Mas Kiroz não se mostrou preocupado. Parecia já conhecer o dono daquela voz. Ele simplesmente olha despreocupado em direção ao seu interlocutor, e responde:

- Sim, esta Aura Energética da qual você me falou é surpreendente. Realmente todas as informações que me passou eram verdade.

- Você achou que eu mentiria? Não tenho por que mentir sobre isso... – ironiza o misterioso indivíduo, agora revelado como a tal “fonte” de Kiroz. – Afinal eu também ganhei meus poderes através da Aura Energética de Nana.

O indivíduo recém-chegado é um ser de aparência estranha: um rosto pálido com contornos negros, orelhas pontudas, trajando uma armadura com detalhes brancos, pretos e vermelhos, além de uma longa capa vermelha. Parecia uma versão alienígena do Conde Drácula.

- Não que eu achasse que fosse mentira, mas no nosso ramo de atuação, temos que desconfiar de tudo e de todos. Nos mantém vivos por mais tempo. – diz Kiroz, casualmente. - Não concorda, Super Giluke?

- Certamente que sim. – Super Giluke sorri sinistramente. - Devo admitir que estou surpreso que tenha conseguido enganar Ahames. Não achei que ela partiria com seus poderes tão facilmente.

Kiroz ri:

- Ficaria surpreso com o que as pessoas são capazes de fazer quando estão desesperadas... Ahames deveria estar querendo muito um monstro capaz de usar a Força Terrena... exatamente como você falou.

E Kiroz estava certo. Foi Super Giluke quem contou a ele sobre a suposta obsessão de Ahames em conseguir criar monstros fortalecidos pela Força Terrena, a mesma fonte de poder dos Changeman. E por mais que Ahames tentasse esconder, Super Giluke sabia das reais intenções dela: ela pretendia criar um exército destes monstros para realizar um levante contra Bazoo, e tomar para si o trono de Gozma. Buba, Shima e Bazoo não desconfiavam de nada, mas Super Giluke não era bobo: ele próprio liderara o malsucedido complô contra Bazoo anos atrás (*01). Sabia que Ahames não desistiria de suas ambições tão facilmente assim. O próprio Super Giluke faria o mesmo se estivesse na posição de sua ex-parceira.

- Me pergunto... - indaga Kiroz, intrigado. – Por que me contou sobre isso, afinal? O que você ganha prejudicando sua parceira desse jeito?

- Ex-parceira. – responde Super Giluke, com um tom de desdém. – Ahames e eu podemos ter sido amigos no passado, mas já não nos vemos mais como tal. Com seus poderes enfraquecidos, a posição dela como comandante de Gozma fica fragilizada. Em breve, pretendo retomar essa posição, que é minha por direito.

Super Giluke nunca perdoou Ahames por ter lhe roubado a Aura Energética da primeira vez, o que o condenou a um longo período de sofrimento no Cemitério Espacial, jogado lá por Bazoo (*02). Naquela dimensão fria e sombria, apenas algumas semanas na Terra (que foi o tempo que Giluke passou lá) equivalem a vários anos. Giluke só sobreviveu porque se fundiu ao Monstro Espacial Zadoz (*03) e, com seus poderes aumentados, conseguiu escapar do Cemitério Espacial. Desde então, por vingança, e para retomar sua posição como comandante de Gozma, passou a fazer o possível para prejudicar Ahames.

E uma oportunidade única surgiu quando, eventualmente, se deparou com o indivíduo à sua frente, de nome Kiroz. Super Giluke vinha notando, já há algum tempo, estranhas criaturas de pele escura, e o que pareciam raízes cobrindo suas cabeças (*04), aparecendo esporadicamente em algumas regiões montanhosas do Japão. Tais criaturas não eram de Gozma, e elas apareciam e desapareciam nas cavernas muito rapidamente. Ahames não parecia estar ciente da presença delas, tão ocupada estava em destruir os Changeman. Mas Super Giluke estava ciente, e decidiu ficar de olho nas criaturas, até para saber o que eram e o que pretendiam. Foi numa destas ocasiões que encontrou Kiroz, que o abordou junto com o monstro Tsuchidogla, demandando saber por que os estava espionando. De início, Super Giluke pensou em destruir o cavaleiro ladrão, mas ao sentir a presença da Força Terrena no monstro, ficou curioso e decidiu conversar antes de partir para combate.

