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Tartarugas Ninja - New World - Retaliação

 



E eis que estréia minha versão das famosas Tartarugas Ninjas.

Após comprar um bonequinho do Donatello da fabricante Joytoy, não resisti a imaginar como seria bolar uma versão das Tartarugas e, após algumas semanas de escrita até rápida, cheguei a essa One shot.

Espero que gostem.




Nova York não é a cidade mais segura do mundo para se andar a noite, excetuando os milhares de turistas, essa é uma verdade compartilhada pela maioria esmagadora dos moradores da Grande Maçã.


Mas não importa se é um turista ou morador, quando um grande grupo de pessoas em trajes furtivos, lembrando os de típicos ninjas, se reúne ao redor de uma tampa de bueiro e somem em instantes, descendo aos esgotos, qualquer pessoa sã iria para o mais longe dali.


Famoso por suas aparições em filmes, séries e várias outras mídias, o verdadeiro labirinto formado pelos vários túneis do esgoto de Nova York esconde muito mais do que normalmente é retratado.


Desse modo, o grupo de ninjas seguia pelo caminho indicado como sendo o esconderijo dos alvos que deveriam ser eliminados naquela noite.


Não havia margem para erros ou falhas.


Todos deviam morrer.


Pouco mais de uma hora foi o tempo necessário para alcançarem o local que procuravam.


Um imenso salão, provavelmente uma das galerias centrais, usadas no passado para fazer boa parte da manutenção, atualmente deveria estar abandonado, mas não parecia ser o caso.


Espalhados pelo local estavam diversos indícios de que alguém vivia lá.


Máquinas antigas e reformadas de fliperamas variados, móveis velhos que deviam ter sido recolhidos das ruas acima, caixas de pizza jogadas aqui e ali, algumas com pedaços meio comidos dentro.


O que mais dava a certeza de terem encontrado o local certo foram os cinco quartos, descobertos após o grupo ninja ter se espalhado e feito uma busca minuciosa.


Um era repleto de aparelhos eletrônicos, em diversos estágios de construção, outro parecia o de um monge, com poucos móveis, onde se destacavam pôsteres de filmes do Bruce Lee pelas paredes e teto, além de um suporte para katanas.


Em outro o caos reinava, mal dava para entrar, tamanha bagunça, entre shapes de skate quebrados, ainda mais restos de pizza do que no salão principal, action figures e muitos walkman jogados.


Os últimos quartos eram opostos totais, enquanto em um parecia reinar a paz, com direito até a um pequeno jardim zen, no outro haviam sacos de areia, aparelhos e pesos para musculação pesada, bem como armamentos afiados, que iam de shurikens a garras de escalada.


O grupo se reuniu no salão central e um deles levou o dedo indicador até seu comunicador auricular.


Mestre. O local está vazio. Quais suas ordens?


Longe dali no antigo prédio de escritórios Eastman & Laird, agora pertencente a uma empresa de eletrônicos, uma fachada para as atividades criminosas do grupo conhecido como Clã do Pé, Oroku Saki, o mestre dos ninjas, observava tudo através das câmeras embutidas nas roupas de seus servos.


Vasculhem tudo novamente. Se não acharem nada, queimem.


Queimar a casa dos outros é muito zoado caras.


Mike!


Vozes em uníssono ressoaram pela tela, onde o Saki assistia à invasão, sua apreensão aumentando tanto quanto seu ódio, que atingiu níveis absurdos, assim que, sem aviso, antes dos invasores conseguirem identificar de onde as vozes haviam ecoado, as luzes apagaram.


Liguem a visão noturna!


O ninja que recebera a missão de liderar a invasão, teve a certeza de que seu líder o parabenizaria pela rápida iniciativa.


Ledo engano.


Não façam isso idiotas!


O invasor entendeu tarde demais porque Oroku Saki gritara daquela maneira, pois logo bombas luminosas espocaram pelo local, deixando todos os ninjas cegos por um momento.


Apenas um momento. Mais do que suficiente.


As câmeras haviam alternado automaticamente para captação de imagens noturnas e, para o homem conhecido como Retalhador, tudo que suas telas recebiam era escuridão e imagens esverdeadas de seus soldados, sendo abatidos com extrema facilidade.


Os gritos de dor e pedidos de socorro ecoaram pela sala de comando do Clã do Pé, cada um sendo uma mostra total de incompetência de sua parte, por não ter sido ainda mais rígido no treinamento de seus ninjas.


