Crônicas de Amizade Estelar - Spin-offs Especiais - Capítulo 09

 

 

09 - O rigoroso treinamento de Hikaru e as perguntas sem respostas.

Escrito em parceria com o TreinadorPokemon

 

Já era quase meio-dia.

Gritos de vozes femininas em combate se ouviam num espaço aberto, repleto de uma relva muito bem aparada...

Era uma espécie de campo para treinamentos de propriedade dos Defensores.

Saltos de ataque e defesa (os chamados saltos evasivos), chutes, cambalhotas, rolamentos laterais de corpo, simulações de golpes corporais e com espadas e adagas...

Táticas defensivas e ofensivas de ataques...

Sob um Sol escaldante, nenhuma das quatro guerreiras queria dar o braço a torcer, embora o cansaço e alguns hematomas começassem a aparecer, dando mostra da intensidade e da seriedade com que as quatro guerreiras encaravam aquele treinamento.

De longe, com exceção de Tsurugi e Shirou (que estavam atendendo questões burocráticas da Organização dos Defensores), quatro rapazes, guerreiros de ambos os Esquadrões, as observavam...

Como não poderia deixar de ser, Hayate dizia, penteando o seu topete e fazendo pose de galã:

-Elas são lindas, não acham?

-Já pensou se existisse um Hayate para cada uma?

Oozora lhe dá uma reprimenda, porém com ele próprio rindo, os demais acabam rindo também da situação, concordando com ele:

-Deixa de ser fominha, Hayate!

-Nós também admiramos a beleza delas!

-A única diferença é que não somos tão safados como você!

-Não é à toa que você vive apanhando da Mai e levando bronca da Sayaka...

Sem se importar, Hayate, de modo jocoso, diz:

-Eu não me importaria de apanhar da delícia da Jun, ou da fofura da Hikaru, desde que elas deem bola para mim...

-Venham pro papai Hayate!

Ryuuta resmunga, ainda que de modo bem-humorado:

-Elas são muito difíceis, meu amigo... Eu e o Shingo sofremos nas mãos delas também... não é, Shingo?

O guerreiro verde concorda, dizendo:

-Pois é...

-Elas respeitam o Shirou, porque ele é o líder...

-Mas é certo que elas não aceitam desaforo de homem algum...

Entre risos e piadas, eles permanecem no local, admirando aquele cenário.

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O treinamento estava tão intenso que teve até sessão de tiro, onde elas eram alvejadas por balas de borrachas e tinham que correr e se desviar das mesmas.

Os soldados destacados para essa sessão foram orientados a atirar no chão próximo a elas, sem atingi-las diretamente, porém forçando-as a ficar sempre em movimento, para não virarem alvo de novos disparos.

Entretanto, a instrutora designada do treinamento, Mai Tsubasa, não mostrava leniência alguma com as instruídas:

-Vamos!!

-Mais rápido!!

-Mais energia!!

-Olha a postura!!

-Deixa de moleza!!

-Levanta!!

Eram palavras repetidas à exaustão por uma instrutora para lá de durona e brava...

Sayaka Nagisa já conhecia de cor e salteado a amiga... já estava acostumada...

Embora seu temperamento fosse o de uma mulher delicada e centrada, ela sabia que esses treinamentos planejados pela Mai seriam puxados...

Mesmo assim, e para irritação de Mai, em alguns momentos Sayaka chegava a compará-la ao Sargento Ibuki, chamando-a de “Sargenta”, o que, vez por outra, era motivo de uma certa celeuma entre as duas...

Nada de grave, diga-se de passagem...

Mas, o suficiente para tirar a guerreira rosada do sério.

Jun Yabuki, acostumada à disciplina e à concentração exigidas nas competições esportivas de alta performance e precisão como o arco e flecha, também não se deu por rogada e mostrava toda a sua garra e determinação.

Hikaru Katsuragi, por outro lado, sofria...

Ainda mais porque o foco do treinamento era justamente ela...

Ela apanhou bastante.

Era notório o quanto sua performance física destoava das demais.

Sempre vaidosa, dessa vez essa característica de sua personalidade teve que ficar relegada para um outro momento...

Não naquele...

Não cabia ali...

Com os cabelos desarrumados, o rosto sujo e com alguns hematomas, ouvindo esporros da Mai (e até mesmo da Jun em algumas ocasiões), a representante rosa dos Bioman, no entanto, não estava disposta a recuar!

