Capítulo VIII - O segredo se espalha
Alberich XVIII pergunta ao filho sobre o que está
acontecendo, e este responde que não é nada demais. Que viu uma lebre na perto
das árvores e nada mais.
Em casa, após voltar do passeio e já em seu quarto, Alberich
começa a ligar os pontos. Shido teve um irmão gêmeo chamado Bado que logo após
nascer foi abandonado pelos pais por determinação da lei asgardiana. Ele já
tinha ouvido falar de rumores segundo os quais algumas pessoas dizem ter visto
um garoto idêntico a Shido nas florestas de Asgard.
Durante um tempo ele achou que isso não passava de rumores,
histórias que as pessoas inventam. Ilações de gente que quer ter seus 15
minutos de fama, engraçadinhos na melhor das hipóteses. E, além disso, ele,
assim como os outros, também achava que àquela altura o menino já deveria estar
morto. “Algum aldeão deve ter o salvado da morte certa, só pode ser”, conclui
Alberich, mais uma vez pensando fora da caixinha.
Mas agora ele viu com os próprios olhos o menino, como
também viu que ele não era apenas similar a Shido. Tirando o detalhe do cabelo
despenteado e a indumentária mais simples, típica de aldeões das vilas
próximas, ele é na verdade idêntico a Shido. Tudo nele lembra Shido.
E ai Alberich chegou à conclusão de que aquele menino que
viu na floresta próxima ao lago Luonto é na verdade o irmão perdido de Shido,
Bado. Só pode ser ele. E desde então Alberich resolveu tirar vantagem disso.
Afinal, conhecimento é poder.
Os livros que Alberich leu a respeito dos guerreiros deuses
de Asgard falam sobre os locais nos quais as armaduras divinas se encontram. Tais
armaduras geralmente se escondem em cavernas, rochedos, corpos d’água e áreas
de florestas densas em Asgard.
Ainda segundo os textos e manuscritos, os locais das
armaduras estão todos alinhados com as posições no céu das estrelas do
asterismo do Grande Carro a constelação da Ursa Maior. Dubhe, a estrela alfa
(ou seja, a estrela mais brilhante de uma constelação) da Ursa Maior; Merak, a
estrela beta; Fekda, a estrela gama; Megrez, a estrela delta; Alioth, a estrela
Épsilon; a dupla ótica Mizar e Alkor, a estrela zeta; e Benetnash, a estrela
eta.
Por meio da posição das estrelas no céu, Alberich consegue
determinar onde que a lendária armadura de Alkor se encontra. É precisamente
nas profundezas do lago Luonto. Só pode ser ali, conclui ele. Ainda mais
levando em conta que ele também sabe a respeito das lendas da região em torno
do lago Luonto. Incluindo a de que uma estátua em forma de um grande felino
pode estar escondida nas profundezas deste lago.
Certo dia, ele foi pessoalmente ao lago. Ficou horas por lá,
observando o lago congelado para ver se encontrava algo com a ajuda de um
binóculo ocular. Dizem os aldeões locais que a água do lago Luonto é tão pura e
cristalina que em determinados dias do ano até mesmo as profundezas do lago
podem ser vistas da superfície.
Após muito procurar, ele do alto encontrou algo que lembra o
formato de um grande felino branco com dentes caninos sobressalentes. Mas, de
repente, quando olhava para a armadura branca, uma foca anelada que vive no
lago Luonto aparece vinda de uma área na qual o gelo está quebrado e que ela
usa para respirar periodicamente.
A foca joga água para o lado de Alberich, bate as nadadeiras
dianteiras e em seguida joga ainda mais água. Ela, toda alegre, se rola, fica
de barriga para cima e em seguida pede carinho de Alberich como se fosse uma
foca amestrada de circo. Como se o próprio Alberich fosse o tratador dela.
Isso deixa Alberich enfurecido com a foca. A foca só ri da
situação. Que por sua vez rapidamente se
oculta nas águas do lago. “Ora sua intrometida, você vai ver! Você me paga por
ter me molhado desse jeito! Não tem graça nenhuma isso que você fez! Eu vou te
achar!”, diz Alberich ao animal aquático. Ele tenta procurar a foca por alguns
minutos, mas a busca se mostra inútil e, uma vez de cabeça esfriada e com as
ideias no lugar, desiste de querer apanhá-la e dar uma lição nela.