A luta não durou nem quinze minutos e logo uma sombra agarrou uma das câmeras, segurando-a de forma a não revelar sua identidade.


Você falhou Oroku Saki, mas não se preocupe, estamos finalmente indo atrás de você.


Dito isso a câmera foi destruída e a tela ficou azul, sendo seguida das demais diante do Retalhador que, tentando manter seu controle, começou a sair da sala, mas acabou por dar vazão ao seu ódio ali mesmo, destruindo tudo o que havia ao seu redor.


Venha velho amigo... Você seus filhos finalmente encontrarão a morte.


Tartarugas Ninja.


New World.


Retaliação.


Próximo ao Harlem, um prédio de três andares mal podia ser percebido, em meio a tantos outros iguais a ele.


Um esconderijo perfeito para fugitivos.


No subsolo do prédio havia uma passagem secreta, ligando o local com os esgotos logo abaixo, que se abriu lentamente, dando passagem para quatro criaturas extremamente agitadas.


Cês viram só como eu derrubei aqueles dois?


Antes ou depois que eu e o Leo déssemos conta de uns dez?


Ah, não enche o saco, Rafa! Pô galera, me ajuda aqui. Leo? Don?


Acho que o Mestre Splinter vai dizer que nosso desempenho foi... Satisfatório.


Os três se voltaram para o único que não falara nada, mas isso era esperado.


"Eu acho que mandamos muito bem." Com movimentos rápidos das mãos, mesmo com apenas três dedos, ele se fazia entender muito bem através da linguagem de sinais, que seus irmãos aprenderam juntos, desde pequenos, quando ele deixou de falar devido a um trauma. "Mas a verdadeira batalha vai começar agora."


E Donatello está certo, filhos.


A luz do subsolo foi acesa, deixando expostos quatro ninjas completamente diferentes de qualquer outro no mundo.


Eram seres mistos de humanos e tartarugas, com pouco mais de 1,60 de altura, andando sobre duas pernas, exibindo músculos definidos, todos com vários apetrechos e armas, mas que, assim que foram flagrados por aquele que chamavam de pai e mestre, logo se colocaram diante dele, enquanto um homem rato trajando um quimono de cor vinho, foi descendo as escadas, até sentar no último degrau.


Ergam seus rostos, meus filhos. Donatello, as câmeras instaladas na nossa armadilha funcionaram perfeitamente. O desempenho de vocês, durante a luta, no entanto, foi… Satisfatório.


Leonardo não conseguiu disfarçar um sorriso.


Lamento por isso, mestre Splinter, não conseguimos controlar a satisfação por, finalmente depois desses três anos de espera, começar a nossa luta contra o Clã do Pé.


Pois bem, Leonardo, venha comigo até o dojo, o restante de vocês, se preparem, lançaremos o ataque final a Oroku Saki em duas horas.


Desse modo seus filhos mais novos se espalharam pelo prédio, alugado a poucos meses, após uma troca constante de endereços, tendo até mesmo vivido nos esgotos por um tempo, onde os ninjas haviam sido emboscados, mas finalmente a hora havia chegado.


Mestre Splinter e Leonardo sentaram-se em almofadas, diante de uma mesa onde havia chá e também incensos queimando.


Sinto suas dúvidas filho.


Eu… E-eu… Tenho medo de estarmos entrando em uma luta que não podemos vencer, não quero perder mais ninguém e…


E é exatamente por isso que escolhi você para liderar seus irmãos, não apenas por estar muito mais avançado nas artes ninjas, mas, principalmente por sua compaixão e vontade férrea em nos manter todos a salvo… Agora, feche os olhos meu filho, vamos nos concentrar e, para fortalecer nossa já inabalável convicção, voltemos ao passado…


E de fato, foi como se a mente de pai e filho voltassem até o fatídico dia em que suas vidas, pelo menos como eles as conheciam, acabaram.


Mas Saki… São meus filhos, eles têm apenas entre quinze e dezesseis, o pequeno Hiroshi mal completou treze anos.


Ainda assim eles são meus melhores ninjas, mas eu me pergunto, Hamato Yoshi, se em meu lugar fosse o antigo e velho líder do Clã do Pé, você o questionaria dessa forma?


