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A verdadeira história do trágico amor de Siegfried e Hilda (capítulo 3)

 

                                                Capítulo III - O herói e a rainha, parte II                 

Antes da despedida, Siegfried disse a Brunhilde que ia sair em busca de aventuras no sul e que depois disso ia visita-la na Islândia. Brunhilde disse a Siegfried que para que o casamento entre os dois seja enfim consumado, ele terá que passar por alguns desafios antes. “Mas tenho certeza que você, um homem forte, corajoso e destemido, que conseguiu matar o terrível Fafner com suas próprias mãos, é o homem certo para tal”, disse Brunhilde ao herói. Ao fim do banquete, os dois se despedem, com a promessa de voltariam a se encontrar um dia. Cada um vai para seu canto. Brunhilde para o norte, Siegfried para o sul.

Infelizmente o destino acabou não sendo benevolente com os dois. Alguns dias após a jura de amor, Siegfried conheceu Günther, o rei dos burgúndios, e em sua corte causou grande impressão. Günther era filho do finado Gibich e de Kremilda e tinha dois irmãos, Hagen e Gottorm, e uma irmã, Gudrun. Günther era o governante supremo da Burgúndia, um reino situado no alto curso do rio Reno e que engloba partes dos atuais territórios da França, Itália e Suíça. Devido ao enfraquecimento do poder de Roma, os burgúndios, originários da Suécia meridional, conseguiram estabelecer seu reino na Alta Renânia. O poder central romano, as voltas com inúmeros problemas e já sem o mesmo poder de outrora, pouco ou nada podiam fazer para impedi-los. Por uma questão de hierarquia real, a mãe de Günther acreditava que seu filho deveria é se casar com a mais forte rainha existente na face da Terra. Portanto, ele deveria é se casar com Brunhilde da Islândia. Na opinião da mãe de Günther, por uma questão de manutenção de prestígio, status social e riqueza, cada macaco deve ficar em seu galho de árvore: nobres não podem se casar com plebeus e vice-versa. Nem que para isso eles tenham que recorrer a casamentos consanguíneos, algo que em longo prazo prejudica a genética de uma família real.

Entretanto, Kremilda, por meio de um dos conselheiros do reino, soube que Brunhilde, dias antes, fez uma jura de se casar com Siegfried. “Brunhilde se casar com Siegfried? Isso nunca! Uma rainha como ela não pode se casar com um ferreiro como Siegfried!” Ela bradou ao conselheiro real. “Siegfried pode ser o maior herói de toda a Renânia, talvez até de todo o mundo, mas um plebeu como ele jamais pode se casar com uma rainha!”. Logo em seguida Kremilda, com a ajuda de alguns elfos que viviam nas cercanias do palácio real, preparou uma poção mágica. E não é só isso: ela no dia seguinte fez um grande banquete, dedicado a Siegfried por ele ter matado Fafner. A poção foi colocada na Siegfried, e ele a bebeu, sem de nada desconfiar. De início Siegfried estranhou o gosto da bebida, e logo em seguida foi tomado por um efeito amnésico, o qual o fez esquecer-se de Brunhilde.

Com Siegfried posto fora da jogada, o caminho estava livre para Günther consumar seu matrimônio com Brunhilde. Mas, ironicamente, para isso ele recorreu à ajuda do próprio Siegfried, o qual em troca de seu serviço pediu a mão de Gudrun. Eles foram até a Islândia, e por meio do poder do elmo do Tarn (o mesmo elmo de Tarn que fez Fafner se transformar em um dragão e que também é parte do tesouro dos Nibelungos), Siegfried assumiu o aspecto de Günther e vice-versa. Assim ele pode passar pelo círculo de fogo que rodeava o palácio de Brunhilde, assim como vencê-la em uma luta de espada. Ao fim do mesmo dia, Brunhilde dormiu junto na mesma cama com Siegfried se passando por Günther, só que com a Balmung desembainhada se interpondo entre os dois. No fim, Brunhilde deu a Siegfried o anel (o qual também é conhecido como o anel de Nibelungos) que dele ganhou anteriormente e se casou com Günther, e Siegfried por seu turno com Gudrun se casou e esta recebeu o anel que outrora estava em poder da rainha da Islândia. Alguns anos mais tarde, em uma discussão, Gudrun contou toda a verdade a Brunhilde (que se mudou para a Burgúndia após se casar e com a qual Gudrun vivia as turras em discussões a respeito de quem era o melhor marido: Siegfried ou Günther). E assim uma conspiração teve início, encabeçada pela própria Brunhilde, sentindo-se ultrajada pelo que ocorreu a ela desde que a tramoia de Günther teve início.

Meses depois que Siegfried (que começava a se dar conta da farsa, assim como do fato de que em realidade amava Brunhilde e não Gudrun, já que a poção perdeu seu efeito com o passar do tempo) venceu Fafner e principalmente desde que ele ajudou Günther a se casar com a rainha da Islândia, começaram a aparecer desafiantes clamando a posse do tesouro dos Nibelungos, alguns deles vindos de lugares longínquos dos quais ele nunca ouvira falar antes. O primeiro deles foi o irmão de Fafner, o gigante Fasolt, com o qual o finado dragão se desentendera pela posse do tesouro. Os dois se enfrentaram e Fasolt foi mortalmente ferido, mas sobreviveu e após se recuperar dos ferimentos da batalha foi reclamar o tesouro com Siegfried. Os passos de Fasolt faziam o chão tremer, mas isso não intimidava Siegfried. Ele percebeu que embora Fasolt fosse extremamente forte e muito maior que ele, também era muito lento. E dessa fraqueza o herói tirou vantagem para primeiro exaurir suas forças e em seguida lhe aplicar o golpe fatal. Depois de Fasolt outros desafiantes apareceram, entre eles os anões Hreimdar e Regin[1]. Até mesmo o ladrão arábico Ali Babá e seu bando de quarenta ladrões apareceu para desafiar Siegfried, almejando conquistar o tesouro do Reno e em seguida transferi-lo para sua caverna no escaldante deserto da longínqua Arábia. Era um atrás do outro, e passado um tempo Siegfried começa a se queixar de ter que derrotar tantos desafiantes que queriam seu tesouro. “Será que é isso que aquele anão miserável quis dizer a mim?”, chegou-se a perguntar o herói em determinada ocasião.


NOTA:

[1] Leia-se “Reguin”. No alemão, assim como em idiomas como o russo, o mongol, o polonês, o japonês e os idiomas escandinavos, o som da partícula g não muda em função da vogal seguinte tal qual nas línguas neolatinas e no inglês.


2 Comentários

  1. Grande Pistoleiro Veloz!

    A maldição lançada contra Siegfrield começa a surtir efeito .


    Tramoias , confabulações, e Siegfrield não pode se casar com Brunhilde , sendo enganado e tendo que lutar contra vários inimigos para manter o seu tesouro.


    A história vai ganhando contornos pra lá de dramáticos e tensos.

    Não se pode ignorar os avisos.

    Parabéns!

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  2. Drama lá nas alturas. Outro excelente episódio, Pistoleiro.

    Parabéns!

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