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Carcará-Negro: "Atos de Guerra"

 




Olá meus amigos!!!

 

Eis que trago até vocês mais uma história do Carcará-Negro. Ela é totalmente imaginária, mas fala de coisas que me incomodam no mundo real, e muito. O Carcará é na verdade uma desculpa para desabafar. Espero que gostem e todas as sugestões vão ajudar a desenvolver essa nova história.

 

Sinopse

 

Uma visita rotineira a uma ONG que acolhe crianças abandonadas irá levar a mais uma caçada do Carcará-Negro.


Carcará-Negro: "Atos de Guerra"

 

Parte 1 – A Menina

 

Cristóvão segue sorridente enquanto dirige sua perua azul lotada de brinquedos e mantimentos. Até mesmo o seu outro eu parecia menos irritante que o habitual.

 

  - Lembrou de trazer os lanches? - Perguntou a voz do Carcará-Negro na cabeça de Cristóvão.

 

  - Nós checamos duas vezes... Vê se fica quieto quando chegarmos lá...

 

De modo como nunca acontecia, o lado sombrio de Cristóvão se aquietou. A coexistência de duas personalidades extremamente distinta em uma única mente só era possível por ambas seguirem o mesmo propósito, proteger os inocentes desse mundo, principalmente os invisíveis... Um lado protegeria durante o dia, outro vingaria durante a noite, esse era o acordo...

 

Era dia de visitar o "Lar, Doce Lar", uma ONG que acolhia crianças abandonadas.  

Não demorou muito estavam cruzando o portão do que já tinha sido um tipo de fábrica, sabe-se lá do que. O lugar agora abrigava cerca de trezentos jovens rejeitados e largados como se lixo. Não fosse a ONG, aquelas gotas de esperança para um mundo melhor, secariam... Morreriam de fome e frio, ou a ira os perverteria e anjos se tornariam demônios.

 

Cristóvão e seu outro eu, eram guardiões do lugar. Uma vez por mês, pouco importando a data, presenteavam as crianças, contavam histórias, faziam de tudo para que elas soubessem que não só de perversidade era feita a vida, que elas podiam ser maiores do que suas dores, sendo benção e não a maldição que os olhares cheios de desprezo achavam que eram, ou se tornariam um dia. Cristóvão acreditava que algumas doses de amor impediriam que aqueles pequeninos se tornassem os miseráveis que o Carcará-Negro caçava e  humilhava sem piedade, da forma mais cruel que sua mente doentia era capaz de inventar. Criatividade não faltava ao Carcará...

 

  - Oi, Cris!!! - As crianças gritaram é correram para Cristóvão que abraçou e beijou uma a uma, foi um verdadeiro tumulto, dada a quantidade que se aglomerou.

 

  - Bom dia, senhor Cristóvão! Que bom vê-lo novamente... Saudou a morena estonteante com cabelos tingidos de vermelho vivo.

 

- Bom dia, Raquel! - Cristóvão respondeu todo tímido.

 

- Vamos ver se vai continuar bom... - Raquel tirou o celular do bolso e fez uma ligação para o celular de Cristóvão que tocou imediatamente.

 

  - Nossa... Você me ligou ontem... Desculpe... - Cristóvão ficou ainda mais sem graça.

 

  - Bem... Se o celular tocou agora, significa que ele funciona... O problema é o dono...

 

  - Vai apanhar!!! Vai apanhar!!! - As crianças começaram a zombar.

 

- Sorte sua que estou realmente feliz em te ver, se não ia apanhar mesmo... Me deve duas cervejas...

 

Cristóvão não conseguia dizer uma palavra, até o Carcará riu da situação. O melhor a fazer era começar a distribuição dos presentes. Estavam num anfiteatro que possuía uma grande tela de TV, doada pelo próprio Cristóvão.    Para conter um pouco a ansiedade das crianças, Raquel ligou o enorme aparelho em um canal infantil e deixou mudo.

 

Havia tantos brinquedos que as crianças podiam escolher.

 

  - Nossa!!! Eu queria muito essa boneca... Valeu Tio Cris... - A menina pulou nos braços de Cristóvão, como quase todas as outras fizeram.

 

Chegou então à vez de uma menina com cerca de doze anos que Cristóvão nunca tinha visto. A garotinha era negra, apesar do calor usava uma blusa de moletom vermelha  com capuz. Estava toda encolhida e tentava esconder o rosto, o tempo todo abraçada a um celular, como se ele fosse um bichinho de pelúcia.

 

  - Bom dia, princesa! Qual brinquedo você quer? - Cristóvão perguntou carinhoso.

 

A menina não respondeu, parecia que ia entrar em pânico. Cristóvão conhecia aqueles sinais, o modo como a menina se vestia, tentando esconder seu corpo, tentando se esconder, não era improvável que estivesse escondendo marcas das agressões sofridas, a postura encolhida, juntamente com a timidez exagerada, nunca olhando nos olhos, o tempo todo pronta para correr, denunciavam que o pior havia acontecido. Terror havia sido embutido na alma daquela inocente, talvez para vida toda.

 

Crianças pobres e órfãs como aquela menina, eram presas perfeitas, não sendo difícil de encontrar alguma com todos aqueles sinais em instituições como o "Lar, Doce Lar", isso se davam sorte de encontrar quem lhes desse uma migalha mínima de amor. Muitas morriam no anonimato... Ninguém ligava pra elas... Poucos as enxergavam e eram muitas... Cristóvão as via todos os dias, sempre se perguntando porque ninguém as amava, o que haviam feito para merecer todo aquele desprezo? Ele as via... Como não ver? Estavam expostasao grande público, jogadas em algum canto sujo, enquanto seus algozes estavam escondidos em casas de luxo, disfarçados de homens de bem... Intocáveis pela lei... Protegidos por fortunas manchadas de sangue...