Ela aguentou aquelas cobranças, por vezes exageradas, com resignação e determinação, fazendo-se de surda para não perder o foco.

Até Sayaka a cobrava por vezes, embora de um modo muito menos intenso.

Mas Hikaru não se deixava desanimar com aquilo...

Mesmo que, eventualmente, alguns hematomas começassem a aparecer, dando mostra da intensidade e da seriedade com que as quatro guerreiras encaravam.

Ela queria estar à altura das três colegas...

Ela não queria mais ser um estorvo em combate para os demais...

Para ela, isso é o que o importava!

Essa atitude, com o passar das horas, fez com que Mai passasse a admirá-la.

Dar o braço a torcer não era o seu forte, e Mai nunca foi do tipo de ficar “rasgando seda” para ninguém...

Mas, internamente, estava orgulhosa.

Ao perceber que Hikaru chegara ao limite, mesmo não querendo desistir, ela finalmente encerra a sessão.

Sayaka e Jun imediatamente se jogam ao chão, ofegantes...

Estavam mortas de cansaço...

Por outro lado, Hikaru, apesar de extenuada, estava feliz...

Ela esperava, senão um elogio por parte da Mai, um apontamento que fosse...

Porém, nada ouviu.

De costas para ela, Mai disfarçava um sorriso...

Em sua mente, ela silenciosamente pondera:

“Não espere por elogios da minha parte, Hikaru...”

“Não faço isso para ninguém...”

“Mas..., você mandou muito bem!”

Um pouco frustrada com o silêncio de sua “mestra”, Hikaru diz, fazendo um gesto de reverência marcial:

-Perdoe-me se a decepcionei!

-Eu sinto muito!

Mai vira o rosto para ela e diz, de modo enigmático:

-Não sinta, Hikaru!!

-Você deu um grande passo hoje, mas pode e deve melhorar...

Surpreendendo Jun e Hikaru, Sayaka diz:

-Ora, ora... Mai!

-Essa é a sua nova maneira de dizer que a Hikaru foi bem?

-Conhecendo você como só eu conheço, isso é um grande avanço!

Ao falar dessa maneira, Jun e Hikaru entenderam que o objetivo naquele dia foi cumprido. E Hikaru sorri aliviada, pois Sayaka sinalizara que Mai a aprovou, e isso era importante para ela.

Para surpresa delas, no entanto, a (quase) sempre invocada Mai ignora a estocada de Sayaka...

Ao invés de esbravejar de volta, a guerreira rosa dos Changeman estava quieta, lançando um olhar perdido para o céu azul e ensolarado...

Parecia distante...

E estava...

Uma profunda tristeza, unida a uma revolta interna, a tomava naquele instante...

Seus pensamentos se dirigem à sua prima, no distante Planeta Flash...

Lú, a Pink Flash...

-Novos treinamentos virão...

-Espero um dia treinar com você..., Lú...

Nesse instante, numa rara demonstração de suas emoções, ela grita em direção ao horizonte:

-LÚ!!!

-VOLTE LOGO PARA A TERRA!!!

-VOLTE PARA CASA!!!

Cerrando os punhos, Mai faz um juramento:

-Maldito Mess!

-Vão me pagar por todo o sofrimento que causaram...

-Eu juro! (*01)

Mai deixa escapar algumas lágrimas.

As outras três guerreiras, como se sentindo a dor de Mai, imediatamente mudam o semblante...

Sobretudo Jun, que, assim como Mai, passava pela mesma situação em sua família...

Estar longe de seu irmão Norio, o nome original de Dan, o Green Flash, era algo difícil de ser assimilado.

Tal como Mai, Jun cerra os punhos.

Era nítida e indisfarçável a revolta que ambas sentiam por terem suas vidas, desde a tenra infância, modificadas daquele jeito...

Os traumas estavam ali ...

Manifestos...

Por mais fortes e resilientes que fossem, às vezes, em certos momentos, era difícil segurar o que sentiam...

Jun, também emocionada, se dirige a Mai:

-Mai...

-Você não está sozinha!

-Eu sinto a mesma coisa que você!

-Quero muito abraçar meu irmão!

-Enquanto esse dia não chegar, prometo lutar com toda a força da minha alma para destruir La Kéferus e o Império Neo Mess!

-Juntos, os Changeman e os Bioman trarão nossos queridos familiares de volta!

