Fala, galera!!!
Aqui está mais uma aventura do nosso herói, Miguel dos Anjos, que se passa logo após os eventos de Spectrum-EX 1: “Gosto Bom”.
Sinopse:
A batalha eterna torna cada vez mais difícil a vida de Miguel. Após uma dura luta para libertar uma amiga das garras de um demônio, Miguel desmaia de cansaço em um beco. Ao acordar se vê diante de um grupo de espíritos malignos, que mesmo ainda não tendo se recuperado totalmente do exorcismo da noite anterior, resolve banir desse mundo para proteger os inocentes...
--x--
SPECTRUM-EX
2
Reunião
Sombria
Manhã seguinte ao exorcismo de Carla...
Estou no escuro. Coração acelerado. Ofegante. O silêncio é atormentador. Será que estou morto?
- Miguel... - Ouço uma voz doce me chamar.
Como uma vela que se acende para desafiar a treva, ela surge diante dos meus olhos.
- Flor? - Reconheço de pronto aquela que já foi o grande amor da minha vida.
Ela nada diz apenas me encara ternamente. Está linda. Os longos cabelos vermelhos parecem arder em chamas. A pele branca emana uma luz suave. Mais uma vez estou perdido naquele olhar azul como o mar. Está nua. Uma onde de calor passa do corpo dela para o meu, convidando-me a amá-la mais uma vez... Nossos lábios vão sendo atraídos por uma força invisível... Não consigo beija-lá... Violentamente um carro a atinge... Joga longe... Corro em direção ao que se torna um cadáver anormalmente retorcido, imerso em um lago rubro. Um sofrimento que não pode ser descrito me toma por inteiro. Chorar consigo somente chorar.
- Ela é minha!!! - Um demônio salta da escuridão, pegando-me pela garganta.
Com um grito de horror desperto de meu pesadelo. O maldito pesadelo que me persegue, noite sim, noite não, me lançado de volta para aquele momento responsável por todo o amargor que levo grudado na alma, sem nunca me libertar.
Confuso, olho ao meu redor. Afinal de contas, onde estou? Um beco? Estou em um beco? Como? Ah, sim... Ontem à noite exorcizei um demônio poderoso. Quase morri... Exausto, vim até esse lugar para recobrar minhas forças e fui arrebatado pelo sono profundo. Que horas são? Recuso-me a acreditar na tela do meu celular, já passa do meio-dia... Entro no trabalho às sete da manhã, que desculpa vou dar ao meu chefe dessa vez? Antes que possa pensar em algo, recebo uma ligação do meu pai.
- Onde você está? Seu merda!!! - Ele grita...
- Olha o coração, velhinho! Eu só perdi a hora... - brinco com ele.
- E dormiu onde, que eu te procurei na sua casa e você não estava?
- Ai já é meio complicado...
- Complicado o que... Peste... Você bebeu de novo não foi? Largou a namorada em casa e foi encher a cara, não é?
- Pai... Eu parei de beber faz tempo...
- Cabra safado... Mentiroso da peste... Eu falei com o seu chefe, viu... Você falta, quando não falta, atrasa... Mas não se preocupe... Agora você pode vadiar à vontade... VOCÊ FOI DEMITIDO, SEU OTÁRIO!!! Depois de todo trabalho que deu arranjar o trabalho pra você...
- Sinto muito... - Me desculpo com sinceridade.
O desgosto na voz do meu pai me rasga como navalha.
- O que está acontecendo com você, filho?
O velho é durão, mas a voz dele falha... O silêncio que se faz entre nós é pior do que o do pesadelo que tive há pouco.
- Liga pra sua namorada, ela tá fula da vida com você... - Meu velho desliga o telefone...
Pois é? O dia começou lindo... Minha vida como herói sobrenatural está arrasando minha vida como pessoa.
Meu pai acha que voltei a ter problemas com bebida, estou desempregado e vou ter que encarar uma garota maravilhosa que vivo magoando, magoando demais...
