CRÔNICA
01 – IMPÉRIO GOZMA: CAMPANHAS PRÉ-TERRA (PARTE 2)
PLANETA
JEDHA, ANO DE 1983 d.C.:
O
planeta Jedha é um pequeno planeta pertencente ao Império Gozma, localizado
próximo à atual fronteira com o Império Mess. Diz-se “atual”, pois tal
fronteira é fluída, sempre em mudança, devido às constantes incursões de um
domínio no outro. A superfície do planeta é predominantemente desértica,
coberta por planícies áridas e formações rochosas, com alguns enclaves esparsos
de civilização. O clima é também tipicamente desértico, com altas temperaturas
durante o dia, e um frio quase polar à noite, devido à baixa umidade do ar e
quase ausência de água (*01).
Tais
características, normalmente, fariam de Jedha um mundo pouco atrativo para
quaisquer conquistadores... se não fosse um detalhe: Jedha é um planeta que, no
passado, abrigou a extinta Ordem dos Profetas Galácticos (*02), um grupo de
magos espaciais que pregava o uso de magia para paz e justiça. Para os
profetas, a ordem na galáxia deveria ser obtida através da coexistência
pacífica entre os povos espaciais. Em contrapartida, o uso de violência e opressão
jamais era justificado. Caso alguém se utilizasse de tais meios, os profetas
interfeririam ora diretamente, por meio de seus poderes, ora indiretamente,
pregando resistência à população local.
Tal
ideologia, naturalmente, os colocou em rota de colisão com os grandes impérios
galácticos, como o dos Monstros, Gozma, Mess e Crisis. Por isso, os líderes de
tais impérios caçaram e destruíram implacavelmente os Profetas Galácticos. Após
séculos de perseguição, a influente ordem foi praticamente eliminada da
galáxia. E, para isso, os grandes impérios tiveram a ajuda da Ordem das
Feiticeiras Galácticas (*03), um grupo rival dos profetas, cuja ambição e sede
por poder se alinhava com os tiranos espaciais.
Daí a
importância de Jedha: o planeta era um símbolo de conquista. O império que o ocupasse
teria um verdadeiro troféu a ser exibido ao resto da galáxia, mostrando que
mesmo a outrora influente Ordem dos Profetas não resistiu ao seu julgo. Uma
verdadeira prova de poder.
E, por
este mesmo motivo, os exércitos de Gozma e Mess, neste instante, se digladiavam
pela posse do planeta...
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No
antigo templo dos Profetas Galácticos, uma construção gigantesca, semelhante a
um monastério esculpido na própria rocha, uma batalha feroz ocorria.
De um
lado, estranhas criaturas humanoides azuis com cabelos loiros, iguais às vistas
na campanha de Endor, lutavam contra outras criaturas humanoides também
estranhas, mas de coloração vermelha, com garras e cabeças semelhantes às de
formigas. Estes eram os soldados Hidler e Zollos, os grossos dos exércitos de
Gozma e Mess, respectivamente.
Ambos
os exércitos eram numerosos, mas à primeira vista, o de Gozma parecia levar
vantagem, pois era quem ocupava o templo no momento. O exército de Mess, por
outra lado, tentava invadir o templo, e aos poucos estava sendo repelido pelas
tropas de Gozma.
Tal
vantagem de Gozma só aumentou quando, em algum momento, dois indivíduos saíram
de dentro do tempo, e se juntaram à batalha. Um era mulher, percebido pelas
feições anatômicas femininas, de longos cabelos negros, trajando um uniforme
igualmente negro com calças vermelhas, e brandindo uma espada fina, semelhante
a um bastão. O outro era um monstro predominantemente branco, exceto por
ombreiras cristalinas azuis e um buraco amarelo em seu peito. O tal monstro
também tinha uma espécie de crista em sua cabeça, e uma garra na mão esquerda
semelhante à de um caranguejo.
A
guerreira recém-chegada tinha uma agilidade surpreendente. Além de se desviar
dos ataques dos Zollos com facilidade, ainda dava saltos mortais com uma
habilidade felina e, com chutes aéreos e estocadas precisas, despachava facilmente
os soldados inimigos.
Já o
monstro, embora não tão ágil, se destacava por sua força. Com ataques de sua
garra esquerda, derrubava os Zollos aos montes, como se brandisse um grande
martelo de guerra.
- Monstro
Espacial Guizan!! (*04) – grita a guerreira que, apesar de mulher, tinha a
voz grave, como a de um homem. – Vamos acabar logo com isso! Use seus
poderes!
- Sim,
senhorita Shima! – responde o monstro, fazendo brilhar as suas ombreiras
cristalinas. – MAGNA FLASH!!
Um pó
brilhante é expelido do buraco amarelo no peito de Guizan, em direção aos
soldados de Mess. Tal pó possui propriedades magnéticas que interferem no
sistema nervoso das vítimas, desorientando-as e dificultando seus movimentos.
O
efeito é imediato nos soldados Zollos: alguns começar a se mover erraticamente,
como se estivessem bêbados, outros caem no chão, em convulsão. Estes momentos
de confusão os deixam vulneráveis aos soldados Hidler, que aproveitam para
atacá-los e destruí-los.
Vendo
que a batalha estava perdida, os soldados Zollos sobreviventes tentam fugir,
mas o terrível Guizan não tinha intenção de fazer prisioneiros.
- DARDO
MORTAL!! – brada Guizan, disparando vários dardos brilhantes de sua garra.
Os Zollos, que tentavam escapar, são atingidos em pontos vitais pelos projéteis
e caem mortos.
Com o
exército inimigo derrotado por ora, Shima e Guizan se permitem abaixar a guarda
por um momento.
