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SPECTRUM-EX – HALO 12 – VILA DA MORTE 2


NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 E PESSOAS SENSÍVEIS.


Fala Galera!

 Desculpem a demora para postar, mas finalmente aqui está mais um pedaço do trabalho “Vila da Morte”, a origem de futuros vilões para o nosso herói Spectrum-EX. Mais que um texto clássico de horror, faço uma reflexão sobre lugares esquecidos pela sociedade, ideais para que o mal crie seus monstros.

Como sempre estou aberto a sugestões, não só sobre o texto, mas sobre esse tema tão delicado...

Boa leitura!

 O Autor – Jeremias Alves Pires

 


Sinopse:

Após o surto de Ângela, Reinaldo relembra o violento caminho que o tornou o “Rei da Morte”.

SPECTRUM-EX - ESPECIAL - VILA DA MORTE 2 

Nas semanas que se seguiram os boatos correram como uma praga. Acabou sendo bom para os negócios. Apenas isso importava ao grande Rei. Seus negócios… Seu reino em constante ascensão. Lutou muito para isso.

 

Tinha crescido ali mesmo na vila, tendo sido largado pela mãe em um barraco desocupado. A mulher simplesmente deixou o recém nascido  nu no chão, enrolado em uma manta vermelha.

 

Ninguém sabia nada sobre a mulher imensa, que estava sempre esbravejando, alheia ao mundo à sua volta.

 

Em qualquer outro lugar, um ser tão peculiar chamaria bem mais atenção, não na vila. “Vilinha”, como todos chamavam, era só mais uma favela da cidade de São Paulo, sem nada de especial.

 

 Era somente um lugar ocupado por desafortunados, com quem ninguém se importava, que chegavam e partiam o tempo todo.

 

Não era um lugar onde alguém gostaria de terminar seus dias… Ficava entre um córrego fedorento, que transbordava em dias de chuva e um matagal da onde se ouvia os lamentos de pessoas que tinham ali sido assassinadas, uma vez que o lugar era perfeito para isso.

 

Há quem diga que o mal cheiro vinha na verdade de lá… Nem mesmo a luz do sol se atrevia a desbravar o local, eternamente envolto em uma escuridão que poderia enlouquecer quem quer que a encarasse.

 

Muitas vezes, no meio da madruga, os habitantes da vilinha eram despertados por gritos, implorando pela vida, logo silenciado por um estampido. Alguns faziam orações pela alma que havia acabado de passar para outro mundo, outros apenas ficavam felizes quando era rápido e podiam voltar a dormir, fosse como fosse, a violência fazia parte da normalidade de suas vidas, como não deveria fazer na de ninguém.

 

O pequeno Reinaldo foi crescendo nesse ambiente, acolhido por um grupo de malfeitores, que não tinham por ele uma gota de amor. Ele era um instrumento, no começo para pedir esmolas, depois, os genes herdados da mãe, o tornaram anormalmente grande e propenso a violência, acabou virando arma. Uma arma eficiente demais.

 

Para gangue, ele era um tipo de cão feroz. Apontavam a vítima, ele saia correndo e a derrubava, enchendo-a de socos até que perdesse os sentidos, momento no qual bastava recolher todos os pertences do pobre coitado desacordado, mesmo os que não tinham valor, afinal era uma grande farra.

 

A cada ataque ficava mais divertido. Reinaldo ficava cada vez mais violento, cada vez menos humano e mais monstro.

 

Houve uma grande comemoração quando o garoto matou pela primeira vez.

 

Ninguém sabia o nome do garoto, ele apenas estava lá quando chegaram. A criança gorda e feia que não parava de chorar. A alma completamente ausente de amor dos  membros da gangue dos “Coisa Ruim”, como gostavam de ser chamados, alimentaram e cuidaram da pequena alma apenas para que ela não fosse um incômodo. Tratavam-no então como se fosse um tipo de “bichinho” de estimação de pouca importância. Falavam muitas vezes em como matá-lo, enquanto bebiam e se drogavam.

 

— Vamos esquartejar… Podemos usar meu cobertor… — Disse “Caveirão”, o mais alto e magro do bando. Estava sempre raspando a barba, cabelo e sobrancelhas com uma faca de carne, um objeto pelo qual tinha verdadeira adoração. Se Caveirão não estava raspando seu rosto, estava limpando e afiando sua faca. Olhar perdido, numa espécie de transe maligno, onde parecia reviver cenas de um passado macabro, algumas vezes começava a rir descontrolado.