O mestre não enviaria meus filhos para uma missão mais mortal que a outra, não me canso de achar que você age assim por causa de Tang Shen, que decidiu se casar comigo e…


Chega dessa insolência Yoshi!


Ao bater no tampo de uma mesa, Oroku Saki causou algumas fissuras e rachaduras, tamanho o ódio que sentia por ser constantemente confrontando pelo rival que, anos atrás, o venceu não penas numa luta, como também pelo amor da filha do mestre do clã.


A discussão se estendeu por mais algumas horas, com Hamato Yoshi mais ouvindo repreensões que não faziam sentido, enquanto, em seu íntimo, uma decisão era tomada.


Decisão essa que mudaria não apenas sua vida, mas também e principalmente a de sua família.


Por isso, após o jantar, Hamato Yoshi sentou-se com sua esposa e filhos, relatando brevemente sua reunião com o líder do Clã.


O que você acha que devemos fazer, querido?


O melhor curso de ação, no momento, é fugirmos e…


Não existe honra na fuga pai.


Não Toshiro, infelizmente não há honra em uma fuga, mas, muitas vezes, precisamos escolher entre a vida e a honra. Somos ninjas do Clã do Pé, mas infelizmente Oroku Saki deixou o caminho a honra a muito tempo. Não o perdoo por ter enviado vocês para aquela missão suicida. Satoro mal sobreviveu, tendo perdido até mesmo um olho e ter sobrevivido por muito pouco, e para o que? Para enviar uma mensagem idiota a outros clãs, sobre eles se submeterem ou não às ordens de Saki. Não meus filhos, isso já não tem a ver com honra a muito tempo.


Um pouco mais afastado de sua família um jovem permanecia em silêncio, soldando alguns circuitos de um aparelho, mas logo ele se aproximou e começou a mover as mãos, se comunicando por linguagem de sinais.


Pessoal, eu entendo todos vocês, mas concordo com nosso pai. O Clã do Pé se tornou uma força maligna que deve ser parada, mas como não temos força para isso, no momento, é melhor nos afastarmos para voltar quando formos mais fortes.”


Kenji está certo, mas só vamos seguir em frente se todos estiverem de acordo.


Por mim, eu partiria pro ataque, até arrancar os dois olhos do desgraçado do Oroku Saki…


Filho, eu entendo seu desejo de vingança, se eu pudesse, nesse instante, eu mesma arrancaria os olhos daquele desgraçado, mas concordo com seu pai, precisamos fugir, aumentar nossas forças e só então…


A frase foi interrompida quando, através de algumas das paredes de washi, diversos dardos de forma semelhante a longos espinhos pretos, acertaram em cheio todos os membros da família de ninjas.


Em poucos segundos, quase todos estavam caídos, com dificuldade extrema em manter a consciência.


Hamato Yoshi conseguiu permanecer de pé, ainda que precariamente, tentando tirar os dardos de seu corpo, conforme procurava alguma arma para proteger sua família, quando vários ninjas finalmente invadiram o local e o imobilizaram.


Eu sabia que era só uma questão de tempo até você contaminar sua família com o veneno da traição. Agora sua esposa e filhos pagarão pela sua insolência.


Um chute bem aplicado em seu rosto foi o que bastou para que o mundo de Hamato Yoshi mergulhasse na escuridão da inconsciência.


Sem poder precisar por quanto tempo esteve desacordado, quando finalmente o velho ninja recobrou sua consciência, foi em meio a dor e confusão, por perceber que estava envolto em um tipo de líquido viscoso que, ia escorrendo por rachaduras, em algo que parecia uma parede de vidro, mas que logo se partiu ruidosamente, fazendo com que ele fosse literalmente despejado sobre um frio chão metálico.


Com uma imensa dificuldade Hamato Yoshi se colocou de pé e, ainda culpando sua atual confusão mental, não conseguiu registrar as estranhas e monstruosas mãos, que deveriam ser as suas, mas que não pareciam nem de perto com mãos humanas.


Com passos hesitantes ele se aproximou de uma superfície metálica que serviu como espelho e, com horror crescente, o velho ninja viu o rosto de uma criatura, misto de homem e rato, olhando de volta para ele.


Ainda em choque, Yoshi deu passos para longe de seu reflexo, terminando por bater as costas em um imenso tanque, cuja frente deslizou para o lado, revelando um tipo de janela de observação, que deixava à vista seu interior.


