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Além das Fronteiras - Viagem 7

 

Vamos seguir com a nossa história de viagens no espaço, num hipotético futuro do mundo?

Espero que gostem.


7.O renascimento de um sistema

Dias, meses e até mesmo um ano inteiro se passou desde que a reunião de paz entre os terráqueos e os marcianos se passou. Vários contêineres com alimentos foram enviados aos marcianos depois de os terráqueos criarem estufas de plantio, criação ou sintetização. Enquanto os alimentos não cresciam de acordo, contêineres eram enviados mensalmente, levando em consideração o quanto cada indivíduo comia e o quanto os marcianos estavam dispostos a compartilhar entre si.

Era um processo que levaria muito, muito tempo mesmo, e que não cabia mais, pelo menos por enquanto, aos figurões dos exércitos de cada um dos mundos. Eles haviam recebido o que pediram, a paz, e os dois povos trabalhavam entre si para mantê-la.

Com o tempo, os marcianos foram entendendo como a estrutura terrena de linguagem funcionava, e vice-versa. Os povos já começavam a aprender entre si e conseguir também cooperação. Havia uma vantagem de toda a negociação ter acontecido em terreno neutro, sem que houvesse uma invasão seguida desta mesma negociação. Se os marcianos não tivessem se segurado e tivessem vindo centenas de anos antes, talvez eles não fossem tão bem-sucedidos no processo de paz.

Eduardo e Cintia trabalhavam muito em seu escritório da Aeronáutica Brasileira, aprofundando (e muito) seu relacionamento. Cintia foi galgando rapidamente posições dentro da Corporação, espantando fofocas de que ela só havia crescido dentro dela graças a Eduardo, que tinha uma alta patente.

Porém, em determinado dia, tendo passado cinco anos desde a reunião das negociações de paz, abriu-se um portal dimensional próximo a Plutão. Tanto Marte quanto a Terra souberam quase ao mesmo tempo, prevenindo um possível ataque à área mais interna do sistema solar, já montando, em colaboração, um sistema de prevenção em meio ao Cinturão de Kuiper.

Outra coisa que foi possível notar, era que espaçonaves passaram pelo portal, vindo em direção aos dois planetas. Ninguém conhecia aquele modelo de espaçonave, portanto, mantiveram-se em vigilância no já referenciado cinturão, evitando que o primeiro alvo fosse Marte.

Porém, quando a frota de espaçonaves chegou a Saturno, alguns equipamentos da Terra começaram a receber sinais familiares. Estranhando o que estava acontecendo, começaram a responder os sinais com mensagens cautelosas, protegendo a si mesmos e aos irmãos marcianos por tabela.

Enfim, todos souberam que os emissores das mensagens eram terráqueos. Ninguém sabia de onde eles haviam vindo, só que não eram daquele plano onde estavam.

O Coronel Matias Salão compartilhou com Eduardo os dados que havia recebido da cúpula, uma vez que, naquele momento, os dois tinham o mesmo peso dentro da Aeronáutica Brasileira.

E Cintia reconheceu um dos emissários...

Era seu irmão.

Todos, com a exceção de Eduardo que não estava lá, ficaram chocados ao descobrir que os emissários eram de outra versão espaço-temporal da Terra, e que um dos membros da delegação era irmão de Cintia. Era necessário recebê-los, mas com todo cuidado para que não houvesse conflito, uma vez que Cintia tinha feito o conhecimento de seu plano temporal público. Eles seriam recebidos na Estação Espacial, que estava maior do que nunca, com um gerador gravitacional que permitia a todos não precisarem de treinamento especial para trabalhar lá.

Ao passo que as aeronaves estranhas estavam chegando perto da Estação Espacial, todos estavam a postos. Estavam alertas para qualquer tipo de invasão, uma vez que os humanos conheciam muito bem a sua própria espécie. As demais espaçonaves ficaram para trás, enquanto a maior delas começou a se aproximar, pedindo autorização para acoplar.

Autorização concedida, a espaçonave começou a mover-se de lado em uma de suas comportas e acoplou-se a uma das entradas da Estação Interespacial. Após um dos lados pressurizar a entrada e a comporta ser despressurizada, o portal de acesso foi aberto, trazendo uma delegação de cinco pessoas, dentre elas, aquele que Cintia havia identificado como seu irmão.

Os cinco foram escaneados, não contendo nenhum patógeno que poderia trazer perigo a todos os presentes ali. Houve uma conversa, em que não se chegou a nenhuma conclusão, todos os humanos ali demandavam ser acomodados na Terra para fundar uma cidade conforme a tecnologia que eles detinham.

Foi quando os residentes da Estação Interespacial resolveram chamar Eduardo e Cintia para mediar. Afinal de contas, um rosto familiar ajudaria nas negociações.

