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Uchuu Sentai Kyuranger: Nova Ameaça - Capítulo 14, O Sacrilégio

 

Um bom dia a todos!! Deixo aqui com vocês mais um capítulo do conto, espero que curtam.


Ao chegarem ao esconderijo construído para reagrupar e planejar novas ações com os três humanos resgatados com a operação, os dois que estavam do lado dos Kyurangers desabaram cansados, enquanto os guerreiros salvadores do universo posicionavam o inimigo capturado. O que Tsurugi tinha explicado anteriormente deixou a todos bastante surpresos, e preocupados para dizer o mínimo.

Visando ter uma melhor preocupação a respeito do que tinha acontecido com aquele que estava a frente deles, Tsurugi sentou-se à sua frente com as pernas cruzadas, e para maximizar a inserção de sua mente naquela à sua frente, ele tocou a testa do inimigo com a sua. Como ele estava amarrado e com 5 Kyurangers de olho em cada movimento que ele fizesse (ou não fizesse), estava bem coberto.

Ao passo que Tsurugi adentrou a mente do inimigo, em um primeiro momento ele encontrou um espaço vazio, como se não houvesse mente lá. Essa tinha sido a sua primeira impressão. Porém, ele percebeu que o campo mental estava ativo, e que sua primeira impressão havia sido errônea. Procurando um pouco mais assertivamente, o Soldado Fênix notou uma pequena consciência presente, no que parecia éons de distância de onde ele se encontrava, na superfície da mente.

A distância dentro de uma mente pode ser completamente relativa, pode ser éons, que demoraria anos-luz para completar tal percurso, mas outra, viajaria em tal velocidade que em décimos de segundo seria possível completá-la também, o que foi o caso de Tsurugi.

O espaço dentro daquela mente era tão amplo que o Soldado Fênix ficou boquiaberto com todo aquele tamanho. Uma mente humana poderia ser de tal tamanho? Parecia ser do tamanho do planeta inteiro, senão mais.

Ao chegar perto da consciência suprimida, ela estava naquele estado por tanto tempo – isso porque o tempo dentro de uma mente é bem relativo – que parecia não querer reverter à sua forma normal.

Ao passo que o guerreiro vermelho foi chegando mais e mais perto, notou que a mente suprimida parecia aumentar de tamanho, como se quisesse engoli-lo por inteiro. Mas era apenas impressão. Era como se a expansão daquela mente fosse apenas questão de tempo.

Tsurugi foi tentando chegar perto da compressão que se tornara a mente original daquele corpo, ela tentou tocar sua mão. Vendo que não se tratava daquele que o havia deixado naquele estado, não mais que um simples vegetal, se expandiu e absorveu o Soldado Fênix por inteiro.

No mundo real, seu corpo caiu de lado, o que deixou os demais preocupados.

Dentro da mente suprimida, tudo até o momento estava preto. Um breu que nem as chamas da Fênix, manifestadas na mente de Tsurugi, puderam clarear.

Ele se locomoveu – eu até poderia dizer que ele caminhou, leitores, mas isso não seria a verdade – até determinado ponto, quando apareceu o que parecia uma choupana. Era pequena, já estava bem destruída e a porta tinha sido arrancada com um golpe violento, seja de onde quer que tenha vindo.

O Soldado Fênix foi notando os detalhes: a choupana era construída com ripas na vertical, e cada uma delas apresentava um aspecto natural da madeira, sendo que as mais próximas ao fundo da casa eram as que apresentavam as ripas mais emboloradas, deterioradas, enfim, as que estavam em pior estado.

Tsurugi imaginou caminhar por uma superfície irregular, e a choupana tivera sua porta arrancada com violência, mostrando que a mesma jazia ao lado da entrada, com uma das duas dobradiças ainda presas a ela.

