Olá Tokuleitores.
Aqui está mais uma One Shot do cenário compartilhado, Mindstorm 3.000. Esse é especial, pois nasceu de algumas conversas entre mim e o colega Jirayraider.
Pensamos em um lugar que poderia gerar histórias diferentes e que raramente alguém usou em outros títulos e chegamos a região do Alasca, criando toda uma Megacidade Inuit (os Esquimós) para então eu preparar essa história de apresentação e depois passar o bastão para meu colega escritor, que ira desenvolver algumas histórias nesse local.
Apresentação feita, sem mais delongas... Boa leitura!
Mindstorm 3000.
Um dia no Gelo.
Alasca,
região do grande deserto congelado.
Em
meio a toda imensidão branca, sob um sol causticante, cujos raios mal eram
filtrados pelo que restara da camada de ozônio mas, que ainda assim não era
suficiente para aumentar as temperaturas negativas, jazia uma imensa
construção.
Um
prédio negro, cujos vidros fumês ajudavam a destacá-lo da paisagem sem cor,
facilitando ser visto a quilômetros de distância, de onde dois indivíduos,
trajando pesados casacos térmicos, acabavam de deixar um confortável aerotrenó
e seguiam até a entrada principal.
Uma
vez lá dentro os dois abaixaram primeiro os capuzes e retiraram as máscaras que
protegiam seus rostos do frio, bateram as pesadas botas, retirando as
partículas de neve e gelo, trocando-as por sapatos mais confortáveis, que se
ajustaram de imediato a seus pés.
Só
então eles realmente entraram no centro de tratamento de água potável Grande
Sedna 3.000, batizado assim em homenagem ao mítico senhor dos animais marinhos
da mitologia Inuit.
Totalmente
automatizado, no centro do prédio, um imenso dreno sumia no solo gelado, a
ponta a milhares de metros dentro de uma área de água potável, descoberta pouco
depois do fim da Terceira Guerra, se tornando a principal fonte de renda da comunidade
Ilulissat.
Do
dreno principal, vários tubos seguiam para tanques, de onde eram filtrados todo
tipo de resíduo, enquanto em outros eram separados e devolvidos todos e
quaisquer animais marinhos que por ventura viesse a ser sugados.
Os
que parecessem mais perigosos eram devidamente congelados e armazenados para
ser enviados para empregas genéticas, para estudos.
-
Você sabe pra que usam mesmo esses bichos novato? - Akna finalmente havia se
dignado a falar com o novo parceiro que a empresa havia lhe enfiado goela
abaixo e que havia ignorado durante toda a viagem até ali. - E eu tô falando da
verdade, não do que os manuais da empresa falam….
Malik
permaneceu em silêncio, uma tentativa falha de replicar o modo como fora
tratado, mas ele não conseguia ocultar a curiosidade sobre o assunto abordado
pelo outro.
-
São enviados para aquelas empresas genéticas que montam os monstros lá da
prisão da Austrália… - ignorando o silêncio do outro, como que tendo passado
por uma transformação depois de entrarem na Grande Sedna, o funcionário mais
antigo agora tagarelava sobre a empresa. - Outro dia vi num documentário uns
tipos de cachorros que nem podiam fechar as bocas, pois tinham sido implantados
uns dentes iguais aos desses peixes abissais que pegamos vez ou outra por aqui…
Como
que para ilustrar usa palavras, por um dos canos que armazenavam criaturas
vivas, um cardume de horríveis peixes caia num dos canos, atacando uns aos
outros por causa do stress de serem retirados de seu habitat.
-
Olha isso… Eca… - agora ele dava as costas para Malik, indo fazer o trabalho
enfadonho deles, conferir se as rotinas da fábrica estavam rodando normalmente.
- E pensar que, apesar disso, a maioria do mundo consome a nossa água… Será que
alguns parariam ao ver uma cena dessas?
Percebendo
que aquela era mais uma pergunta retórica, o jovem inuit se afastou, indo
conferir outros aparelhos e recolhendo diagnósticos variados.
No
fim do dia, ou melhor, do expediente, uma vez que estavam na época do ano em
que o sol não se punha durante meses, os dois voltaram para a megacidade de
Ilulissat, atracaram o aerotrenó num dois cais da Grande Sedna e, enquanto
seguia para o centro de comando entregar os dados, Akna dispensou Malik,
dizendo que se encontrariam dali a algumas semanas para outra inspeção.
Nunca
mais se viram.