 

— Faz muita sujeira… Vamos esmagar… Depois eu posso comer tudinho… Qual será o sabor?

 

— Montanha primeiro pisoteou o chão com força várias vezes, fazendo as banhas do corpo volumoso balançarem, em seguida começou a mastigar algo invisível, olhos arregalados, baba escorrendo pelo canto da boca.

 

— Faz sujeira do mesmo jeito, suas antas… Vamos enrolar bem no meu cobertor e incendiar… Assim purificamos a alma dele… — Brasa acendeu e apagou o isqueiro várias vezes, admirando a chama, imaginar o cheiro de carne queimada e gritos o fez sorrir. enquanto uma parca luz, iluminava a metade do rosto marcada por um dos incêndios que amava fazer.

 

— É só envenenar… Tenho chumbinho aqui comigo… — Rato começou a revirar sua mochila infantil com desenhos de palhaço, na qual levava um verdadeiro arsenal, com direito até mesmo a explosivos, vítima de nanismo era um adulto perverso em um corpo de criança inocente. Era muito rápido, com habilidades acrobáticas que o tornavam quase impossível de apanhar.

 

— Ninguém vai fazer nada! Estamos fugindo e não podemos chamar a atenção, e crianças mortas, mesmo as horrorosas como esse fedelho, chamam muita a atenção. — Disse “Barra Pesada”, o líder do bando, o homem tão cruel como musculoso, ao qual nenhum deles jamais ousava questionar, as ordens ditas nos poucos momentos em que falava alguma coisa, normalmente ficava apenas observando tudo à sua volta, sempre esperando o ataque de um inimigo, com os olhos cheios de vontade de derramar sangue— Se ele morrer, um de vocês vai ser promovido a putinha do chefe… — Ameaçou por fim, fazendo todos tremerem…

 

E o garoto foi crescendo, tratado não como um ser humano, mas como uma criatura inferior da qual era divertido judiar. Em algum ponto, vendo que a criatura estava fadada a sobreviver, decidiram lhe dar um nome. “Reilnado”, por estar sempre “reinando nas coisas”. A vilinha passou a ser não um esconderijo mas sim uma posse dos Coisa Ruim. Passaram  a cobrar aluguel de quem morava lá. A primeira função de Reinaldo na gangue foi a de “Cão raivoso”. Quando alguém se recusava a pagar, ou atrasava, mandavam o menino-monstro atacar, que se lançava contra a vítima, mordendo-a violentamente, e não soltava até receber a ordem de parar, não importava quantos golpes recebesse, continuava a atacar cegamente, valendo-se do corpo que era dia após dia moldado pelos maus tratos, sendo resistente a pancadas e até a cortes.

 

Ninguém sabia a idade do garoto, ele era algo que apenas crescia. Barra Pesada percebeu o potencial de seu mascote, que se tornava cada vez mais útil para gangue, e passou a treiná-lo, lapidando com afinco o pior que poderia existir dentro daquela alma. Queria que ele fosse uma arma terrível, cuja simples presença faria o coração de todos parar de bater. Passou a levar Reinaldo junto a ele para cometer crimes, premiando-o sempre que era cruel. Faltava somente um ato hediondo a ser cometido.

 

Tinha levado Reinaldo para fazer uma cobrança de aluguel.

 

— Eu vou pagar… Seu Barra. Me dá só mais alguns dias… — O morador daquele refúgio de canalhas implorou, temendo o por vir.

 

— Se você não tem dinheiro, vai me dar entretenimento… — Barra pesada disse com uma voz calma.

 

Reinaldo adentrou o recinto. O ar que parecia não poder ficar mais terrível, tornou-se insuportável, quando a sombra volumosa de um monstro com rosto de adolescente cobriu por inteiro o morador inadimplente daquele pedaço do inferno.

 

— Não!!! Tira ele daqui!!! Por favor… — O devedor se encolhia e tremia, totalmente entregue ao pavor.

 

Reinaldo trazia consigo uma barra de ferro, que em suas mãos gigantescas parecia um simples graveto. Começou a golpear sua vítima em total frenesi. Urrava feito um animal enlouquecido, enquanto sua presa gritava, sangrava. Apesar de brutal, havia um toque de destreza no ataque, a fim de que o alvo sofresse ao extremo, mas não viesse a óbito, mortos não pagam dívidas. Teria cicatrizes por toda vida, ou talvez um dos braços ou pernas ficariam inutilizável, mas em algum momento iria se recuperar e aquele momento grotesco estaria em sua mente, causando pesadelos, o impulsionando a quitar os seus débitos. Mas não naquela noite… Reinaldo parou, quando percebeu que já havia chegado no limiar entre vida e morte.