Miriam, a mulata mais bonita do bairro, que outro dia larguei no cinema, saindo no meio do filme para ir ao banheiro e não retornando (fui caçar uma alma vingativa que atormentava um dos funcionários do cinema).
Quanto tempo vou conseguir guardar meu segredo? Como isso vai afetar as pessoas que amo?
Guardo o celular no bolso, juntamente com minhas indagações. Deveria ligar para Miriam... Não tenho coragem... Fica para depois.
Estou faminto. Sem demora, encontro uma padaria. "Padoca, bar, restaurante do Madureira", diz a placa. Poderia ser somente bar, devido à quantidade de cachaceiros, sendo o único contraste uma mulher com duas crianças numa mesa nos fundos, perto de uma TV de tubo mais velha do que eu.
Está passando uma reportagem sobre o "Carcará-Negro", que ninguém sabe se é mais um dos muitos heróis fantasiados que protegem a cidade ou um maníaco que gosta de quebrar criminosos e os expor na internet. Eu mesmo não tenho uma opinião formada sobre ele. Como vai ser se nos esbarramos um dia? Acho meio difícil, os canalhas que arrebento já estão mortos... Sinto um pouco de inveja, pelo menos ele é famoso, quanto a mim, tenho que atuar no mais absoluto sigilo. Segundo Leon, meu mestre, um ex-cavaleiro da ordem da luz, se descobrirem quem sou, serei caçado por demônios, vampiros, lobisomens e todo tipo de criatura da escuridão.
Aproximo-me do balcão. Seu Madureira, muito simpático me saúda.
- Bom dia, menino! Você está um caco, heim? – Ele sorri pra mim e quase caio na gargalhada, ele é idêntico ao “Leôncio do Pica-Pau”, está usando uma camiseta branca bem larga escrito “Madureira, dono da bagaça”.
- Pois é, meu amigo... A vida não tem sido muito grata comigo... – Respondo com mais sinceridade do que deveria ter com um estranho.
- Como eu posso te ajudar?
Olho pra tabela de preços atrás dele e escolho o mais barato possível, afinal estou desempregado e só tenho o dinheiro que guardei para levar minha namorada pra comer num restaurante barato, que agora vai ter que durar o resto do mês... Cacete, como vou pagar o aluguel? Já estou no terceiro mês de atraso... Nervosamente passo a mão nos cabelos, o peito aperta. Como pode? Spectrum-EX, é um super-herói incrível e poderoso, capaz de materializar qualquer equipamento que puder imaginar e ainda tem a habilidade de se tornar um fantasma, enquanto Miguel dos Anjos é um bosta, que vive magoando as pessoas que ama. Quantas pessoas já livrei das garras do mal? Como eu posso viver do jeito que vivo? Realmente não é justo? Olho para as garrafas de bebida expostas em um canto e minha garganta seca.
- Menino... Tudo bem? – Madureira pergunta como se percebesse minha dor.
- Estou sim... Me vê um pão com manteiga...
- E pra beber?
- Um copo de água...
- Está certo... Já vou providenciar... O Perereca – Ele se dirige ao cozinheiro.
- Oxi, seu Madureira... É Robervaldo... Esquece esse negócio de Perereca... – o cozinheiro protesta diante do apelido.
- Prepara ai um almoço do bom pra esse menino aqui, capricha no bife...
- Seu Madureira... Desculpe, mas não posso pagar... Estou desempregado e mal tenho dinheiro para chegar ao fim do mês... – fico meio desesperado.
- É por conta da casa e ainda ganha um suco de laranja de brinde...
Não consigo evitar que uma lágrima role pelo meu rosto.
- Muito obrigado...
- Imagina... Só não vai fazer besteira... Vi você olhar pra bebida... Já perdi um filho desse jeito...
- Sinto muito...
