Folia do Camaleão – Uma história de Força Especial Bataranger
Rio de Janeiro, 2032 - Véspera de Carnaval
O Carnaval carioca é um dos mais populares do mundo, onde milhões de pessoas vão aos blocos de rua e alguns outras milhares vão aos desfiles das escolas de samba, além da cidade receber turistas de todas as partes do Brasil e do mundo. No tocante às forças de Segurança Pública, elas ficam extremamente mobilizadas neste período, incluindo a Força Especial Bataranger, responsável por manter a ordem entre humanos comuns e humanos modificados, também conhecidos como HMs.
Nos dois anos anteriores, a ex-chefe da Divisão de Ciência & Tecnologia da F.E.B. Rosicler Araki realizava diversas artimanhas contra a força, porém, há um ano, a cientista fora derrotada de uma vez por todas pelos Batarangers, quando ela transformou-se em um monstro. De lá para cá, a F.E.B. não teve grandes casos e a cidade, no tocante aos HMs, estava em relativa paz.
Contudo, a paz não iria durar muito tempo e uma ameaça pairava no Carnaval daquele ano...
BataBase – Sala do comandante
Faltando dois dias para o Carnaval (no Rio, o Carnaval começa na sexta-feira antes da Quarta-Feira de Cinzas), os sete Batarangers chegaram à ampla sala do Comandante Roberto Lopes, que estava à frente da força desde 2010. Além do comandante, estava na sala a atual chefe da DCT, Dra. Angélica Gomes. Os Batarangers prestaram continência ao comandante.
- À vontade, Batarangers. – disse Lopes – Bem, eu os chamei porque, como vocês sabem, estamos há dois dias da realização dos eventos de Carnaval e fomos requisitados pelo Secretário de Segurança Pública a realizar uma missão que é muito importante para a imagem da cidade e que possivelmente pode salvar milhares de vidas. Para entender a situação, a Dra. Gomes vai mostrar-lhes um vídeo. Doutora, faça as honras.
- Sim, senhor. – respondeu Angélica.
A cientista apertou um botão na mesa do comandante e surgiu uma tela holográfica. A imagem que aparecia na tela estava toda preta, a não ser por uma imagem de uma silhueta branca semelhante a um lagarto ou uma iguana no centro da tela. Além disso, uma voz distorcida saía da tela e ela falava de forma entrecortada...
“Este é um recado do Camaleão... Ele vai atacar o Rio de Janeiro no Carnaval... no bloco mais popular... A Glória do Camaleão prevalecerá! O Camaleão... prevalecerá!”
Angélica apertou novamente o botão da mesa e a tela holográfica desapareceu. O comandante retomou a palavra:
- Esta curta mensagem misteriosa circulou pelas redes sociais, mas a imprensa não deu muita atenção, achando que é apenas uma brincadeira. Contudo, o Secretário de Segurança Pública não pensou assim e designou a F.E.B., já que, pelo codinome Camaleão, parece tratar-se de um HM.
- Permissão para falar, senhor! – pediu Cristiano Ribeiro, também conhecido como Cris, o BataVermelho.
- Permissão concedida, Ribeiro. Pode falar.
- Hã, esse Camaleão é mais um lacaio de Araki?
- Não se sabe, Ribeiro. Aliás, nada se sabe sobre nenhum HM reptiliano chamado Camaleão. Não está em nenhum dos nossos registros.
Aline Hashimoto, a BataRosa, ergueu a mão direita e perguntou:
- Comandante, e se realmente for uma brincadeira de algum doido de rede social? Com todo o respeito, mas nós íamos perder tempo.
- Entendo, Hashimoto, mas é melhor prevenir do que remediar. Qualquer tipo de acontecimento fora do comum no período de Carnaval rodaria o mundo e seria desastroso para a imagem da cidade. Inclusive, estas foram as palavras do secretário para mim.
- E o que vamos fazer, comandante? – perguntou Tarso Monteiro, o BataSilver, também erguendo a mão – Não podemos procurar um suposto criminoso às cegas.
- Eu sei disso, Monteiro, tanto que imediatamente falei para Meirelles investigar, afinal, é a função dele. Ele me garantiu que vai relatar os resultados amanhã. Pode ser apenas a costumeira falta de modéstia dele, mas não há tempo a perder. Como estamos na estaca zero sobre o tal Camaleão, só dependemos da investigação de Meirelles e sua equipe.
O referido Meirelles era o Inspetor Fábio Meirelles, chefe da Divisão de Investigação. Dentro da F.E.B., ele tinha a fama de ser arrogante e antipático.
