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Além das Fronteiras - Viagem 2


Boa noite, pessoal.

Desculpe a demora para mais um capítulo de Além das Fronteiras.

Espero que curtam.

2.                     O pesadelo

Eduardo acordou em um quarto estranho depois de um sobressalto.

Olhou para os lados e viu paredes feitas de tábuas de madeira. Ele mesmo estava em uma cama rústica, com um lençol simples de linho branco. Aquele lugar possuía apenas um criado mudo ao lado da cama, que possuía uma espécie de abat-jour bastante antigo porém pequeno, com um objeto que ele reconheceu dos livros, uma lâmpada com filamento metálico, com seu vidro já oxidado e marcado por causa do tempo e do uso.

O chão também era feito de tábuas de madeira. Cheias de riscos, queimaduras, marcas, como se aquele lugar tivesse sido parte da vida de alguém. Com certeza Eduardo notaria tudo aquilo depois que sua mente, em turbilhão, depois de tudo o que havia acontecido, se acalmasse; O que com efeito aconteceu dentro de uns 20 minutos depois que ele acordou e ele não ousou se mexer muito.

As memórias foram voltando à sua mente à medida em que ele se manteve acordado.

Lembrou-se da decolagem, da chegada à Marte, e do ataque dos marcianos.

E da abertura inesperada daquele portal instável.

Agora ele estava em um lugar totalmente desconhecido, aparentemente sem tecnologia e que lembrava muito o passado terrestre.

Eduardo olhou para os lados, viu seu par de botas ao lado da cama, rapidamente as vestiu e levantou-se.

O chão de madeira rangeu a partir da troca de peso, mas nada que fosse perigoso... Era como se fosse até reconfortante.

A mente do astronauta acalmou-se graças às técnicas ensinadas por seus psicólogos, que ele colocou em prática tão logo se viu naquela situação. Ele sabia que uma mente fria era muito mais útil do que uma mente tumultuada pelas emoções.

À frente da cama havia uma porta adornada como antigamente, mas rústica. Era possível ver, de longe, as farpas que a madeira ostentava por não ter sido lixada a contento. A maçaneta era aparentemente feita de metal, reta e sem adornos, moldada apenas para ser funcional.

Eduardo esticou sua mão direita e girou a maçaneta, e a fechadura emitiu um ruído mecânico de molas da sua composição, mostrando a ele que realmente não havia tecnologia avançada naquele lugar onde ele acordara.

Porém, quando passou pela porta, o lugar rústico deu lugar a um ambiente branco, liso e brilhoso, como o que ele estava acostumado nos laboratórios brasileiros da AEB. Olhou para os dois lados e não viu nada, apenas aquela construção inócua, de paredes retas e sem quaisquer adornos ou indicações.

Eduardo fechou os olhos e apurou seus ouvidos, tentando ouvir algum ruído, mas a única coisa que ele conseguia ouvir era o barulho do próprio coração e o ranger daquela porta antiga voltando à posição fechada inicial.

Os passos que o astronauta deu para andar ecoavam pelo andar, parecia que as paredes ecoavam o som porque não tinham mais nada para fazer a não ser isso.

O som ia ecoando conforme Eduardo andava, e a porta de madeira ia ficando cada vez mais longe. Quando ela não podia ser mais vista, o astronauta chegou a uma bifurcação.

Esquerda ou direita, direita ou esquerda. Uma decisão simples, mas que carregava todo o peso de uma responsabilidade em que o homem ali sabia que tinha nas mãos... Como voltar para o seu planeta, como voltar para sua esposa, como ter sua vida de volta. Ele não sabia onde estava, por quanto tempo estava, ou mesmo se ali possuía alguma coisa para que pudesse se alimentar.

Sua mente já procurava pelo básico, afinal de contas, sobrevivência é inerente do ser humano com o seu instinto de autopreservação.

Virou à esquerda por um capricho e seguiu em frente, encontrando uma porta que combinava mais com a aparência limpa do que aquela do quarto de onde saíra.

Ele andava, pelo que consta ele mesmo, por horas, mesmo que não parecesse tudo isso.

Eduardo chegou perto da porta onde havia chegado e, com os nós da mão direita, bateu. O som ecoou pelo corredor, propagando o som baixo, denunciando a presença de alguém.