- Reagrupe
os nossos soldados, e assegure que todas as entradas do templo estejam
guardadas! O exército de Mess não vai tardar a atacar novamente! – ordena
Shima a Guizan, entrando no templo em seguida.
- Às
suas ordens, senhorita! – responde o monstro, com uma curta saudação.
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Não
muito longe dali, onde o exército de Mess estava acampado, uma nave espacial de
formato discoide pousava. Era a própria nave dos Caçadores Espaciais, um temido
grupo de mercenários galácticos, comumente contratados pelo Monarca La Deus
para fazer seu trabalho sujo.
Pousada
a nave, de seu interior descia um homem que aparentava uns 30 anos de idade,
trajando uma armadura escura, com barba e bigode, e a franja ocultando seu olho
direito. Junto dele, havia outro homem, de aparência mais jovem, também
trajando uma armadura escura no mesmo estilo, com uma tatuagem cobrindo seu
olho e o quarto superior direito da cabeça.
Tais
indivíduos claramente possuíam uma certa autoridade dentro de Mess, dado que os
soldados Zollos os saudavam e lhe abriam caminho pelo acampamento. Mas os
recém-chegados não pareciam se importar, preferindo ir diretamente à tenda
principal do acampamento, onde funcionava o centro de comando.
Ao
adentrarem na tenda, uma mulher os recepciona. Ela estava trajada no uniforme
do serviço de inteligência de Mess, consistindo numa túnica negra com adereços
dourados, boina e botas igualmente negras. Ela possuía longos cabelos negros e
uma pinta no canto esquerdo da boca.
- Senhor
Kaura! Senhor Galdan! Eu os aguardava. Bem-vindos a Jedha! – saúda a mulher,
com um profissionalismo militar.
Kaura,
que até então mantinha uma expressão séria, esboça um sorriso discreto:
– Sibéria
(*05)... há quanto tempo! – o líder dos Caçadores diz, num tom casual,
como se dirigisse a uma velha amiga. – Então La Deus te mandou para este fim
de mundo?
Sibéria,
porém, mantém sua compostura e responde num tom profissional:
- Sim,
o Monarca La Deus me encarregou de retomar o planeta Jedha, que sempre
pertenceu legitimamente ao Império Mess. Estou no comando desta campanha.
O
sorriso de Kaura se alarga, como se tivesse ouvido algo engraçado:
- “Legitimamente”,
hein? Acho que Bazoo não concordaria com isso... – Kaura então olha para o
mapa sobre a mesa, onde estavam detalhadas as posições das tropas, aliadas e
inimigas. – Como está a situação por aqui? Imagino que mais complicada do
que o esperado, se La Deus me mandou vir para cá.
Sibéria,
então, detalha a situação, apontando no mapa:
- O
planeta está praticamente sobre o controle de Mess. Controlamos as principais
cidades e pontos de abastecimento. Entretanto... – ela então aponta para um
local no mapa, onde se as tropas inimigas se concentravam. – As tropas de
Gozma conseguiram se entrincheirar no antigo templo dos Profetas Galácticos. O
local possui uma posição altamente defensável, e todas as tentativas de
retomada, até agora, foram infrutíferas...
- Já
pensou em sitiar o templo? – Galdan interrompe, um certo tom de arrogância
em sua voz, como se fosse uma estratégia óbvia. – Se já controlamos todo o
resto do planeta, por que não simplesmente esperar que as tropas de Gozma
fiquem sem água e comida?
Se
Sibéria notou o tom de arrogância de Galdan, ela não preferiu não demonstrar:
- Nossa
inteligência reportou que, antes da ocupação, o templo foi abastecido com grandes
quantidades de água e suprimentos. Provavelmente as forças de Gozma já
pretendiam fortificar o local há algum tempo. Um cerco ao templo poderia levar
anos até surtir efeito...
- E
La Deus não vai aceitar esperar tanto tempo... – concluiu Kaura, com um
olhar de reprimenda a Galdan, que ficou quieto logo em seguida. – Sem falar
que, se demorarmos demais, há o risco de virem reforços de Gozma.
Kaura
observa atentamente o mapa, como se pensasse numa solução.
- Quem
comanda as tropas de Gozma? É Giluke... ou Buba?
Kaura
faz uma cara de quem comeu jiló, ao mencionar o nome do seu odiado rival dos
Piratas Espaciais, um grupo de dissidentes dos próprios Caçadores Espaciais.
(*06)
- É
Shima, do planeta Aman, e o Monstro Espacial Guizan. – responde Sibéria.
Kaura
mostra, por um instante, uma expressão de surpresa. Shima e Guizan? Ele já
havia ouvido falar da Princesa Shima, da família real do planeta Aman, que
caíra sob domínio de Gozma anos atrás. Shima, assim como muitos guerreiros dos
povos conquistados por Gozma, decidiu lutar em nome de Bazoo, provavelmente
visando a reconstrução de seu planeta em troca de sua servidão. E, também
conforme Kaura ouvira, Shima se mostrou uma guerreira de enorme habilidade,
sendo promovida a oficial de comando de Gozma em pouco tempo. Exatamente o tipo
de talento que Kaura buscava recrutar para os Caçadores Espaciais.
E
quanto a Guizan...
Kaura
sorri sinistramente. Sim, ele já sabia como vencer esta guerra...
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Dentro
do templo dos Profetas Galácticos, Shima estava irrequieta. Sua ansiedade não
era à toa: a situação de Gozma em Jedha não era nada boa.
Desde
que Mess decidiu invadir o planeta meses atrás, e toda esta campanha se iniciou,
as coisas iam de mal a pior. Shima havia sido enviada por Giluke para defender
o planeta tão logo as hostilidades iniciaram, mas, desde então, um sem-número
de problemas vinha se acumulando.