-Eu juro, também!!

Irmanada pela mesma dor, as duas deixam os convencionalismos de lado e se abraçam.

Sayaka e Hikaru se aproximam de suas amigas e colocam suas mãos sobre seus ombros, num gesto de solidariedade e apoio...

As quatro guerreiras se olham com firmeza, demonstrando sua determinação em cumprir aquele juramento.

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De longe, os quatro rapazes não ficam imunes às emoções daquela cena.

Hayate, Oozora, Shingo e Ryuuta também ficam sérios.

Shingo diz:

-Não deve ser fácil para elas...

-E mesmo assim, elas seguem de pé...

Os três concordam com a cabeça...

xxxxxxxx

No final daquela tarde, com a presença do casal Tokimura, tem-se início uma importante reunião na base dos Defensores do Planeta Terra.

Por videoconferência, também participava alguém muito importante...

Sanjuurou Sugata.

A convite de Tsurugi, e por intermediação de Hikaru, pela primeira vez o fundador e mentor dos Maskman participaria de uma reunião oficial dos Defensores...

Dessa forma, oficializava-se também a aliança cooperativa entre os quatro Super Esquadrões.

Vários assuntos estariam na pauta...

O momento era delicado e crítico.

Entre os assuntos abordados, o estranho silêncio de La Kéferus e de Neo Mess...

Já se passavam 20 dias desde o último ataque e nenhum sinal.

Nada...

“Por que pararam?”

“Quais eram as pretensões de La Kéferus?”

“Por que aquele silêncio enigmático se Kéferus era tão poderoso?”

Era a pergunta natural e intrigante que todos se faziam...

O problema era justamente encontrar as respostas.

Além disso, havia outros complicadores...

Próximo à órbita da Terra, os satélites de vigilância dos Defensores detectaram a presença da grande nave do Império Neo Mess, o reconstruído Cruzador Imperial Mess.

Sem a Base Shuttle e a Bio Dragon, a atual estrutura dos Defensores não permitiria um confronto no espaço, como seria o ideal. E a Round Base, sem a nave Star Condor, não tinha mobilidade suficiente para tal.

Até que as duas primeiras naves (que naquele momento estavam a caminho do Planeta Terra) estivessem em poderio dos dois Esquadrões, um ataque não poderia ser planejado.

Esse, aliás, era outro ponto de extrema preocupação dos guerreiros...

Certamente com a chegada dessas naves, a nave inimiga poderia atacá-las, o que poderia comprometer quaisquer iniciativas de reação.

Em último caso, a estrutura dos Maskman ficaria à disposição para auxiliar na defesa.

De bom grado, Sugata se dispôs a colaborar, apesar de que os ataques cada vez mais constantes do Império Subterrâneo Tube seriam um empecilho.

A estratégia de dividir as ações permaneceria, apesar dos riscos.

Dois impérios, três Esquadrões!

A aparente vantagem, contudo, revelava-se superficial, demonstrando claramente que as coisas seriam mais difíceis do que inicialmente previstas.

Enquanto os Maskman combatiam Tube, o Império Neo Mess ficaria a cargo dos Changeman e dos Bioman.

Nesse contexto, algumas questões foram levantadas pelos presentes...

Uma dúvida compartilhada entre todos ali reunidos era o fato de que, se Mess fora derrotado pelos Flashman há aproximadamente uns três meses antes, como a nave desse império surgia assim do nada?

Reconstruída e plenamente funcional...?

E o exército de Zumbi-Zollos, além de Néfer, Wandar, Urk e Kirt? Onde se esconderam esse tempo todo?

De onde Kéferus tirou os recursos necessários para refazer todo o exército e o aparato bélico de Neo Mess?

Ainda que não soubessem a resposta definitiva, Sugata e Tokimura tinham algumas teorias...

As evidências mostravam que, diferente da ação dos impérios Gozma e Neo Gear, que atuaram de modo isolado, parecia haver, dessa vez, uma ação sincronizada em execução...

Kéferus e Zeba, líder supremo do Império Tube, provavelmente estavam colaborando um com o outro, ainda que de modo não explícito.

Uma evidência disso seria a existência de um monstro específico de Tube...

-Monstro Elétrico Okelamp (*02)? – pergunta Tsurugi, intrigado.

-Sim... – responde Sugata.