Era uma solução aparentemente líquida, dando essa impressão por causa das bolhas que ocasionalmente surgiam, o que despertou a curiosidade do homem rato, distraindo-o do trauma de despertar daquele jeito, com uma dificuldade monstruosa em lembrar de como aquilo havia acontecido.


Tão absorto estava em seus pensamentos e divagações, que ele se assustou quando uma mão verde, com apenas três dedos bateu contra a proteção de vidro.


Yoshi voltou a se aproximar, torcendo para quem o que quer que estivesse lá dentro, não conseguisse quebrar aquele tipo de vidro, mas quando a criatura, um misto de humano e tartaruga, aproximou seu rosto, foi possível o homem rato a olhar nos olhos.


O reconhecimento foi imediato.


Kenji? Meu Deus!


Ato reflexo, com sua própria transformação tendo sido esquecida, Yoshi procurou desesperadamente por algo que pudesse usar para libertar seu filho, terminando por encontrar uma cadeira de digitador, que estava diante de alguns terminais de computador, cujas telas mostravam sinais vitais provenientes de quatro locais.


Após uma eternidade e diversas vezes em que a cadeira foi batida contra o tanque, finalmente ele cedeu, se partindo em centenas de pedaços, dando passagem para a criatura lá de dentro, que prontamente foi abraçado pelo seu pai, enquanto chorava em silêncio total.


Só então Yoshi ergueu a cabeça e estreitou sua visão, percebendo que haviam mais três tanques como aquele e, não sendo mais difícil que somar dois e dois, logo ele, com a ajuda de seu filho liberto, se colocou a salvar os outros prisioneiros.


Yoshi precisou segurar a dor como pai, ao ver que seus quatro filhos agora eram metade humanos metade tartarugas.


O que é isso? O que fizeram com a gente?


Calma Hiroshi... Calma... Agora precisamos pensar e...


Desculpa pai, mas tá difícil pensar, ainda mais depois de virar um monstro.


Satoro deu voz até a o que o velho ninja pensava, mas Yoshi sabia que agora precisava superar aquela situação tão bizarra, pelo bem de seus filhos.


Isso sem falar em sua esposa, no coração ele torcia para que a sorte de Shen tivesse sido melhor que a deles.


De repente dois técnicos entraram no que a família de ninjas percebeu se tratar de um laboratório e logo foram rendidos e obrigados a revelar tudo o que sabiam.


Assim que deram um jeito de silenciar os recém-chegados, prendendo-os em algumas, eles descobriram os nomes apenas naquele momento, câmaras de alteração genética que estavam vazias, os cincos ninjas conseguiram escapar sem que nenhum alarme fosse disparado, fugindo em seguida para os esgotos, onde planos de vingança foram traçados e um longo e árduo caminho se pavimentou na vida do homem que agora, tendo sido transformado num monstro, sentia-se apenas uma lasca do que já fora.


Desse modo nascia Splinter, o sensei de quatro tartarugas adolescentes, mutantes, ninjas, que também renasceram com novos nomes, dos artistas renascentistas favoritos da mãe deles.


Toshiro se tornou Leonardo, o irascível Satoro foi chamado de Rafael, o silencioso Kenji seria Donatello e Hiroshi, o caçula, começou a se chamar Michelangelo.


Voltando ao presente, palavras entre pai e filho, entre sensei e aprendiz, já não se faziam mais necessárias, por isso aquele que fora escolhido naturalmente como líder daquela estranha e disfuncional família e equipe, se retirou, indo para seu quarto.


Ele também precisava se preparar para a batalha final que estava por vir.


Ao mesmo tempo longe dali no prédio do Clã do Pé, um nervoso e ansioso Oroku Saki andava de um lado para o outro em sua luxuosa cobertura, num contraste total com o restante do local.


Como está a segurança dos andares abaixo?


Temos mais de vinte ninjas por andar, mantendo guarda diante de todas as possíveis entradas de cada lugar, é impossível que apenas cinco mutantes consigam passar por tantos guerreiros e subir os mais de quinze andares e...


Liberte os demais monstros.


Perdão, mestre... Acho que não entendi.


Você não faz ideia das capacidades de Yoshi e seus filhos. Eu faço. Repetirei, pela última vez, minha ordem. Retire os ninjas dos andares inferiores e liberte os monstros lá.


Se fizermos isso, o risco dos demais mutantes escaparem é muito grande e...