Em
primeiro lugar, a falta de apoio logístico. Shima várias vezes requisitou
reforços, mas, para sua frustração, tais pedidos foram negados. Enquanto isso,
novas tropas de Mess iam chegando a cada semana. O resultado não poderia ser
outro: a cada embate, as forças de La Deus tomavam mais terreno em Jedha, ao
passo que as de Gozma retrocediam.
No
final, Shima e suas tropas comandadas ficaram encurraladas neste templo antigo,
e limitadas a resistir nesta posição (felizmente bem defensável) por tempo
indeterminado. Devido aos escassos recursos locais, Jedha sempre foi um planeta
complicado de se manter muitas tropas.
O que
levava ao segundo problema: o motivo de toda desta campanha, em primeiro lugar.
Shima até entendia a razão, do ponto de vista moral: Jedha abrigou, no passado,
a extinta Ordem dos Profetas Galácticos. O próprio lugar em que estava, neste
exato momento, era o antigo templo deles. E Bazoo odiava mortalmente os Profetas
Galácticos, principalmente depois que um deles, Zeo (*07), combateu e incitou
resistência ao domínio de Gozma durante anos, até ser eliminado séculos atrás.
Ter Jedha sob sua posse era uma demonstração da força de Bazoo, e um aviso
permanente a todos que pensassem em levantar contra seu poderio.
Do
ponto de vista estratégico, no entanto... Shima não era do tipo de questionar
as ordens do Comandante Giluke, mas Jedha tinha poucos recursos a oferecer ao
Império Gozma. Qualquer um podia ver o baixo custo-benefício desta campanha e,
no final, todo este trabalho não fazia sentido, na opinião de Shima.
E
ainda havia mais um complicador: a falta de confiança no seu auxiliar de
campanha, o Monstro Espacial Guizan. Shima, sinceramente, preferiria que fosse
Buba quem estivesse ao seu lado, mas como o pirata estava envolvido em outra
missão em outro planeta, o Comandante Giluke acabou-lhe designando Guizan.
Não
que o monstro tenha demonstrado qualquer deslealdade a Gozma até o momento, mas
Shima não conseguia confiar plenamente nele. Seu instinto de guerreira lhe
dizia que havia algo de errado com Guizan, que ele podia lhe trair a qualquer instante.
Talvez, pensava Shima, esta desconfiança tivesse a ver com o fato de Guizan vir
de um planeta que era historicamente leal à antiga realeza de Amazo, da Rainha
Ahames, a qual tentou um golpe de estado fracassado contra Bazoo, no passado.
Os
pensamentos de Shima, porém, foram interrompidos quando o mencionado monstro
entra na sala onde estava, parecendo inquieto:
- Senhorita
Shima! – Guizan grita, alarmado. – Estamos sob ataque! As tropas de Mess
voltaram!
- Por
onde estão atacando? – ela questiona.
- Em
duas frentes: pela entrada principal, e pela entrada leste!
Shima cerra
os dentes, sua mente furiosamente tecendo um plano de combate para lidar com
aquela situação:
- Guizan,
pegue metade das nossas tropas e defenda a entrada leste! Eu irei para a entrada
principal! – Shima ordena, já correndo em direção ao campo de combate
designado.
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Se
havia um lugar em que Galdan se sentia em casa, era no campo de batalha. A
grande maioria das missões, para as quais Mess contratava os Caçadores
Espaciais, envolvia sequestro de crianças em planetas remotos, ou recuperação
de artefatos valiosos em planetas igualmente remotos. Eram missões que exigiam
mais capacidade de infiltração e furtividade do que força, e embora Galdan tivesse
tais habilidades, era numa luta aberta que ele se sentia verdadeiramente vivo.
E numa
luta aberta era onde ele se encontrava neste instante. A estratégia de seu
líder, Kaura, era simples: atacar o templo por duas frentes, uma pela entrada
principal, e outra pela entrada na direção oposta, de modo a dividir a atenção
do exército inimigo. Galdan iria pela entrada principal, enquanto Kaura
atacaria a outra entrada. Realmente, uma estratégia tão simples... a ponto de
parecer suspeita.
Claro,
Galdan conhecia Kaura há tempo suficiente para saber que seu líder sempre tinha
alguma tática extra oculta, uma “carta na manga”, para garantir o resultado
esperado. Mas, o que seria, desta vez, Galdan não tinha a menor ideia.
Não
que ele pretendesse esquentar a cabeça com isso... então o vice-líder dos
Caçadores Espaciais se focava, neste momento, a tirar máximo proveito da luta
em que estava. Comandando um batalhão de soldados Zollos através da entrada
principal do templo, ele brandia suas espadas gêmeas (que mais pareciam tacos
de golfe), ceifando através dos soldados Hidler, como uma foice faria com
trigo.
As
criaturas azuis, apesar de numerosas, eram ridiculamente fracas. Claro, poucas
criaturas poderiam se julgar mais fortes que Galdan (pelo menos, na opinião do
próprio), mas o braço direito de Kaura esperava um desafio melhor, considerando
que viajaram de tão longe para este planeta. Era quase desapontador...
Entretanto,
como dizia o ditado “Cuidado com o que deseja”, se Galdan queria um
desafio à altura, ele o teria...
E tal
desafio finalmente se apresentou, quando uma forte energia luminosa, semelhante
a vários flashes sequenciais de câmera, o ofusca temporariamente...
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Que
uma nova investida de Mess era uma questão de tempo, Shima já sabia. O que ela
não esperava, porém, é que o ataque seria encabeçado por ninguém menos que
Galdan, vice-líder dos Caçadores Espaciais, o temido grupo de mercenários que
faziam o serviço sujo de Mess.
