Capítulo VIII - Amor proibido, parte II.
Tal situação de amor
proibido por terceiros, tal qual o amor entre Romeu e Julieta nos anos 1300[1], obviamente causa muita
angústia e sofrimento aos dois pombinhos. Durval fazia de tudo para que os dois
tivessem o mínimo de contato possível. E, com o intuito de afastar Hilda e
Siegfried de vez, por um lado intensificou os treinamentos do filho de Sigmund
e de Sieglinde e por outro ofereceu a Hilda em casamento um nobre asgardiano, o
Conde Gunnar, tal qual a família Capuletto (que vivia em pé de guerra com a família
de Romeu, os Montecchio) fez quando ofereceu à Julieta o Conde Paris em
casamento. Gunnar é um jovem rico e bem apessoado e é um dos pretendentes a mão
de Hilda há tempos. Além disso, é um aristocrata, diferente de Siegfried que é
plebeu. Por isso que conta com a preferência de Durval. Mas Hilda não ficou
passiva diante disso tudo. Para tentar driblar tal situação, Hilda transparecia
uma aparente indiferença quanto os assuntos do coração e um interesse maior
pelos assuntos políticos de Asgard quando conversava com seu tio. Algo que ela
já demonstrava antes, diga-se de passagem.
Tudo isso não passou
despercebido por Siegfried, com o qual se comunicava com Hilda por meio de
cartas. Na ocasião, Siegfried pensava que a possibilidade de que um dia vá enfim
consumar seu amor com Hilda era muito remota, mas não zero. Por isso, dela não
desistia. Sempre que se encontrava desanimado ante todas essas agruras,
Siegfried se lembrava do que seu pai adotivo lhe disse antes de se despedirem e
assim encontrava forças para seguir adiante e não desistir de seu sonho.
Um dia desses Siegfried,
aborrecido e sabendo do jogo de Durval, em forma de desabafo se perguntou a si
mesmo “O que será de mim se a Hilda de fato se casar com esse tal de conde
Gunnar? Tenho certeza que Durval o está usando como uma forma de afastar a
Hilda de mim”. Só de pensar nisso, Siegfried sentia um desespero dentro de si,
e as palavras que Alberich lhe proferiu quando se encontraram no Palácio
Valhalla ecoavam em sua cabeça. Hagen, seu companheiro de treino, dele estava
perto, escutou o desabafou de Siegfried e com ele foi conversar. “Siegfried, eu
entendo o que você se sente. Comigo acontece a mesma coisa em relação à Freja”.
Disse Hagen. “Sério, Hagen? Então pelo visto estamos no mesmo barco”. Respondeu
Siegfried. “Sou filho de um humilde sapateiro, e por isso Durval nunca viu com
bons olhos o meu relacionamento com ela. E também já tentou fazer as mesmas
coisas que ele vive tentando fazer com a Hilda. Siegfried meu grande amigo, há
muitas coisas que você precisa aprender sobre a vida. Meu pai e minha mãe me
ensinaram que o que importa para uma pessoa não é sua origem, e sim seus atos.
Mas só que para sujeitos como Durval e Alberich isso importa e muito”, disse
Hagen. “Essa gente invariavelmente te olha de cima para baixo, e jamais se
esquece de sua origem social, mesmo que agora você more no Palácio Valhalla,
esteja treinando para se tornar um Guerreiro Deus e conviva diariamente com a
família real de Asgard”. “É verdade, Hagen?”, perguntou Siegfried. “Sim,
infelizmente existem pessoas que olham o mundo desse jeito, onde a origem da
pessoa muito importa. Sempre nos olham como estranhos no ninho, nunca como um
membro da confraria deles. E isso por mais que nos esforcemos e nos destaquemos
dentro da sociedade de Asgard ou de qualquer outro lugar nesse mundo“.