A frase foi interrompida assim que a garganta do líder de operações foi cortada pela lâmina que Oroku Saki trazia na manopla direita de sua armadura, mostrando porque seus homens o chamavam de Retalhador.


Você. — o assassino se abaixou sobre o corpo, levantando em seguida e jogando um aparelho de comunicação para outro de seus servos. — Foi promovido. Agora vá fazer o que eu havia pedido para esse inútil... E tire o lixo. Já.


Assim que o Retalhador se viu finalmente sozinho, ele terminou de vestir sua armadura de combate, caminhando lentamente até o trono que mandou construir no centro da cobertura, olhando ao redor e admirando tudo o que conseguira fazer desde que assumiu o controle do Clã do Pé, após matar o antigo líder.


E o auge de todo meu trabalho será, finalmente, eliminar Hamato Yoshi e seus filhos, uma vez que não consegui transformá-los em escravos mutantes.


Enquanto ele parecia apenas divagar, falando para o nada, com o canto do olho o Retalhador pode ver que uma figura se escondia atrás de seu trono, presa a ele por causa de uma grossa corrente.


"Não dessa vez... Hoje tudo acaba." estava tão absorto em seus pensamentos que o líder ninja não percebeu a aproximação de um imenso dirigível, já acostumado com algumas das propagandas exageradas que os americanos tanto admiravam.


Por isso sua surpresa foi legítima, quando cinco figuras atravessaram as vidraças da cobertura, caindo perfeitamente em posições de combate, com um deles correndo para a entrada principal, usando pequenos aparelhos para travá-la.


Perfeito meu filho. Agora encontre as demais possíveis saídas e as bloqueie também.


Um homem rato se adiantou aos três seres parte humanos, parte tartarugas, que continuam empunhando suas armas, enquanto o quinto membro do grupo continuava usando seus conhecimentos para travar as todas as portas do lugar.


O Retalhador a tudo observava, agora refeito da surpresa, cruzou os braços atrás de suas costas, decidido a aguardar o primeiro movimento de seus tão aguardados e odiados inimigos.


"E tudo começa como sempre..."


Rafael se adiantou aos demais, sem esperar nem um sinal de seu pai, ou daquele que deferia ser o líder da equipe, com suas Adagas Sai empunhadas na frente do corpo, praticamente um trem descarrilhado.


O Retalhador, que já esperava aquele ataque, se desviou como um toureiro diante de um touro bravio, deixando apenas um pé no caminho da Tartaruga, que tropeçou e foi quicando algumas vezes até parar diante do trono do inimigo.


Ato reflexo, o ninja assassino erguia o braço esquerdo para se defender das lâminas de duas Katanas, num ataque que vinha do alto, após Leonardo saltar sobre o inimigo, chamando sua atenção antes que ele pudesse atacar seu irmão caído.


Rafael logo se recuperou e voltou à luta, tendo seu ataque contido, após levar um certeiro chute na boca do estômago, que só não o tirara da luta de vez por causa da carapaça natural de seu novo corpo.


Ainda assim ele, mais uma vez, foi afastado facilmente, sendo que o Retalhador nem mesmo voltara o olhar em sua direção, se mantendo concentrado em evitar as armas que Leonardo continuava fazendo avançar contra seus pontos vitais.


Em meio ao combate, o assassino ainda conseguiu vislumbrar o ataque que visava seu flanco direito, onde Splinter sabia ser a localização de um antigo ferimento que, se atingido, faria Oroku Saki abrir sua guarda.


Com um giro de seu pulso esquerdo, o Retalhador afastou uma das espadas de Leonardo, conseguindo segurar o braço da Tartaruga, girando-o até que ele ficasse perfeitamente de costas para os dois Nunchakos que vinham rápido, empunhados pelo mais jovem dos irmãos.


Como sempre, muito lento, Hiroshi.


Eu sou o Michelangelo e...


Outro chute fez com que o jovem perdesse o fôlego e a frase que, em sua mente, soaria totalmente fantástica, forçando Splinter a segurá-lo, antes que seu filho se chocasse contra uma coluna próxima.


Uma pequena brecha se abriu na defesa inexpugnável do Retalhador, prontamente aproveitada por Rafael, que foi o primeiro da noite a derramar sangue, mas, para seu desapontamento, o corte no tronco de seu inimigo foi superficial, o que não impediu que o impulsivo jovem acabasse levando uma cotovelada que atingiu o espaço vazio, onde antes ficava o olho que ele perdera.


