Japeusá resolveu bater em retirada, porque se continuasse daquele jeito, ele teria de manifestar seu poder no plano humano atual, e isso consumiria muito tempo. Era hora de pedir que outro dos cavaleiros do apocalipse fossem atrás dos guerreiros.
Ele deslocaria o que estava mais próximo enquanto tentava acordar o que estava dormindo, desde o último grande genocídio, conhecido pela humanidade como Segunda Grande Guerra Mundial.
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Plano do Caos, às 17h
- Uushgi, venha a mim. Largue tudo o que está fazendo e venha me atender, agora. – Japeusá estava muito irritado consigo mesmo, ele havia errado e não tinha ninguém para punir por isso. Takhal havia sido morto pelos Tupangers e os outros dois cavaleiros precisariam de um motivo muito forte para serem tirados do lugar onde estavam.
O Cavaleiro do Apocalipse em questão estava tendo muito trabalho na região do Atlântico, garantindo fome para os continentes Africano e Americano do Sul, mas deixou tudo de lado para atender seu mestre. Sabia que se não o atendesse ele seria substituído ou morto... Ou as duas coisas.
Ao chegar, encontrou seu mestre literalmente soltando fogo pelas ventas, extremamente furioso com algo que ele não sabia do que tratava. Ele se ajoelhou imediatamente e esperou ser notado, o que não demorou muito.
- Bom que você veio rápido, Uushgi. Sabe o que aconteceu com Takhal, certo? – Perguntou Japeusá, controlando o gênio para falar com o subordinado.
- Que ele foi morto? Creio que todos nós sentimos quando ele foi destruído e sua essência retornou ao ventre do planeta. O que me intriga é quando os humanos conseguiram chegar a tal poder? Até onde eu sei a tecnologia não avançou a este ponto para que eles pudessem destruir um Cavaleiro do Apocalipse! – Uushgi estava verdadeiramente intrigado principalmente com esta última parte.
- Tupã e os seus recrutaram os algozes de Takhal. Sei que você fica alheio aos acontecimentos que não envolvam fome, e isso vai ser o seu fim. – Avisou Japeusá, rilhando os dentes de nervoso.
- Takhal foi morto porque era cavalheiresco demais. Ele tinha visões erradas como justiça em luta e honra. Para um Cavaleiro do Apocalipse que espalhava a peste, ele era o desviado de nós quatro. Esses pirralhos ainda não viram luta difícil, ainda não lutaram comigo. – E Uushgi ri maliciosamente enquanto Japeusá fica satisfeito com a resposta de seu comandado.
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Plano dos Humanos, Brasília, Palácio do Planalto, 17h
Enquanto isso, Bolsonaro ajudara os heróis a voltar e garantiu que, com a ajuda deles, o Brasil estaria melhor e a salvo. Eles ainda não tinham a menor noção do que seria eles terem se metido com o líder do executivo brasileiro.
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Plano Mítico, 17h30
Depois do discurso, os heróis foram para o mesmo lugar em que apareceram em Brasília e de lá foram para o plano mítico, onde Aiyra e Iúna vieram cumprimentar os oito.
- Ação perfeita, pessoal. Não teve muita ação, mas Japeusá saiu com o rabinho entre as pernas, conseguimos acompanhar daqui. – Iúna estava exultante.
- Mas eu tenho certeza que agora ele mandará chumbo grosso, algo do nível do Takhal ou maior – Disse Fábio.
- Bom raciocínio, Fábio. – Disse Aiyra fortuitamente – O deus do Caos com certeza não ficou feliz com o trabalho de vocês, que aliás, foi impecável. Agora é bem provável que ele venha mesmo com mais um dos quatro cavaleiros. É bom que se preparem.
- E é neste momento que eu peço que vocês partam mais uma vez, Aiyra e Iúna, desta vez juntos. – Disse Tupã, chegando lenta e calmamente, com sua voz ribombando pelos cantos como trovões.
- Já é chegada a hora de encontrarmos a representante dela, grande Tupã? – Pergunta Aiyra solenemente.
- Sim, Aiyra. É chegada a hora. Peço que vão. Qualquer assistência que os Tupangers precisarem, nós mesmos a prestaremos. Foquem em sua missão. – Respondeu Tupã, sorrindo paternalmente. Os irmãos partiram imediatamente, o que deixou os outros Tupangers curiosos. O única que quebrou a bolha foi Isis, que não tinha papas na língua.