Em
uma das várias escolas de ensino de Ilulissat, a megacidade Inuit, uma nova
estudante era apresentada à turma do primeiro ano.
- Turma, conheçam Aputsiaq... Pode se apresentar minha
querida...
- Eu... Sou de uma
tribo que ainda era nômade até poucos meses atrás... Mas a vida na Grande
Imensidão Branca estava cada vez mais difícil e perigosa... Meus pais seguiram
a decisão do nosso conselho e nos instalamos na região norte de Ilulissat... Meus pais não
concordavam com tal decisão, mas não dava para ficar sozinho, daí viemos
junto... Demorou um tempão para eles deixarem que eu viesse prá escola e...
Hã... Agora estou aqui...
- Muito bom
Aputsiaq... Nossa, você é muito articulada... Agora pode se sentar... Hum...
Ali temos uma carteira vaga... Isso, sem conversar crianças... Vamos à aula...
A professora então
seguiu fazendo uma chamada e assim que conseguiu chamar a atenção das crianças,
após várias tentativas, seguiu explicando sobre a criação de Ilulissat, a Megacidade
Inuit das águas eternas.
“Quando a Terceira
Guerra terminou os anciões de todas as tribos Inuit se reuniram num grande
conselho, prevendo todas as mudanças que viriam pelos próximos anos, houve
chegaram a uma decisão sem precedentes.
A prática do
nomadismo não mais aconteceria, pelo contrário, a partir daquela data, todos os
povos inuits se reuniriam numa grande nação, uma forma de se prepararem para o
que poderia vir.
Assim nasceu Ilulissat.
Assim que o
primeiro assentamento se reuniu, enquanto o conselho, agora responsável por
fazer funcionar algo que nunca fora tentado antes, se esforçava para manter a
ordem, um grupo especial foi reunido.
Os Desbravadores
do Gelo.
Dentro da cultura
inuit, sempre existiram indivíduos que viajavam de tribo em tribo, reunindo
histórias e informações, chamados de narradores da neve.
Era uma maneira de
manter todo um povo conectado, muito antes de sequer pensarem na criação da
internet.
Agora os
Desbravadores do Gelo teriam uma missão diferente, eles seguiriam para outros
lugares do mundo, para vários países, acompanhando e aprendendo o que fosse
possível sobre as novas tecnologias que estavam surgindo.
Famílias inteiras
deixaram a região do Alasca, passaram décadas fora e quando cada um dominava
algo que pudesse ser utilizado para o avanço tecnológico de Ilulissat.
Os primeiros
Desbravadores que voltaram mostraram ao conselho os riscos de, em um futuro não
muito distante, a agua potável do planeta começar a se tornar algo raro de se
encontrar.
Surgiu então um
foco para a nova mega cidade que ia surgindo pouco a pouco, conforme outros
Desbravadores iam voltando e trazendo novas tecnologias, usadas para o
crescimento de Ilulissat e formas de
armazenar quantidades enormes de água potável, visando a demanda que o futuro
traria.”
- Agora classe...
- demonstrando uma paciência sem limites, a professora tentava trazer a atenção
de seus alunos, sendo que a maioria preferia brincar e provocar umas as outras.
- Vamos fazer alguns desenhos...
Aos poucos as
crianças foram se acalmando, apenas Aputsiaq havia permanecido em silêncio e
totalmente concentrada na história contada e agora ia pegando seu tablet e a
caneta digital para fazer o desenho pedido pela professora.
- Quero que todos
façam um desenho de suas famílias, de quem vive com vocês em suas casas, seus
pais, suas mães, avós... Sim Yuka, pode incluir seus animaizinhos...
Nesse momento
Aputsiaq travou, os olhos piscaram levemente, num movimento involuntário que
não foi percebido por ninguém, mas assim que recuperou o foco, a menina
levantou a mão e pediu para ir ao banheiro.
- Claro querida...
Se não puder esperar...
Mal a frase deixou
os lábios da professora e a menina já não estava mais na sala.
XXX
O caminho para
cada foi feito de forma apressada, mesmo tendo passado pelo caminho de sempre,
através dos campos polares, onde várias pessoas passeavam com seus mascotes e
companheiros animais, os Ursos Polares.
Quando tais
animais entraram em extinção, vários inuit tomaram para si a missão de
mantê-los a salvo, criando essa área dentro da Mega cidade onde os Ursos
poderiam viver em paz, mas conforme o tempo passou, um cientista conseguiu
criar um aparelho que permitiria a comunicação com os animais, dando-lhes, no
processo, um aumento considerável da inteligência.