- Bom... Isso é passado... Deixa-me trabalhar agora que a bagaça está lotada…
Fico sem palavras. Não sou uma dessas pessoas amargas que vêem somente as trevas que infestam esse mundo. Existem pessoas boas vivendo entre nós. Quando falamos sobre a guerra eterna, sempre a imaginamos bem longe, quando na verdade ela está dentro dos nossos corações. Todos os dias tomamos a decisão de sermos demônios ou anjos na vida uns dos outros. Um certo conforto me toma ao pensar que alguns de nós, mesmo com a alma afundando em dor é capaz de ser forte o bastante pra não perder seus princípios. "Ter bondade é ter coragem.".
O mal não repousa… Ornamentando um anel etéreo que somente eu posso ver, a lágrima dos anjos, fonte do meu poder, começa a vibrar emitindo uma luz forte. Meus olhos passam a enxergar não somente o mundo material, mas também o reino dos mortos. Olho ao redor e me vejo cercado de espíritos malignos. São muitos… Criaturas translúcidas de aparência medonha que ainda guardam as marcas de suas mortes. Enforcados, baleados, afogados, queimados, parece até uma festa. Estão ao redor dos vivos, sugando energia, soprando maldições em seus ouvidos e gargalhando. Eles revezam, como se os viventes fossem pratos expostos para degustação. A mulher e as duas crianças no fundo estão sendo disputadas por três caveiras feitas de sombras, com luzes vermelhas saindo dos olhos.
- Pronto garoto, aqui está seu rango… - Madureira traz minha refeição, quando se vira para ir dar conta de qualquer outro serviço, vejo um pequeno demônio grudado em suas costas.
O que será que está acontecendo aqui?
Não sei se em função da Lágrima dos Anjos, mas nenhuma das entidades sombrias nota minha presença. Tento então agir de modo natural, saboreando minha refeição em silêncio. O bar do Madureira é até grandinho, somente agora noto. Ao lado do balcão onde estou, ficam algumas mesas, por volta de dez, somente à metade está ocupada por viventes, todos cabisbaixos, mergulhados em dores internas que mancham de negro suas auras. Diante do meu olhar espiritual, todos são cinzentos como se fossem personagens de um filme em preto e branco. Não consigo parar de olhar para as crianças, um menino e uma menina, são muito parecidos com a mãe, com pele morena cabelos negros. Claramente são gêmeos, sendo possível diferenciá-los pelo garoto usar cabelo curto e a menina longo, acredito que não tenham mais que nove anos. A mãe está um caco, magra de um modo que deixa claro sua entrega aos vícios. Estou os encarando demais, a mãe nota. Para disfarçar o verdadeiro motivo dos meus olhares, pisco e sorrio para ela de modo pervertido. Fica constrangedor quando ela pisca de volta.
O número de espíritos malignos aumenta ainda mais. Parece que estou em uma balada do inferno. Fixo o olhar no prato de comida, fazendo de conta que não os estou ouvindo, mas presto atenção principalmente em dois deles que estão mais perto.
- Lugarzinho bacana esse...
- Lugarzinho ótimo... Faz tempo que venho, e cada vez melhora mais... Os companheiros trazem seus escravizados pra cá, onde a atmosfera contaminada de trevas facilita o trabalho... Dá até pra levar os mais vulneráveis ao suicídio... Hahahaha...
- Olha só aquela coitada com os dois pirralhos, ela já está quase no ponto... - Você nem faz ideia de quanto... Os mestres vão possuí-la, fazer matar as pestes e beber o sofrimento dela pra sempre... E não vai demorar...
- Hahaha, vou querer ver isso....
Acabo engasgando de repulsa, quase revelando minha farsa. Sinto os olhares das criaturas das sombras caírem sobre mim. Felizmente Madureira me ajuda a manter minha máscara.
- Vai com calma, rapaz... Come devagar - Madureira fala em tom paterno.
- Desculpa... É que está bom demais... - Volto a comer afobadamente.
Mais uma vez olho o pequeno demônio nas costas de Madureira, grudado feito um carrapato. Homens bons não deviam passar por isso...