-É um monstro de Tube que tem a capacidade de transformar os demais Monstros Subterrâneos em gigantes...

Tal descrição faz os Changeman se lembrarem imediatamente do alienígena Gyodai, antes um escravo de Gozma, e agora liberto.

Sugata prossegue:

-Até onde sei, nada apontava que Tube, ou qualquer outro grupo na Terra, possuía tal capacidade...

-Se não, Tube já teria feito uso de tal poder há muito tempo, considerando o quão antiga essa civilização é.

-Entretanto, considerando o que o Doutor Tokimura me contou sobre o monstro Medusan, que possuía a mesma habilidade, e que Okelamp se revelou pouco tempo após a derrota de Mess...

-Não imagino ser mera coincidência.

Os Changeman, os Bioman e o casal Tokimura se lembram da célebre frase de Lorde Titã:

“Não existem coincidências no universo.”

Tal frase valia tanto para o lado da luz quanto para o lado das trevas...

Se Tube ajudou Kéferus a reconstruir sua nave e seu exército, seria bem capaz de Kéferus, em troca, ter repassado conhecimentos e tecnologias de outros planetas para Tube, dentre as quais a habilidade de transformar instantaneamente seus monstros em gigantes.

Esta cooperação entre os dois impérios malignos era uma possibilidade bastante assustadora...

Afinal, quem poderia imaginar, para quais outros fins nefastos Neo Mess e Tube poderiam estar unindo seus esforços naquele instante?

As perguntas que todos faziam desaguavam numa mesma foz, numa mesma questão...

“Com que objetivo se efetuaria essa suposta união?”

“Quais os interesses em comum?”

Isso não era algo normalmente observável nas forças do mal, historicamente tão centradas em seus próprios objetivos, que se recusavam a cooperar entre si.

Essa inconsistência intrigava todos os presentes...

Em especial uma pessoa...

Sayaka Nagisa.

De uma hora para outra, ela emudeceu, transpirando em profusão...

Em sua mente, surgiam uma sequência de imagens difusas...

Estranhas...

Ela jurava que era coisa da cabeça dela, mas as imagens teimavam em se repetir como se fosse um filme que ela já tivesse assistido por diversas vezes ...

Cruzes flamejantes...

Caveiras...

Crianças decapitadas...

Um monstro bizarro...

Uma ave flamejante...

Um robô gigante diferente de todos que já viu...

E um guerreiro...

Um guerreiro de armadura metálica prateada e espada brilhante...

Ela não sabia ao certo, mas algo muito forte dentro dela lhe dizia que outros impérios existentes por esse universo afora já se uniram em outras ocasiões, assim como os heróis.

Se agora os Bioman eram os seus aliados, intuitivamente ela tinha certeza de que já lutara ao lado de um outro herói.

Mas, quem?

O sentimento de inexplicável “déjà vú” tomou conta do seu ser:

“Eu já vivenciei isso...”

“Essa sensação...”

“Uma união de Impérios do Mal...”

Os pensamentos de Sayaka são interrompidos pela voz de Tsurugi:

-Sayaka...

-Sayaka...

-Sayaka! Está tudo bem?

-Você me parece longe...

-Está estranha...

Como que despertasse de um sonho, Sayaka nota que todos estavam olhando para ela e, constrangida, diz:

-Me desculpem...

-Não é nada...

Ela não queria preocupar os demais com algo que poderia ser só maluquice dela.

Mas Tsurugi já conhecia bem sua companheira e, sabendo que havia algo errado com ela, insiste:

-Sayaka...

-Não precisa ter receio de nos contar nada...

-Notei que você tem tido episódios de lapsos de atenção ultimamente...

-Poderia ser simplesmente cansaço do treinamento da Mai...

Nesse momento, a guerreira rosa dos Changeman olha para sua amiga com apreensão, preocupada que seu treinamento possa ter-lhe causado alguma sequela.

-Mas esses episódios são bem anteriores ao treinamento...

-Na verdade, creio que você vem os tendo desde antes de nossa vitória contra Gozma...

-Então, Sayaka, se você precisar de algo...

-De uma licença médica temporária, por exemplo, eu posso muito bem...

Imediatamente, Sayaka interrompe Tsurugi:

-Não! Não é isso, Tsurugi!

-É que...,

O recinto fica em silêncio com a reação inesperada de Sayaka, que percebe que todos a olhavam, estarrecidos.