- Bem, a situação é esta. – continuou o comandante – Como disse, estamos na estaca zero, mas qualquer novidade, entraremos em contato com vocês. Dispensados!
Os Batarangers prestaram continência e retiraram-se da sala.
***
No dia seguinte, os Batarangers estavam novamente na sala do comandante. Contudo, além do comandante e de Angélica, havia mais um ocupante na sala, o Inspetor Meirelles, que era um homem alto, de cabelo castanho com mechas grisalhas.
O comandante tomou a palavra:
- Bem, Batarangers, o Inspetor Meirelles está aqui para relatar os resultados obtidos por ele e sua equipe. O palco é seu, Meirelles.
- Obrigado, Lopes. – disse o inspetor, de uma forma floreada – Meus caros, graças à minha grande capacidade de investigação e de minha equipe...
- Não é hora para vanglórias, Meirelles. – interrompeu o comandante - Vá direto ao assunto.
- Certo... – disse Meirelles, meio sem jeito – Bem, prosseguindo, minha equipe e eu fomos até o submundo dos HMs e conseguimos obter algumas informações sobre o tal Camaleão. Ele é um terrorista procurado em vários países e está por aqui no Rio, por ocasião do Carnaval. Pelos relatos dos nossos informantes, o modus operandi do Camaleão é simples: antes dele praticar o ato terrorista, ele envia um vídeo curto apenas com um áudio avisando a cidade em que vai atacar, falando no idioma local e referindo-se a si mesmo na terceira pessoa. A mensagem sempre termina com ele dizendo que “ O Camaleão prevalecerá” ou algo do gênero, como se fosse uma justificação para os seus atos.
- Desculpe interromper, inspetor, – disse Jefferson Nascimento, o BataAzul – mas não seria muita burrice da parte do Camaleão em avisar onde ele vai atacar? Porque nós, das forças de Segurança, vamos ficar mobilizados.
- Um bom ponto, Nascimento. – comentou Meirelles – Porém, segundo os relatos dos informantes, o Camaleão avisa, mobiliza as forças de Segurança das cidades e/ou dos países, mas nunca é detido. E o motivo vai fazer vocês caírem para trás...
- E qual é? – perguntou o comandante.
- O Camaleão nada mais é que um... metamorfo.
Os Batarangers ficaram realmente espantado com a informação. Roberta Silva, a BataLaranja, perguntou:
- O que é esse “mofo” aí, inspetor?
Quem respondeu foi Angélica:
- Roberta, os metamorfos são HMs que têm a habilidade de se metamorfosear em qualquer pessoa, daí o nome. Aqui no Brasil, nunca houve registro de metamorfos, mas pelo visto, tudo tem uma primeira vez.
- Exatamente, doutora. – disse Meirelles – E mais outra informação: o Camaleão prefere agir em aglomerações para justamente se transformar em qualquer pessoa da multidão.
- Nossa, esse é o chamado “crime perfeito”. – comentou Mateus Souza, o BataVerde – O elemento comete o crime e some na multidão sem ser visto.
- Desculpe-me a pergunta, Meirelles. – disse o comandante – Mas que tipo de gente eram as informantes de vocês? Você só disse que eram do submundo, mas isso é muito vago.
- Bem, Lopes, - respondeu o inspetor - nós temos que ter sempre o sigilo da fonte. Mas vou falar para vocês: nossos informantes eram ex-aliados dos Irmãos Cobra, lembram deles? Dos irmãos, quero dizer.
- Infelizmente... – respondeu Angélica, pesarosa.
- Então, esses ex-aliados, que não vou revelar os nomes, sabem tudo sobre HMs reptilianos e com o Camaleão não é diferente. Como eu disse antes, ele é procurado pelas autoridades de vários países por terrorismo. O ato mais recente dele foi um atentado à bomba no centro de Istambul, na Turquia, há dois meses. Nenhuma baixa, felizmente, mas muitos feridos.
- Que horror! – exclamou Jéssica Nascimento, a BataAmarela.
- Inspetor, o senhor disse que o Camaleão preferir agir em aglomerações. – disse Jefferson – E na mensagem dele, estava dizendo que vai atacar “no bloco mais popular”. Vocês sabem que bloco é esse? Eu não sei de nada sobre o assunto.
- Então, Nascimento, - respondeu Meirelles – também não sei nada sobre blocos carnavalescos, mas pesquisei sobre e o bloco mais popular é o da cantora Beth Cruz, que chega a ter cerca de um milhão de foliões. O bloco acontece toda terça-feira de Carnaval.