- Ó grande Tupã, de qual deus ou deusa estamos falando que os guardiões irão buscar sua representante?
- Foi bom perguntares, Isis. – Respondeu Tupã, sorrindo – Aliás, eu achei que nenhum de vocês fosse perguntar.
- Não perguntamos porque nunca nos foi informado qual seria o próximo parceiro, meu grande patrono. – Fábio respondeu em nome dos demais, que balançaram a cabeça afirmativamente, mostrando que o líder dos Tupangers falava mesmo por quase toda a equipe.
- Esta representante merece tal descrição, Fábio. A representante que falta é de minha amada esposa e líder ao meu lado do panteão. Sabes de quem estou falando, não é mesmo, cara Amanda? – Tupã respondeu com uma pergunta endereçada à representante de Iara, que era quem mais sabia das lendas e mitos brasileiros.
Foi quando Amanda começou a tremer, e Fábio entendeu que se tratava de alguém muito, mas muito importante.
-Cla-claro, senhor Tupã. Amigos, meu amor, estamos falando da maior deusa do nosso panteão. Falamos da senhora Jaci, deusa da lua, filha-irmã de Tupã, e senhora dos céus noturnos.
Todos entenderam com toda essa apresentação a importância. Claro que alguns conheciam a deusa de nome, afinal de contas Jaci é muito bem apreciada mesmo em nossa sociedade moderna, ouvinte, inclusive com nomes de cidades.
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Plano dos Humanos, São Paulo, 12h
Os Tupangers foram voltando cada um para as suas casas, e Isis passou a viver com Ada, já que ela não tinha trabalho e não tinha a vinda para o estado paulista com tudo pronto.
Mas não demorou muito para que ela conseguisse um trabalho como modelo de cosméticos, sendo isto o suficiente para poder alugar uma casinha para si, e aos poucos ver trabalhos que pagassem um pouco mais.
O que era possível ver nos noticiários, mesmo que o vírus estivesse sob controle em vários países, no Brasil parecia que não era bem assim. Também foi falado que muita gente passava fome. Uushgi estava atuando mais no Brasil do que no continente africano diminuindo colheitas, enfraquecendo gado e peixes, e também causando desajustes nas mentes daqueles que lideravam empresas, causando desemprego.
O primeiro impacto disso foi que, por causa da quarentena prolongada, Fábio perdeu o emprego, já que as lojas não abriam e não podiam manter vendedores. O líder dos Tupangers caiu em uma depressão profunda, pois tudo o que sabia era voltado para vender, e ficar parado em casa era uma dor que até então desconhecia, uma vez que era difícil ficar desempregado, mesmo trabalhando em várias empresas ao longo da vida.
Isso foi um baque especialmente para os Tupangers. Nos horários de treinamento, Fábio vivia abatido, preocupado com as finanças da casa, e se continuasse daquela maneira não serviria mais para ser o líder da equipe.
Foi quando, ao final de um treinamento relativamente puxado, Tupã pediu que ele o acompanhasse ao seu lugar no plano mítico. Ele olhava condescendentemente para seu protegido, sabendo da fragilidade da mente humana.
- Sei o que te aflige, caro protegido. Mas você precisa se fortalecer. Precisa sair do limbo que tua mente se inseriu. O mundo vai precisar de ti nas lutas que virão, tenha certeza disso.
- Tenho ciência total disso, caro Tupã. Vou tentar melhorar este meu lado. – Fábio era a cara do desânimo, e desde esta breve conversa com Tupã, houveram momentos em que o Tupanger azul estava bastante bem, mas oscilava bastante. Tendo isso em vista, Pedro resolveu ajuda-lo, dando conhecimento a ele de marketing, para que pudesse assumir algo além de vendas.
Em um dia particularmente difícil, Fábio dava trabalho para Pedro, demorando para aprender uma tarefa particularmente fácil a ser realizada em um aplicativo editor de imagens. Pedro sabia dos problemas de Fábio, e se esmerava em não explodir.
Depois de uma semana ajudando o líder dos Tupangers, Pedro sentou com o amigo para conversarem a respeito do que acontecia.
- Fábio, me conta. O que você tá sentindo para poder cair em uma depressão desse tamanho? Você tava tão bem há alguns meses atrás! – Pedro estava genuinamente preocupado com o amigo.