A
infâmia dos Caçadores Espaciais era bem conhecida pela galáxia. E se o segundo
membro mais forte deste grupo estava ali, jogar limpo não era uma opção que
Shima poderia arriscar. Por isso, aproveitando que Galdan estava distraído
lutando contra os soldados Hidler, e não a havia percebido ainda, Shima emite
uma energia luminosa de sua espada-bastão, desorientando temporariamente o
caçador.
Os
soldados Hidler não perderam tempo e avançaram contra Galdan. Na adrenalina da
luta, o caçador havia imprudentemente se separado do seu batalhão de Zollos,
que agora estava longe demais para auxiliá-lo contra os soldados de Gozma.
Mas
Galdan não chegou ao posto de vice-líder dos Caçadores Espaciais se não fosse
capaz de se virar numa situação desta. Então, juntando suas espadas gêmeas em
uma só, ele rodopia a arma, criando um redemoinho de energia que varre uma
grande área. Explosões ocorrem, derrubando vários soldados Hidler.
Frustrada
pelo ataque contra Galdan ter falhado, Shima decide partir para a luta direta.
Ela salta bem alto, mirando um chute aéreo contra o caçador.
Recuperando
sua visão no último instante, e graças aos seus reflexos condicionados por
inúmeras batalhas, Galdan consegue bloquear a voadora de Shima contra ele,
usando suas espadas gêmeas.
Os
dois adversários ficam então frente a frente, enquanto os soldados Hidler e
Zollos lutavam ao seu redor, instintivamente evitando os dois guerreiros. Em
silêncio, eles se encaram, como se medindo a força um do outro.
Galdan
é o primeiro a quebrar o silêncio:
- Então
você é Shima, do planeta Aman? A nova oficial de comando de Gozma? – ele
pergunta, num tom que parecia achar graça da situação. – Admito que não
esperava que você fosse tão... jovem.
Só que
Shima não achava graça nenhuma. E quem acharia, no meio de um campo de batalha,
onde seu lado estava perdendo aos poucos?
- Caçador
Espacial Galdan! – ela brada, não tirando os olhos dele nem por um
instante. – O planeta Jedha pertence à Gozma! Ao pisarem neste planeta,
vocês violaram a fronteira estabelecida entre nossos impérios! Retirem-se
imediatamente daqui!
Galdan
fica surpreso, por um instante, com a voz masculinizada de Shima. Mas
rapidamente ele se recompõe. Perder a concentração num combate poderia lhe
custar caro. E, sinceramente, ele já vira coisas mais estranhas na vida.
- Fronteiras
que são constantemente violadas, tanto de um lado como de outro. Fronteiras que
nada mais são, além de letra morta... – o caçador casualmente diz, em provocação.
– E me admira você defender um império que destruiu seu planeta... achei que
tinha mais amor-próprio do que isso.
Shima
sente raiva os ouvir estas palavras. Quem este mercenário pensa que é, para
criticar sua decisão de servir a Gozma e restaurar seu planeta? Mas ela se
contém. Não seria prudente demonstrar emoção na frente do inimigo.
- Não
espero que um Caçador Espacial entenda a minha decisão... – ela responde,
tentando manter um tom neutro e estoico. – Não espero que mercenários
espaciais, que lutam apenas por dinheiro e recompensa, entendam o significado
de lealdade.
Galdan
dá uma risada de escárnio, como se tivesse ouvido uma piada sem graça:
- Eu
poderia te sugerir a escolher melhor em quem depositar sua lealdade... –
Galdan então cruza suas espadas, se preparando para atacar. – Mas não vale a
pena... pois você morrerá agora!!
O
caçador parte para cima da guerreira, tomando a iniciativa do ataque desta vez.
Galdan
ataca Shima com uma de suas espadas. A guerreira bloqueia o golpe, mas ele já
esperava por isso. Usando a ponta curva de sua arma como um gancho, o caçador
“puxa” a espada de Shima para o lado, deixando-a vulnerável a um ataque da
segunda espada de Galdan.
Só que
Shima não se tornou uma guerreira temida apenas por suas habilidades de
esgrima. Jogando seu corpo para trás para escapar da segunda espada de Galdan,
Shima aproveita a inércia de seu movimento para dar uma pirueta para trás. E,
com isso, acertar um chute bem no queixo do caçador.
Surpreendido
pela manobra improvisada de Shima, Galdan cai para trás pelo chute. Mas o
caçador rapidamente se recupera e parte para a ofensiva novamente.
Sucessivos
choques entre as espadas de Shima e Galdan ocorrem, os ecos metálicos se
espalhando por todo o templo. Para um observador leigo, as duas espadas de
Galdan pareciam lhe dar vantagem contra apenas uma de Shima, mas um número
maior de armas também significava menos força e destreza em cada uma. Isso sem
falar que Shima não dependia exclusivamente de sua espada, podendo também usar
suas habilidades de artes marciais contra seu adversário. Galdan estava ciente
disso, depois do chute que levara de Shima. Então, para evitar uma repetição,
ele atacava mantendo uma distância de, pelo menos, um braço de distância. Desse
modo, teria tempo de reação caso Shima tentasse usar suas pernas para atacá-lo.
A
troca de golpes continuou por mais alguns minutos, até que Galdan saltou para
trás, dando distância de Shima.
- Hora
de pôr um fim nisso! – ele brada, cruzando suas espadas em “X”. Um brilho
vermelho encobre as armas.
Shima
percebe que Galdan vai lançar um ataque à distância. Então ela decide responder
na mesma moeda: apontando sua espada-bastão para o adversário, ela concentra
sua energia na ponta da mesma.