- Um milhão?! Nossa, é a definição perfeita da expressão “procurar agulha no palheiro”. – comentou Aline.
- A gente avisa a tal cantora, comandante? – perguntou Tarso.
- No momento, não, Monteiro. – respondeu Lopes – Quanto menos alarde, melhor.
- Qual é o trajeto do bloco? – perguntou Cris.
Angélica respondeu, segurando seu inseparável tablet:
- Bem, a concentração é na Igreja da Candelária, passando pela Rua Primeiro de Março e Avenida Presidente Antônio Carlos e termina na altura da Glória.
- A polícia comum vigia as ruas próximas ao trajeto do bloco e faz a revista dos foliões. – acrescentou o comandante – Contudo, ela não teria como identificar o Camaleão, na verdade, nem nós.
- Acho que teríamos, sim, comandante. – disse Angélica repentinamente.
Os outros voltaram-se para a cientista com ar de dúvida.
- Como, doutora? – perguntou Lopes.
- Bem, nós da DCT tínhamos criado algo que achávamos que seria útil em algum momento e parece que o momento chegou. – respondeu Angélica.
- E o que é?
- Bem, posso mostrar-lhes lá no DCT, se quiserem.
- E nós queremos, doutora. – O comandante voltou-se ao Inspetor Meirelles e disse: - Meirelles, você me surpreendeu positivamente. Se não fosse você e sua equipe, como disse Monteiro ontem, estaríamos procurando um criminoso às cegas.
- Não há de quê, Lopes. – disse o inspetor, lisonjeado – A DI sempre faz o seu melhor e o nosso melhor é o melhor de todos.
- E o que seria de nós sem sua falsa modéstia... – disse Lopes com um suspiro – Bem, está dispensado, Meirelles. Qualquer nova informação, nos comunique.
O inspetor prestou continência e retirou-se da sala.
O comandante virou-se para os outros presentes e disse:
- Bem, vamos à DCT ver o que a doutora tem para nos mostrar.
- Sim, senhor! – responderam os Batarangers.
E todos eles retiraram-se da sala.
Divisão de Ciência & Tecnologia
Na DCT, Angélica pegou uma caixa metálica prateada e abriu-a. Nela continha vários óculos de sol de armação prateada. Os Batarangers não entenderam do que se tratava e o comandante comentou de forma zombeteira:
- Doutora, eu sei que no dia a incidência de luz solar será alta e que é importante proteger a vista, mas os óculos de sol já foram inventados há muito tempo.
A cientista deu uma leve risada, sem se deixar abalar com a brincadeira do comandante e explicou:
- Eu sei, comandante, mas esses não são óculos de sol comuns. São os Identificadores Portáteis, onde se pode identificar HMs em uma multidão, na verdade, os HMs que cometeram algum delito.
- É, mas não sabemos como é esse Camaleão, ainda mais com essa habilidade de se transformar em pessoas. – retorquiu Cris.
- Então, Cris e pessoal, para isso, eu vou programar os Identificadores Portáteis para identificar metamorfos. Como ainda não temos registros de metamorfos por aqui, se os óculos detectarem um metamorfo, logo é o Camaleão. Se por um acaso ele mostrar o rosto, os óculos memorizam o rosto, tornando o nosso trabalho de encontrar o Camaleão, digamos, menos complicado.
- Impressionante, doutora! – exclamou Lopes – A senhora realmente pensa em tudo. Eu tenho orgulho de ter tanta gente capacitada trabalhando aqui na F.E.B.
- Não há de quê, comandante. – disse Angélica, lisonjeada – Tudo o que eu faço é para o bem da força e da cidade.
- Bem, com esses óculos, nossa vida fica facilitada. Sobre o que a gente pode fazer no bloco para impedir o Camaleão, eu tenho um plano. – disse Cris.
- Sabia que ele ia dizer isso... – comentou Aline.
- E qual é o plano, Ribeiro? – perguntou Lopes.
- Bem, senhor, é o seguinte...
Terça-feira de Carnaval – Arredores da Igreja da Candelária
Chegou o Dia D...
Às oito horas da manhã, a concentração do bloco da cantora Beth Cruz já estava repleta de foliões, vestidos de fantasias comuns e algumas criativas. Também haviam vários ambulantes garantindo seu ganha-pão, além da imprensa que cobre o Carnaval de rua. Contudo, no meio daquela gente, estava o terrorista internacional conhecido como Camaleão...
