O Bakumatsu teve início ainda em 1853, mas os primeiros anos
tiveram quase nenhum impacto no jovem Makoto Šišio e sua família. A cidade em
que nasceu e viveu seus primeiros anos de vida, Kyoto, na época era a capital
do Japão. Kyoto era a capital do Japão desde o ano 794, quando teve início a
era Heian. Kyoto manteve esse status até 1868, quando o novo regime instaurado
com a Revolução Meidži transferiu a capital para Edo, a atual Tóquio.
Ironicamente, uma mudança de regime tornou Kyoto a capital do Japão, e com
outra mudança de regime deixou de ser a capital japonesa.
O pai de Makoto, Džōdži Šišio, na época tinha 30 anos de
idade. Sua atividade como artesão era o sustentáculo da família, e com isso
atraiu várias amizades para o seu círculo. Entre elas, o famoso ferreiro Šakku
Arai. Ao longo de sua vida Šakku forjou várias armas, incluindo foices, sabres
e lanças, mas a sua verdadeira paixão eram as espadas. Dos mais variados tipos
de espada produzia Šakuu: katanas, tačis, wakizašis, kodačis, nodačis, ōdačis,
entre tantas outras. Não havia um único tipo de espada nipônica que Šakuu não
conseguia forjar. A espada é uma arma de perfuração, e as artes marciais
asiáticas em geral a consideram a mais nobre de todas as armas. Šakku sentia um
fascínio incrível pela espada, ao passo que não sentia o mesmo em relação às
demais armas brancas.
Com o início do Bakumatsu e o seu desenrolar nos anos
seguintes a procura por espadas foi aumentando cada vez mais, a ponto de ser um
dos ferreiros mais eminentes e mais requisitados de todo o Japão. Talvez até o
mais. Na época, tanto partidários do Xogunato quanto monarquistas requisitavam
seus serviços. Šakuu os atendia e os
tinha como clientes, independente da coloração ideológica deles. Ele acreditava
que suas espadas um dia trariam uma nova era de paz e prosperidade para o
Japão, pois como diz um velho ditado romano do século IV “Se você quer a paz,
prepare-se para a guerra”.
Em 1857 Džōdži Šišio se juntou às forças pró-Xogunato. E
para isso encomendou uma espada para Šakku Arai. Sua espada ficou pronta em
menos de uma semana, e ao vê-la Džōdži ficou maravilhado com o brilho que sua
lâmina emitia. Džōdži fez uma espécie de juramento, dizendo que sua espada
manteria o Xogunato vivo. O patriarca da família Šišio volta e meia era
requisitado pelo Xogunato em suas várias missões, incluindo patrulhas nas ruas
de Kyoto e até embates com monarquistas em cidades mais distantes como Osaka.
As constantes ausências de Džōdži passaram a incomodar sua
esposa, Yuri (com a qual era casado há sete anos) a qual pedia insistentemente
para que seu marido passasse mais tempo com sua família. Em uma dessas
discussões Džōdži rebateu tal pedido dizendo que enquanto os monarquistas
continuassem a incomodar o Xogunato e as potências estrangeiras a tentarem se
intrometer nos assuntos japoneses ele jamais abaixaria sua espada. Seu filho
Makoto também fez pedidos parecidos. “Se esse é o meu destino, que assim seja”,
certa vez ele teria dito em conversa com o filho e a esposa, com uma expressão
serena no rosto.
Até que um dia os temores de Yuri Šišio se confirmaram. No
dia 12 de março de 1860 seu marido foi enfrentar um grupo de monarquistas junto
com o grupo o qual fazia parte. Desta vez, Džōdži veio a morrer degolado por um
retalhador monarquista. No dia seguinte, Džōdži foi enterrado em um cemitério
de Kyoto, e sua esposa chorava copiosamente diante de seu cadáver, assim como
seus filhos. Makoto se encontrava desorientado com essa situação toda. Yuri
tentou tocar com suas próprias mãos o negócio de artesanato de seu marido, mas
veio a morrer no fim do mesmo ano vítima de uma epidemia de tifo.
Seus filhos, Makoto, Hiroši e Kazuya, sobreviveram à morte
de sua mãe, mas caíram na miséria. Sobre os filhos do casal Džōdži e Yuri paira
um período de incertezas. Vagando pelos vilarejos ao redor de Kyoto nos anos em
que seguiam, Hiroši e Kazuya também vieram a morrer vítimas de doenças. Diante
dos flagelos da guerra, da perda de sua família e várias reflexões a respeito
da situação do Japão e do mundo que o cerca, o jovem Makoto Šišio chegou a
seguinte constatação: de que a lei deste mundo é a lei do mais forte. Para os
fortes, a vida. Para os fracos, a morte. O fraco é o alimento do forte, e o
forte se alimenta do fraco. Sobrevivência dos mais fortes. Desde então esta tem
sua a filosofia de vida.
1 Comentários
Com perdas tão profundas ,através da dor Makoto,decide enveredar por um caminho perigoso...
ResponderExcluirAo cauterizar em sua mente, o espírito de vingança pela perda dos pais , Makoto muda o seu destino, moldando o seu caráter na lei do mais forte.
Isso certamente, não acabará bem..
Vejamos como se dará isso.