Tão logo entrou, o Kyuranger notou a diferença de clima. Era como se o lado de fora, que não apresentava sequer calor ou frio, dia ou noite, tivesse se transformado em uma copiosa tempestade, que nunca amainava ou cessava. Raios cortavam o céu com iluminações efêmeras, que logo escureciam, dando lugar a um céu noturno.

Ao andar dentro da choupana, era possível ouvir o ranger das tábuas dispostas no chão, como se houvesse um espaço embaixo do mesmo, mas o ranger não era porque aquela parte das tábuas fosse quebrar e abrir, mas sim por causa de um possível efeito que aquela mente queria mostrar ao seu inesperado visitante – porque o som não vinha delas, e sim de todo o ambiente.

No que pareceu pé ante pé, Tsurugi se movimentou até o que parecia o único quarto da choupana, e ali havia um homem encolhido em cima da cama, com as mãos na cabeça, em posição fetal. Ele emitia um som parecido com um choro, mas era mais sobrenatural do que decididamente algo reconhecível.

Mantendo uma distância segura daquele ser, o Soldado Fênix emitiu uma intenção benéfica, de querer conversar, entender o que aconteceu, mas nada acontecia.

Nada mesmo.

O ser na cama sequer se mexia, não tremia, só emitia o som similar ao choro e mantinha em posição fetal.

Parecia estar naquela posição havia éons.

A realidade dentro daquela mente pouco a pouco começou a distorcer-se, e Tsurugi precisou de toda a sua força de vontade para continuar com sua forma humana, ou mesmo em um lugar compreensível por sua mente humana.

Logo, a distorção parou.

Uma intenção de conversa foi enviada a ele, mesmo depois daquela intenção hostil que havia se apresentado no momento anterior.

“Quem é você e o que faz aqui dentro”. Não era sequer uma pergunta pela falta de entonação adequada. Parecia que aquele ser havia sido humano em uma era muito, muito remota. Mas ainda podia se comunicar mentalmente, aproveitando-se inclusive da proximidade em que as duas mentes se encontravam.

“Vim em paz, entender o que aconteceu a você” – Informou o Guerreiro do Bem.

“Ah... O toque de uma mente humana... Fazia tanto tempo que eu não sentia nada similar... Parece que estou preso a esta armadilha há milênios, ou ao menos é o que eu penso ter acontecido. Pensar... Hahahahaha” – Suas palavras não pareciam ser muito bem concatenadas, e quando ele chegou ao ato de descrever seus pensamentos, ele desatou a rir, uma risada louca, fora de padrão ou contendo qualquer sanidade.

Tsurugi se manteve em silêncio. Aquele lugar parecia ser o mais profundo da mente daquele homem atormentado pelo inimigo. Possessões mentais não eram uma ação incomum, é possível dizer que os monstros e vilões mais poderosos usavam isso como moeda de troca com seu hospedeiro, mas aquele caso era como se fosse uma espécie de parasita, uma simbiose que era benéfica apenas para o parasitário, em que o parasitado estava fadado a morrer caso algo acontecesse com a mente que o possuía.

“Não vai mais falar nada? Onde está a coragem de tentar me coagir, Kyuranger?” – Aquela última frase assustou Tsurugi. Aquele ser sabia quem ele era. Aquele lugar todo poderia ser uma armadilha.

“Quem é você?” – Perguntou o Soldado Fênix, mantendo a postura apesar de tudo.

“Eu sou o que vocês vieram derrotar. Mas parece que o Ser Superior que Habitava meu frágil corpo decidiu que não precisava mais dele, então decidiu me deixar com o resultado da minha falta de poder, de qualquer tipo. Vamos, saia de meu corpo e me mate, assim você estará fazendo um favor à essa alma cansada de tanto ser explorada...”

Aquele ser emitia sua intenção sem sequer mexer um músculo. Parecia que o mínimo de força mental estava sendo usada naquele momento, parecia que a mente daquele humano que suportara uma das consciências chamadas de “Ser Superior”, agora estava fraquejando. Por mais sutil e delicado que Tsurugi pudesse ser ao entrar na mente de alguém, isso demandava um mínimo de esforço por parte do ser em questão, e isso era o que faltava para aquele que conversava com o Soldado Fênix.