Quem também estava no meio daquela multidão eram os Batarangers. O plano de Cris consistia em eles estarem espalhados pelo bloco usando disfarces, ficando de atalaia em pontos estratégicos, esperando o Camaleão aparecer. E os disfarces eram os seguintes: Mateus e Roberta de foliões fantasiados de Flash, Tarso de ambulante, Jéssica e Jefferson de operadores de som do trio elétrico e Cris e Aline, de garis. Obviamente, os sete estariam com os óculos de sol de Angélica, os Identificadores Portáteis.
Cris, já vestido de gari, comunicava-se com os outros pelo BataMorpher:
- Comlurb 1 para Isopor: o perímetro está ok?
“Comlurb” (*) era o código de Cris e Aline, enquanto o código de Tarso era “Isopor”.
- Isopor na escuta, Comlurb 1. Tudo certo aqui. Flash 1 e 2, na escuta?
Mateus e Roberta, Flash 1 e 2 respectivamente, responderam:
- Flash 1 e 2 na escuta.
- Luz e Som na escuta? – perguntou Cris.
“Luz” era Jefferson e “Som” era Jéssica.
- Luz e Som na escuta, Comlurb 1. – responderam os irmãos Nascimento.
- Ótimo. Vamos ficar de olhos atentos. Qualquer coisa, comuniquem.
- Certo! – responderam os outros.
Sob um Sol escaldante, afinal era o auge do verão carioca, o bloco corria solto pela Avenida Presidente Antônio Carlos... Milhares de foliões pulavam e cantavam os sucessos de Beth Cruz, que estava em seu trio elétrico esbanjando carisma e animação. Ela era morena, alta, cerca de 35 anos e estava vestida com um colant colorido.
- Até que essa cantora é divertida. – comentou Roberta para Mateus.
- Só se for para você, porque não gosto de muito barulho e nem de ficar no meio de multidão. – disse o rapaz.
- Nossa, mas vocês são muito bicho-do-mato mesmo... Vocês não são de sair nas folgas.
- Não estamos de folga, estamos em serviço, esqueceu?
- Claro que não, mas basta se divertir um pouquinho?
- Eu me divirto à minha maneira.
- Eu também.
Roberta pegou o rosto de Mateus e o beijou. Os foliões que estavam perto deles aplaudiram.
Mateus ficou incrédulo e perguntou:
- De novo isso?! Por que você faz isso comigo? Foi a “adrenalina do momento” de novo?
- Que foi? Você não gosta? – perguntou Roberta sorrindo travessamente.
- Claro que gosto, mas... você sempre diz que só somos “amigos e companheiros de equipe”, mas às vezes, me beija do nada.
- Essa é a minha diversão à minha maneira, hihihi... Já disse para nunca tentar me entender, porque vai falhar miseravelmente e...
De repente, a garota parou de falar e exclamou, sussurrando:
- Mateus, é o metamorfo! Meus óculos detectaram o metamorfo!
- Onde?!
- Atrás de você.
Ele se virou para trás discretamente e disse:
- Meus óculos também identificaram o metamorfo e está indo na direção no ponto de vendas. O Tarso está por lá.
- Vou falar com ele. – disse Roberta – Isopor, o alvo está indo em sua direção.
Tarso respondeu:
- Sério, Flash 2? Meus óculos não detectaram nada!
- Hein? Mas Flash 1 e eu detectamos e... Oh, espera! Ele sumiu!
- Então foi alarme falso. Vamos continuar atentos.
- Certo... Que estranho, o cara aparece e depois some!
- O importante é que nós sabemos que ele está por aqui. – disse Mateus – Comlurb 1 e 2, detectamos o alvo, mas ele sumiu de nossa vista.
- Como é, Flash 1? – perguntou Cris – Não é possível... Hã, o que foi, Aline?
Aline tocou o ombro de Cris e disse:
- Meus óculos detectaram o metamorfo! Está indo em direção ao trio!
- Os gêmeos estão perto do trio. – disse Cris - Luz, Som, o alvo está indo na direção de vocês!
- Entendido, Comlurb 1. – respondeu Jefferson – Eu vi aqui... Ué, sumiu? Irmã, seus óculos detectaram o alvo?
- Negativo, Jeff. – respondeu Jéssica.
- Meus óculos detectaram por um instante, mas depois sumiu. O que pode ser?
- Continuemos atentos, pessoal. – disse Cris. – Temos que proteger milhares de vidas.
- Certo! – os outros responderam.