Durante esses anos todos
de treinamentos, Hagen se tornou o melhor amigo de Siegfried entre os
candidatos a futuros Guerreiros Deuses. Uma grande ironia do destino, já que ele
tem o mesmo nome do assassino do Siegfried lendário. Hagen sempre é visto junto
com as irmãs Hilda e Freja, especialmente a segunda, com a qual desenvolveu um
relacionamento especial. Assim como Siegfried e Hilda, Hagen e Freja se amam
profundamente um ao outro. E desde que era pequeno Hagen passava horas
treinando na caverna do Inferno de Calor Ardente, também conhecida como a
caverna de Musspell, o único local de Asgard que é livre de neve o ano inteiro.
A tal ponto que Hagen criou tamanha resistência ao calor abrasador do local que
não sua lá dentro. Mas, muito embora Hagen conviva com as princesas da família
real de Asgard desde a infância, ninguém da aristocracia de Asgard se esquece do
fato de que ele não tem sangue azul e que ele é filho de um sapateiro. Alguns o
olham como se fosse um intrometido dentro da corte real de Asgard.
Siegfried também se dá muito
bem com Shido. Mesmo sendo filho de aristocratas asgardianos, Shido não nutre
salto alto algum em relação à Siegfried ou Hagen. Volta e meia ele também diz
que “o que faz o homem não é sua origem ou posição social, e sim seus atos”.
Algo que ele aprendeu com seus pais. E assim como Hagen, Shido e Mime também
sabiam da triste situação amorosa de Siegfried e lhe davam apoio sempre que
preciso. Já com Alberich eram as coisas completamente diferentes. Volta e meia
ele caçoa de Siegfried por causa de suas origens humildes, tal como fez na
primeira vez em que se encontraram. “Você da plebe jamais se tornará Guerreiro
Deus, por mais forte que seja! E jamais se casará com Hilda! Você terá que
amargar vê-la se casar com o Conde Gunnar!”, disse Alberich a Siegfried em outro
dia de treino, soltando em seguida risadas sarcásticas. O que deixou Siegfried
com uma vontade de lhe socar. Mas, antes que as coisas evoluíssem para uma
briga, os guardas do palácio os apartaram. Shido depois explicou a Siegfried a
respeito de Alberich. Que ele é de uma família tradicional de Asgard que sempre
protegeu os soberanos do reino nórdico e que por isso se acha muito. “Ele se
acha o cérebro de Asgard, mas não passa de um grande imbecil”, disse Shido à
Siegfried. Shido e Siegfried também se tornaram grandes amigos nesses anos
todos. Foi Shido quem recepcionou Siegfried em seu primeiro dia de treino e lhe
deu grande apoio desde então. Quando se encontra com Shido, Siegfried nota que ele
está sempre alegre e bem-humorado, e ante isso com o tempo começou a desconfiar
que Shido esconde um segredo terrível dele e dos demais candidatos a Guerreiros
Deuses. Pois como Atli volta e meia dizia a Siegfried, “onde há luz há
escuridão”.
Durval, por seu turno,
não tem como verdadeira preocupação as preferências amorosas de suas sobrinhas,
e sim outra: alargar as fronteiras de Asgard. Por isso que passado um tempo
parou de insistir em casar Hilda com o Conde Gunnar. Passado um tempo, diante
da resistência de Hilda em aceitar a proposta de matrimônio, assim como
desentendimentos com Siegfried sempre que os dois se encontravam, Gunnar
desistiu da mão de Hilda. Na opinião de Hilda, como ela não ama Gunnar, um
eventual casamento dela com o nobre não passaria de um casamento de fachada,
sem alma. Ou seja, um falso casamento. E assim o fantasma de um possível
casamento de Hilda com o Conde Gunnar foi afastado, para o alívio de Siegfried.
NOTA:
[1] Segundo o historiador Girolamo dela Corte, em sua obra “História de Verona” (em italiano Storia di Verona, 1594), o caso amoroso envolvendo Romeu e Julieta aconteceu no ano de 1303. Ou seja, na aurora do século XIV.
1 Comentários
A história segue o seu curso.
ResponderExcluirAs dificuldades se impõe ao casal apaixonado.
O pai de Hilda é o maior empecilho, mas ela dessa vez seguiu firme na em seu propósito.
Será que ela se manterá assim?
Vamos acompanhar!