Eduardo e Cintia foram chamados às pressas para viajar à Estação Interespacial, mensagem recebida diretamente pelo nosso protagonista, via internet. Ele estava em seu escritório, deliberando várias de suas obrigações como oficial Comandante da Aeronáutica, quando seu telefone toca.

- Senhor Eduardo da Silva Amorim? – Perguntou o funcionário do outro lado da linha.

- Ele mesmo. Quem deseja?

- Filipe, funcionário da Estação Interespacial, área de contatos externos. Espero que esteja bem.

- Estou, obrigado por perguntar. Qual é a questão que é preciso que você traga à minha atenção? – Eduardo sabia sempre ser direto ao assunto.

- Obrigado por evitar tediosos quês e porquês. Temos cinco visitantes terráqueos, mas que não pertencem ao nosso planeta. Segundo eles, pertencem a outro planeta Terra, de outro plano espaço-temporal. Eles querem que nós os permitamos viver em nosso planeta, cedendo um espaço de terra para que eles possam se estabelecer e desenvolver suas tecnologias.

- E o que isso tem a ver comigo? – Perguntou Eduardo, neutro.

- É que um deles foi identificado como sendo irmão de sua parceira, Cintia.

- E como você concluiu que isto era verdade? – Perguntou Eduardo, erguendo uma de suas sobrancelhas, mesmo que não fosse visível a Filipe.

- Porque tudo bate com todas as informações disponibilizadas pela senhorita, inclusive uma confirmação enviada pelo seu superior, Matias Salão.

- Entendo. Tem uma foto dele, para que eu possa conversar com ela e confirmar se é ele mesmo?

- Sim, e posso lhe disponibilizar o link de acesso de uma de nossas várias câmeras de vigilância.

- Agradeço se puder, então. Fico no aguardo de quando você me enviar.

Passados alguns minutos...

- Senhor Eduardo, aqui está a foto. Peço que seja breve, sua presença e de sua parceira Cintia são requisitadas na Estação Interespacial, para dissuadir os visitantes a fazerem o que bem entendem.

- Obrigado pela informação, irei imediatamente conversar com ela.

Assim que Filipe desligou a ligação, Eduardo vira para o ramal interno, chamando Cintia diretamente...

- Cintia, você consegue vir à minha sala agora? Sei que tem andado muito ocupada com as decisões da área de tecnologia, mas eu preciso ver contigo e confirmar presencialmente uma informação.

- Tudo bem, Eduardo. Eu acabei de sair de uma reunião, então sigo para sua sala, mas em alguns minutos, precisando apenas remarcar algumas de minhas reuniões para mais tarde ou para depois.

- Peço então que as cancele. Este assunto não pode esperar muito mais.

- A situação é tão ruim assim?

- Talvez possa desencadear uma nova guerra.

- Então vou pedir que a minha secretária repasse as minhas reuniões a um subordinado meu, e vou em seguida. Só um minuto.

E Cintia desligou a ligação, aparecendo na sala de Eduardo alguns minutos depois.

Com a sala trancada, os dois se abraçaram.

- Precisava ser tão frio assim?

- Sim, meu amor, precisava. Estamos utilizando a linha telefônica da corporação, e tons informais, pessoais, não são permitidos. Você sabe bem disso.

- É, sim, eu entendo. Desculpe. Então, o que foi?

- Reconhece este homem?

Cintia fica boquiaberta.

- Onde você conseguiu esta foto, Eduardo? – Pelo tom da resposta, ele sabia que a informação que havia recebido poderia ser séria.

- Há alguns minutos, fui chamado da Estação Interespacial, onde uma frota, de cerca de dez espaçonaves, entrou em nosso sistema solar a partir de Plutão, mandando mensagens desde que alcançaram Saturno. Até sabermos se são uma ameaça a nós ou não, ficou a cargo da Estação, porém, a pessoa afirmou que o líder deles é, aparentemente, seu irmão Gilson, aquele que você informou ter deixado você para trás.

- E, sem sombra de dúvida, é ele mesmo. Se veio com uma frota de dez naves, creio que esta seja toda a extensão da Raça Humana que havia em meu planeta Terra natal. Resumido em cientistas, militares, guerreiros, políticos. Podem ter, sim, suas versões nesta Terra em que estamos, mas muito diferentes por causa da linha temporal em que se separou. Você sabe, aquela Terra explodiu, deixando apenas alguns sobreviventes para trás... Eu não sei como eu ainda não encontrei a minha versão deste mundo.

- Você sabe que a regra dos doppelgangers não é absoluta, a versão deste planeta pode tanto existir quanto não, é a Teoria do Gato de Schroedinger.

- Eu sei, eu sei. Mas o que acontece é que as chances de haver encontro entre duas versões espaço-temporais da mesma pessoa aumentaria astronomicamente se deixarmos uma dessas pessoas entrarem no planeta... Este encontro poderia rasgar o tecido espaço-temporal que tanto nos esmeramos para manter e destruiria o planeta, senão o próprio sistema solar. Nunca se sabe o poder que um encontro desses poderia causar.