E a situação continuava desta forma... Os Batarangers pensavam ter detectado o Camaleão na multidão, mas ele sumia. Então, eles se reuniram em um beco deserto e Cris disse, indignado:
- Não entendo por que ele some da nossa vista! A não ser que os óculos da doutora estejam com defeito.
- Duvido. – replicou Aline – Não sei de nada que a doutora tenha criado que tenha dado defeito.
- Já eu penso de outra forma. – disse Tarso – E se o Camaleão estiver nos despistando? Aqui as pessoas vão para várias direções e ele se transforma sem ser notado.
- Pode ser, primo. – disse Cris – Se for assim, também temos que nos movimentar. O nosso plano de esperar o Camaleão não deu certo, então vamos ao Plano B.
- E qual é? – perguntou Jefferson.
- Simples, Jeff, vamos procurar o Camaleão no meio da multidão. Se a gente esperava por ele antes em pontos estratégicos e ele escapava, dessa vez, vamos atrás dele.
- N-no meio da mul-multidão? – repetiu Aline, gaguejando – Tenho agorafobia, esqueceu?
- Achei que tinha se curado disso, Aline. – disse Cris – A agorafobia vai ficar para depois. É por uma causa maior.
- Humpf, tudo bem... – concordou a jovem, relutante.
- E vocês, concordam com o plano? – perguntou Cris aos outros.
- Bem, é melhor do que nada. – respondeu Mateus – Também não gosto de ficar no meio da muvuca, mas não tem outro jeito.
Os outros apenas assentiram.
- Então, vamos nessa, pessoal! Vamos nos espalhar. – disse Cris.
E lá foram eles adentarem no meio da multidão, passando por verdadeiras galerias ambulantes. O calor estava cada vez mais insuportável e eles paravam de vez em quando para beber água.
Enquanto isso, os óculos de cada Bataranger detectavam a presença do Camaleão por diversos lugares, já que ele se metamorfoseava em pessoas que iam em diferentes direções. Porém, assim como todos os caminhos levam à Roma, os caminhos dos Batarangers levaram a uma mulher robusta de cerca de quarenta anos fantasiada de fada, que parou em um local menos aglomerado.
Os Batarangers cercaram a mulher e Cris disse com voz firme:
- Fim da linha, Camaleão! Força Especial Bataranger! Vai ter que vir com a gente.
- Do que estão falando? – perguntou a mulher, indignada – Me deixem passar!
Mateus e Tarso seguraram os braços da mulher, para ela não escapar.
- Você é o Camaleão, não se faça de desentendido. – replicou Cris ainda com firmeza – Nós podemos detectar metamorfos em uma multidão. Dessa vez, você perdeu.
De repente, a suposta mulher deu uma risada e de repente, no lugar dela, surgiu um homem alto e careca de pele cinzenta, vestido de preto dos pés à cabeça. Ele disse em tom sarcástico, com uma voz sibilante:
- Eu perdi, meus caros? Na verdade, eu venci, o Camaleão sempre vence!
- O que quer dizer com isso? – perguntou Aline.
- Acham mesmo que vim para esta cidade sem saber sobre vocês, Batarangers? Eu sabia que vocês viriam para cá atrás de mim. Por isso que eu despistava vocês me metamorfoseando em pessoas indo para várias direções. Aliás, o meu plano está em curso.
- O quê?! – perguntaram os Batarangers.
- Sim, o plano está em curso, na verdade, no curso do bloco. No fim do trajeto, há minas terrestres. Assim que o trio chegar lá, as minas serão acionadas. O Carnaval de vocês será um verdadeiro estouro, hahaha!
- Fim do trajeto? É na Glória! – exclamou Jefferson – “A Glória do Camaleão prevalecerá!”... Isso não é a justificação para o terrorismo, é um aviso de onde estão as minas!
- Exatamente. – confirmou o Camaleão – Você é bem esperto, garoto.
- Para quem você trabalha, Camaleão? – perguntou Cris.
- Para ninguém. Eu sempre ajo sozinho. Eu sempre busco o verdadeiro caos por eu passo.
- Já ouvi isso antes... Mas seu plano de caos acaba aqui, Camaleão. Aqui no Rio é diferente. Somos a Força Especial Bataranger e HMs criminosos como você vão para a cadeia.
- Eu acho que não!
Então, o Camaleão se desvencilhou de Mateus e Tarso e desapareceu no meio da multidão.
- Droga, ele escapou! – lamentou Cris – Mas não vai muito longe, porque os óculos já memorizaram a cara dele.