Horas mais tarde, em casa e com a cabeça esfriada, Alberich
tem tempo de refletir sobre o que descobriu. “Quer dizer que o oitavo guerreiro
deus existe... bem como eu vinha desconfiando”, diz ele sentado na escrivaninha
da casa dele, com um sorriso malicioso estampado no rosto.
Nessa mesma época, ideias de um dia ser o governante supremo
de Asgard surgem na cabeça de Alberich. Alberich já achava Durval um idiota, um
inepto que vivia querendo dar passos maiores que a perna e que cedo ou tarde
iria levar a si mesmo a ruína. E depois que Hilda o sucedeu a ambição e o
desejo de Alberich por poder não sumiu. E isso não passou despercebido por
Hilda e Freya, as quais sabiam da e pediam para que usasse seus talentos para
coisas mais, digamos, produtivas. Alberich apenas espera o momento mais
adequado para colocá-los em ação. Com calma, classe, elegância e mais uma dose
de ironia. Quando Hilda menos esperar.
No palácio Valhalla, Freya se lembra de uma história que
ouviu há muito tempo. Sobre o filho de Durval que ele mesmo abandonou tão logo
nasceu, Egil. Egil era ninguém menos que o irmão gêmeo de Harald, o filho de
Durval que almejava aplicar um golpe de Estado contra sua irmã Hilda.
Segundo a história que ela sabe, Egil foi entregue a
oficiais de alta patente da SS (os quais frequentavam o palácio Valhalla) com o
beneplácito do próprio Durval. E ela se pergunta o seguinte: qual foi o destino
ulterior de Egil, tão logo Durval se desfez dele e escolheu Harald? Uma coisa é
certa para a loira: que ter abandonado um dos filhos não impediu que Durval
tivesse um fim inglório e patético.
Freya também se pergunta do seguinte: tendo em vista o que
aconteceu com Durval, será que a superstição de que gêmeos trazem má sorte as
famílias e as destroem faz sentido algum? Juntando os pontos, Freya começa a
pensar que as coisas não fazem muito sentido, ainda mais levando em conta que
abandonos de filhos gêmeos não impediram que em famílias que assim procederam
houvesse casos de filhos que padeciam de males genéticos como hemofilia,
demência e talassemia. Também não são poucos os casos de famílias graúdas em
Asgard que perderam filhos e filhas para a hemofilia.
Ela até conversou com Hilda a esse respeito certa vez, no
Palácio Valhalla, a respeito do destino ulterior de Egil, depois que Durval o
abandonou e o entregou aos oficiais da SS Felix Mahler e Joachim Schneider, em
1942. Algo sobre o qual ninguém em Asgard sabe e que ninguém fez questão de
saber. Hilda pergunta a irmã sobre o motivo do interesse dela nisso. Freya
responde que é no mínimo embaraçoso não se saber do destino ulterior dele, que
querendo ou não é um parente delas. Mais precisamente, um tio de segundo grau.
“Não acha que está na hora de tentarmos descobrir sobre isso?”, pergunta Freya à
irmã.
Hilda em um primeiro momento hesita em responder. Se se deve
ir ou não atrás dessa história. E que procurar pelo destino ulterior dele é
como procurar uma agulha em um palheiro. “Mas podemos tentar, né Hilda?”,
pergunta Freya. Hilda responde que sim. A regente de Asgard logo se lembra de
que um primo dela, Ulf Larsson, é o embaixador de Asgard na Noruega. “Talvez
ele possa nos ajudar”, Hilda conclui.
Hilda e Freya em seguida colocam Siegfried e Hagen a par de tudo, mas estes se mostram céticos e acham que isso é como procurar uma agulha no palheiro.
1 Comentários
Com a notícia se espalhando e o interesse de Hilda, o segredo de uma família nobre aasgardiana ganha contornos mais dramáticos.
ResponderExcluirA história vai se tornando mais densa.
Parabéns!