E se tinha uma coisa que Sayaka não gostava, é de causar preocupação em outras pessoas.

Hesitando muito, como quem medisse cada palavra, ela decide abrir o jogo:

-Eu tenho tido, ultimamente... algumas visões estranhas...

-Eu...

-Eu...

-Tive uma estranha sensação... de que algo parecido com essa ação conjunta de Neo Mess e Tube, de alguma forma, já ocorreu antes...

-Os agentes envolvidos podem não ter sido os mesmos...

-Mas, uma união de Impérios do mal... não é a primeira vez que ocorre...

-Eu não sei por que... mas, eu tenho essa certeza...

-Creio que exista algo por trás, que talvez desconheçamos...

-Alguma força misteriosa...

-Oculta...

A fala enigmática de Sayaka surpreende a todos, que a observam de modo desconfiado, ou até mesmo confusos.

Parecia que Sayaka havia vivido algo terrível, desconhecido dos demais. Mas isso seria impossível, pois desde que entraram para a organização dos Defensores, tudo que enfrentaram, o fizeram juntos.

Aquelas falas enigmáticas não faziam sentido.

Principalmente para os demais integrantes dos Changeman, que não possuíam lembrança alguma de que algo do tipo tenha acontecido.

Na mente deles, só existiu a luta contra Bazoo e Gozma.

Luta muito difícil, por sinal, e que envolveu muitos sacrifícios.

O mesmo se podia dizer em relação aos Bioman e sua luta contra o Doutor Man e as forças do Império Neo Gear que, inclusive, foi o responsável pela morte de uma das integrantes da equipe, Mika Koizumi, a primeira Yellow Four.

Entre os integrantes dos Bioman também não havia lembrança de nenhuma união de Impérios do mal.

Sayaka, percebendo a confusão dos demais com suas falas, falando de coisas que, por algum motivo ou razão, só ela julgava terem acontecido, faz questão de desconversar, mudando o rumo da conversa...

-Mas deixemos minhas ilações de lado...

-Devo estar estressada...

-Independente do que falei ter ocorrido ou não, isso não é a prioridade no momento...

-Retomemos o foco...

-Uma ação coordenada de agentes do mal é algo novo e temos que dar as respostas adequadas...

-Se há algum jogo de poder em questão, cabe a nós agirmos estrategicamente também...

Tsurugi, percebendo o desconforto de Sayaka, e concordando que havia questões mais urgentes a resolver no momento, decide não insistir mais naquele assunto por ora e toma a frente, corroborando os argumentos de sua companheira de equipe.

Shirou Goh o acompanha e prossegue com a reunião, trazendo para discussão uma outra questão prioritária...

Questão esta que, no seu entender, era a mais delicada de todas...

A visita que Mai, Jun e Hikaru fizeram à mãe de um dos dois Flashman restantes.

Diante da conversa que as três guerreiras tiveram com a senhora Ohana Asuka, apesar de ter sido significativa e intensa, ficou constatado que não houve avanços concretos justamente na questão crucial...

As memórias da noite do rapto, mais de vinte anos atrás.

Ryu Asuka, o suposto irmão do Flashman em questão, era ex-discípulo de Sugata e o único membro da família Asuka que se lembrava daquela noite, porém propositalmente se mantinha afastado de tudo e de todos...

Viajando mundo afora com a sua moto, vivendo como um errante sem destino...

Encontrá-lo, por si só, já seria uma missão complicada...

Ficava claro que, na verdade, ele não queria ser encontrado...

Isso só serviria para agravar a situação...

Os pais de Ryu, ao terem suas memórias apagadas, não sabiam, ou sequer suspeitavam da existência de um outro filho, raptado por Caçadores Espaciais.

Diante desse cenário, qual decisão tomar?

O Flashman diretamente envolvido nessa questão, lá no Planeta Flash, também não tinha conhecimento de que sua família fora localizada.

Seria melhor contar a verdade para ele, ou aguardar mais um pouco?

Essa era a pergunta que não queria se calar. Não se chegava a um consenso sobre a resposta.

---

Sugata contribui para a reunião, contando um pouco sobre sua história com Ryu Asuka...

Segundo Sugata, ele conheceu Ryu quando ele ainda era adolescente...

Era um garoto quieto e solitário, mas que guardava um grande senso de justiça e determinação dentro de si.