Depois das batidas, a porta abriu automaticamente, e ironicamente ele encontrou ali a última pessoa que ele esperava encontrar naquele lugar...

Clarissa.

Ela digitava furiosamente em frente a um computador, mas não eram documentos de advocacia que ela produzia, ela estava programando, coisa que ela nunca havia feito na vida. E fazia aquilo como uma profissional, como se seus dedos já decidissem por conta própria o que fazer, já que o processo já era muito automático para pensar diferente.

Eduardo pigarreou.

A mulher olhou para o astronauta com um olhar estranho, como se ela nunca houvesse o visto na vida. O olhou de cima a baixo, e tão logo Eduardo piscou, a imagem da mulher tremeluziu e mudou – agora era uma mulher de cabelos dourados que ele nunca havia visto na vida.

O astronauta esfregou os olhos com as laterais dos dois dedos indicadores com suas mãos fechadas, pensando em que tipo de peça seus olhos haviam pregado nele. Sentia tanta falta da esposa assim? Depois de deixar aquele assunto de lado, a loura passou a olhar com certa curiosidade para aquele homem trajado estranhamente a sua frente.

- Desculpe a falta de educação, mas quem é você? – Perguntou ela fortuitamente, em português brasileiro e em alto e bom som. A voz também era diferente, mais melodiosa.

- Eduardo. E você? – Devolveu ele a pergunta, de maneira calma e centrada.

- Cintia. – Respondeu a loura secamente e voltando-se para sua tela e seu teclado, onde voltou a digitar furiosamente, como se nada tivesse acontecido.

- Sabe onde estamos? – Perguntou Eduardo, simples.

- Você não sabe? – Perguntou Cintia com uma leve indicação de ironia em sua voz.

- Não. Cheguei aqui, pelo que me consta, há uns 25 minutos. Posso estar errado, não sei. – Eduardo respondia o leve tom de ironia da sua interlocutora com honestidade.

Cintia parou de digitar. Não tinha mais como evitar uma conversa mais longa com ele.

- Como você acha que veio parar aqui? – Perguntou Cintia mais honestamente.

- Através de uma fenda espaço-temporal... Não sei mais, até porque minha mente está confusa. – Eduardo jogava com sinceridade, afinal de contas, era tudo o que ele tinha até o momento.

- Venha comigo. – Convidou Cintia – Vou te levar a um lugar que, talvez, responda a todas as suas dúvidas.

Ela levantou-se e ele pôde ver um pouco de como ela se vestia – um moletom largo, tênis de corrida com modelo dos anos 90, cabelo longo preso em um rabo de cavalo apertado. Os óculos que vestia eram finos e simples, apenas funcionais para quaisquer defeitos de visão que ela possuísse. Não usava quaisquer adornos a mais, como anéis, unhas pintadas, colares, brincos ou até mesmo um prendedor de cabelo mais requintado.

Ela bateu palmas e as luzes se acenderam, mostrando um lugar atulhado de monitores de todos os tipos, tamanhos e modelos, exibindo todos os tipos de dados e imagens possíveis a alguém aturdido como Eduardo estava. Aquele excesso de informação desnecessária confundiu o astronauta a um primeiro momento, mas depois de algum tempo de foco, notou que se tratava de monitoria de várias informações ao mesmo tempo.

E ela estava no lado extremo direito daquela sala, onde tinha dois monitores de grande porte. Ela digitava em um teclado feito de luz, e as imagens formadas eram do lado de fora do planeta onde estavam. Ao passo em que ele chegou perto, viu que no espaço abriu-se um portal, várias pods passaram por ele, sendo que um segundo portal foi aberto e todas as pods, com a exceção da pod dele, que havia sido desviada por um meteorito natural, tinha ido parar onde ela trabalhava.

Era como um satélite natural que orbitava outro astro, mas habitado apenas por ela, sua vigia, sua pesquisadora, sua programadora, e todo o restante de funções que aquela base de vigilância poderia ter.

- Isso responde as suas perguntas? – Cintia era franca naquele momento.

- Bem, algumas delas, principalmente a que me trouxe até aqui, uma das mais importantes, obrigado. – Respondeu Eduardo com um sorriso no rosto.

- Você tem mais delas? – Perguntou Cintia infantilmente.