Múltiplos
projéteis energéticos vermelhos são disparados das espadas de Galdan, ao mesmo
tempo que um raio energético azul é disparado da arma de Shima.
Os
dois ataques se chocam no meio do caminho, criando uma forte explosão. O choque
é tão violento que os dois oponentes são lançados para trás. A explosão também
atinge alguns dos soldados Hidler e Zollos que lutavam ao redor, matando-os
instantaneamente.
Atordoados,
Shima e Galdan se levantam, meio cambaleantes, mas ainda perfeitamente capazes
de lutar.
E
lutar eles fariam, se Shima não tivesse sido atingida pelas costas por um
chicote elétrico...
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Já
dentro do templo, Kaura ia eliminando os soldados Hidler que surgiam no
caminho, seguido por seu batalhão de Zollos. Seu objetivo era reencontrar
Galdan, que atacaria pela entrada principal, prensando as forças de Gozma pelas
duas frentes, conforme planejado na estratégia inicial.
Claro,
tal estratégia também contava com uma “carta na manga”, para garantir que
funcionaria. Tal “carta” fora utilizada minutos atrás, e funcionou
perfeitamente, muito para satisfação de Kaura.
Enquanto
avançava pelos corredores do templo, Kaura ouvia o eco de sons metálicos. Como
um guerreiro experiente, Kaura sabia reconhecer o som de espadas se chocando
uma contra a outra. Um dos combatentes certamente era Galdan. E o outro... bem,
só havia um adversário no templo que podia lutar no mesmo nível que Galdan.
Kaura
sabia que Galdan provavelmente estava se divertindo. Ele já conhecia seu
subordinado há tempo suficiente para saber como ele adorava uma boa briga.
Os
sons metálicos se seguiram por mais alguns minutos, até que uma forte explosão
sacudiu o templo. Kaura percebeu que tinha que se apressar, pois a situação
poderia se complicar, caso delongasse muito.
Ao
chegar no salão onde o combate ocorria, Kaura viu uma grande nuvem de poeira
encobrindo o local, além de vários soldados Hidler e Zollos mortos no chão.
Também notou que os dois prováveis causadores da explosão, Galdan e Shima,
estavam se levantando do chão e prestes a recomeçar o combate.
Notando
que ninguém percebera sua chegada ao local (o que não era surpresa, devido ao
caos que estava), Kaura decide encerrar este assunto ali e agora. Ele saca seu
chicote elétrico e, de uma notável distância de 10 metros, atinge Shima pelas
costas com a arma...
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Shima
não sabe por quanto tempo ficou desacordada. Na verdade, ela nem percebera
quando e por que ficou desacordada, em primeiro lugar. Num instante, ela estava
lutando contra o Caçador Espacial Galdan, e depois, tudo ficou escuro...
- Eu
sempre achei estes soldados Hidler, de Gozma, uns bichos asquerosos... –
ela ouvia uma voz comentar. Parecia familiar, mas ela não se lembrava quem,
exatamente. – Não que os Zollos, de Mess, sejam mais agradáveis aos olhos,
claro.
- Pelo
menos os Zollos não babam em você. – outra voz, desta vez desconhecida para
Shima, comenta em seguida. Parecia que os donos destas vozes estavam tendo uma
conversa casual. – Olha só o estado das nossas armaduras! Vamos levar dias
para limpar toda esta baba gosmenta!
- Não,
eles não babam em você... eles só cospem ácido corrosivo... – a primeira
voz responde, à qual se sucedem risadas, de ambas as vozes.
Até
Shima finalmente reconhece a primeira voz: Galdan, o inimigo que ela estava
enfrentando!
E ela
subitamente abre os olhos, e olha ao seu redor.
- Ah,
você acordou... – o dono da segunda voz diz. – Até que se recuperou
rápido. Uma pessoa normal levaria várias horas para se recuperar do meu chicote...
Shima
olha em direção ao seu interlocutor. Ele imediatamente o reconhece. Difícil não
reconhecer o semblante do infame líder dos Caçadores Espaciais, Kaura!!
E
sentado sobre alguns escombros, em frente a Kaura, estava Galdan, o caçador com
quem ela estava lutando antes!!
Shima
imediatamente se levanta e tenta sacar sua espada... apenas para perceber que
sua arma não estava mais com ela!!
- Procurando
por isso? – Galdan diz, segurando a espada-bastão de Shima em sua mão.
Cerrando
os dentes de frustração, Shima se põe em posição de combate, com os punhos
cerrados. Se usar sua espada não era viável, ela ainda podia lutar com suas habilidades
de artes marciais.
Mas os
dois caçadores não pareciam que queriam lutar. Pelo menos, Kaura não parecia.
Galdan ainda estava um pouco tenso, e suas mãos estavam prontas para sacar as
espadas gêmeas em suas costas. Mas, ao menos, ele permanecia sentado.
Kaura,
então, se levanta e, num gesto apaziguador, mostra as palmas das mãos:
- Acalme-se,
Shima... – diz Kaura, num tom casual. – Se eu quisesse te matar, o teria
feito enquanto você estava desacordada.
Foi
então que Shima percebeu a situação em que estava. Olhando ao seu redor, notou
que ainda estava no salão do templo. Todos os soldados Hidler se foram,
restavam apenas Kaura, Galdan e alguns soldados Zollos no recinto.
E ela,
como a única agente de Gozma.
Foi aí
que ela se lembrou do monstro Guizan, que estava encarregado de defender a
entrada leste. O seu olhar se direcionou para as várias entradas do salão, na
esperança que Guizan aparecesse por uma delas, com reforços.