Restava pouquíssimo tempo de vida para aquele humano cuja mente ele havia entrado.

“Agora você tem noção do quanto tempo de vida me resta... Vai fazer o quê, Kyuranger? Vai tentar me salvar de alguma maneira ou vai prezar a sua própria vida, saindo daqui e me deixando para morrer?”

A visão daquele humano já estava deturpada o suficiente para que ele agisse igual ao Ser Superior da Nova Jark Matter que ele hospedara. Ele já não tinha mais quaisquer traços que lembrassem sua personalidade original. Então, Tsurugi resolveu tomar a decisão mais difícil de sua vida, que seria deixar um inocente para trás, mesmo que já tivesse se tornado deturpado o suficiente para agir como um vilão.

No momento seguinte, o Soldado Fênix começou a se afastar do humano atrelado àquela cama, e ele se mexeu com as últimas forças que tinha, sentou-se, apoiando suas costas cansadas no espaldar da cama e, como um último esforço em seu rosto encovado pela falta de energia...

“Ao menos pude ver um rosto amigo antes de morrer. Fique em paz, Kyuranger. Não te culparei pela minha morte, mas sim, à minha falta de resignação e de força de vontade de viver. Peço apenas que informe isso à minha esposa e filha, que vivem no interior, longe de tudo isso o que aconteceu...”

Com essa mensagem, uma torrente de memórias invadiu gentilmente a mente de Tsurugi. Todas relacionadas com o local onde vivia com a esposa e a filha, e os rostos delas, e como encontra-las. Pelas lembranças, ele sequer sabia se as duas estavam à mercê da Nova Jark Matter, mas era um pedido desesperado, ele sentia isso.

Foi neste exato momento que Tsurugi voltou ao seu corpo. Hammy aparava sua cabeça no colo dela, e os demais Kyurangers olhavam ao redor, procurando por ataques.

- Que bom que você está bem, Tsurugi-san! Fiquei preocupada com alguma armadilha por parte daquele homem... Me responde... O que você viu lá dentro?

Naquele momento o Soldado Fênix apenas deixou as lágrimas caírem por seu rosto. A história era triste demais. A Nova Jark Matter tinha ido longe demais. Tirar um pai de família do convívio dela, deturpar a mente dele até que se tornasse irreconhecível... Sugar toda sua vida em prol de uma ideia doentia...

E foi o que Tsurugi fez, com lágrimas vertendo de seus olhos, mas se recusando a chorar inteiramente, ele contou a Lucky, Hammy, Spada, Naga e Kotaro o que tinha visto na mente daquele homem, e o que um dos “Seres Superiores” havia feito com a mente dele.

Obviamente os homens ficaram possessos, principalmente Lucky. Ele era uma máscara de fúria. Hammy chorava abertamente, transbordando tristeza por causa da história que chegava a seu fim.

Kotaro libertou-se de sua apatia repleta de ira e foi tocar o pescoço do homem amarrado. Ele havia morrido, e ali havia ficado, com o efeito das amarras que eles tinham feito.

O jovem Kyuranger desamarrou o homem e o colocou deitado, fechando seus olhos, que segundo ele, estavam secos. Como se houvesse chorado até onde sua mente pudesse ter aguentado, e ficado assim desde que ela quebrara.

- ... Mas com efeito disso, graças às memórias que este homem me deu, podemos fazer duas coisas: primeiro, devolver o corpo dele para que a esposa e a filha possam enterrar, e a segunda, ir atrás deste “Ser Superior” que havia feito aquilo. Era imperdoável.

Dito aquilo, sem sequer descansar, todos foram em direção ao local informado por Tsurugi. Eles chegaram ao pequeno vilarejo, e lá encontraram facilmente a mulher e a filha daquele homem. Por sorte, elas não haviam sofrido nada pelo fato de aquele pequeno vilarejo ser quase do outro lado do planeta, muito longe da capital do reinado.

