Cruzador Imperial Mess (Capítulo VII)

 

                                                Capítulo VII - Terra, 1966.

A partir de então Mess passou os últimos anos do século XIX e os seis primeiros decênios do século XX vagando de planeta em planeta, pilhando seus recursos naturais, destruindo-o quando encontrava alguma infra-estrutura e indo embora depois de um tempo. Enquanto isso, Keflen pressentia que seu fim não estava muito distante, e mais uma vez La Deus ordenou um rapto de crianças na Terra. Só que diferente de 280 anos atrás, quando o rapto ocorreu na atual Alemanha, o rapto agora será feito no Japão. O intuito do rapto das crianças terrenas é o mesmo do anterior: criá-las dentro de Mess para que uma delas suceda ao Doutor Keflen como geneticista de Mess, ao passo que as demais serão sacrificadas para fortalecer La Deus. E tal como da vez passada, os caçadores espaciais serão encarregados da missão, através de seu terrível líder Kaura.

Kaura é descendente por via materna de Beyaz, o mesmo que foi morto por Zarm após se rebelar contra Mess em busca de poder. Tal como seu ilustre antepassado, é um sujeito sedento por poder, tendo sido auxiliado por Zarm para assumir a chefia dos caçadores especiais. Ironicamente, o mesmo Zarm que matou seu ilustre ancestral e removeu sua linhagem da chefia dos Caçadores Espaciais agora os reconduz ao poder no mesmo grupo de guerreiros. Se há algo em que Zarm é especialista são manipulações em jogos de poder, coisa que faz desde os primórdios da humanidade, ajudando assim muitos dos mais belicosos líderes da história.

Tão logo Kaura assumiu o poder mostrou-se um líder muito hábil, inteligente, poderoso e com um grande espírito de liderança. Kaura também sabe de vários segredos, incluindo o de que Keflen na verdade é um terráqueo, coisa que soube ao ler o livro de memórias que seu ilustre antepassado deixou pouco antes de morrer. Livro este que têm sido mantidas as sete chaves entre os líderes dos caçadores espaciais ao longo da história. Pouco após assumir o poder entre os caçadores espaciais, Kaura resolveu dar um fim nos piratas espaciais, tal como seus antecessores tentaram fazer muitas vezes.

Os dois agrupamentos de guerreiros se enfrentaram em um planeta próximo ao VX, um dos principais planetas que fornecem monstros para Mess. Kaura se enfrentou pessoalmente com o chefe deles, Buba, bisneto de Mundzuk por parte de pai, o fundador da ordem dos piratas espaciais. Já Galdan, um de seus principais subordinados, enfrentou Hawker, um dos principais companheiros de Buba entre os piratas espaciais. Kaura e Buba começaram trocando socos um com o outro. Buba em seguida efetuou disparos de bolas de fogo vindos de sua armadura que acertaram seu adversário em cheio, mas Kaura logo em seguida se levantou. Kaura pega seu chicote eletrificado e ataca Buba, desta vez o acertando em cheio. Buba elogia os ataques de Kaura, mas diz que terá que fazer muito mais que isso para vencê-lo, sacando em seguida sua foice Buldobass. Kaura, por sua vez, transforma seu chicote em uma espada. Novamente, os dois continuaram a trocar golpes uns com os outros, ficando nesse impasse até a quase exaustão. Kaura dispara uma rajada energética do dedo indicador da mão direita, e Buba faz o mesmo. A determinação dos dois para vencer a luta era tamanha que no fim ninguém venceu o embate. O choque resultante dos dois golpes jogou ambos para longe.

Ao final de tudo, os dois lados resolveram fazer um acordo de paz. A luta de Galdan contra Hawker também teve desenrolar e desfecho similar. Na presença de Buba e sua amada Jill, Kaura, o qual viu que eliminar os piratas espaciais seria no mínimo muito custoso e inútil, fez um acordo de paz com seus eternos rivais. A partir de então cada um seguiu um rumo diferente: Buba, alguns anos mais tarde viria a se aliar com Bazoo, o líder do Planeta Gozma, enquanto que Kaura e seu grupo continuariam com seus negócios a serviço do Monarca La Deus.

No ano de 1966, La Deus em pessoa ordenou a Kaura e seu grupo que fosse a Terra raptar cinco crianças. Para cada criança pega, Kaura e seu bando receberiam em troca receberia de presente um planeta no universo. Wandar, uma das crias do Doutor Keflen e um dos comandantes de campo de Mess, ficou furioso com essa decisão da parte de La Deus. A zebra alada achava que era mais capacitada para tal serviço que Kaura, mas no fim acabou aceitando tal fato.

Kaura foi até a Terra em pessoa junto com seu bando, fazendo o mesmo que seu ancestral Beyaz fez há 280 anos. Primeiro Kaura e seu bando (Kerao, Hag, Hou, Baura, Galdan, Bleda e Muquli) atacaram a cidade de Sapporo, na ilha de Hokkaido. Bleda raptou uma criança de uma abastada família, Shigeru. E tão logo foi raptada foi posta em uma cápsula. O mesmo se seguiu para com quatro outras crianças, todas elas com idades entre seis meses a dois anos: Norio, raptado em Sendai; Sakura, raptada em Shizuoka; Hiroshi, raptado em Kyoto; e Megumi, raptada em Tóquio. Esta ultima é filha de uma notória família de cientistas, os Tokimura. Os pais das crianças pouco ou nada puderam fazer para salvá-las das garras de Kaura e seu grupo.

Em Shizuoka, um jovem guerreiro perito em artes marciais, Sanjuurou Sugata, tentou salvar Sakura das garras de seus captores, mas foi vencido sem muito esforço pelo próprio Kaura. Bastou apenas um soco bem forte e uma chibatada elétrica para que Sugata fosse posto fora de combate. Sugata saiu-se gravemente ferido desse encontro, mas não morreu, e mesmo depois de recuperado resolveu se focar em outra ameaça, só que vinda dos subterrâneos da Terra, o Império Subterrâneo Tube, liderado pelo rei Zeba. Sugata tomou essa atitude por achar Tube mais perigoso para a Terra que os caçadores espaciais. Afinal era algo vindo da própria Terra. Todas as crianças foram postas em cápsulas pelos caçadores e imediatamente levadas para seu destino, a nave Clone. No Japão, a repercussão do caso do rapto das crianças pelo bando de Kaura foi grande.

Já se passaram 21 anos desde que a Segunda Guerra Mundial terminou e o Japão, além de ter perdido a guerra, foi atingido em seu próprio território por duas bombas atômicas, uma em Hiroshima e outra em Nagasaki. O Japão se reerguia das devastações infligidas pela guerra e deixou de lado as políticas expansionistas de outrora. Dois anos antes, o Japão sediou os Jogos Olímpicos de 1964.

Todo esse otimismo, no entanto, foi por água abaixo em decorrência desse incidente. Uma onda de paranóia para com ameaças vindas do espaço (sejam elas em potencial ou não) emergiu. Algumas pessoas, muitas delas ligadas a círculos ultranacionalistas nipônicos insatisfeitos com a política de alinhamento para com o Ocidente, até acreditaram que isso aconteceu em decorrência do abandono da herança cultural nipônica em detrimento da ocidental e das velhas políticas imperialistas pré-1945. Algumas correntes místicas locais, por sua vez, acreditavam que isso era um sinal de que o fim dos tempos estava por vir. Tal como o rapto das crianças bávaras há 280 anos, tal incidente também com o tempo passou a ser objeto de lendas e mitos. Só a partir de 1973 que a situação começou a se normalizar no Japão.