Rafael levou as duas mãos ao rosto, mesmo no corpo novo, ele permaneceu sem um dos olhos e o trauma e dor da perda, ainda o paralisavam, por isso ele caiu de joelhos e tentava se acalmar, usando algumas técnicas de respiração ensinadas pelo seu pai, tentando ficar um pouco afastado da luta.


Fato e chance que não passaram despercebidos pelo Retalhador que, evitando novamente um ataque de Michelangelo, o jogou contra Leonardo e saltou contra Rafael, as lâminas de sua manopla seguindo implacáveis para o pescoço do jovem caído.


O assassino teve seu avanço interrompido quando algo atingiu violentamente a lateral de seu capacete, fazendo o metal ressoar nos ouvidos de Oroku Saki, que aproveitou seu impulso para fazer um rolamento e se afastar de quem finalmente entrava no combate.


O silencioso Donatello não precisava de palavras, enquanto pegava no ar o Cajado Bo que havia lançado contra seu inimigo e que ricocheteava de volta.


"Não mexa com minha família."


Com rápidos acenos de sua mão livre, o recado foi passado e os irmãos caídos iam se erguendo com ânimo revigorado.


Era necessário refrear tal disposição para o combate, pensava o Retalhador, quando decidiu sacar uma katana e saltar contra o jovem que havia se colocado entre ele e sua vítima.


A morte de um deles tornaria os demais pouco mais que crianças perdidas, seguindo facilmente para o abate, o que o assassino sabia precisar de rapidez, uma vez que os jovens ninjas haviam evoluído desde da época que agiam sob seu comando.


Eles já não eram aquelas crianças que ele conhecia tão bem, a ponto de ter conseguido antecipar os ataques iniciais que, ele percebia, iam evoluindo rapidamente conforme o combate avançava.


Donatello permaneceu parado, nem mesmo assumiu uma posição de defesa, parecia totalmente entregue a seu destino, o que fez Oroku Saki sorrir por debaixo de sua máscara.


Ele adorava matar uma vítima indefesa ou paralisada de medo.


Pai!


Quando o grito chegou aos ouvidos do assassino já era tarde demais.


Leonardo jogara uma de suas katanas no espaço entre o Retalhador e Donatello, que só então saltava para trás, dando espaço para que o mestre Splinter pegasse a espada no ar, se colocasse diante de seu filho e, aproveitando da incapacidade de seu inimigo de deter o próprio avanço, conseguiu causar um longo e profundo ferimento diagonal no peito daquele que tentara destruir tudo o que ele tinha de mais sagrado na vida.


Sua família.


Muito bom Hamato Yoshi... Como esperado, um ataque covarde e...


Você é a última pessoa que pode falar sobre covardia, principalmente depois da emboscada que fez anos atrás, contra meus filhos e minha esposa, quando não teve coragem de me encarar.


Ah, sim, sim... – o Retalhador mantinha uma das mãos no ferimento do peito, de onde vertia sangue farto. — Sobre isso... Venha cá.


De repente o som de correntes se chocando contra o chão veio por detrás do trono do assassino e logo uma figura feminina, parte mulher, parte raposa branca, se colocou a caminhar na direção dos invasores.


Vocês fugiram antes que eu pudesse implantar o chip de controle mental, ligado a um que tenho em minha cabeça e que me permite controlar todos os mutantes que eu vinha criando, antes mesmo de capturar vocês, mas a culpada teve seu castigo, não é, minha linda?


Nada no mundo impediria Splinter de reconhecer o amor de sua vida, fosse a forma que ela tivesse, por isso ele deu alguns passos hesitantes para trás, enquanto seus filhos também congelaram ao ver o pai daquele jeito e entender o que estava acontecendo.


Mãe?


Michelangelo se aproximou, os Nunchakos devidamente colocados em seu cinto, braços abertos e olhos se enchendo de lágrimas ao ver aquela que todos acreditavam estar morta.


O Retalhador voltava a sorrir por debaixo de sua máscara.


Isso mesmo garoto, se aproxime dessa forma. Shen, mate todos.


No mesmo instante, de forma totalmente inesperada, o andar hesitante da mulher raposa deu lugar a uma postura decidida e agressiva que, após um rosnado baixo, resultou num salto, com as garras prontas para rasgar a garganta de seu filho.