Em determinada ocasião, Sugata avistou Ryu enfrentando um grupo de garotos mais velhos que zombavam dele, chamando-o de mentiroso.

Apesar de estar em clara desvantagem numérica e de idade, Ryu lutou sem desistir, não importando que estivesse claramente perdendo. No final, Sugata precisou intervir e espantou os agressores.

Ao ajudar Ryu, que estava bastante machucado, Sugata percebeu um enorme potencial no Poder Aura dentro do garoto...

Ao perguntar o que motivava Ryu a lutar, ele responde que perdera um irmão anos antes, e que queria se tornar mais forte, para que ninguém mais precisasse passar pelo que ele passou...

Satisfeito com a resposta, Sugata então convidou Ryu para treinar em seu dojo, o que foi prontamente aceito pelo garoto.

Por anos, Sugata treinou Ryu, ajudando-o a se desenvolver física, mental e espiritualmente, condições necessárias para que o Poder Aura pudesse se manifestar no garoto e ser usado na defesa da Terra.

Com o treinamento, Ryu não apenas se tornou mais forte como desejava, como também melhorou sua autoestima. Tornara-se uma pessoa mais engajada e alegre, e chegou até a engatar um namoro com uma jovem que conhecera, chamada Yuuko.

Infelizmente, a relação entre Ryu e Yuuko terminou de forma trágica, com a morte da garota nas mãos de Tube. Tal incidente desfez todo o progresso de Ryu, e ele acabou por abandonar o Projeto Maskman, mais uma vez entrando numa espiral de depressão e apatia.

Pelo nível alcançado por seu ex-discípulo, Sugata revela que ainda nutria esperanças de tê-lo de volta na equipe. Nesse sentido, portanto, também interessava a ele encontrá-lo.

Na última conversa entre os dois, quando Ryu pediu o contato do Dr. Tokimura, Sugata não tinha a noção do que se tratava. Se soubesse, a conversa, que foi rápida e protocolar, certamente ocorreria em outros termos.

Mai, Jun e Hikaru se entreolham após o breve relato de Sugata...

Tudo o que ele narrou corroborava o que haviam ouvido da senhora Ohana, mãe de Ryu, dias atrás.

Hikaru, em particular, já estava mais familiarizada com aquela história, pois ela própria chegou a fazer parte da equipe de suporte do Projeto Maskman.

Entretanto, havia uma parte da história que Sugata não havia contado para ninguém ainda, nem para Hikaru, nem para os próprios Maskman...

Ryu Asuka não apenas fora seu discípulo e parte do Projeto Maskman...

Ele próprio chegou a se tornar um Maskman: o Mask X-1.

Em matéria de poder e capacidade de manipular o Poder Aura, Ryu em nada perdia aos atuais Maskman. Tanto que, no desenho original do Projeto Maskman, o Mask X-1 era planejado para ser o único Maskman...

Foi somente depois da saída de Ryu que Sugata decidiu transformar os Maskman em um quinteto, de forma a mitigar o impacto de possíveis desistências, ou até a morte de um dos integrantes, no projeto.

Mas, como dito, Sugata não revelara esta parte da história a ninguém. Somente a sua leal assistente, a Doutora Higashi, estava ciente disso e mantinha segredo.

Havia duas razões para a manutenção de todo esse segredo...

A primeira era que Sugata considerava que tal revelação poderia tirar o foco dos atuais Maskman da batalha contra Tube...

Afinal, o grupo já sofria com a angústia do seu líder Red, Takeru Kaizu  pela perda de sua namorada, Miho, também raptada por Tube e presumida morta. Se soubessem que tal tragédia já acontecera antes, Sugata temia que Takeru poderia perder sua motivação igual a Ryu.

A segunda razão era pela própria segurança de Ryu e da família Asuka...

Era óbvio que Tube havia assassinado Yuuko com o objetivo de desmotivar Ryu e fazê-lo desistir do Projeto Maskman. Porém, mesmo longe do projeto, ele ainda mantinha seus plenos poderes como o Maskman X-1. Caso Tube considerasse que Ryu ainda pudesse ser um obstáculo a seus planos, eles poderiam ameaçar os pais do rapaz, como uma espécie de “segundo aviso”.

Portanto, Sugata propositalmente omite esta parte da história de Ryu na reunião.