- Claro. Quando eu primeiro te encontrei, você usou a aparência de uma pessoa familiar e querida a mim. Por quê? – A pergunta era incisiva e cabível. Ele queria saber se passara por um processo de alucinação ou não.

- Portais espaço-temporais podem causar algumas sequelas às mentes daqueles que viajam entre eles, mas não foi o seu caso. Eu normalmente uso um aparelho que distorce a minha verdadeira aparência para uma que mais afete o meu inimigo, captor ou qualquer coisa que se encaixe no meio. O seu, infelizmente, foi apenas perda de tempo. Você não é do tipo de pessoa que faria mal a alguém sem um motivo muito forte. – A análise de Cintia era precisa de tal maneira que Eduardo ficou surpreso.

- Então eu sou o único que desviou do segundo portal. Sabe o que tinha naquele segundo portal?

- Aquele ‘portal’ pelo qual as outras pessoas passaram não era bem um portal. Era um buraco negro. – A informação disparada por Cintia era precisa e causou um baque imenso à mente de Eduardo. Parte de seus colegas, parceiros de trabalho e muitos inocentes haviam sido tragados por aquele maldito acidente natural.

Eduardo precisou de algum tempo para digerir aquela notícia. Cintia percebeu o quanto aquilo o havia afetado, e logo disse algo – ele a havia tratado com educação até o momento, seria muito descortês somente ela tratá-lo diferente.

- Me desculpe pela notícia dada sem cuidado. Sinto muito pela sua perda.

- Não é necessário se desculpar, Cintia. Você sequer sabia que eu existia há alguns minutos, não sabia de nada sobre o que havia acontecido. Pode ficar tranquila que não me ofendeu em nada. Mas e você? Como veio parar aqui? – Eduardo devolvia a pergunta para desviar sua mente daquela tragédia.

Cintia pensou um pouco. Fazia muito, mas muito tempo mesmo que ela estava naquele lugar. Foi quando ela se deu conta da passagem do tempo.

- Do mesmo jeito que você, só um pouco antes. Mas embora sejamos humanos, eu sou de uma dimensão paralela à sua. Sua tecnologia parecia ser muito menos avançada que a minha.

Eduardo a olhou com certo tom cético, pouco acreditando naquela bravata que ela contava. Mas a resposta dela era tão confidente que ele teve que dar um pouco de crédito a ela.

Vendo o olhar de ceticismo dele, ela continuou o discurso.

- Essa base não existia há quinze anos. O que tinha era apenas os restos de um antigo galpão e este primeiro computador. – Disse ela, apontando para o que parecia ser a peça mais velha que havia naquela sala - Eu sempre fui programadora, então comecei a fazer algumas coisas simples no começo, que facilitassem a minha vida. Conforme materiais foram caindo aqui, eu fui montando aqui e ali. E você vai perceber que, neste plano, você não sente fome ou sede até que desmaie por causa disso.

A história era um pouco fantasiosa demais para que ele acreditasse em um primeiro momento, mas o jeito com que ela foi explicando é de quem realmente tinha feito tudo aquilo. E muitas coisas preocuparam Eduardo.

Primeiro, a comida era escassa. Segundo, era um espaço interdimensional em que aparentemente não possuía saída. E quanto mais ele listava as informações que ele recebia de Cintia, mais preocupado ele ficava.

Mas havia alguma coisa na voz dela que o tranquilizava. Não sabia se era falta de esperança em sair dali ou se ela estava tão acostumada que nem se importava mais... Mas ele sentiu a importância do sentimento de calma. Aquela era uma situação em que ele não poderia se desesperar, teria que se manter frio até onde desse.

Foi quando seu estômago roncou, fazendo com que uma situação hilária acontecesse. Ele corou com a situação, repleto de vergonha, e ela riu.

- Venha comigo. Vou levá-lo ao refeitório, eu também estou com fome.

E Eduardo acompanhou Cintia em uma caminhada leve, sempre por corredores retos, brilhosos como se fossem feitos de vidro e opacos, não era possível ver nada do lado de fora.

Quando apareceu a primeira janela, Eduardo viu o espaço e as estrelas, viu alguns destroços de naves orbitando aquele satélite em que estavam e que, segundo Cintia, seriam coletados para fazer novos equipamentos para sobrevivência.