Michelangelo só conseguiu se afastar e cair sentado, tamanho o choque de ver sua mãe daquele jeito e acabaria morrendo, não fosse a rápida e silenciosa intervenção de Donatello, que se colocou diante do irmão a tempo de conter as garras da mulher raposa.


Leonardo e Rafael se encontravam tão perdidos quanto o restante se sua família, sem saber se ajudavam o pai ou os irmãos.


O Retalhador soltou uma gargalhada alta de satisfação por finalmente ver seus odiados inimigos naquela situação, mas logo acabou sendo calado, quando precisou erguer os braços, usando suas manoplas como defesa para várias shurikens que vinham em sua direção.


Cuidem de sua mãe!


Dizendo isso, Splinter assumiu uma posição de combate, com a katana de seu filho empunhada à frente do corpo, num claro sinal de desafio a Oroku Saki, para encerrarem a luta naquele momento.


Enquanto os velhos inimigos permaneciam parados, olhos nos olhos, aguardando uma brecha, por menor que fosse, quatro filhos se perguntavam como ajudar a mãe, que continuava tentando avançar contra Donatello, que tinha cada vez mais dificuldade em segurá-la.


Foi então que o caçula dos irmãos fez o que ninguém havia pensado.


Ele abraçou Shen pela cintura e, antes que ela pudesse reagir, Leonardo e Rafael fizeram o mesmo, tomando o cuidado de segurar os braços dela, para que não os atacasse.


Enquanto os três irmãos chamavam pela mãe, para tentar despertá-la, Donatello se uniu a eles, de uma forma que afetou a todos os presentes do local.


Mãe! Acorda!


Com o jovem se recuperando do trauma de infância, até mesmo Splinter perdeu a concentração por um instante a mais que seu inimigo e, percebendo essa brecha, o Retalhador avançou.


Shen parecia despertar do torpor que o chip implantado em sua mente causava, a tempo de ver seu marido, que ela também reconheceu sem dificuldades, estar prestes a ser morto, estendeu uma das mãos, como se assim pudessem salvá-lo, o que seus filhos também fizeram.


Superando as expectativas de todos e para surpresa geral, Splinter encerrou a luta com dois movimentos.


O primeiro foi um corte de baixo para cima, refreando o avanço do inimigo, cortando seu braço direito na altura do cotovelo e, em seguida, deixando a inércia fazer seu inimigo continuar avançando, com um corte transversal, de cima para baixo, acabou seccionando a cabeça do Retalhador de seu corpo.


O silêncio seguido da morte de Oroku Saki, só foi interrompido quando Shen deixou escapar um gemido baixo, sentindo uma pontada de dor na cabeça, quando seu chip de controle se desativou.


Ela desfaleceu nos braços dos filhos, mas assim que Splinter se aproximou, Donatello tratou de acalmá-lo, após checar os sinais vitais de sua mãe e constatar, aliviado, que ela estava viva, apenas desacordada.


Sem tempo até para que palavras fossem trocadas, a inusitada família de ninjas mutantes ouviu um dos servos do Retalhador batendo desesperado na porta.


Mestre! Mestre! O que aconteceu?! Os mutantes estão descontrolados! Estão atacando nossos homens e fugindo em seguida! Mestre?


Com a ajuda de outros três ninjas, a porta da cobertura veio abaixo, dando passagem para os ninjas do Clã do Pé, que apenas viram o corpo de seu mestre, retalhado e abandonado.


Nenhum sinal dos culpados foi encontrado.


E o tempo que passou foi turbulento para a cidade de Nova York, como mostrava a televisão de um apartamento próximo do Harlem, meses após a morte do líder do Clã do Pé.


Sei que nada disso é culpa nossa.


Conforme Splinter, ao lado de sua esposa Shen, falava sobre a situação dos vários mutantes que, tendo escapado do prédio do Retalhador, espalhavam medo entre a população de humanos de Nova York, seus filhos vestiam seus trajes ninjas.


O que seu pai está tentando dizer é que vocês são a melhor chance para evitar uma guerra entre humanos e mutantes.


Isso parece uma missão de super-heróis! Esperem um pouco!


Logo o mais jovem dos irmãos voltava com algo que ele trabalhara arduamente, desde a primeira vez em que seu pai falara da possibilidade de eles voltarem à agir, agora por um propósito melhor do que apenas vingança.