Souberam por elas que o homem era basicamente um caixeiro viajante, e que fazia três anos que ele não voltava... A mulher caiu na besteira de dizer inclusive que seu marido havia arrumado outra família e as deixado para trás.

Lucky pediu que conversassem em privado, e que gostaria de mostrar o conteúdo que eles tinham naquela caixa grande.

Os Kyurangers ficaram naquele pequeno vilarejo por dois dias. No primeiro, tentando convencer as duas mulheres que não era nada disso que elas pensaram, e no segundo, consolando-as pela perda do ente querido.

No final do segundo dia, todos enterraram Rimah. Ele era um homem esforçado e que voltava cinco vezes por ano para casa para passar duas semanas com a família a cada vez, mas às vezes ele demorava mais para voltar, afinal de contas, suas vendas o levavam para o mundo inteiro.

Todos choravam no enterro, e Tsurugi resolveu soltar toda a bola de sentimento ruim que estava dentro de si e chorar copiosamente. Ele sentia que, mesmo que tentasse salvar aquele homem, o máximo que conseguiria era destruir o senso que tinha de certo e de errado.

Naga e Kotaro abraçavam Tsurugi, enquanto Lucky e Hammy ficavam abraçados. Spada olhava para a cena toda com um olhar consternado sombrio.

E foi neste misto de sentimentos que os seis voltaram para a Orion, contando aos demais o que havia acontecido. Tsurugi já inseria as coordenadas no painel da nave, fazendo com que ela seguisse para o paradeiro do “Ser Superior”: dentro de um provável buraco negro.

6 Comentários

  1. uma história muito emocionante!
    Adorei todo o trecho passado na mente do caixeiro viajante, você mostrou muito bem como seria uma viagem telepática, diferenciando-a de uma ação no "mundo real"
    Ficou espetacular.
    e todo o drama de mais uma família destruída pelos vilões e como isso atingiu todos os heróis... Parece que vem uma batalha épica por aí, com os Kyurangers indo prá cima dos inimigos com sangue nos "zóio".
    Parabéns!

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    1. Fico feliz que tenha curtido, Norberto. Eu pousei a questão dos Kyurangers de uma maneira um pouco mais sombria e sóbria, então ficou assim.

      Abraço!!

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  2. Rapaz!!!

    Eu não escondo que amo mais Tupan Rangers! Mas, voce está dando contornos dramáticos de alto nível em seu Kyurangers. A morte da família foi cruel e com pitadas de terror. Foi muito bacana o envolvimento psíquico dos heróis na questão... Eles ficaram realmente abalados.

    Curti muito a viagem telepática... A batalha num outro local ou dimensão acabou me lembrando os famigerados mundos das alucinações dos polícias do espaço. Hehehee.

    Parabéns meu amigo!

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  3. Episódio sombrio e triste!
    O processo de viagem ao mundo mental , assim como a usurpação da energia vital dessa mente e consequente morte foi muito bem narrado...

    E dolorido também!

    O ocaso de uma pessoa , seja ele no corpo ou na alma é algo dificil!

    A viagem de Tsurugi na mente do caixeiro moribundo foi algo muito bem bolado e narrado!

    A descrição das imagens, algo muito bem feito, fazendo com que nos sentíssemos dentro da mente do pobre ser!

    Usurpar uma mente ao ponto de destruí-la por completo é covarde e sórdido!

    Quero que esse Ser Superior seja destruído o mais rápido possível!

    A Jack Matter está pegando pesado!

    Parabéns!

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    1. Fico feliz que você esteja amando odiar a Nova Jark Matter. Eu fiz com que o inimigo fugisse de todos os clichês de inimigos de Super Sentai, afinal de contas, eles querem realmente dominar o universo.

      Obrigado por acompanhar!!

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