Após uma rápida, mas esclarecedora conversa, Super Giluke ficou sabendo que Kiroz, Tsuchidogla e as estranhas criaturas com raízes na cabeça, eram habitantes de uma avançada civilização subterrânea, chamada Império Tube. Uma civilização cujo líder pretendia, em breve, conquistar a superfície do planeta. Mais uma vez, Super Giluke pensou em destruir estes tais seres subterrâneos ali mesmo, afinal eles tinham a mesma ambição de Gozma: a conquista da Terra. E Gozma não aceitaria dividir o controle de seus domínios com ninguém.

E uma luta teria iniciado, se Kiroz não tivesse assegurado que não era subordinado do tal Império Tube. Era apenas um cavaleiro independente que estava curioso em saber o que ocorria na superfície do planeta, devido à guerra entre os Defensores e Gozma. Kiroz garantiu que não estava a serviço de Tube e nem dos terráqueos, e que disponibilizava seus serviços a quem pagasse melhor.

Sendo assim, foi então que Super Giluke propôs usar o monstro Tsuchidogla, capaz de absorver a Força Terrena, para lutar contra os Changeman. E, de quebra, também enfraquecer Ahames, por isso contou a Kiroz sobre os planos de sua ex-parceira e a Aura Energética. Assim seria uma situação ganha-ganha para os dois: Super Giluke se vingaria de Ahames (e se Tsuchidogla destruísse os Changeman, se livraria também de seus principais inimigos), e Kiroz ganharia mais poderes com o acordo com Ahames.

E com Ahames enfraquecida, Super Giluke poderia transformá-la num monstro como último recurso contra os Changeman. Certamente que Bazoo não se oporia, se a rainha de Amazo continuasse colecionando fracassos nesse ritmo.

- Bem, o que se passou entre você e Ahames não me interessa. - Kiroz prossegue. – O que importa é que nós dois conseguimos o que queríamos, então creio que isso encerra nosso acordo.

Kiroz já ia partir, quando Super Giluke o interrompe:

- Espere! Antes de ir, preciso ter certeza de que você e o Império Tube não vão interferir no domínio de Gozma quando esta guerra terminar.

Fazia sentido, afinal: Super Giluke não iria fortalecer alguém que poderia se tornar um obstáculo no futuro. Se Kiroz mostrasse algum sinal de que poderia atrapalhar a nova ordem de Gozma na Terra, Super Giluke o destruiria ali mesmo.

Mas Kiroz não se fez de rogado:

- Da minha parte, tem a minha palavra que não vou interferir em sua guerra, presente ou futura, contanto que deixem a mim, e o que é meu, em paz... – e termina, sorrindo maliciosamente. – Claro, não posso responder pelo Rei Zeba, de Tube, naturalmente.

- E se por acaso Gozma entrar em guerra contra Tube? – questiona Super Giluke, desconfiado. – De que lado você ficaria?

Kiroz parece pensar por alguns instantes, e responde:

- Eu não veria problema em cooperar com vocês para derrotar Zeba, contanto que minhas condições sejam respeitadas. Não tenho interesse nas conquistas de Gozma, mas também não tenho amor algum pelo Império Tube ou pelos governos terráqueos. Por mim, desde que eu consiga o que quero, o resto do mundo pode queimar.

Super Giluke olha torto para Kiroz:

- Está falando sério?

- Muito sério. – responde Kiroz, sem hesitar. - Francamente, não me importo com os conflitos neste planeta. Na verdade, é até melhor que haja mais conflitos. Significa mais lugares para roubar e pilhar, sem medo de retaliação.

A resposta de Kiroz deixou Super Giluke um tanto intrigado e, admitidamente, até meio perturbado. Sendo um comandante militar, Giluke sempre valorizou ordem, e faria de tudo para mantê-la no Império Gozma, ainda que preferisse que fosse com ele no trono.

Mas o que Kiroz queria era o caos, a desordem, a anarquia. Para Super Giluke, tal situação era insustentável e inevitavelmente causaria a ruína de qualquer império.