- Sinceramente, Pedro? Esse país está uma merda, temos três seres super poderosos atrás de nós e um que é simplesmente um deus! Como eu posso manter uma vibe boa se até as empresas não sabem manter funcionários? – Fábio era a epítome da depressão.
Pedro puxou o celular e, com um comando de voz rápido, puxou o caderno de notícias empresariais, buscando a empresa que havia demitido Fábio.
- É, meu amigo. Fique feliz que você pôde receber tudo o que tinha direito, a loja onde você trabalhava faliu. – Informou Pedro à guisa de explicar que tinha pessoas em pior situação que ele.
- Como?? – Perguntou Fábio completamente abismado com a informação recebida.
- É simples. Eles te mandaram embora porque não podiam mais manter profissionais de vendas. Porém, eles não investiram em vendas online. Com isso, eles não venderam, não conseguiram capital e foram perdendo vários e vários funcionários. Agora eles têm diversos processos trabalhistas pós falência. Agora vê como você foi privilegiado? Muitos dos seus colegas estão lutando na justiça por valores que não têm certeza se irão receber. Vamos tentar nos animar um pouco mais depois dessa? – Discursou Pedro, deixando um silêncio sequente para que o amigo pensasse naquilo.
10 Comentários
Belo episódio!
ResponderExcluirO lado humano muito bem trabalhado.
É o que mais curto nas histórias.
Perder o emprego é algo complicado e gera medo, dúvidas ante o futuro.
Incertezas...
Com Fábio, o grande líder dos Tupangers, não foi diferente.
Pedro, ao final, mandou muito bem do ver Fábio enxergar sobre outra perspectiva .
Outra questão foi a mescla que você fez , de modo brilhante, mistutando realidade e ficção .
Você retratou de modo poético , o desgoverno e a ambição desmedida dos grandes empresários deste país, que não estão nem aí para o povo.
Culpa de Uushgi...
Melhor acreditar na sua história, pois a crueldade tem sido a tônica nos últimos tempos...
Que Fábio reaja !
Que a nova membro , protegida de Jaci, apareça e que os Tupangers, represenrantes legitimos das divindindades indígenas consigam a viória.
Parabéns!
Fico muito feliz que tenha curtido a história, man. Eu aprendo muito lendo as histórias de vocês.
ExcluirAbraço!!
Um ótimo capítulo, eu trabalho no PAT da minha cidade e vejo muitas pessoas desanimadas pela falta de emprego e perspectivas de melhoras, você retratou isso muito bem.
ResponderExcluirSenti falta ali no final de um ganchinho pra dar aquele comichão para ficar mais ansioso pelo próximo capitulo, mas o recado desse foi muito bem dado.
Parabéns
Digamos que o sentimento é o meu próprio hoje em dia, por isso consegui retratar muito bem como ele está se sentindo.
ExcluirEu ainda não consegui aplicar bons ganchos, mas vez ou outra eu consigo.
Abraço
Episódio pesado e tenso, com toda a certeza, abordou diretamente algumas das feridas do Brasil e realmente a questão de pandemia vs economia está derrubando boa parte do país, explodindo principalmente nos mais fracos e necessitados! A depressão e a falta de ânimo com tudo é outro detalhe importante e crucial, pois coloca a mostra mais uma faceta podre de nosso país levada à todos por nossos governantes e pessoas que os apoiam... Episódio poderoso cara, muito bom! Ficou uma dúvida aqui, Tupã disse que a próxima deusa é Jaci, sua amada esposa, mas a Amanda disse que ela é filha-irmã de Tupã... Como que funciona isso, ele é casado com a filha-irmã dele? Grande abraço!
ResponderExcluirIsso mesmo, Lanthys. Essa parte é puro estudo da mitologia tupi-guarani. Qualquer dia te conto como é isso.
ExcluirFico feliz que tenha gostado da história.
Abraço.
Excelente episódio. Uma reta final chegou. Parabéns por ser capaz de mesclar a cultura indígena do Brasil com um Sentai. A fic mais original e criativa do blog é sua!
ResponderExcluirManda bala!
Longe disso, Artur. Pessoal aqui, incluindo você, é fera. Eu só entrei na mesma vibe.
ExcluirObrigado por ler!!
Mais uma crítica certeira a situações, infelizmente, reais do país. É n tá fácil msm, tem coisa bem mais preocupante q deus maluco vingativo...
ResponderExcluirSem dúvida, man. Agradeço por ler.
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