- Ei, você consegue me ver?
Um deles começa a passar a mão perto do meu rosto. O miserável é um defunto em decomposição, extremamente nojento.
- Ei... Olha pra mim, gostosão!
O espírito maligno dá uma bela lambida na minha orelha direita. Continuo na minha. Viro a piada do lugar. Termino de comer bem rápido, não dando tempo pra nenhum deles urinar ou cuspir no meu prato, como os vejo fazer no prato dos outros. Levanto-me para ir ao banheiro, preciso jogar água no rosto.
- Ei, bonitão... Volta aqui... Ainda não soltei meu peido da sorte na sua cara...
O espírito maligno continua a me atormentar. - Madureira, muito obrigado, não vou esquecer o que você fez por mim hoje - Agradeço meu novo amigo ignorando os espíritos, sendo profundamente sincero, estendendo a mão para ele, a qual ele aperta de modo afável.
- Que isso... Só não apronta nada...
Como meus sentidos espirituais estão no máximo, ao olhar diretamente nos olhos daquele homem, vejo toda culpa que o consome. Ele e o filho viviam em pé de guerra. Madureira acredita que isso foi o que fez seu garoto se afundar na bebida e nas drogas, até perder a vida. É desse sofrimento gigantesco que o demônio se alimenta.
- Pode deixar... Vou tirar água do joelho e tomar meu rumo, mas prometo que volto... - Findo a conversa.
Madureira apenas balança a cabeça positivamente.
- Vejam como ele é educado... Mal sabe ele que o pançudo logo vai bater as botas, sugado até o osso - Meu perseguidor zomba, as outras entidades gargalham. Uma chama queima meu peito...
Vou ao banheiro, acompanhado pelo espírito perverso, que não para de falar, mas não estou mais dando atenção. Ao entrar no mictório, tem outras duas malas espectrais fofocando, o assunto me interessa, ouço discretamente enquanto lavo o rosto.
- Pois é... Migo... Ontem à noite mandaram um mestre de volta pro reino das sombras na base da pancada, ele chegou todo quebrado...
- Mentira... Deve ter sido um exorcista muito poderoso...
- Oi, Ed... Quem é esse que você está azucrinando?
- Um idiota que achei lá fora...
- Menino... Você não percebeu que o rosto dele está todo embaçado?
- Ed... Esse cara tem proteção espiritual...
- Como? Esse idiota aqui?
Finalmente chega a hora de por as cartas na mesa.
- Pois é, Ed... Você não é muito esperto no final das contas... - Digo ainda jogando um pouco de água no rosto.
- Quem diabos é você? - Meu perseguidor pergunta.
- Eu... Sou o tal exorcista poderoso que espancou um dos mestres de vocês ontem à noite... Pode me chamar de Spectrum-EX...
Em poucos segundos me transformo, vestindo minha armadura, materializando minhas sword-pistol e passando por fim para dimensão fantasma. Hora de acabar com a festa...
Uma forma muito eficiente de exorcizar espíritos do mal é causar-lhes uma "segunda morte", após a qual Eles se tornam cinzas e voltam para o reino sombrio. Quando espíritos lutam entre si, a batalha se reflete no mundo material. Os viventes verão objetos sendo destruídos por arremesso ou esbarrão de uma força invisível, sendo essa uma das muitas explicações para o fenômeno conhecido como "poltergeist".
Ed é o primeiro a rodar, levando um disparo de laser bem no meio da cara, na qual se abre um buraco do tamanho de uma bola de futebol. Um dos outros dois espectros que estavam no banheiro pula em cima de mim, agarrando meu pescoço. Posiciono minhas sword-pistols na barriga de meu oponente e puxo os gatilhos. O espectro acaba partido ao meio.
- Desgraçado!!! - A terceira alma grita, arrancado uma barra, presa na parede para pendurar toalhas.