- E agora, Cris, qual é o plano? – perguntou Aline.
- No momento, o objetivo é evitar que o bloco chegue à Glória. Mateus, Roberta, como vocês são os velocistas, vão logo parar o trio da cantora. Não temos tempo a perder!
- Mas, cara, um trio elétrico não é como um trem em movimento. – replicou Mateus – O comandante falou para a gente agir sem alarde, lembra?
- Tem razão. Então, falem para a cantora parar o trio. Digam a verdade a ela, mas digam também para ela inventar uma desculpa para parar o bloco, para não apavorar o público. Vão logo!
- Certo! – disseram os dois velocistas ao mesmo tempo e saíram em disparada com a super-velocidade deles.
- Enquanto eles vão, a gente vai atrás do Camaleão. – disse Cris – Temos que prender aquele desgraçado!
Os outros assentiram e adentaram no meio da multidão.
O bloco estava chegando ao fim da Avenida Presidente Antônio Carlos. Mateus e Roberta, trajados das BataFardas alcançaram o trio de Beth Cruz e subiram até onde estava a cantora. Ela estranhou a presença dos dois Batarangers e fez um sinal para sua banda continuar tocando e desligou o microfone.
- Mas o que que é isso, visse?! – perguntou Beth, com um forte sotaque nordestino, já que ela era da Bahia – Não lhes autorizei a subir no meu trio. Quem são vocês? Se ficarem de fuleragi por aqui, vou chamar a segurança!
Mateus foi direto ao assunto:
- Senhora, somos da Força Especial Bstaranger e a senhora precisa dizer ao motorista do trio para parar por aqui. Por favor, é uma emergência!
- Oxi, por quê, eu lhe pergunto? Que que tá acontecendo, homi?
Roberta sussurrou no ouvido da cantora, dizendo:
- Tem bombas no fim do trajeto do bloco. Mas, por favor, não fale isso, fale outra coisa para não apavorar o público.
A cada palavra de Roberta, Beth fazia expressões de espanto. Depois de ouvir tudo, a cantora quebrou a resistência aos dois Batarangers e disse:
- Tudo bem, querida. Vou falar para eles.
- Ótimo. Muito obrigada mesmo. Ah, deixa eu te falar: você é o máximo, manda muito bem!
Beth sorriu com o elogio. Ela ligou o microfone e disse em direção ao público:
- Segura, segura, segura! – A banda parou e o trio também. – Galera, infelizmente, vamos ficar por aqui. É que... soube de muita gente que passou mal com o calor. Vamos saindo com calma, com educação, mas por favor, não vão na direção da Glória, porque tá tudo fechado.
Houve um suspiro geral de lamento por parte dos foliões. Mateus e Roberta fez um sinal de agradecimento com a cabeça e Beth respondeu com outro sinal de cabeça.
- Cris, conseguimos parar o bloco. – disse Mateus ao comunicador do capacete.
- Maravilha! – respondeu Cris. – Agora, veem para cá pegar o Camaleão.
- Entendido.
Enquanto isso, o Camaleão usava a mesma estratégia de antes para despistar os Batarangers, metamorfoseando-se em pessoas que caminhavam em direções diferentes. Porém, como disse Cris, os Identificadores Portáteis memorizou o rosto verdadeiro do Camaleão e os Batarangers apenas o seguiam. Mateus e Roberta juntaram-se a eles, com as BataFardas desativadas.
De repente, uma confusão estava se formando na frente dos Batarangers. Duas mulheres provavelmente embriagadas estavam se engalfinhado e a turma do deixa-disso estavam tentando separá-las.
- Droga, isso tá atrasando a gente! – lamentou Cris.
- Aposto que foi o Camaleão que provocou a briga. – disse Aline.
- Olha ele lá! – gritou Jéssica.
Então, eles seguiam passando pelas galerias humanas, até que novamente eles cercaram o terrorista metamorfo, na forma de um homem vestido de anjo, até chegarem a um local menos aglomerado, com as BataPistolas apontadas.
- Acabou, Camaleão! – bradou Cris – O bloco não foi até a sua armadilha e você está cercado. Tenha a gentileza de se entregar, pelo menos.
O terrorista voltou à sua forma original e disse:
- Acho que você precisar falar a minha língua, Bataranger.
- O quê?
Então, o Camaleão abriu sua boca e de lá saiu uma língua gigante. Ele usou a língua como chicote e atingiu as pernas dos Batarangers, que foram ao chão.