Como
se adivinhando o pensamento de Shima, Kaura responde:
- Se
está procurando o seu auxiliar, aquele Monstro Espacial, esqueça! Eu o destruí
quando invadi pela outra entrada. Você é a única subordinada de Gozma que restou.
Um
misto de fúria, medo e frustração corrói a alma de Shima. Ela falhara na sua
missão. O Comandante Giluke a encarregara de defender o planeta Jedha, e ela
falhara. Não que houvesse muita chance de sucesso, mas, para piorar, ela agora
estava cercada pelo inimigo. Se não a mataram, certamente é porque pretendiam
utilizá-la como refém ou moeda de troca...
E
Shima já conhecia o Rei Bazoo o suficiente para saber que ele nunca trocaria
nada por ela. Ela provavelmente passaria o resto de sua vida como prisioneira
de Mess, sem nenhuma esperança de ver seu planeta Aman, restaurado...
Ou
pior ainda, se forem verdadeiros os rumores sobre o que o cientista-chefe de
Mess, o Dr. Keflen, fazia com os prisioneiros...
Mas o
espírito de guerreira de Shima jamais aceitaria tal destino sem lutar!!
- O
que pretendem fazer comigo? – ela pergunta, rispidamente, tentando esconder
o desespero que a afligia. Mantinha os punhos cerrados, em posição de luta.
Kaura
faz uma expressão momentânea de surpresa. Sem dúvida, por causa da voz masculinizada
de Shima. Ela já estava acostumada com tal reação. E tal suspeita foi confirmada
quando Kaura olhou para Galdan, que simplesmente deu de ombros, com um sorriso
de “não te disse?”.
Mas
tão rápido quanto surgiu, a surpresa se foi, e Kaura volta à sua postura séria:
- Não
se preocupe. Não pretendemos te fazer mal algum, a menos que nos dê motivo para
tal. Gostaria apenas que... ouvisse uma proposta que tenho a lhe fazer.
Agora
Shima ficou confusa. Proposta? Isso era algum truque para pegá-la desprevenida?
Mas então ela se lembra que Kaura poderia tê-la matado enquanto estava
desacordada, então não faria sentido.
Kaura
interpreta o silêncio de Shima como deixa para prosseguir:
- Você
é uma guerreira de grande habilidade. Ascendeu ao posto de oficial de comando
de Gozma em pouco tempo... conseguiu montar uma resistência formidável aqui em
Jedha, com os poucos recursos e tropas que tinha à disposição... e ainda, lutou
de igual para igual contra meu braço direito, Galdan... devo admitir que estou impressionado...
- E
por isso, Princesa Shima, gostaria de oferecê-la uma posição como membro dos
Caçadores Espaciais!
Desta
vez, Shima não consegue esconder o espanto em seu rosto. Ela? Uma Caçadora
Espacial? Trabalhando com Kaura e seu grupo? Trabalhando para Mess? Isso era
alguma piada?
- Eu,
uma Caçadora Espacial? – pergunta ela, incrédula. – Isso é sério?
Mas a
expressão estoica de Kaura mostra que ele não estava brincando:
- E
por que não? Seus talentos serão muito melhor aproveitados, e recompensados,
como uma Caçadora Espacial, do que como uma lacaia de Bazoo.
- Oh,
e imagino que ser uma lacaia de La Deus é muito melhor? – ela pergunta, em
tom de deboche.
- Correção...
– responde Kaura, balançando o dedo. – Nós trabalhamos COM La Deus, não PARA
La Deus. O Império Mess pode ser nosso principal cliente, mas os Caçadores
Espaciais são um grupo independente, e podemos recusar uma missão, se acharmos
que não é do nosso interesse. Certamente que é bem mais liberdade do que Bazoo
ou Giluke te oferecem, não?
- Às
vezes é preciso servir, para ser servido... – Shima retruca, sua posição menos
tensa do que antes. – Tudo o que desejo é o meu planeta Aman de volta. E o
Senhor Bazoo prometeu reconstruí-lo, em troca da minha lealdade.
Kaura
sorri sinistramente. Ele já esperava por este argumento, e já tinha preparado
um contra-argumento:
- Interessante
você dizer isso... – o líder dos caçadores inicia. – Pois é exatamente
esta promessa que Bazoo faz a todos os povos que decidem lutar em seu exército,
mas... – ele faz uma pausa, para suspense. – Em todos estes anos que
você já o serve, quantas vezes já viu tal promessa ser cumprida?
Shima
tenta não demonstrar nenhuma emoção em seu rosto, mas não consegue impedir um
leve arregalar de olhos à fala de Kaura. E tal reação não passou despercebida
pelo caçador, que continuou:
- Giluke,
que participou de um complô malsucedido contra Bazoo, e teve seu planeta Giraz
devastado? Buba, que mesmo sendo um pirata, teve seu mundo invadido por Gozma?
Gyodai, e os vários Monstros Espaciais, cujos planetas foram destruídos por
Bazoo, e agora o servem? O que acha que todos eles têm em comum?
Kaura
também sabia do caso de Ahames, que teve seu planeta Amazo destruído, mas
preferiu não revelar sua conexão com a ex-rainha. Essa era uma relação que
seria melhor manter oculta.
- Em
algum caso, Bazoo cumpriu sua promessa? Em algum único caso? – o líder dos
caçadores finaliza, como um advogado que encerra sua sustentação em um
tribunal.
Agora
a dúvida era evidente no rosto de Shima. Realmente, em todos estes anos que
servia a Bazoo, ela nunca viu, ou ouviu falar, de algum planeta sob seu julgo que
foi restaurado da destruição causada por sua conquista. Pelo contrário, tal
destruição era mantida, como um constante lembrete do custo de se rebelar
contra Gozma.