No movimento seguinte, o espírito me ataca com a barra. Consigo me esquivar e o golpe estilhaça o espelho ao invés da minha cabeça. Contra-ataco com diversos disparos laser, fazendo meu alvo em pedaços.
Sou pego de surpresa por tentáculos que me puxam pra fora do banheiro, através da porta que acaba arrebentada pela minha cabeça. Por mais que a armadura me proteja, algum impacto sempre acaba sobrando para meu corpo meramente humano. Estou caído no chão, preso pelos tentáculos que saem da boca de uma das entidades sombrias. Sou cercado e pisoteado severamente. As criaturas das trevas odeiam a nós, que somos da luz, por isso quando somos notados elas atacam com tudo, sem piedade. Os viventes estão apavorados, não podemos me ver e nem meus algozes, ouvem somente o som do meu espancamento. Preciso reagir. Não acho que hoje seja um bom dia para morrer. Preciso pensar em como sair da situação atual. Se continuar assim a armadura vai quebrar, então estarei morto. Viro a alegria da festa. Estão todos aglomerados ao meu redor, brigando para passar na frente uns dos outros, ansiosos pela oportunidade de me chutar. Espera um pouco... Eles estão aglomerados... Finalmente acho uma resposta para virar o jogo a meu favor. Começo a imaginar um upgrade para meu cinto. Um tipo de motor que fará surgir uma aura elétrica ao redor do meu corpo. Visualizo o cinto-motor, a aura ao redor do meu corpo, dou-lhes um nome.
- Spectrum Thunder Aura!!!
Atendendo ao meu desejo, a Lágrima dos Anjos faz surgir meu novo equipamento, meus agressores recebem um forte choque. Meus poderes possuem um tipo de trava de segurança, por assim dizer, então os viventes não são atingidos. Arrebento os tentáculos, e começo a efetuar disparos de laser freneticamente. A “Thunder Aura” continua a me proteger, repelindo os oponentes que tentam me tocar, tornando-os alvos fáceis para serem abatidos, mostrando que em batalhas futuras será um dos meus recursos mais importantes. Quando penso que já está tudo resolvido, um deles, usando telecinésia joga uma cadeira na minha cara. Sempre esqueço que espectros possuem essa habilidade... Tudo que os malditos podem jogar em mim é lançado com uma força imensa. Cadeiras, mesas, facas, até a enorme TV de tubo. Volto a ser espancado, eles voltam a rir. Os viventes... Estava tão focado em abater meus inimigos que me esqueci deles. Alguns correram, outros estão em pânico, encolhidos num canto. A mulher protege as duas crianças com seu próprio corpo, enquanto os pequeninos gritam em desespero. Ela tem um corte na cabeça... Minhas armas não podem lhes fazer mal diretamente, mas não havia pensado nos estilhaços... A batalha precisa ser resolvida logo... Tudo fica ainda pior quando começo a ser atingido por garrafas de bebida alcoólica. Por causa da Thunder Aura, elas explodem como se fossem coquetéis molotov. Diferente de mim, os espíritos malignos não se importam com os viventes.
- Vamos ligar o gás e mandar essa porra toda para o ar...
Um deles diz. Não dá mais pra ficar apanhando, não faltam muitos para derrubar.
- Spectrum Blades!!!
Ejeto a lamina laser acoplada as pistolas e efetuo golpes que emanam ondas de energia. Os espectros vão sendo feitos em pedaços... Vai acabar... Finalmente vai acabar... Ouço um urro vindo de trás do balcão, onde meu amigo Madureira estava se escondendo. Fica claro que fiz bobagem, quando os espíritos que restaram, vendo que não havia mais forma de vencer, possuíram em massa meu amigo, tão rápido que não consigo impedir. Madureira se torna um monstro, rasgos surgem em sua pele quando seus músculos se expandem exageradamente. O balcão se desprende do chão e é jogado contra mim, com a força dos espíritos que se juntaram naquele corpo. Apago por um instante. Quando abro os olhos, estou no meio da rua e percebo a enormidade dos meus erros. A guerra deve ser travada em segredo, para evitar consequências maiores ao próprio cavaleiro. Estou no meio da rua, cercado de curiosos com seus celulares filmando todo aquele pandemônio. O último golpe me enfraqueceu o suficiente pra não conseguir manter minha forma como fantasma. Por sorte minha armadura não se desfez, embora esteja muito danificada.