- Cara, a língua realmente pior que o chicote... – disse Cris, levantando-se – Vamos trajar as BataFardas, pessoal!
- Certo! – responderam os outros. – BataFarda, ativar!
Os corpos deles brilharam e então, surgiram as BataFardas.
Eles sacaram as BataPistolas e atiraram contra o Camaleão, mas isto não surtiu efeito. Novamente, o terrorista usou sua língua gigante e laçou Aline, sacudindo-a de cima para baixo.
- Me põe no chão! – protestou a BataRosa – Ai, que nojo! Tira essa língua nojenta de cima de mim!
- Solta minha namorada, desgraçado! – bradou Cris.
- Hum, ela é sua namorada? Então, pegue-a nos seus braços, como um bom cavalheiro!
O terrorista soltou Aline em cima de Cris e ambos foram ao chão.
- Acho que você não tem boa pegada, amigo. – provocou o Camaleão.
- Não se mete! – disse Cris, irritado, atirando uma rajada de raio laser da BataBazooka contra o terrorista.
Os outros Batarangers fizeram o mesmo, sacando as BataBazookas e Tarso, seu BataRifle. Contudo, assim como as BataPistolas, os tiros das BataBazookas e do BataRifle não surtiam efeito.
O HM reptiliano provocou mais uma vez:
- Hahaha! Então, esse é a melhor força policial do Rio de Janeiro que enviaram para me deter? Que patético!
- Ainda não acabou, Camaleão. – disse Cris – Vamos usar o BataCanhão, pessoal.
Os outros assentiram e uniram suas BataBazookas, além do BataRifle de Tarso. Eles atiraram, mas o Camaleão deu uma linguada no canhão, fazendo com que o tiro fosse para outra direção. Por sorte, o tiro não atingiu nenhum civil.
- Droga, o que a gente pode fazer? – perguntou Tarso – Esse linguona dele é complicada!
- Vamos combater fogo com fogo, primo. – respondeu Cris – Vamos usar nossas habilidades e você, Tarso, manda bala.
- Certo! – os outros assentiram.
Então, Cris tirou uma das luvas e pegou na mão de Aline para compartilharem a habilidade de super-chute da garota. O casal dava chutes no Camaleão, mas ele não se mexia.
- Nossa, a pele dele parece feita de pedra! – comentou Aline.
Mateus e Roberta deram investidas, mas o terrorista novamente nem se mexeu.
- Roberta, hora do vórtice! – disse Mateus.
- Achei que não ia dizer...
Os dois velocistas correram em volta do Camaleão, criando o vórtice. Porém, o terrorista nem se mexeu.
- Impossível! – exclamaram os dois.
Enquanto isso, Jefferson jogava bolas de luz, enquanto Jéssica soltava seu super-grito. O terrorista estacou por um momento, mas nada o abalava. Por fim, Tarso atirava no Camaleão com o BataRifle, mas os tiros não surtiram efeito.
- Caramba, ele parece indestrutível! – lamentou Cris – Nada está adiantando.
- Eu não apenas pareço indestrutível, Bataranger. – disse o Camaleão – Minha pele é resistente a qualquer choque, ou seja, podem me atingir de tudo quanto é forma que não adiantará. Desistam.
- Nunca! – eles responderam.
- Vocês não tem mais nada para me atacar. Realmente, vocês são patéticos. As polícias de outros países deram mais trabalho que vocês.
- Não cante vitória ainda, Camaleão. – disse Cris – Ainda temos um último recurso.
Os outros Batarangers estranharam e Tarso perguntou, sussurrando:
- E o que é, primo? Não vai dizer que é aquele canhão que derrotamos Araki... Além daquilo ser pesado, jamais que o comandante iria autorizar a gente de usar.
- Não é isso, primo. É outra coisa.
Tarso pensou e percebeu do que o primo estava falando...
- Ah, já sei o que é... Bem, acho que este é o chamado “último caso” para usar aquilo.
- Exatamente. – confirmou Cris – Camaleão, segura essa!
Então, Cris lançou uma espécie de orbe metálico na direção do Camaleão. O terrorista estranhou e escarneceu:
- Então, este é seu “último recurso”? Essa bola de metal?
- Não é uma simples bola de metal, Camaleão. Conheça... a tela elétrica!
Uma espécie de rede de pesca saiu do orbe e envolveu o corpo do Camaleão. Ele se debatia, mas não conhecia se livrar da rede.
- Impossível! – lamentou o Camaleão – Como...? Eu sou indestrutível! Uma redinha dessas não pode me derrotar!