- Então você sugere que não permitamos a entrada destes humanos em nosso planeta, mandando-os de volta ao espaço?

- Até onde eu me lembro, a tecnologia de terraformação estava bem avançada no meu planeta Terra, já sabendo que uma destruição poderia ocorrer iminentemente. Se passou tanto tempo desde que eu me separei deles, pode ser que eles já a tenham concluído. Com isso, eles podem, muito bem, pegar um dos planetas na zona habitável e transformar em habitável. Porém, em nosso sistema, eles teriam que se limitar a transformar a nossa Lua ou mesmo uma das Luas de Marte, e mesmo assim, causar um incidente diplomático. – Era fácil de ver que Cintia não queria expulsar seu irmão, mas a possibilidade de arrebentar o tecido do espaço-tempo era real.

- E, até onde eu sei, Sedna não tem o tamanho suficiente para suportar tal transformação. E o impacto da criação de um satélite artificial do tamanho da Lua para orbitar o planeta poderia ser catastrófico. – Eduardo tentava analisar a situação de maneira fria, mas sabia que uma decisão tomada de maneira errada poderia trazer muitas consequências ruins, dadas as questões em jogo.

- O que acha que podemos fazer, Eduardo? – Perguntou Cintia.

- Primeiro, tentar conversar com eles. Fazer com que entendam. Eles até podem manter as espaçonaves perto do planeta, mas não podem adentrá-lo.

- Você está correto, meu amor. Queria que tudo tivesse acontecido de maneira diferente.

- Sim... Mas primeiro, vamos pra Estação Interespacial. Os Marcianos devem estar nervosos diante de tal situação, para ter feito com que me contatassem diretamente.

Demorou mais uma semana, mas o casal conseguiu viajar à Estação, subindo a ela com uma espaçonave. Havia planos dos Estados Unidos de criar um Elevador Orbital, mas ainda não possuíam uma tecnologia segura o suficiente para deixar uma pequena espaçonave em órbita e alcançar a Estação Interespacial.

Chegando à estação, eles foram recebidos muito bem, e logo levados a Gilson, que já os aguardava em uma pequena sala de reuniões, feita para encontros particulares como aquele.

Quando os dois entraram na sala, de contornos retos, feita pra ser funcional e acabava sendo bonita de certa maneira, Gilson arregalou seus olhos. Mal podia acreditar no que eles viam em sua frente.

- Cintia! É você? – Perguntava um Gilson perplexo.

- Sim, sou eu. – Respondia Cintia, em um tom mais frio.

- Como você conseguiu escapar daquilo? – Ele dava mostras que mal podia acreditar.

- Uma pequena cápsula e uma fenda espaço-temporal foram suficientes para me tirar do perigo. Você sabia que eu poderia ter morrido se não fosse por isso. – Ela continuava fria.

- Você sabe que os nossos governantes limitaram o número de pessoas a serem libertas do planeta prestes a explodir... Eles escolheram os membros a dedo e os mandaram para as espaçonaves, com uma cópia de toda a nossa tecnologia. Eu pedi, esperneei, chorei, implorei, mas eles não me ouviram. Tanto que eu queria trazer nosso irmão mais novo e nossos pais. Eles acabaram sofrendo com a explosão do planeta. – Ele parecia mesmo muito chateado com a situação – Sabe o que é pensar que você perdeu toda sua família em uma catástrofe anunciada por anos por causa da ganância humana e descobrir logo em seguida que um membro está vivo? Tem noção de como eu estou feliz de te ver viva? – E parecia estar muito feliz com o desdobramento.

- Não me parece muito verídico quando com quem conversamos era um dos Brigadeiros da Aeronáutica Brasileira, por esforços em batalha. – Cintia seguiu fria, e Eduardo seguiu ouvindo, olhando de Gilson para Cintia e vice-versa.

- Você está chateada comigo, eu sei bem. Você acha que eu a deixei para morrer. – Gilson voltou a ficar chateado. Ele estava em uma verdadeira montanha-russa de emoções.

2 Comentários

  1. Situação delicada!

    A volta de uma tripulação através de uma fenda temporal e, para piorar, tinha o irmão de Cíntia.

    Agora, devido ao fato de sem de outra dimensão espaço-temporal da Terra, eles não podem viverem nessa realidade sobre o risco de criar um colapso de grande proporções, fora os rscos diplomáticos com os marcianos.

    Temos ainda uma questão afetiva que pode atrapalhar o relacionamento de Eduardo com Cíntia.

    De fato, você criou uma grande situação-problema.

    Ansioso pelos próximos capítulos.

    Arrebentou!

    Meus parabéns!

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    1. Você pegou bem os pontos focais deste capítulo, tirando as personagens principais do conforto para colocá-los em situações difíceis. Obrigado por ler, caro Jirayrider.

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