Capítulo X - O caminho para o poder, parte I
Após o ataque de Ahames, Gori providenciou um enterro para sua amada Obez. Ela teve seu corpo velado e depois foi enterrada no mesmo cemitério em que se encontram Gori I e Hou, em um jazigo não muito distante deles. Após velar e enterrar sua amada, Gori prometeu que um dia se tornará senhor de Épsilon e fará de seu planeta natal a sede de um grande império intergaláctico. Tão poderoso e temido que não só fará com que as Feiticeiras Galácticas, os Caçadores Espaciais de Kaura ou os Piratas Espaciais de Buba pensem duas ou três vezes antes de perpetrarem suas razias e sequestros, como também seja um rival à altura de impérios como Gozma, Crisis e Vyram.
Após a morte
de Obez, o relacionamento entre Gori e sua cunhada Yana nunca mais foi o mesmo.
Yana passou a acusar Gori de ter levado sua irmã para a morte e que ele é o
responsável por ter desgraçado a vida dela. “A é, Yana, e que tal tirar
satisfações com a Ahames sobre isso? Você não tem peito para isso, né? O
culpado pela morte da minha amada Obez não sou eu, e sim a Ahames. Se eu
estivesse lá quando Ahames atacou minha casa, daria minha vida pela minha
família”, Gori respondeu certa vez à cunhada. Que por sua vez continua a achar
que Gori é o culpado pela tragédia mesmo assim.
Depois da
tragédia que se abateu sobre sua vida, depois de tomar uma verdadeira punhalada
da vida nas costas e de cujas sequelas talvez jamais irá se recuperar por
completo, Gori foi vendo uma série de coisas nos anos subsequentes, que
fortaleceram ainda mais sua crença de que o destino do Planeta Épsilon é
conquistar outros planetas para não ser conquistado por Bazoo, Satan Goss, Jark
ou quaisquer outros conquistadores espaciais.
A propaganda
oficial do governo vende uma imagem na qual Épsilon é apresentado como fosse um
verdadeiro paraíso terreno e o lugar para ideal se viver no Cosmos, e que os
valores dos simióides são pautados pela honestidade, pelo pacifismo e pela
justiça social. Mas com o tempo Gori, durante todo o seu tempo de atividade
política e científica, notou que isso não passa de uma grande farsa que não
corresponde à realidade.
Primeiro que ao
mesmo tempo em que a sociedade de Épsilon é extremamente avançada em matéria de
tecnologia, sua sociedade é extremamente decadente em matéria de valores há
muito tempo. Na verdade, o avanço tecnológico dos últimos anos fez com que as
pessoas tratassem a tecnologia como se fosse uma espécie de deus ex-machina que
irá resolver todos os problemas da população de forma mágica. Como dito
anteriormente, em Épsilon há aqueles que se dizem ateus (como o já citado
Baboon), mas que têm como a religião e a ciência e o avanço tecnológico dela
decorrente. A crença no progresso, na ciência, que tudo resolverá e que não
pode ser questionada. O pacifismo bem ao estilo hippie também exerce papel
similar em tais sujeitos (que igualmente se dizem avessos a qualquer forma de
religião).
E por mais
que as propagandas dos órgãos oficiais insistem que não há miséria em Épsilon,
essa mazela de uns tempos para cá vem crescendo de forma vertiginosa nos
últimos 50 anos, devido a uma série de políticas econômicas que foram pouco a
pouco minando o Estado de bem-estar social até então existente e concentrando
riqueza nas mãos das personalidades mais ricas do planeta. “Quantos mendigos de
rua precisam existir para que os homens mais ricos de Épsilon vivam
nababescamente, em verdadeiros palácios?”, uma vez perguntou-se Gori, vendo
pedintes pedindo comida e/ou dinheiro nas entradas dos mercados locais.
E, como se
não bastasse o fato de que os homens mais ricos de Épsilon hoje concentram nas
mãos deles uma fortuna maior que o 60% restante da população, eles tratam a
política como se fosse o cassino particular deles. De tal modo que as
lideranças políticas de Épsilon não governam se não abaixam a cabeça para tais
ricaços, que comumente financiam políticos dos mais diversos espectros
políticos e assim, dessa forma, saem-se vitoriosos independente de quem ganha
as eleições, já que acabam devendo favores a eles.
A corrupção
grassa na política de Épsilon, inevitavelmente, já que em tal forma
cleptocrática de governar esquemas (que geralmente envolvem desviar altas
quantias de dinheiro para destinos nebulosos, do qual o cidadão médio nem tem
noção – geralmente paraísos fiscais, nos quais é permitido a entrada de
dinheiro advindo de esquemas de corrupção oriundos das mais diversas origens,
onde é comum o dinheiro de atividades desses esquemas é lavado) são criados.
Mas, quando tais esquemas emergem e os escândalos estouram, acontece o
seguinte: alguns bois velhos e doentes são sacrificados, enquanto que o resto
da manada atravessa o rio ilesa. E muitas vezes, utiliza-se os políticos
envolvidos nesses esquemas como os bois de piranha da história, que sofrem o
escrutínio público ao mesmo tempo em que aqueles que nadam de braçada nos
esquemas são poupados. Ou seja, a típica política de contenção de danos: eu me
livro dos anéis para ficar com os dedos. Troca-se as peças, mas a engrenagem
continua lá.
Ao mesmo
tempo, não raro as pessoas mais humildes de Épsilon não têm outra saída a não
ser cometer pequenos furtos para poderem sobreviver. O grau de desespero deles
é tamanho que muitas vezes eles não sabem quando que será a próxima vez que
terão algo para comer no prato. E ai de um deles caso resolva cometer um
pequeno furto para poder se alimentar, pois ele será preso e enviado a uma
masmorra e lá ficará muitos anos preso, sem acesso a ninguém que o defende.
Enquanto isso, os grandes ladrões nadam de braçadas em esquemas de roubalheiras
milionárias (ou mesmo bilionárias) e ninguém os incomoda.
Gori, cada
vez mais sedento por poder, inicia sua atividade política valendo-se de seu
prestígio como um dos cientistas mais renomados do Planeta dos simióides. E ele
começa tocando nas feridas do sistema político do planeta no qual vive. Até
então, pouquíssimos políticos tiveram tal ousadia, mas não tiveram grande
sucesso em sua empreitada. Mas com Gori é diferente. Cada vez que ele discursa,
milhares vão a seus discursos, o saúdam e prestam atenção a cada palavra dita
por ele. Assim, é questão de tempo Gori conquistar uma ampla base de apoio.
1 Comentários
Grande Postoleiro!
ResponderExcluirNesse capítulo, temos várias críticas sociais embutidas e intrínsecas.
A laicidade e o secularismo (algo que atinge a França por exemplo, onde segundo pessquisas mais recentes , maus de 50%) não crê em nada.
A injustiça social, a miséria e corrupção e um sistema polítco apodrecido em suas bases ,tendo como consequência a ascenção de líderes populistas. ( Nesse quesito , o Brasil nada de braçada)
Soma-se a isso o fator emocional, como as mortes de sua esposa e rapto dos filhos, temos um Gori cada convicto em sua loucura expansionista.
Se ele está certo em questionar o que há de errado em seu planeta, erra ao tomar um caminho que o levará a destruição.
Belo trabalho!