Caçador Escarlate.
Episódio #01.
Punhos de prata.
A armadura metálica se dividia entre o líquido escarlate, que ainda caía do céu escuro, e as cinzas dos vampiros mortos, que insistiam em se grudar por todo o corpo do guerreiro robótico.
— Deixe-os em paz, se retire e viverá. Do contrário, terá o mesmo destino que sua companheira.
— Quantas vezes você fez essa oferta à minha espécie? Quantas vezes algum dos meus irmãos aceitou? Pergunta retórica, claro, nós somos os senhores desse mundo, um mundo que, um dia, será nosso por completo e não é um reles robô que fará alguma diferença.
Metalder apenas cerrou os punhos, em resposta às bravatas do vampiro mestre à sua frente, ele sabia, no fundo de sua I.A., o quão raro era encontrar um dos algozes da humanidade que agisse com prudência.
Por isso, em vez de se render, o Mestre esticou as duas mãos de unhas transformadas em garras na direção do robô, o que serviu de ordem para que seus Rastejantes se lançassem ao ataque.
Além dos poucos que haviam sobrado ao lado do vampiro, diversos outros saíram de onde haviam permanecido escondidos, de becos e bueiros ao redor do robô, que permanecia sem esboçar reação.
Os servos vampiros urravam de dor, conforme suas garras e presas se destroçavam ao entrar em contato com o corpo metálico, também recoberto por prata, numa cacofonia de dor, medo e ódio, uma vez que, tendo recebido uma ordem de seu mestre, não podiam interromper o ataque de maneira nenhuma.
Pouco a pouco os Rastejantes foram se amontoando sobre o recém-chegado, deixando o casal apreensivo, sem saber se as lendas urbanas que ouviram a pouco tempo, sobre um robô indestrutível caçador de vampiros, era verdade ou não.
Repentinamente do céu eternamente escuro, descerem vários relâmpagos, que fritaram alguns Rastejantes, conforme pareciam procurar por algo dentro do amontoado de monstros.
— Punho Titânico!
No instante seguinte foi como se uma explosão ocorresse, lançando os vampiros pelo ar e para todas as direções, todos se desfazendo em nuvens de cinzas que iam se espalhando pela noite.
— Maldito seja!
Perder seus Rastejantes foi um golpe ainda mais forte do que quando sua companheira se dissolveu, uma vez que era relativamente fácil conseguir uma Noiva, mas escravos sem mente estavam cada vez mais raros.
Por isso o Mestre deixou de lado qualquer uma das ilusões de beleza, usadas para atrair suas vítimas, assumindo assim sua versão mais monstruosa, misto de morcego e humano e, assim como seus servos, avançou com garras e presas totalmente à mostra.
A visão de um vampiro em sua forma mais bestial era o suficiente, para fazer o homem mais corajoso acabar por perder o controle de suas funções básicas corporais, mas não era o caso de Metalder.
O robô finalmente saiu de onde permanecera desde que havia chegado àquela rua, avançando contra o monstro, mais uma vez, sem medo ou hesitação.
— Punho Titânico!
Mais uma vez o brado ecoou na noite, agora formando uma espécie de lâmina de energia, que se iniciava do dedo mínimo da mão direita, se estendendo até o cotovelo de Metalder, que ergueu seu braço, conforme as perigosas garras do Mestre seguiam impiedosas na altura de onde deveria estar o coração de seu inimigo.
Para azar do vampiro, entranto, um robô não possui um coração.
Mesmo assim como era infinitamente mais poderoso que os Rastejantes, o Mestre conseguiu arranhar a superfície do peitoral de Metalder que, sem dar o menor sinal de sequer ter sentido o ataque, finalmente desceu seu braço, deixando no ar um rastro luminoso.
O golpe acertou o ombro da criatura, descendo em diagonal, até finalmente parar no meio de seu peito, fazendo com que a energia se espalhasse por todo o corpo do vampiro, que soltou um urro de ódio, quando finalmente percebeu que o fim havia chegado.
No instante seguinte, seguindo o destino de sua companheira e servos, o corpo do Mestre começou a se incendiar, tendo como ponto de partida o ferimento provocado pelo robô.
Logo os Vampiros não passavam de uma amarga e aterrorizante memória para o jovem casal e, quando Metalder se aproximou, seus sensores óticos perceberam o leve tremor involuntário que tanto Rika quanto Satoshi exibiram.
— Se quiserem posso levá-los até um lugar seguro, provavelmente o único em Tó…
A frase foi interrompida quando, pelas costas do robô, um urro inumano foi ouvido, antecipando o ataque de um último Rastejante.
— Maldito robô!
O casal se abraçou por causa do susto, mas Metalder se voltou rapidamente, a tempo de segurar o monstro pelo pescoço, cuja pele logo começou a fumegar.
— Apesar de ser um Rastejante você pode falar… Isso é muito interessante.
Enquanto dizia isso, com sua mão livre, Metalder abriu a boca do vampiro, arrancando-lhe as presas e esfarelando-as em seus dedos.
— Vá. Conte aos demais vampiros sobre o caçador escarlate e diga que os dias da dominação vampírica estão contados.
Assim que foi jogado longe, com uma velocidade absurda, o Rastejante sumiu dentro de um bueiro, deixando Metalder a sós com o casal.
— Estão feridos? Necessitam de algum suporte médico?
— P-Porque?
— Não entendi o questionamento, senhor.
— Porque deixou aquele monstro fugir?
— Porque o Vermelho tem um truque que sempre dá certo.
Rika e Satoshi se assustaram outra vez, quando um homem com um traje furtivo, onde se destacava um grande capacete em forma de cúpula, se aproximou sem que eles tivessem percebido, começando a recolher o que restara das balas de prata que ele tinha usado nos Rastejantes.