Foi quando Eduardo perdeu o foco em seu olhar e sua mente divagou. Sua mente se ateve ao fato de que Cintia estava ali havia mais de 15 anos sozinha, construindo aquele conforto todo ao redor dos dois – oxigênio, lugares para descanso, enfim... Ela era uma excelente programadora para embarcar sistemas em construtos que trabalham por ela (fisicamente, claro).

- Chegamos.

O lugar era simples e compacto, cabia cinco pessoas ali em sua máxima capacidade, para os dois tinha espaço mais do que o suficiente. Ela abriu uma geladeira e lá tinha alguns ingredientes – legumes, verduras, carne. E sempre em quantias para umas duas ou três pessoas.

- Quero agradecê-la adequadamente por me salvar e me abrigar. Pode deixar que eu faço a refeição. – Eduardo disparou com um sorriso a frase que faria, pela primeira vez desde que os dois se encontraram, que ela sorrisse em resposta.

Assim que ele se pôs ao trabalho, ela percebeu que, a despeito de ser um militar técnico, Eduardo também possuía habilidades de sobrevivência em sociedade, e que elas permitiriam que vivesse sozinho, se assim desejasse. Ele tomava suas ações com precisão, mostrando que estava acostumado àquilo, que ele não se importaria a cozinhar para uma mulher.

Após alguns minutos do procedimento ter sido iniciado, Cintia já sentia o aroma emitido pela refeição com preparo em andamento, o que comprovava as habilidades dele.

Não demorou muito para que ele terminasse; E tão logo isso ocorreu, ele pegou a travessa e levou para a mesa onde os dois estavam sentados, servindo parte do prato que tinha criado: uma linda lasagna de legumes com uma salada e um suco de frutas como acompanhamento.

Tão logo ele colocou a refeição em um prato para ela, com a quantia regulada conforme ela moderou, e para ele, com moderação direta, o aroma da refeição completa inundou as narinas dela. E era melhor do que qualquer coisa que ela pudesse fazer para si mesma.

O sabor inundou suas papilas gustativas com uma intensidade nunca experienciada por ela. Só sua reação de corar com o que sentia já fez com que Eduardo sorrisse. Apenas para comprovar o que analisara pelo comportamento de Cintia, ele dispara...

- Gostou?

Cintia não sabia como expressar aquilo em palavras. Falar que estava ‘bom’ não era o suficiente, e não queria exagerar. Era o primeiro contato dos dois e ele já tinha presenteado ela com algo tão maravilhoso...

Mandou o cuidado às favas...

- Está muito melhor do que qualquer coisa que eu possa pensar em ter feito... Nunca cozinhei, aprendi por estar sozinha e nunca ficou tão boa assim.

- Se quiser, eu posso te ensinar, afinal de contas, não tem nenhuma indicação de que eu vá sair daqui tão rápido.

Cintia olhou para Eduardo com certa pena, porque ele já se conformava, assim como ela, de que não sairia mais daquele lugar.

Então, algo que a faria mudar de ideia aconteceu.

Uma nuvem de destroços de uma nave aterrissou no planetoide onde estavam, e eram da tecnologia que Eduardo entendia muito, muito bem.

Eram pedaços da nave em que Eduardo estava, e que ele reconheceu assim que pôs os olhos nos destroços. Quando Cintia analisou os destroços, viu que a tecnologia dele era, sim, mais atrasada que a dela.

Mas não era muito, não.

Estava muito perto. A diferença seria algumas décadas de estudo intenso. Ele poderia entender a tecnologia dela, se assim quisesse, e poderia ajudá-la, e muito, a sair dali.

Depois de entender a situação que se encontravam, Cintia pediu ajuda a Eduardo para que pudessem, entre os destroços, escolher o que seria mais útil. Claro que o olhar seria dela, mas ele poderia dizer a ela o que seria mais útil.

Os dois passaram algumas horas observando tudo o que havia caído no planetoide, e ele olhou, com pesar, que parte de seu próprio escritório havia caído ali, máquinas que ele havia escolhido a dedo estariam com ele mesmo naquele momento em que ele não tinha esperança de nada.

Que brincadeira o destino fazia com sua mente naquele momento.

Porém, o que ele não sabia, era o que acontecia na Terra de seu tempo, naquele exato momento.