Ouço uma gargalhada medonha, feita de diversas vozes. O Madureira multiencapetado vem em minha direção, passando pelo rombo feito na parede quando ele me acertou. Sempre acabo atravessando paredes, isso é um saco. Minha energia não é ilimitada, se ela se esvair completamente, não vou ser mais do que um humano frágil, que sem a proteção da armadura, não vai sobreviver ao primeiro ataque. Eu estou no limite... O Maducão, começa a concentrar energia pra poder fazer mais uma ataque telecinético. Não posso permitir... Rematerializo minhas swor-pistols e abro fogo. A pele dele é muito resistente. Talvez as Spectrum Blades. Consigo fazer dois cortes no peito dele. Cansado, estou mais lendo do que deveria estar. Levo um soco que quase quebra meu elmo. Ele me chuta pra longe. Sua força física é a de umas vinte pessoas. Não vai dar... Dessa vez vou morrer... Minha energia vai chegar ao fim... Lágrimas descem pelo meu rosto... Lembro da gentileza do Madureira... Um cavaleiro não pode falhar, pois quando isso acontece, mais do que perder a própria vida,inocentes sofrem. E nós existimos exatamente pra proteger os inocentes. Para garantir que pessoas boas vivam bem, do jeito que merecem viver. Não posso perder. Tem que haver uma forma.
- Levanta, porra... Salva o meu pai!!!
Nessa hora vejo a alma do filho do Madureira. Como foi que não o vi antes? Acho que ele estava num padrão de vibração diferente dos obsessores, ou algo assim...
- Por favor... Levanta... Tudo isso é culpa minha... Ele entrou em depressão por minha culpa... Ele não merece isso...
Ele está certo. Mesmo que custe minha vida. Vou salvar meu amigo. O filho do Madureira acaba me dando uma ideia. Ele está usando uma camiseta da Marvel, onde o Hulk e o Homem de Ferro estão saindo no tapa. Hukbuster, preciso de algo assim. Minha capa não é só um enfeite. Ela serve como escudo paras costas e frestas da armadura e como energia reserva quando estou quase exaurido. Desfaço as Sword-Pistols e a Thunder Aura para ter mais energia ainda. Começo imaginar um upgrade pra toda a armadura. Com a imagem na minha mente, falta apenas dar um nome para minha nova forma.
- Spectrum Guerreiro Escarlate!!!
Como se fosse um líquido, minha capa se espalha pela armadura, começa a brilhar e por fim ela a reveste com novas partes, que aumentam minha resistência e força. Agora estou no nível do Maducão. Novamente vou pra cima dele. Dessa vez quando o acerto ele recua. Mesmo como reforço, ainda estou cansado. Não consigo me esquivar quando ele contra-ataca, fora que a nova armadura por si já me deixa mais lento. Que se dane. Vamos ver quem aguenta mais. Começamos a trocar socos. Acho que quebrei um dente. Sinto meu rosto tremer em dor, como se fosse gelatina. Que se dane... Que se dane... Vou morrer lutando... Vou salvar meu amigo... O mal cairá diante dos meus punhos... Ignoro a dor... Continuo a socar...
- Você não vai me vencer!!! – Grito e dou uma cabeçada no Maducão.
Finalmente ele está cedendo. Agora eu sou o único a socar. Aos poucos os espíritos malignos que possuíram Madureira vão se desfazendo.
- Hora do golpe final... SPECTRUM PUNCH!!!