Nesse instante, Shirou reforça seu argumento, dizendo:

-Devemos aproveitar esse momento de relativa tranquilidade e tentarmos descobrir um meio de fazer com que os pais do... (ele menciona o nome do Flashman em questão), pelo menos, se disponham a conversar conosco...

-Talvez não tenhamos outra oportunidade...

-Quando Kéferus e Neo Mess retomarem suas ofensivas, será mais difícil ainda...

Após uma pausa, Shirou prossegue:

-Comunicarmos ao... (mais uma vez, o Flashman em questão é mencionado), diante de toda dessa incerteza, não me parece razoável...

-Dias atrás, eu cheguei a concordar com você, Comandante Tsurugi...

-Que os Flashman tinham o direito de saber dessa descoberta...

-Nesse instante, porém, sou obrigado a concordar com a Sayaka, por mais que nós aqui, e nossos amigos lá no Planeta Flash, tenhamos que, em algum momento, encarar essa situação de frente...

Tsurugi se vê diante de um impasse...

Falar ou não falar ao envolvido em questão?

Em sua visão, por pior que fosse, fugir ou poupar alguém da verdade só prolongaria o problema.

Contudo, ele não poderia deixar de considerar os argumentos de Sayaka, corroborados agora por Shirou Goh, o Red One, líder dos Bioman.

Ele resolveu se colocar no lugar do referido integrante dos Flashman.

E se fosse com ele?

Como reagiria, estando em um planeta longínquo, sem poder retornar à Terra devido a uma terrível e debilitante doença, e ainda saber que tem familiares que, além de não se lembrar de sua existência (no caso dos pais), o único que se lembra (no caso do irmão), o rejeita?

Ao fazer esse exercício de empatia, Tsurugi, por mais convicto que fosse, e por mais razão que tivesse, compreende que mesmo ele, em uma situação análoga, ficaria fortemente abalado.

Era uma triste situação, com poucas alternativas e muitas perdas.

Tentando encontrar uma saída, ele se levanta de sua cadeira e caminha de um lado para o outro, sua mente furiosamente ponderando as opções, até que ele ouve uma voz naquela reunião...

-Comandante...,

-Se me permite uma palavra...

Ao lançar seu olhar à pessoa que o interpelara, ele percebe ser a senhora Setsuko Tokimura.

Novamente ela!

Ela, que tanto já ajudara com a questão da Jun e sua mãe Yukari.

Olhando firmemente em seus olhos, ele diz:

-Senhora Setsuko... não me diga que...?

Fazendo um sinal com a cabeça, a senhora Setsuko diz:

-Eu não tenho poderes para lutar como vocês, mas eu tenho amor...

-Muito amor...

-E um desejo em minha alma de mãe...

-Pela Sara, minha filha... por todos os Flashman, que eu amo como se fossem meus filhos também... e por todos vocês, eu me comprometo a conversar com a senhora Ohana...

-Eu própria cheguei a conhecê-la brevemente na época em que morávamos próximo a ela e seu marido...

-Embora, admito que isso foi há muitos anos e ela não deve se lembrar de mim...

-Mas, conheci muito bem o Ryu...

-Ainda que meu convívio com ele tenha sido por pouco tempo, lembro-me bem de quando ele era uma criança... e ia até em casa, na esperança de ajudar o meu marido na construção da máquina do tempo...

-Mal poderíamos imaginar que ele..., aquele menino prestativo e curioso... é o irmão de uma pessoa muito especial...

-Meu esposo e eu temos memórias muito queridas daquela época...

O Doutor Tokimura olha para sua esposa com carinho e orgulho.

Outra que não continha a emoção era Jun.

Afinal, considerando tudo o que a senhora Setsuko fez pela sua mãe e seu irmão, ela era quem melhor entendia toda aquela situação.

Olhando pra Jun, que sorri em apoio, Setsuko prossegue:

-Para um melhor resultado, eu me proponho a ir até a residência da senhora Ohana, junto com a Jun, a Hikaru e a Mai...

-Assim como a senhora Yukari, creio que a presença de uma mãe que viveu o mesmo drama que ela pode ajudar...

-Se conseguirmos que ela aceite vir aqui, e conversar com o filho que ela não sabe que tem, já teremos cumprido o nosso papel...

-Eu creio, do fundo do meu coração, que assim como aconteceu comigo e também com a senhora Yukari, o sexto sentido de mãe falará mais alto e ela o reconhecerá como filho...

-O “não” já temos...

Jun abaixa a cabeça, emocionada...