— O que meu colega, Top Gunder, quis dizer é que, quando segurei o vampiro pelo pescoço implantei um localizador subcutâneo que, daqui a três dias, me levará até onde for o novo ninho dele.
— Porque três dias?
— É o tempo que leva para as presas de um vampiro crescerem novamente, senhora. Ao fim desse período ele terá encontrado e espalhado sobre mim para vários vampiros, deixando-os supersticiosos e, o principal, com medo, ou seja, suscetíveis a cometer erros.
— E daqui a três dias a gente vai até o ninho onde aquele desgraçado estiver e eliminamos mais um bom tanto desses mordedores.
Após alguns segundos de silêncio, enquanto os sensores óticos de Metalder escaneavam o casal, atrás de qualquer sinal de infecção vampírica, assim que foi comprovado que estavam limpos, a dupla de robôs os acompanhou até um veículo que lembrava uma moderna ambulância, mas quase toda pintada de preto.
— Com veículos dessa cor passamos mais fácil pelas ruas escuras da cidade e se algum mordedor se aproximar dessa belezinha, digamos que os projetores de luz solar fariam um estrago dos grandes neles. Por isso nossas viagens são, relativamente, tranquilas.
Ainda sem acreditar na sorte de estarem vivos, Satoshi e Rika se abraçaram e fizeram o restante do caminho em silêncio, por mais duas horas, até que finalmente o veículo parou.
— Chegamos.
Eles se colocaram entre os bancos da frente, no volante estava Metalder, enquanto Top Gunder permanecia no banco do passageiro com sua arma empunhada, pronta para defendê-los de eventuais ataques que, o casal agradeceu a Deus, não ocorreram daquela vez.
Mas suas preocupações deram lugar a um fio de esperança, ao verem onde estavam.
Como Metalder permanecia sério e sem falar, coube a Top Gunder quebrar o silêncio.
— Bem-vindos ao… Lar.
4 Comentários
Grande Norberto!
ResponderExcluirVocê conseguiu tonalizar o Metalder com uma ação mais visceral , o que é muito bem-vindo!
O Caçador Escarlate se mostra implacável como uma máquina justiceira, sem melindres.
A cena de ação foi muito bem detalhada e é com satisfação que vejo o retorno do Punho Tirânico, muito bem descrito por você.
Muito bom ver o Top Gundrer na ativa também.
Esse episódio me trouxe boas lembranças.
Metalder foi uma série diferenciada!
Muito adulta pra sua época.
O que você está fazendo , é um presente para os fãs, com ima versão atualizada dese inesquecível herói.
Parabéns, por isso.
Muito obrigado pela leitura e comentário.
ExcluirTô puxando de memória ( e com ajuda de amigos) para lembrar de alguns detalhes da série original, mas ao mesmo tempo vou tentando seguir por um caminho próprio.
Apesar de ser um tipo de continuação, tentarei não citar acontecimentos do passado.
Valeu mesmo!
Fico muito feliz em ver que Caçador Escarlate não apenas começou com o episódio zero, mas se desenvolve agora numa saga completa. O episódio de estreia já traz um espetáculo de narrativa visual e técnica, expandindo o universo sombrio que começou na introdução e mostrando que Metalder está aqui para travar uma batalha épica contra as criaturas que assombram a humanidade. A continuação desse enredo prova que você realmente vai explorar o embate entre máquinas e vampiros de uma forma visceral, algo que promete não só ação, mas também profundidade.
ResponderExcluirEsse primeiro episódio, Punhos de Prata, mergulha direto em uma atmosfera de tensão e heroísmo sombrio, deixando uma impressão marcante. A descrição detalhada e poderosa cria um ambiente onde a sobrevivência humana está por um fio, com Metalder coberto por cinzas e líquido escarlate, pronto para uma luta sem tréguas. A construção de Metalder como um robô implacável é magistral, e o uso de falas curtas, somadas aos gestos firmes, transmite a imagem de uma máquina destemida que não recua, mesmo diante de um vampiro-mestre. Isso contrasta brilhantemente com o pavor humano de Rika e Satoshi, reforçando a divisão entre máquina e homem.
A técnica dos ataques nomeados, como o "Punho Titânico", traz aquela energia de tokusatsu que todo fã aprecia. Esse elemento funciona perfeitamente ao conferir um tom clássico e ao mesmo tempo futurista, enquanto a descrição da lâmina de energia projeta a cena de luta como um verdadeiro espetáculo visual. A precisão cirúrgica de Metalder ao eliminar seus inimigos, especialmente ao arrancar as presas do rastejante, reforça seu domínio, enquanto a ameaça vampírica é ilustrada de maneira crua e visceral.
Top Gunder, com sua atitude enigmática e levemente cínica, adiciona um toque de humor discreto. A cena em que ele implanta um localizador no vampiro sobrevivente é engenhosa e cria expectativa para futuros confrontos. A chegada ao "Lar" traz uma calmaria inesperada e revela que, apesar do caos, ainda existe um refúgio seguro — ao menos por enquanto.
Esse começo da saga, continuando do episódio zero, é promissor. Punhos de Prata estabelece um universo detalhado e intrigante, com batalhas bem descritas e personagens instigantes. É uma excelente estreia para uma história que certamente tem tudo para crescer, combinando ação intensa e uma exploração fascinante dos limites entre máquina e humanidade.
Valeu mesmo pela leitura e por mais um comentário tão detalhado.
Excluirtô me esforçando para fazer algo novo com o Metalder, mas que mantenha um pouco do espírito do original, por isso tentei manter o foco na ação e em como a dupla de robôs lida com a ameaça vampírica.
espero que os próximos capítulos agradem!