Mas
Shima se mantinha firme na sua decisão. Ela acreditava que Aman seria
restaurada...
Ela
precisava acreditar...
- O
Senhor Bazoo é um soberano severo. Ele não perdoa facilmente quem se levanta
contra ele. Se os planetas dos que o servem ainda não foram restaurados, é
porque ainda não fizeram o suficiente para merecer seu perdão...
Embora
Shima já não tinha tanta certeza se estava falando isso para argumentar com
Kaura, ou convencer a si mesma...
O
líder dos caçadores simplesmente sorri, como se estivesse satisfeito com o
resultado obtido:
- Talvez,
mas me pergunto quanto tempo terão de servir, até que Bazoo os julgue
merecedores de seu perdão... se é que ele o dará, algum dia...
Shima
não responde. Kaura conseguira plantar a semente da dúvida em sua mente. Já era
o suficiente, por ora.
- Bem,
não posso forçá-la a aceitar minha proposta. Mas saiba que ela estará de pé,
caso mude de ideia... – Kaura então se vira, e segue em direção a uma das saídas
do recinto. – Creio que é melhor você ir agora. Não vai querer estar aqui
quando o grosso das tropas de Mess chegarem.
Mais
uma vez, Shima fica surpresa. Kaura a estava deixando ir? O que pretendia com
isso? Ela já ia questionar, quando Galdan se levanta, e joga sua espada-bastão
a seus pés.
- Há
um veículo de transporte no subterrâneo do templo. – Galdan calmamente lhe
informa, embora mantendo-se atento a qualquer movimento suspeito de Shima. – Siga
30 km em direção leste e haverá uma nave-caça de Gozma escondida próxima a um
rochedo. Sugiro aguardar até o anoitecer antes de levantar voo.
Shima
pega sua arma. Por um instante, ela até considera recomeçar sua luta contra
Galdan, mas sabe que seria inútil. Com todos os soldados Hidler e Guizan
mortos, com Kaura por perto, e o grosso das tropas de Mess a caminho, Shima
sabia que, mesmo que vencesse Galdan, provavelmente acabaria morta depois.
Nestes
momentos, o melhor era cortar as perdas, bater em retirada, e viver para lutar
outro dia.
Então,
a princesa guerreira de Aman, sem dizer nenhuma palavra, deixa o recinto. Mas
não sem antes lançar um olhar de desafio e raiva em direção a Galdan, como se
prometesse que, um dia, haveria retribuição por tudo isso.
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De uma
das sacadas do antigo templo, Kaura e Galdan observam Shima deixar o local,
montada no veículo de transporte que lhe fora concedido. Em poucos minutos, Shima
é um pequeno ponto no horizonte.
E bem
a tempo, pois as tropas de Mess, comandadas por Sibéria, também já eram vistas
no horizonte, vindas da direção contrária, em direção ao templo, para ocupá-lo.
Se vissem uma oficial de Gozma ali, certamente que não a deixariam viva.
Galdan
questiona:
- Senhor
Kaura, foi mesmo prudente deixá-la ir? Estamos correndo um grande risco com
isso...
- Grandes
ganhos sempre vêm com grandes riscos, Galdan... Já plantamos a semente da
dúvida na mente dela. Agora, é esperar germinar, até que um dia ela se rebele
contra Gozma. Destruir um inimigo por dentro sempre é a maneira mais efetiva de
fazê-lo... – e continua. - E se ela resolver se juntar a nós depois,
tanto quanto melhor... Seria uma pena desperdiçar uma guerreira tão talentosa
como ela.
Mas as
preocupações de Galdan continuam:
- Mas
e se La Deus ou Bazoo descobrirem que deixamos um inimigo escapar? Seríamos
considerados traidores, e a nossa reputação estaria arruinada... mais ainda do
que já está...
Ambos
os caçadores preferiam não comentar nada a respeito deste último ponto. A perda
das cinco crianças raptadas da Terra para os Flashnianos, há quase vinte anos
atrás, ainda era uma fonte de vergonha para os Caçadores Espaciais...
- La
Deus não saberá de nada, a menos que eu ou você contemos. E Shima certamente
não contará nada disso a Bazoo, a não ser que queira ser executada por traição
na hora. Nosso segredinho está seguro...
Galdan
ainda tinha suas reservas, mas as guarda para si mesmo. Kaura, com raríssimas
exceções, sempre soube o melhor caminho a seguir. Por isso, Galdan sempre
confiou nas decisões de seu líder, e não seria agora que cessaria de confiar.
Barulhos
de passos são ouvidos por detrás dos dois caçadores. Alguém se aproximava
deles.
Kaura
sorri, maquiavelicamente:
- Além
disso, Shima não seria a primeira “aliada em potencial” que tenho, em Gozma...
E,
para a surpresa de Galdan, o recém-chegado é ninguém menos que Guizan, o
Monstro Espacial que atuava como auxiliar de Shima em Jedha!!
- Mas...
mas, como? – pergunta o pasmo Galdan. - Senhor Kaura, o senhor disse que
havia destruído este monstro...
- Disse
sim, para Shima... – Kaura responde casualmente, como se toda aquela
situação fosse esperada. – E ela acreditou, que é o que importa.
E
então se dirige à Guizan:
- Tudo
saiu conforme o planejado, Guizan. Jedha está sob controle total de Mess agora.
- E
ninguém desconfia que eu te ajudei a entrar no templo? Ninguém sabe que te
ajudei a destruir os soldados Hidler que guardavam a entrada? – pergunta o
monstro, desconfiado.
- Ninguém,
posso te garantir. Para Gozma, você está morto. E, como prometido, te daremos
uma carona até o planeta habitável mais próximo. Sugiro que fique escondido até
a poeira abaixar. Quando chegar a hora, e Ahames te convocar, eu o levarei até
ela.