 

Planeta Terra, alguns milênios antes do tempo do planetoide

Uma cerimônia era hospedada em um dos maiores estádios dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. A notícia de que a nave pesquisadora que fora para Marte fora destruída já havia se espalhado, e todos os parentes dos cientistas da equipe tripulante já tinham sido informados, fosse pelo Governo Brasileiro de maneira sutil, ou mesmo, por atraso deles, através da mídia, principalmente da sensacionalista.

Clarissa não entendia o que sentia naquele momento.

Sabia que aquele anúncio da mídia podia ser exagerado, mas significava que Eduardo estava morto, uma vez que nem a nave retornou, apenas uma cápsula com a caixa preta havia retornado – por causa de um sistema de segurança que foi instalado para notificar os donos do equipamento caso tivesse sido deliberadamente destruído.

Ninguém havia escapado. Segundo a notícia, os que não haviam morrido no planeta vermelho, haviam explodido com a nave, e os que haviam escapado desta tragédia haviam sido engolidos por uma fenda tempo-espacial. Não tinha como saber se todos os engolidos haviam sobrevivido, porque ela havia sido aberta de maneira aleatória e não teriam as coordenadas para resgatar quem houvesse sobrevivido – isso é, se houvesse alguém para resgatar.

Uma cerimônia de velório pública foi marcada para dali a uma semana, tempo o suficiente para que um exército fosse ao planeta vermelho reclamar os corpos de quem havia morrido lá. Circulava também a notícia da aparição dos marcianos, que sabiam dos terráqueos como vida inteligente e não quiseram sequer interagir.

E que haviam sido extremamente violentos.

E Clarissa não sabia se sentia falta do marido que aparentemente morrera, ou se estava aliviada de se livrar, de maneira quase milagrosa, de um relacionamento estagnado. Como sempre, sua mente estava presa entre a razão e a emoção. Ela gostava dele, sim... Mas sua relação de casal estava muito similar à uma fraterna... Não rolava mais sequer um beijo. E isso era por causa dela.

Ela sabia disso.

Seu trabalho era mais importante do que suas relações pessoais desde sempre, mas ela tentou se dar uma chance de ter alguém para chamar de seu, mas seu pensamento pragmático só a fazia pensar que era perda de tempo. Se ele não houvesse morrido, poderia acontecer o divórcio. E conhecendo Eduardo do jeito que ela conhecia, ele aceitaria e ia embora. Não porque não a amasse, mas porque queria vê-la feliz.

Mesmo que isso custasse sua própria felicidade.

Foi quando Clarissa se pegou trazendo suas memórias com o marido à tona, desde que se conheceram até o fatídico dia em que ele conversou com ela, falando da missão, e que ele voltaria em alguns meses...

Porém, agora aparentemente ele não voltaria mais.

Segundo a notícia, a chance de alguém sobreviver depois de sugado por uma fenda espaço-temporal eram cem mil vezes mais difíceis do que a chance de se ganhar em uma Mega Sena.

Depois das memórias, ela descobriu que não era mais tão apegada à carreira...

Porque ela começou a chorar.

Primeiro, algumas poucas lágrimas...

Depois, um choro copioso, cheio de culpa e dor de ter perdido alguém tão precioso para ela.

Os amigos entenderam que Eduardo, mesmo com sua morte, havia conseguido algo que ninguém havia... Amolecer o coração da Dama de Gelo da Sociedade de Advocacia Paulista. Graças a isso, ela ganhou uma licença de uma semana para chorar a morte do marido e tentar se recuperar neste período.

2 Comentários

  1. Um capítulo com o viés dramático intenso e primoroso na firma como foi concebido e narrado!

    O drama de Eduardo, por mais treinado que fosse, comoveu.

    Como lidar com a falta de perspectiva de absolutamente nada?

    Estar preso numa dimensão diferente da sua, em um planetóide ermo, habitado por uma única pessoa ,sem saber como voltar é algo bem complicado.

    Não bastasse isso , temos a esposa dele na Terra.

    O conflito interno entre a dor, culpa e, por vezes ,um certo alívio , pelo fato de sua relação com seu marido ter se desgastado devido s ausência de ambos ,foi algo muito bem retratado por você.

    Parabéns, Jorge pelo excelente capitulo!

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  2. Obrigado por acompanhar, caro companheiro.
    Eu tava bem inspirado quando eu escrevi este capítulo.
    Espero que curta os próximos!

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