Desde então os
ursos polares passaram a integrar a sociedade inuit, não apenas como animais,
mas, em muitos casos, como cidadãos.
Carinhos foram
feitos nos imensos ursos, que traziam no alto da cabeça um aparelho, feito nas
mesmas cores do pelo branco para não se destacar demais, carinhos que foram
respondidos com ronronados, com sinais digitais de felicidade e em alguns casos
com os vocalizadores instalados nas gargantas de alguns dos ursos.
- Muita felicidade
para você...
Assim que disse
isso, um dos animais se afastou para continuar um papo animado com dois outros
colegas que, juntos, estavam tirando sarro da falta de força dos humanos.
- Estou em casa...
- Aputsiaq entrou por uma porta que se fechava num movimento lateral atrás da
garota, enquanto ela retirava o casado e as botas, acondicionando-as em
aberturas nas paredes próximas, onde as peças de roupa seriam devidamente
higienizadas e guardadas para quando ela precisasse. - Pai?
Alguns passos
depois, a menina sofreu uma metamorfose, alterando drasticamente a forma de seu corpo e assim, quem chegou à porta da cozinha da casa, era Malik, o homem que
trabalhava na Grande Sedna, ainda procurando aquele que fora seu criador.
A cada comodo
vasculhado, uma pessoa diferente surgia, sempre passando por uma transformação corporal completa, uma mulher grávida, um membro da
polícia privatizada, uma velha narradora das neves, um adolescente de cabelos
coloridos.
Como sempre, já
não era surpresa nenhuma, o criador fora encontrado debruçado sobre vários
holoteclados, fazendo brilhar em telas também holográgicas, que flutuavam ao
redor dele, fórmulas diversas, além de modelos de DNA e informações variadas a
respeito de Ilulissat, fosse sobre os moradores, bem como das
empresas atuantes na cidade.
-
Criador... - conforme se aproximava, a criança inuit foi assumindo uma nova
forma, cujo sexo era indistinguível, a pele acinzentada, os olhos ficando
grandes e negros. - Cheguei... Trouxe novas informações... Inclusive
sensoriais.
-
Perfeito... - o criador não parou o que estava fazendo, ao se dirigir para sua
criação. - E nenhuma das pessoas com as quais você teve contato desconfiou de
sua... Origem?
-
Não... Todos me trataram como... Um ser humano comum.
-
Excelente... Excelente... Agora podemos mesmo começar.
Apenas o início.
Ilustração da Criatura.
12 Comentários
Gratidão Norberto por esse capítulo maravilhoso que é o pontapé inicial para a entrada de Jirayrider no universo compartilhado Mindstorm 3000.
ResponderExcluirMuito bem escrito por ti , o capítulo mostra uma organização que atua no antigo Alaska, cujo o líder não revelado , fornece água para o mundo além de atuar nas mutações genéticas com experimentos em humanos .
Obrigado pelo texto .
Daqui pra frente, deixa com o Jirayrider kkķkkk.
Estamos juntos amigo!
ExcluirFoi apenas um vislumbre, uma leve pincelada nesse cantinho gelado do Mindstorm...
Agora a direção desse carro fica com você Jira. Que bons ventos te guiem.
Amém
ResponderExcluirRapaz... Então esse material aqui sela a união Norberto com Jirayrider! PQP. Vai ser uma super produção! Um escritor como Norberto aliado a uma pessoa tão criativa como Jirayrider promete bons frutos. Meus mais sinceros parabéns.
ResponderExcluirSei que não pensaram nisso, mas esse cenário gelado e aterrorizante com essa criatura me fizeram lembrar do clássico ENIGMA DO OUTRO MUNDO. Sério... kkk .
Parabéns. AMEI MESMO!
Obrigado Artur!
ExcluirEspero estar a altura de tamanho desafio . Dar sequência ao trabalho do Norberto é algo desafiador e gratificante ao mesmo tempo.
Vamos que vamos!
Valeu a leitura e comentários amigo Artur.
ExcluirQuando ao excelente filme Enigma de outro mundo, não dá pra fugir de certas influências né?
Espero que ainda assimt tenha ficado bom o suficiente para que o amigo jirayrider possa se divertir nesse canto gelado.