Guizan,
como um Monstro Espacial leal à antiga realeza de Amazo, aceitava apenas a
autoridade de Ahames. Sempre odiou Giluke, o qual considerava o responsável
pela desgraça de sua rainha. Mas Giluke era o atual comandante do exército de
Gozma, então Guizan tinha que acatar suas ordens, ou seria punido por Bazoo.
Então quando Kaura surgiu, e ofereceu ocultá-lo do exército de Gozma até que
Ahames precisasse dele, em troca de “facilitar” a entrada de Kaura no antigo
templo dos Profetas, lhe pareceu uma boa oferta.
Havia
riscos, claro. Mas riscos que Guizan estava disposto a correr, por sua rainha.
- Tenho
sua palavra de que vai cumprir o prometido? Não perdoarei quem tentar enganar a
mim ou à Rainha Ahames!!
- Já
conhece minha reputação, Guizan! – Kaura responde num tom severo, deixando
claro que não admitiria que duvidassem de sua palavra. – E Ahames também
conhece. Sempre cumpro o que prometo, e cobro o que me devem! Eu, o Caçador das
Trevas, sempre pago meus débitos!
Guizan
fica em silêncio por alguns instantes, até que se aquiesce:
- Muito
bem... aceitarei sua palavra então...
E
Guizan se retira da sacada, deixando os caçadores sozinhos.
Kaura
volta a observar as tropas de Mess se aproximando ao horizonte. Galdan, por
outro lado, não consegue esconder sua admiração à esperteza de seu líder...
- “Carta
na manga” realmente... – ele pensa, sorrindo sinistramente.
(*01) O planeta Jedha foi inspirado no planeta homônimo, de “Star Wars: Rogue One”. E, assim como no universo Star Wars, Jedha foi um importante mundo para a Ordem Jedi, aqui ele analogamente abrigou a Ordem dos Profetas Galácticos.
(*02) A Ordem dos Profetas Galácticos é mencionada brevemente em minha outra obra “Changeman - Asas Rosadas”, disponível aqui na Mindstorm e na plataforma Spirit.
(*03) A Ordem das Feiticeiras Galácticas também é mencionada brevemente em minha outra obra “Changeman - Asas Rosadas”, disponível aqui na Mindstorm e na plataforma Spirit.
(*04) Um dos integrantes do Trio Monstro de Ahames, que aparece no episódio 32 de Changeman – “Reencontro Perigoso”.
(*05) Uma oficial de inteligência de Mess, que aparece no episódio 40 de Flashman – “A Cidade do Terror”.
(*06) O histórico entre os Caçadores Espaciais e os Piratas Espaciais é abordado nas obras “Império Gozma” e “Cruzador Espacial Mess”, do autor Tripa_Seca, disponíveis na plataforma Spirit.
(*07)
O profeta Zeo, que descobriu o segredo de Bazoo e o escondeu numa boneca,
aparece no episódio 31 de Changeman – “O Segredo de Bazoo”.
4 Comentários
Grande Pokemon!
ResponderExcluirDe tudo o que você já produziu de bom , esse , sem dúvida, é o seu capítulo mais bem escrito!
Considero que você atingiu o seu auge narrativo.
Um episódio espetacular! Irretocável!
Shima enfrentando Kaura e Galdan , com Guizan traindo Shima.
Uma luta memorável, com diálogos intensos e muito bem descritos.
As motivações dos agentes de Gozma e de Mess ficou claro.
Uns lutam pra restaurar suas estrelas.
Outros , por recompensa ...
Quem está certo?
Quem está errado?
Jogos ...
Jogos do Poder!
Maravilhoso!
Seu comentário me emocionou, Jirayrider! Você notou todos os pormenores que procurei inserir neste capítulo: cenas de luta e ação, diálogos e interações entre os personagens, questões históricas e filosóficas, e até a intriga no final (que é a premissa de "Jogos de Poder Galácticos", daí o nome). Fico feliz que tenha percebido e apreciado todos estes detalhes. Agradeço pelo apoio contínuo ao meu trabalho.
ExcluirMais um conto bem escrito e narrado.
ResponderExcluirO complicado em contar histórias no passado é o mesmo que ocorreu com o filme da Viúva negra da Marvel... comonera uma história do passado da personagem, como você já sabe que ela vai obrigatoriamente sobreviver, vc fica sem se preocupar com ela, como ocorreu com a Shima nessa história.
Ainda assim foi uma batalha bem interessante
Olá, Norberto. Esta é a sina de toda história pregressa: o leitor já sabe como a trama vai terminar, para melhor ou pior. Os exemplos são muitos: quando a segunda trilogia de Star Wars foi lançada, os fãs já sabiam que Anakin Skywalker ia virar Darth Vader no último filme. Quase todo filme ou série que retrata um fato histórico real também passa por isso (por exemplo, em todas as versões cinematográficas de Tróia, já é fato consumado que Aquiles vai morrer, então não adianta torcer por ele rsrsrs).
ExcluirO Tvtropes chama isso de "Foregone Conclusion" ("conclusão inevitável"). Então, o propósito das histórias pregressas acaba sendo mais enriquecer o "começo" e o "meio" da história, do que o "fim" (que já é um spoiler natural). O filme da Viúva Negra tinha como objetivo mais explorar o passado da Natasha, tipo um "character development" dela, já que na narrativa principal dos Vingadores não havia muito espaço para isso. É mais ou menos esta a premissa de Jogos de Poder Galácticos: explorar os passados, as personalidades e as interações entre os grandes vilões das séries tokusatsu. Obrigado pelo comentário.