Fala Galera!!!
Eis que apresento “A ERRANTE: RELATOS DE UMA POSSESSÃO”. Essa nova história é um complemento do conto “Gosto Bom”, do herói Spectrum-EX. Na Errante veremos o que se passou na vida da personagem “Carla”, onde ela irá descrever todo o processo de possessão do qual foi vítima, narrado por ela mesma. Irei liberar a história por pequenas partes.
BOA LEITURA!!!!
Nota: O presente capítulo não é indicado para menores de 18 anos! O mesmo contém muitas falas e cenas de cunho sexual ou baixo calão, pois compõem a personagem retratada dentro do contexto apresentado. Se por ventura se sentir constrangido ou não concorda com tal tipo de texto, não recomendamos a leitura.
Relato de Carla Rose Silva, 22 anos, sobre sua possessão demoníaca.
Registro da Ordem da Luz: cod. 20222506/case-spc/ex-001980
ESTÁGIO I – INFESTAÇÃO DEMONÍACA – PARTE I
Não me peça lógica, ou clareza naquilo que vou relatar, já não possuo isso em mim mesma. Sou hoje uma alma cuja mente foi estilhaçada e os fragmentos rasgaram meu coração. Quando fecho os olhos e volto ao passado, vejo somente uma dança louca, onde realidade e pesadelo se misturam, de modo que não é possível distinguir um do outro. Hora era a mão da besta a baixar o machado, hora era a minha. Para tentar relatar com exatidão todo horror que me acompanha hoje, preciso voltar a olhar para quem eu era.
Minha vida estava bem. Tinha um emprego em uma loja de cosméticos perto de casa, fazia cursinho para prestar vestibular e aos finais de semana farreava com as amigas. Tudo muito simples, comum e satisfatório. Poderia dizer que era mais uma na multidão, mas seria uma mentira. Sem falsa modéstia, desde sempre, minha beleza me destacava. Sabia disso e me orgulhava. Divertia-me com os homens babando e as mulheres invejando. Por estar feliz comigo mesma, estava sempre de bom humor, isso me tornava uma pessoa agradável e por isso fazia amizade facilmente. Não suportava tristeza, então quando via alguém infeliz, corria para ajudar, graças a isso, era muito querida por todos, na rua… Dentro de casa era diferente…
Há um divisor de águas na história da minha família. Voltarei um pouco mais no tempo para explicar melhor essa situação, ou tudo que tenho a dizer fará ainda menos sentido. Perdoem esse vai e volta, mas minha cabeça hoje é assim, uma dança louca, hora frenética, hora devagar quase parando.
Quando papai, “Seu Miranda", estava conosco vivíamos em harmonia. Minha mãe, “Dona Roberta” era perdida de amores pelo meu pai, que correspondia a esse sentimento com toda sua alma. Claro, de vez em quando brigavam, e brigavam feio, mas terminava em risadas e beijos. Eu e minha irmã Celinha éramos melhores amigas, companheiras de travessuras. “Carla e Célia as imbatíveis”, nos chamavam assim. Havendo entre nós apenas a diferença de um ano, estávamos em sintonia, tínhamos os mesmos gostos e compartilhávamos os brinquedos de tal modo que nenhuma das duas sabia qual pertencia realmente a quem.
A joia mais importante do nosso tesouro era um urso de pelúcia branco grandão, tinha nosso tamanho. Floquinho de Neve era seu nome, sendo uma conquista árdua, custando um ano da minha mesada e dá minha irmã. Aquele urso branco era o símbolo da nossa amizade. Cada uma tinha seu quarto, mas sempre dormíamos juntas, abraçadas ao Floquinho de Neve, hora num quarto, hora noutro. Uma dessas noites é minha última lembrança feliz com minha irmã, o que vem depois disso é medonho demais.
Tínhamos por volta de 12 anos quando papai morreu de modo violento e bizarro. Aconteceu na porta de casa, diante dos nossos olhos. Era um sábado. Tomávamos café da manhã animadamente. Papai logo teria que sair para uma reunião especial no trabalho.
- Para, meu amor… As meninas vão se engasgar de tanto rir… - Disse mamãe.
- Mas é verdade… O peixe era tão grande que quase virou o barco… - Papai continuou.
- E o que foi que você fez com o peixe? - Perguntei vermelha de tanto rir.
- Ai… Caramba… Eu vou me mijar toda… Preciso ir ao banheiro… - Minha irmã se levantou apressada.
- Nossa! Olha a hora! Realmente preciso ir, estou muito atrasado… - Papai bebeu seu café de um gole só e saiu apressado.
Ao atravessar o portão de casa, papai foi surpreendido pela minha irmã, era costume dela sempre lhe dar um beijo e um abraço antes dele sair, ela ficava num humor terrível quando não o fazia. O que aconteceu a seguir foi muito confuso. De algum modo, ao olhar para trás, meu pai se desequilibrou e caiu na rua, no exato momento em que um caminhão passava. Papai foi atropelado. Deus… Aquilo foi grotesco demais. O caminhão passou por cima da cabeça dele, estourando-a como uma bexiga cheia de sangue. Célia usava seu vestido branco favorito, decorado com ursinhos parecidos com o Floquinho, que ficou tingido de vermelho. Havia sangue até no rosto dela… Não tenho dúvidas, a alma de Célia se foi naquele dia, deixando no lugar um ser feito do mais absoluto tormento.
CONTINUA....
Jeremias Alves Pires
4 Comentários
Parabéns pela nova postagem ,meu caro Jeremias!
ResponderExcluirCurto ,direto e sinistro !
Em poucas palavras , você me impactou grandemente com as memórias da possuída Carla e toda a sua dor, com a perda do pai, daquele jeito.
O que dizer,de sus irmã Célia!
A culpa por ter distraído o pai a ponto dele ser atropelado daquela forma, a destruirá por completo.
Você mandou bem demais!
História excelente!
ResponderExcluirVocê conseguiu construir muito bem as personagens e o histórico até essa desgraça que,com certeza, dará o espaço pra que a possessão aconteça...
Aguardarei ansioso pelo próximo capítulo!
Pesado, intenso, breve e assustador... A coisa começou bem cedo à ser problemática pra família, creio que deva ser uma imagem que nunca mais se apaga da memória e a Célia viveu isso de muito perto... Muito triste, texto muito bem feito e leitura muito boa de acompanhar, parabéns Jeremias!
ResponderExcluirJeremias... Parabéns. Você é um autor muito afeiçoado ao terror. Certo?
ResponderExcluirSuas histórias têm muito esse tom macabro. Esse episódio foi aterrorizante. A pobre Célia viverá assombrada pro resto da vida. Muito bom!
Estes episódios, de alguma forma, se conectarão com o Universo do Carcará-Negro?
Abraços.