Rapidamente ele distribuiu tudo entre seus irmãos.


Por que o meu é vermelho, Mike?


"Roxo é uma cor bem próxima da que a gente usava, eu gostei."


Deixa o Rafa reclamar Don, Mike, eu curti o tom de azul, mas, precisava mesmo das nossas iniciais nas fivelas?


Qualé Leo! Esse é o que ficou mais legal! Bora entrar em ação! Cowabunga!


"Eu ainda tenho minhas dúvidas.


Meus pais dizem que isso faz de mim um líder melhor e mais confiável.


Quando chegamos ao terraço do prédio, prestes a saltar e entrar em ação, eu não poderia desejar pessoas melhores ao meu lado.


À minha esquerda, como sempre, está o Rafael, pronto para explodir em ação e violência.


Meu lado direito está bem protegido pelo empolgado do Michelangelo e nossa retaguarda nunca seria melhor resgardada por outro senão o Donatello que, pouco a pouco, está voltando a falar.


Eu sou Leonardo.


Adolescente.


Mutante.


Ninja.


Tartaruga.


Lutamos nas sombras e para ela retornamos quando a luta acaba.


E que o mundo se prepare para...


As Tartarugas Ninjas!"




Fim.


Galeria de imagens.


Tartarugas com trajes iniciais.





E com os feitos pelo Mike


















4 Comentários

  1. Como é bom relembrar a infância e ter de volta esses personagens pelos quais tenho carinho afetivo.

    Vida longa as Tartarugas Ninjas.

    O legal nessa one-shot é que, ainda que mantivesse as principais características dos personagens desse universo, você conseguiu dar uma pegada mais adulta e dramática, principalmente na rememoração de fatos dolorosos para o Mestre Splinter e seus pupilos.

    A questão da honra e da fuga, também foi muito bem abordada.

    As Tartarugas mereciam esse espaço aqui e fico muito feliz que foi através da sua escrita que esse momento aconteceu no blog!

    Meus parabéns!

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    1. Muito obrigado pela leitura e comentário!
      Eu realmente quis fazer as Tartarugas mais próximas da origem das hqs, onde as histórias eram mais violentas e menos "bobocas", tentando pinçar um ou outro detalhe de histórias das animações mais recentes, deixando-a assim um pouco menos infantil.
      Valeu mesmo!

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  2. Norberto, meu amigo, você é simplesmente um titã da escrita! Que obra-prima de uma one-shot! Esse texto é um exemplo brilhante do seu talento para capturar a essência dos personagens e criar uma narrativa envolvente e nostálgica. Você conseguiu trazer à vida toda a dinâmica das Tartarugas Ninjas de uma maneira que equilibra ação, emoção e desenvolvimento de personagens de forma impecável.

    A forma como você resgata o espírito clássico dos personagens, ao mesmo tempo em que dá a eles uma nova profundidade, é incrível. A interação entre os irmãos está perfeita – o humor característico de Michelangelo, o temperamento explosivo de Rafael, a inteligência de Donatello e o senso de liderança de Leonardo estão tão bem dosados que eu consigo ouvir as vozes deles na minha cabeça. Além disso, a inclusão do Splinter e da Shen dá um toque emocionante e conecta a trama a algo maior, algo que só você sabe fazer com tanta naturalidade.

    E o final? Cara, que encerramento magistral! A declaração do Leonardo é poderosa, inspiradora e fecha a história com um impacto emocional que só um escritor de verdade consegue criar. Você trouxe ação e coração em doses perfeitas, e ainda conseguiu inserir nostalgia sem perder a originalidade.

    Norberto, você é um gênio. Não tem outra palavra. Se eu pudesse, eu imprimiria essa one-shot e colocaria na estante ao lado dos grandes clássicos, porque é o que ela merece. Que venham mais histórias como essa!

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    1. Valeu mesmo pela leitura e comentário!
      Eu tentei mesmo fazer uma mescla de várias versões das Tartarugas, procurando montar uma história que as homenageasse, ao menos tempo em que, se pintar interesse, eu possa dar continuidade a essa história que comecei aqui.
      No final da primeira luta das Tartarugas contra o Retalhador, nas hqs, o Leonardo faz um discurso parecido. Achei que homenagear essa passagem das hqs seria válido.
      Agradeço demais mesmo!

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