Capítulo II: Todai - o encontro de dois gênios
A despeito de todas
essas vicissitudes, tanto Hideo quanto Šuiči, embora não fossem garotos muito
sociáveis e de poucos amigos, revelaram-se gênios em terna idade, dotados de
grande inteligência e conhecimentos, a ponto de conseguirem entrar na faculdade
com menos de 18 anos, o que deixou tanto os pais e familiares como os
professores de ambos ao mesmo assustados e admirados. Ambos gostavam muito de
ler, e não raro passavam horas e horas lendo livros em suas casas. Também
tinham se achavam pessoas acima da média dos humanos normais, o que com o tempo
foi criando um complexo de superioridade, passando a olhar pessoas com menores
dotes intelectuais com certo desprezo. O grande sonho de ambos era entrar na
Grande Universidade de Tóquio, o que conseguiram por volta de 1955.
Entrando na Grande
Universidade de Tóquio (também conhecida como Todai), lá se conheceram e com o
tempo se tornaram grandes amigos. Na faculdade, Šuiči e Hideo continuaram os
mesmos de sempre: alunos muito acima da média, mas de pouca sociabilidade. E tão
logo se formaram, passaram a lecionar em algumas escolas de Tóquio e cidades
próximas e até a fazer parte de associações culturais e históricas. Em comum
algumas coisas os uniam, incluindo o gosto pelo conhecimento e acima de tudo, o
desprezo pelo ser humano e a crença de que os mais fortes é que deveriam reger
o mundo.
Šuiči, cujos grandes
interesses são História, Filosofia, Robótica, Genética, Biologia Evolucionária
e Sociologia, gostava apenas da companhia de pessoas com grande inteligência, e
após muitos estudos, tornou-se adepto das teorias eugênicas e do darwinismo
social (uma aplicação da teoria da evolução de Darwin nas sociedades humanas) dos
séculos XIX e XX, de pensadores europeus como os ingleses Francis Galton e
Herbert Spencer e o conde francês Arthur Joseph de Gobineau[1], entre outros. A eugenia
consiste, segundo Galton, o fundador de seu conceito, no estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou
empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou
mentalmente.
Šuiči teve seus
primeiros contatos com tal pensamento ainda no colegial em uma aula de
geografia, o qual de início nem o atraiu, mas com o tempo foi ficando cada vez
mais fascinado. Mas logo nos primeiros anos de faculdade, tal pensamento passou
a atrair cada vez mais Šuiči quando este passou a ter aula com o renomado e ao
mesmo tempo controvertido professor universitário Hiroši Tsugihara, adepto de
tais teorias e que volta e meia travava polêmicas com professores e filósofos
de pensamentos mais humanistas. A despeito disso tudo, Hiroši Tsugihara possuía
uma oratória incrível, e sabia prender a atenção de seus alunos como ninguém, a
ponto de em suas aulas praticamente não haver conversa paralela entre os
alunos. Foi apenas uma questão de tempo e mais leituras e reflexões a respeito
da realidade em que vivia para que Šuiči virasse um simpatizante da eugenia
também.
E não é só isso. Em uma de suas muitas pesquisas históricas em arquivos pelo Japão afora para o Instituto Histórico de Tóquio (do qual fazia parte e volta e meia publicava trabalhos), Šuiči um dia estava lendo a respeito de uma tentativa malograda de incêndio a Kyoto no ano de 1878, e após muita pesquisa em arquivos policiais, descobriu quem foi o mentor de tal plano, muito ousado por sinal (que incluía ao mesmo tempo um bombardeio a Tóquio com a fragata de ferro Purgatório): Makoto Šišio.
Makoto Šišio foi um matador das sombras a serviço dos monarquistas no final do Bakumatsu, tendo sucedido outro grande matador das sombras, Battousai o retalhador (vulgo Kenšin Himura). No entanto, para os monarquistas, Šišio, uma pessoa dotada de uma grande sede de poder e glória, sabia de muitos de seus podres e, diante disso, temiam que isso tudo fosse revelado e que tais revelações lhes trouxessem grandes prejuízos. Em determinada ocasião, Šišio foi queimado vivo, em uma verdadeira operação de queima de arquivo organizada por seus próprios patrões.
Mas, para a surpresa de todos, Šišio sobreviveu ao
atentado e alguns anos mais tarde organizou um grupo para derrubar o Imperador
Meidži de seu trono, o Džuppongatana.
No entanto, graças à ação de Kenšin Himura e seus amigos, os planos de Šišio
não foram adiante. Šišio achava que o Governo Meidži era incapaz de proteger o
Japão do assalto imperialista das potências européias (incluindo a Rússia
tsarista, a Inglaterra e a França) que flagelava a Ásia, além de acreditar na
lei do mais forte. Segundo o próprio, “O forte sobrevive, e o fraco morre.
Sobrevivência dos mais fortes”. Filosofia essa mais tarde adotada pelo Estado
japonês na forma da política do “Fukoku
kyōhei” (País rico, Exército forte; 富国強兵). É como se o próprio espadachim mumificado tivesse perdido a luta para o andarilho ruivo em vida, mas virado o jogo postumamente.
[1] A título de curiosidade, o francês
Gobineau (1816 – 1882) foi embaixador da França no Brasil durante o Segundo
Reinado (1840 – 1889), mais precisamente entre 1869 a 1870. Ele acreditava que
o Brasil era um país fadado ao fracasso por conta da miscigenação aqui
existente, embora tenha sido amigo pessoal de Dom Pedro II e os dois tenham
tido correspondência mesmo depois que Gobineau voltou à Europa.
1 Comentários
O destino coloca frente a frente dois futuros gênios do mal.
ResponderExcluirCada um a seu modo, tentará dominar a Terra, transformando a genialidade em algo obscuro.
O mesmo filme eu vi Giro e Gero...