- Então você quer o caos? – Super Giluke indaga. – Sem nenhum grande poder para manter a ordem, tudo o que resta é o caos. Um poço profundo e voraz, esperando para engolir tudo e todos.

Repentinamente, Kiroz começa a rir. Super Giluke se ofende com aquilo e já ia esbravejar, quando Kiroz se explica:

- Hahaha, meu caro Super Giluke... caos não é um poço, é uma escada (*05). Esta “ordem” da qual fala nunca existiu. Apenas o caos é real, mas ele não é sentido de maneira igual por todos.

- Alguns percebem as oportunidades que o caos oferece e sobem a escada. Outros tentam subir e caem, para nunca mais tentar. Outros se recolhem de medo, e se agarram a ilusões, como “ordem” ou “justiça”, e não saem do lugar.

Kiroz sabia que, cedo ou tarde, o Império Tube entraria em guerra. O próprio Rei Zeba já estava ciente dos conflitos que vinham acontecendo na superfície há anos. Primeiro foi Satan Goss, agora era Bazoo, então Zeba aproveitou que as forças da Terra estavam distraídas para angariar mais informações sobre a superfície, através de frequentes excursões dos soldados Angla.

Kiroz também sabia que Zeba só estava esperando o desfecho destes conflitos na superfície para então agir. Independente de quem vencesse, o vencedor certamente sairia enfraquecido, e seria presa fácil para os exércitos subterrâneos. Para Tube, era até preferível que Gozma vencesse a guerra contra os Changeman, pois numa guerra posterior contra Tube, o império subterrâneo teria a vantagem do terreno. Sendo uma civilização existente há milhares de anos, Tube naturalmente conhecia cada centímetro dos subterrâneos da Terra, o que lhe daria uma grande vantagem sobre qualquer império alienígena.

Mas nada disso importava para Kiroz. Se dependesse dele, os dois impérios que destruíssem um ao outro, desde que não tocassem no que pertencia a ele. O caos era onde ele melhor progredia.

Tudo isso resumia bem a personalidade de Kiroz, alguém que fora capaz de enganar até mesmo Ahames. No final, tudo o que interessava para o Cavaleiro Ladrão era conseguir o que queria. E tudo que ele quisesse, ele conseguiria de qualquer jeito. Este era o seu lema e princípio de vida.

- Mas no final, a escada é tudo que existe... e aqueles que podem subi-la, e os que não podem.  – Kiroz finaliza seu discurso.

E então, aproveitando-se do estado estupefato de Super Giluke com sua resposta, Kiroz rapidamente deixa o local, se deixando ser engolido por um buraco no chão.

Melhor ir embora antes que seu “aliado” mudasse de ideia quanto a deixá-lo ir em paz.

Sem falar que Kiroz já tinha planos para seus novos poderes:

- E agora, vamos à minha bela Princesa Ian... – ele pensa, já dominado pelo desejo. - A esta hora, ela deve estar se banhando naquela cachoeira próxima à entrada do Inferno Vendaval. Provavelmente haverá guardas a protegendo, mas com meus novos poderes, darei cabo deles.

E Kiroz retorna ao Mundo Subterrâneo, determinado a tomar para si a Princesa Ian, sem saber do destino sombrio que o aguarda...

FIM.



(*01) Ideia baseada na obra “O complô de Giluke e Ahames contra Bazoo”, do autor Tripa_Seca, na plataforma Spirit

 

(*02) Episódio 33 de Changeman – “O Fim de Giluke”

 

(*03) Episódio 44 de Changeman – “Mai em Ação”

 

(*04) Os soldados Angla, soldados rasos do Império Subterrâneo Tube, de Maskman

 

(*05) Fãs de Game of Thrones vão reconhecer a célebre frase de Littlefinger. Achei que ela combinaria bem com Kiroz. Inclusive, Kiroz e Littlefinger têm muito em comum, como o fato de serem grandes oportunistas, manipuladores e terem até a mesma motivação: o amor de uma mulher.

10 Comentários

  1. No fim , era Giluke que estava por trás da ação de Kiroz .

    Essa aliança espúria foi ótima para os dois lados .

    Kiroz recebeu parte do poder de Ahames e Super Giluke , finalmente vira o jogo é se vinga de sua antiga aliada e atual inimiga .