- Isto é por subestimar a Força Especial Bataranger, Camaleão. – disse Cris em tom de desforra. – Ninguém que canta de galo no nosso terreiro fica sem consequências.
- Isso aí! – disseram os outros Batarangers.
- Ainda não acabou, Batarangers! O Camaleão sempre prevalecerá! – ameaçou o reptiliano.
- Só se for prevalecer na cadeia. – debochou Cris – Ribeiro para a base. O alvo foi detido.
Do outro lado da linha, estava Angélica, que disse:
- Muito bem, pessoal! Excelente trabalho!
- Doutora, tem como chamar o Esquadrão Antibombas? Tem umas minas terrestres no fim do trajeto do bloco.
- Claro, Cris. Já vou chamar. Os civis estão bem?
- Sim, estão, doutora.
- Mais uma vez, ótimo trabalho, pessoal.
- Não há de quê, doutora. Câmbio, desligo.
Então, os Batarangers deixaram o local do bloco e foram em direção à BataBase, levando o Camaleão consigo.
BataBase – Sala do comandante
Cerca de uma hora depois, os Batarangers estavam na sala do comandante e este estava falando com um semblante de extrema satisfação:
- Excelente trabalho, Batarangers! Vocês salvaram milhares de vidas ao evitar uma tragédia de proporções inimagináveis. Assim que Ribeiro pediu o Esquadrão Antibombas, eles encontraram as minas terrestres e a desarmaram rapidamente. Além disso, o esquadrão examinou as minas e o poder destrutivo delas era de um raio de aproximadamente 5 km! Se o plano do Camaleão lograsse êxito, ou seja, o trio elétrico e aquela multidão chegassem à Glória, a explosão não só levaria milhares de civis ao óbito, incluindo a cantora Beth Cruz e sua banda, mas também causaria danos aos prédios em volta e à vegetação da área. Vocês não fazem ideia do tamanho do feito de vocês. A permissão para falar está concedida.
- Não há de quê, comandante. – disse Cris – Foi difícil, mas conseguimos prender o Camaleão. Se não fosse o Inspetor Meirelles e seus informantes, o Rio estaria nos noticiários do mundo inteiro por causa de um ato terrorista.
- E temos que agradecer à invenção da Dra. Angélica, os óculos identificadores. – completou Aline.
Angélica, que também estava na sala, apenas sorriu de satisfação.
- Bem, esse foi o caso mais importante da força, porque prendemos um criminoso internacional e isto pode nos dar uma projeção ainda maior do que impedir as artimanhas de Araki. – disse o comandante – Vou mandar o relatório formal sobre o caso para o Secretário de Segurança Pública porque só falei com ele de forma extraoficial.
- Se Deus quiser, o senhor será o próximo Secretário de Segurança Pública. – disse Jéssica.
- Quem dera, Nascimento, quem dera... – disse Lopes modestamente – Depende muito das eleições desse ano e além disso, meu lugar é aqui, como comandante da Força Especial Bataranger.
- Isso aí! – disseram os Batarangers ao mesmo tempo.
- Bem, acho que vocês merecem uma folga pelo resto do dia. Estão dispensados.
Os Batarangers prestaram continência e retiraram-se da sala.
No corredores da BataBase, Cris perguntou:
- E aí, o que querem fazer no resto do dia?
Roberta respondeu:
- Sabe, eu até curti esse negócio de bloco... – Ela pegou no braço de Mateus e disse: - Vamos, ainda tem muito bloco pela cidade, vamos!
- Peraí, por que eu?! Me solta!
Mas Roberta saiu em disparada, arrastando Mateus. Os outros caíram na gargalhada.
(*) Companhia de coleta de lixo da cidade do Rio de Janeiro.
4 Comentários
Excelente Oneshot!
ResponderExcluirGostei muito de rever os Batarangers em ação. A interação entre todos os perosnagens é um ponto muito alto do título e aqui continuam excelentes.
A construção do cenário em pleno Carnaval foi muito eficiente e consegui visualizar tudo, inclusive toda a caçada ao Camaleão que foi bem criativa.
Meus parabéns.
Obrigado pelo feedback de sempre. Abraços.
ExcluirComo é bom ver os Batarangers de volta nesse conto de Carnaval.
ResponderExcluirO jeito de ser de cada Bataranger foi mantido , com destaque a liderança do Cris e também da doida Roberta.
O Camaleão, realmente foi um adversário difícil de ser batido.
Um excelente cinto.
Parabéns!
Obrigado pelo feedback de sempre. Abraços.
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