Agora é... Aguardar e confiar
Episódios do Norb sempre te resguardam esse prazer, que é tu nunca ter ideia do que vai acontecer e quando tu pensar que tem ideia de algo, ele te dá uma rasteira e tu volta pro zero! Cogitei que o colega não ia responder, ele respondeu, quando se despediram, pensei, só daqui há semanas de novo, mas tá beleza, vão se ver... Nunca mais se viram! Quando achei que a criança era uma criança, ela vai pra casa quando pediu pra ir ao banheiro e... Não era uma criança! Enfim, maravilhoso trabalho, narrando algo ainda não abordado e que como disse o Artur, transporta a gente pra outro mundo, uma realidade quase não usada antes! Mas eu preciso de ajuda pro final, eu me perdi um pouco no texto, a menina entrou procurando o pai, que era seu criador, e depois surgiu Malik, procurando seu criador também? Malik é o mesmo que a menina? Assim como as demais pessoas vistas? Porque quem fala com o criador é até onde entendi, a menina, e o Malik ficou onde, estava na sala observando? Gratidão se puderam me ajudar e mais uma vez, parabéns pelo trabalho incrível, curti muito!
ResponderExcluirEsse é o meu universo dentro do Mindstorm 3000.
ExcluirTudo foi feito de propósito.
Falar e nada explicar.
Agora é comigo. Kķkkkk!
Vou ligar as pontas soltas.
Aguarde!
Olá Lanthys, meu amigo!
ExcluirObrigado pela leitura, pelo comentário e a força de sempre.
Sobre a ajuda no final.
O Malik e a Aputsiaq são a mesma criatura... Nessa trecho: "Alguns passos depois, quem chegou à porta da cozinha da casa era Malik, o homem que trabalhava na Grande Sedna, ainda procurando aquele que fora seu criador" eu quis mostrar que a pequena virou o outro personagem apresentado, depois a criatura foi se tornando outras pessoas, formas que ele assume para se infiltrar na sociedade de Ilulissat...
Depois, já na forma original, a cinza que eu desenhei, ele encontrou seu criador no laboratório, que pediu para a criatura o atualizar.
Espero que tenha ficado mais claro.
E acompanhe, pois logo nosso amigo Jirayrider vai dar continuidade nesse cantinho do Mindistorm 3000
Ahhhhhhhhh, agora eu entendi, eu tinha cogitado que o criador, tinha diversas criaturas, cada uma com uma forma diferente e que todas elas faziam algo na cidade e que eram diversas, agora consegui compreender bem melhor, te agradeço pela explicação, ficou bem mais legal agora, abraço! \0/
ExcluirGrande Norberto. O texto do Mindstorm 3000, um dia no gelo, realmente é incrível, e a dinâmica a qual me prendeu aqui, foi a maneira como você usa pra nos colocar dentro do ambiente. Diferente de muitos aqui, e eu me incluo no pacote, você não utiliza aquela narração descritiva em ordem de chegada, tipo, descrevendo uma coisa a cada momento antes de algum acontecimento, você nos mostra o cenário ao longo do texto através dos caminhos que os personagens tomam, através dos diálagos que os personagens trocam, e quando percebemos estamos exatamente dentro da cidade de Ilulissat.
ResponderExcluirEu observei os questionamentos em relação a parte final quando a menina entra em casa atrás do pai. O que eu entendi a principio é que ela morava em uma espécie de pensão, onde por coincidencia, morava Malik e outros personagens que ao longo da historia seriam apresentados, porem, pelo que você disse que quis passar, era que a garota ia se transformando a cada comodo que entrava a procura de seu criador(pai). E essa questão dela se transformar em várias pessoas, realmente não é percebida nesse trecho. Mas com a explicação no comentário do Lanthis eu ja me localizei.
E fica minha pergunta. Nesse caso não seria ideal você acessar a postagem e dar uma alterada nessa parte do texto, sem que ele perca o sentido mas que deixe claro ou subtendido essa capacidade da garota?
Esse universo do Mindstorm 3000 ta cada vez mais intenso. Grande abraço amigo!
Muito obrigado meu amigo, pela leitura e comentário.
ResponderExcluirEscrever sobre o futuro nos da uma liberdade imensa para explorar até mesmo as maneiras da escrita.
Esse tipo de cenário da tbm abertura pata viajar nas tecnologias futuristas.
Sobre a cena final, segui seu exemplo e te escrevo parte do texto. Espero que tenha ficado maos claro agora..
Valeu mesmo pelo comentário meu amigo!