 

— Continue! Eu quero ver os miolos dele espalhados no chão..— Barra Pesada ordenou.

 

Reinaldo olhou para seu mestre um tanto confuso.

 

— Você é o rei da dor, mas a partir de hoje, será o “Rei da Morte”...

 

Reinaldo gritou, sua vítima que já não tinha condições de falar apenas gemeu alto e chorou. “O Rei da Morte”, desferiu tantos golpes na cabeça do pobre diabo, que ela se tornou uma massa irreconhecível no chão…

 

A vila estava silenciosa de um modo fúnebre. Seus habitantes haviam aprendido que sempre é possível sentir mais e mais terror, nunca importando se  a alma já estava em pedaços, que o coração batia sempre acelerado pelo desespero, a mente sempre aguardando o pior, presa em um pesadelo eterno.

 

O Rei da Morte caminhava por seu reino, fosse dia ou noite, sempre incansável, sempre sedento pela violência na qual já estava viciado. Sua alma clamava por aquele momento em que ele podia liberar todo seu ódio de modo que as mãos chegavam a tremer, tal qual um viciado em uma droga qualquer. Havia sido convencido de que esse era seu papel no mundo.

 

Os habitantes do reino que puderam fugir assim o fizeram, ficando para trás um outro tipo de gente. Gente perigosa, que vivia também daquele jogo macabro. Em poucos meses a Vilinha se tornou antro do que se pode ter de pior na espécie humana. No começo apenas para se esconder da lei, uma vez que aquele era um lugar ignorado pela sociedade, por mais hediondo que fosse o que ali ocorria, ninguém ligava… Não era possível saber se o chão era vermelho por conta do barro, ou por causa das matanças constantes, promovidas dia a dia. Quem lá ia morar, tornava-se pior do que já era… Estava claro que os anjos haviam abandonado aquele pedaço da terra, os que riem na escuridão ganharam então um belo parque de diversões, onde perdidos da luz podiam afundar ainda mais nas trevas de suas almas, a ponto de se tornarem feras totalmente amorais.

 

Todo esse caos, levou Barra Pesada a um nível de dinheiro e poder que jamais pensou que poderia ter. Sua moradia era um estranho contraste em meio ao amontoado de barracos e algumas poucas casas de alvenaria por acabar. Era luxuosa com tudo de melhor que a vida moderna podia oferecer. De quando em quando, Barra Pesada olhava pelas janelas em êxtase, orgulhoso de si, de tudo que havia construído e pelo que estava para construir. Acreditava que em alguns poucos anos seria o maioral que sempre sonhou ser. Tinha muita gente no seu bolso, gente importante. Avistou Reinaldo, estava pisoteando um pobre coitado do modo como Barra Pesada o havia ensinado. Reinaldo… Rei da Morte… Sua maior criação. Era fiel a ele feito um cão. Considerou que já estava na hora dele ser recompensado… Ficou se perguntando o que poderia satisfazer alguém que vivia somente para causar dor aos seus semelhantes… Depois de pensar muito decidiu qual seria o melhor “brinquedo”...  Imediatamente fez uma ligação. 

 

‐ Aquela garota problemática.. A que sorri… Já sei o que fazer com ela…

 

Continua...

 

3 Comentários

  1. Grande Jeremias !

    Um texto forte , contundente, denso e profundo !

    Retrataste a maldade humana, a violência ,a miséria ,dos excluídos, a marginalidade e as demais mazelas de nossa sociedade corrompida,de uma maneira ímpar...

    Inequívoca!

    Seguramente , ao lado do texto da mãe e do filho , foi uma das suas mais brilhantes
    performance como escritor.

    Muito mais que um fictor , você tem se tornado um cronista social do mais alto quilate...

    Este texto, apesar das polêmicas que pode gerar por abordar abertamente sobre temas sensíveis e escamoteados pela sociedade , é uma pérola.

    Guarde-o com carinho!

    Você se superou!

    Meus sinceros parabéns!

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  2. Nossa.. Estou sem palavras... Muito obrigado... Quem sabe esses textos malucos ajudem um dia a construir um mundo melhor.

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