Após a descoberta da existência de seu outro filho, sua própria mãe Yukari mudara significativamente...

Estava mais receptiva, gentil... bem diferente daquela Yukari dura e altiva.

Aquela transformação repentina de sua mãe mexera com Jun, dando-lhe mais motivação e confiança para prosseguir em sua jornada.

Tsurugi, mais contido, não deixa de analisar o cenário e também de se emocionar, mesmo que internamente.

Rapidamente, ele observa a todos ali, constatando que aquele gesto, de modo unânime, renovara as esperanças de todos...

A senhora Setsuko constituía-se num porto seguro para todos ali.

A credibilidade e o respeito que ela adquiria a cada dia, era um fator que não passava mais despercebido...

A senhora Setsuko se tornara, de um modo peculiar, uma líder.

Se anteriormente, o modelo de liderança que Tsurugi tinha em mente, mesmo com muitas discordâncias, era do Sargento Ibuki, agora ele se via diante de um novo modelo...

O modelo maternal, porém decidido, da senhora Setsuko...

Um modelo pautado pela empatia, solidariedade e tolerância...

Era como se ela fosse um pouco a mãe de todos ali...

E ela tinha consciência desse papel, e o executava com dedicação e desenvoltura.

Tsurugi, tão impactado que fora com aquela nova visão de liderança, passou a assimilar aqueles conceitos e, unindo-os aos que aprendera, se tornaria um líder diferenciado e único num futuro distante...

Mas, essa é uma outra história e será contada no seu devido tempo...

Voltando à reunião, ele sorri para a senhora Setsuko, aprovando sua solicitação:

-Senhora Setsuko...

-O meu muito obrigado por suas palavras!

-Diz a sabedoria popular que “quem ouve mais, erra menos”...

-Um líder para ter sucesso, necessita ouvir...

-Confesso aqui, que estava meio sem direção quanto a essa questão tão delicada...

-A senhora me apresentou um novo olhar, me dando o rumo certo a seguir...

-Creio que, com o seu apoio, teremos os avanços necessários e que tanto precisamos para a resolução dessa questão...

-Conto com você!

A senhora Setsuko é aplaudida por todos os presentes.

Encabulada, ela agradece o apoio.

A reunião termina.

As duas equipes se dispersam...

Todos se recolhem...

Menos Sayaka...

Aqueles lapsos de memória a deixavam inquieta.

Tsurugi, preocupado, pergunta se está tudo bem com ela, e ela desconversa...

Apesar da preocupação com a sua companheira, ele decide não insistir dessa vez...

Não queria pressioná-la numa questão que ela própria ainda estava tentando compreender, pois só a deixaria mais ansiosa...

No tempo dela, certamente ela o procuraria para conversar sobre o que tanto a atormentava.

Já sozinha na sala de reunião, Sayaka acessa o seu computador e faz uma busca sobre o hipotético guerreiro de suas visões...

Após alguma pesquisa, ela consegue identificar um guerreiro cuja fisionomia era bem semelhante ao de suas visões...

Ela logo disse para si mesma:

-Hmm... Jaspion...

-Segundo esses artigos, ele atuou praticamente na mesma época em que lutamos contra Gozma...

-Eu não cheguei a conhecê-lo pessoalmente, mas por que sinto que já lutei ao seu lado?

-Estou enlouquecendo?

-Esse guerreiro sumiu de uma hora para outra...

-Supõe-se que ele deva ter deixado a Terra, igual aos Flashman...

-Eu acho que a vontade de tê-lo conhecido me fez delirar desse jeito...

-Deve ser bobagem minha...

Desse modo, muitas questões ficaram em aberto, mas pelo menos um novo rumo se visualizava...

E quanto a Sayaka? O que seriam aqueles lapsos de memória?

O que teria acontecido?

Os leitores de “O Grande Encontro” (*03) já tem a resposta...

E, assim, mais um dia termina...

 

 

Notas

(*01) Tocar nesse momento a BGM instrumental Yuuhi no Requiem - Música 2 e Música 3)

https://youtu.be/yfa9WUt55ZE

 (*02) O monstro “agigantador” na série Maskman, assim como Gyodai e Medusan o foram em Changeman e Flashman, respectivamente.

(*03) Menção a obra “Jaspion e Changeman em: O Grande Encontro” escrita em pareceria com o TreinadorPokemon.