 

 Cristóvão ficou irritado e isso quase  passou o controle de seu corpo para seu outro eu. Respirou fundo. Retomou o controle. Não era a hora. Mais tarde iria investigar a fundo, talvez a menina sofresse simplesmente de algum tipo de distúrbio. Iria então conseguir para ela o tratamento adequado, do contrário, se algum maldito a tivesse tocado... Seria então a vez do outro... O maldito seria caçado, ferido de modo irreparável é depois exposto. Todos veriam a verdadeiro face do maldito de modo que nunca mais andaria pelas ruas livremente, cometendo atrocidades. A morte era um presente que o Carcará-Negro jamais oferecia. O maldito teria a mesma vida de vergonha e horror que suas vítimas. Essa é a sina de quem cai nas garras do Carcará.

 

  - Cris... Você está bem? - Raquel ficou preocupada ao ver Cristóvão cambalear.

 

  - Tudo bem... Eu só não me alimentei muito bem hoje - Cristóvão tranquilizou Raquel.

 

  - Tão grande e ainda não sabe tomar conta de si mesmo. Terminando aqui nós vamos almoçar...

 

Cristóvão fez que sim com a cabeça e voltou sua atenção para menina.

 

  - Qual seu nome, princesa?

 

A menina deu um passo para trás, pronta para correr.

 

  - Tudo bem, vou chamar você só de princesa mesmo... Antes de você ir, vou escolher seu presente...

 

Cristóvão revirou os brinquedos e pegou  un Canguru cor de rosa, entregou a menina e disse:

 

  - Esse aqui é especial, não por causa do cheirinho de morango, nem por causa do bolso pra você colocar seu celular. Sabe qual é o segredo dele?

 

A menina finalmente olhou para Cristóvão que continuou:

 

  - Ele é mágico... Sempre que estiver com medo, é só abraçar ele com força...

 

A menina encarou o bichinho. Nesse momento na TV gigante começou a passar um vídeo clipe de um cantor famoso. Rufiel Jr, um dos maiores ídolos entre os jovens brasileiros.

 

A menina primeiro arregalou os olhos, como se tivesse visto o próprio diabo, em seguida  começou a chorar, escondeu a cabeça no capuz e abraçou o bichinho. Cristóvão olhou para trás, o rosto de Rufiel Jr estava em close no monitor gigante. A menina gritou. As luzes piscaram. A TV pifou. A menina desmaiou... Parecia que era mais um trabalho para o Carcará-Negro...

 

Continua...


8 Comentários

  1. Um episódio denso com muitas coisas implícitas ,não ditas ,mas que estavam ali...no texto...

    Sua revolta contra abusadores grita no texto.

    Parabéns pela sensibilidade!

    Esse crápula do Reffiel Jr encontrará a colheita do seu plantio nefasto.

    O senso de justiça do Carcará Negro, pide ser discutível, mas é legítimo!

    As injustiças do mundo estão aí pra nós esfregar na cara o quanto somos tolerantes e insensíveis a essas violências diárias que fingimos não ver.

    Brilhante episódio!

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    1. Valeu! É ingénuo da minha parte, mas quem sabe não salve alguém...

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  2. O Carcará me lembra um pouco o Seijuro do Lanthys (O indomável). Claro que aqui é diferente, pois está envolto numa trama de terror intensa. Mas, ele tem a mesma postura do Indomável em não tolerar desatinos e injustiças.

    Depois, se puder, leia Indomável!

    É bom demais ler os seus textos, Jeremias!

    Parabéns.

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  3. Obrigado... O apoio e vocês tem me ajudado muito.... Vou ler o indomável assim que terminar o Red...(Que aliás é muito 10)

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  4. Uma excelente introdução a um arco que promete.
    Não há nada que gere mais torcida, imersão e engajamento, do que o momento em que o protagonista vai proteger uma criança.
    O texto foi muito bem escrito, ajudou demais a aprofundar o personagem principal.
    Achei tbm muito bem sacado colocar o Cristovão e o Carcará numa tréguas pelas crianças.
    Mandou bem demais!

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  5. Obrigado, o negócio agora é caprichar no restante da história....

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  6. Mandou bem demais, a história quando envolve criança, já te puxa demais para um lado mais destrutivo, tu consegue quase que sentir a raiva que o Cristóvão e o Carcará sentem e cara, é um claro sinal da imersão no texto que tu consegue fazer... Mas além do texto, além do episódio, pesquei no tua resposta ao Jirayrider, algo que acho válido comentar... Mesmo tu acreditando que teu texto possa não ajudar a muitos, tu toca no íntimo de quem já defende as crianças, desperta em quem por ventura não tenha pensado nessa situação ainda o mesmo dever de justiça e proteção e por mais que de repente esse texto se limitasse somente ao blog, cada um dos que leu aqui, fica com isso em si, e se sente cada vez mais impelido a ajudar e proteger nossas crianças, tenha certeza disso! Saiba que externar as coisas que nos magoam, além de nos fazer bem para o emocional, sempre de alguma maneira, por menor que seja, ajuda a quem precisa, já dizia Luther King, não me assusta o grito dos maus, mas sim o silêncio dos bons, e tu não fez silêncio, além da indignação natural, ressaltou e frisou pra todos nós a importância que devemos ter com nossas crianças! Parabéns meu amigo, tanto pelo texto quanto pela atitude, tem meu respeito por isso!! \0/

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