    Como esse vacilo de Ahames lhe custará caro !

    Semear o caos e lucrar com isso, é para vilões sagazes e astutos.

    Kiroz é um deles .

    Algo me diz que esses acontecimentos não passaram despercebidos para um certo vilão que vive às sombras e manipula os acontecimentos...


    Sinto que teremos surpresas meu amigo Pokémon.


    Parabéns por esse magnífico trabalho !


    O Tokuverso Expandido agradece!

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    1. Acertou na mosca, meu caro Jirayrider. As alianças mostradas em Asas Rosadas e Prelúdio (tanto do lado dos vilões quanto dos heróis) são parte de algo muito maior, intencionalmente por parte dos atores ou não. É como disse o Mestre Jedi Qui-Gon Jinn em Star Wars, "Há sempre um peixe maior". E como eu havia dito, o poder que Ahames perdeu fará falta: no episódio 53 de Changeman, "A Vingança de Ahames", Super Giluke cumpre sua ameaça e transforma Ahames no Monstro Espacial Mezu, o que só foi possível porque ela estava enfraquecida.

      Minha intenção com estas obras foi mostrar o ponto de vista "micro" dos heróis e vilões, quando ambos os lados ainda estavam ignorantes do cenário "macro" do conflito no universo, e mais focados em resolver seus assuntos "locais". Mas conforme o tempo passa, os eventos ocorrem, e as revelações são feitas, o macro acaba se impondo sobre o micro, e deságua nos eventos tão bem retratados nas suas obras, Amizade Estelar e Passado vs Presente.

      Mais uma vez, agradeço pelo seu apoio ao meu trabalho. E já anuncio que tenho outra obra planejada, também envolvendo o Tokuverso Expandido, que explorará as interações entre personagens de várias séries tokusatsu, ao longo da linha do tempo do Tokuverso. Fique ligado.

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  2. Um epílogo interessante, veremos o que essas alianças entre vilões trarão no futuro.
    Mais um cap´tiulo muito bem escrito! Parabéns!

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    1. Olá, Norberto. Pretendo mostrar mais, em histórias que tenho planejadas, sobre estas alianças entre os vilões do Tokuverso Expandido. Mas, conhecendo as obras do Jirayrider, em especial "Amizade Estelar", já dá para ter uma boa ideia do resultado destas alianças no futuro. Obrigado por acompanhar a obra.

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  3. Excelente episódio muito bem escrito como sempre.

    SUPER GILUKE sempre foi um vilão miserável e, na verdade, estava aí por trás das ações. Ele e Kiroz acabaram ferrando Ahames.

    As peças do tabuleiro se movem para levar o mundo em colapso.

    Parabéns.

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    1. Olá, Arthur. Super Giluke é quem estava por trás de toda a informação que Kiroz tinha a respeito dos planos de Ahames. Kiroz não teria conseguido enganar Ahames se não fosse assim. Super Giluke queria vingança contra Ahames por todo o sofrimento que ela o fez passar, mas não podia prejudicá-la abertamente, sob o risco de Bazoo considerar isso uma traição a Gozma. Então o fez através de um agente externo, Kiroz.

      A analogia do jogo de xadrez é perfeita: Ahames tinha uma aliança com Kaura em "Asas Rosadas", Super Giluke fez uma temporária com Kiroz em "Prelúdio", e os Changeman e o Maskman se unem para fazer frente às alianças do mal. Obrigado pelos comentários, e por acompanhar a história.

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  4. Muito bom Pokemon, episódio bem escrito, bem narrado, fácil de entender e mergulhar na trama! Fico feliz que esteja produzindo e se divertindo, parabéns por mais essa conclusão de trabalho! \0/

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    1. Olá, Lanthys. Muito obrigado pelo seu constante apoio ao meu trabalho. Esta história foi bastante interessante e gratificante de escrever, assim como foi "Asas Rosadas". Abraços.

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  5. Ahames mais uma vez quis dar um passo maior que a perna e no fim se deu mal. Como de praxe da parte dela.

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    1. Arrogância costuma ser a principal razão da queda dos poderosos. Ahames já devia saber disso, depois da derrota que sofreu em Asas Rosadas, e em praticamente todos os confrontos anteriores com os Changeman.

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