Volto a minha forma tradicional. Descarrego toda minha energia em um último e poderoso soco. Todos os espíritos se desfazem, Madureira cai, de volta a forma humana. Ele vai se recuperar, vai ficar bem. Estou quase desmaiando. Atrás de mim ouço a multidão aplaudir. Preciso fugir. Ainda me resta energia suficiente para me tornar um fantasma. Preciso estar preparado, pois não há dúvidas de que vou sofrer consequências graves por tudo que ocorreu hoje...
Continua...
Jeremias Alves Pires
Nota: Originalmente essa história seria o final de Gosto Bom, mostrando que não há paz para nosso herói.
8 Comentários
Grande Jeremias!
ResponderExcluirEpisódio sombrio , dramático e triste.
Miguel dos Anjos , o Spectrum-Ex, atua no sobrenatural impedindo que os espíritos infelizes prevaleçam,mas não consegue cuidar de sua vida pessoal, cada vez pior.
Triste e irônica sina de um herói.
A ambientação do bar/padaria, os espíritos atacando sem piedade suas vítimas sofredoras, a batalhas contra eles.
A dor de ver uma pessoa que o olhou com olhar humano ser possuído daquele jeito....
For muitas as cenas impactantes.
Estou assombrado!
Mandou bem demais.
Seria bom um encontro do Carcará Negro com o Spectrum-Ex.
Será que vai rolar?
No aguardo.
Mais uma vez, parabéns!
Valeu, ainda preciso elaborar um nome pra esse universo doido. Uma hora dessas inevitavelmente o Carcará e o Spectrum vão se esbarrar.
ExcluirA qualidade de seu texto é tão assombrosa como os detalhes mórbidos de sua obra.
ResponderExcluirSpectrum-Ex é fascinantemente assustador.
De fato, a ambientação da cena na padaria foi de matar, literalmente.
Esse lance dos espíritos possuírem pessoas e as fazerem sofrem como uma maldição a que estão presas é tenebroso. Isso me faz lembrar muito esses terrores japoneses. Sinistro.
Tive muito medo ao ler cada linha de seu texto.
Parabéns, meu amigo.
Obrigado. Estou me esforçando pra ficar no mesmo nível dos outros autores do blog.
ExcluirMais um capítulo excelente meu amigo!
ResponderExcluirVocê consegue dividir perfeitamente cenas mais simples do dia a dia, conseguindo dessa maneira desenvolver muito bem os personagens, ao mesmo tempo que manda bem demais nas cenas de ação, que ficam extramebte visuais, graças a uma escrita direta e bem organizada.
A história segue bem demais e já quero muito ver o proximo capítulo.
Valeu... As cenas de ação acabaram me deixando travado um tempo, que bom que gostou.
ResponderExcluirEu gostei e gostei muito! Primeiro que a narrativa como sempre é maravilhosa, muito bem feita e muito agradável de se ler; segundo, que nos fez relembrar a situação do primeiro episódio, o que nos faz se situar melhor na trama, compreendendo que a linha de tempo é confirmada e podemos compreender melhor todos os acontecimentos, acertou muito nessa referência ao acidente primeiro! Terceira, a conversa entre pai e filho, cara, aquilo foi tenso e intenso, que conversa poderosa e emocionante, tu fez com que emoções e sentimentos fossem ali demonstrados de forma ímpar, parabéns uma vez mais! Outro ponto incrível, a questão de espíritos assolando os humanos, os levando ao suicídio, fazendo sacanagens com os vivos, foi muito bem abordada e deixa um gosto de quero mais na leitura muito forte, pois essas paradas sobrenaturais, bem abordadas como tu faz, sempre são incríveis e melhoram muito o texto! E pra finalizar, temos essa batalha incrível no final, com a chamada moral do filho de seu Madeira e o Spectrum também, conseguindo salvar o homem da morte certa! Mandou muito bem cara, meus mais sinceros parabéns por mais esse trabalho! \0/
ResponderExcluirOpa obrigado. Nos próximos episódios vamos ter a mãe do Miguel. Achei que seria muito forçado ela aparecer agora.
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