Eduardo acordou em um quarto estranho depois de um
sobressalto.
Olhou para os lados e viu paredes feitas de tábuas de
madeira. Ele mesmo estava em uma cama rústica, com um lençol simples de linho
branco. Aquele lugar possuía apenas um criado mudo ao lado da cama, que possuía
uma espécie de abat-jour bastante antigo porém
pequeno, com um objeto que ele reconheceu dos livros, uma lâmpada com filamento
metálico, com seu vidro já oxidado e marcado por causa do tempo e do uso.
O chão também era feito de tábuas de madeira. Cheias de
riscos, queimaduras, marcas, como se aquele lugar tivesse sido parte da vida de
alguém. Com certeza Eduardo notaria tudo aquilo depois que sua mente, em
turbilhão, depois de tudo o que havia acontecido, se acalmasse; O que com
efeito aconteceu dentro de uns 20 minutos depois que ele acordou e ele não
ousou se mexer muito.
As memórias foram voltando à sua mente à medida em que ele
se manteve acordado.
Lembrou-se da decolagem, da chegada à Marte, e do ataque dos
marcianos.
E da abertura inesperada daquele portal instável.
Agora ele estava em um lugar totalmente desconhecido,
aparentemente sem tecnologia e que lembrava muito o passado terrestre.
Eduardo olhou para os lados, viu seu par de botas ao lado da
cama, rapidamente as vestiu e levantou-se.
O chão de madeira rangeu a partir da troca de peso, mas nada
que fosse perigoso... Era como se fosse até reconfortante.
A mente do astronauta acalmou-se graças às técnicas
ensinadas por seus psicólogos, que ele colocou em prática tão logo se viu
naquela situação. Ele sabia que uma mente fria era muito mais útil do que uma
mente tumultuada pelas emoções.
À frente da cama havia uma porta adornada como antigamente,
mas rústica. Era possível ver, de longe, as farpas que a madeira ostentava por
não ter sido lixada a contento. A maçaneta era aparentemente feita de metal,
reta e sem adornos, moldada apenas para ser funcional.
Eduardo esticou sua mão direita e girou a maçaneta, e a
fechadura emitiu um ruído mecânico de molas da sua composição, mostrando a ele que
realmente não havia tecnologia avançada naquele lugar onde ele acordara.
Porém, quando passou pela porta, o lugar rústico deu lugar a
um ambiente branco, liso e brilhoso, como o que ele estava acostumado nos
laboratórios brasileiros da AEB. Olhou para os dois lados e não viu nada,
apenas aquela construção inócua, de paredes retas e sem quaisquer adornos ou
indicações.
Eduardo fechou os olhos e apurou seus ouvidos, tentando
ouvir algum ruído, mas a única coisa que ele conseguia ouvir era o barulho do
próprio coração e o ranger daquela porta antiga voltando à posição fechada
inicial.
Os passos que o astronauta deu para andar ecoavam pelo
andar, parecia que as paredes ecoavam o som porque não tinham mais nada para
fazer a não ser isso.
O som ia ecoando conforme Eduardo andava, e a porta de
madeira ia ficando cada vez mais longe. Quando ela não podia ser mais vista, o
astronauta chegou a uma bifurcação.
Esquerda ou direita, direita ou esquerda. Uma decisão
simples, mas que carregava todo o peso de uma responsabilidade em que o homem
ali sabia que tinha nas mãos... Como voltar para o seu planeta, como voltar
para sua esposa, como ter sua vida de volta. Ele não sabia onde estava, por
quanto tempo estava, ou mesmo se ali possuía alguma coisa para que pudesse se
alimentar.
Sua mente já procurava pelo básico, afinal de contas,
sobrevivência é inerente do ser humano com o seu instinto de autopreservação.
Virou à esquerda por um capricho e seguiu em frente,
encontrando uma porta que combinava mais com a aparência limpa do que aquela do
quarto de onde saíra.
Ele andava, pelo que consta ele mesmo, por horas, mesmo que
não parecesse tudo isso.
Eduardo chegou perto da porta onde
havia chegado e, com os nós da mão direita, bateu. O som ecoou pelo corredor,
propagando o som baixo, denunciando a presença de alguém.
Depois das batidas, a porta abriu automaticamente, e
ironicamente ele encontrou ali a última pessoa que ele esperava encontrar
naquele lugar...
Clarissa.
Ela digitava furiosamente em frente a um computador, mas não
eram documentos de advocacia que ela produzia, ela estava programando, coisa
que ela nunca havia feito na vida. E fazia aquilo como uma profissional, como
se seus dedos já decidissem por conta própria o que fazer, já que o processo já
era muito automático para pensar diferente.
Eduardo pigarreou.
A mulher olhou para o astronauta com um olhar estranho, como
se ela nunca houvesse o visto na vida. O olhou de cima a baixo, e tão logo
Eduardo piscou, a imagem da mulher tremeluziu e mudou – agora era uma mulher de
cabelos dourados que ele nunca havia visto na vida.
O astronauta esfregou os olhos com as laterais dos dois
dedos indicadores com suas mãos fechadas, pensando em que tipo de peça seus
olhos haviam pregado nele. Sentia tanta falta da esposa assim? Depois de deixar
aquele assunto de lado, a loura passou a olhar com certa curiosidade para
aquele homem trajado estranhamente a sua frente.
- Desculpe a falta de educação, mas quem é você? – Perguntou
ela fortuitamente, em português brasileiro e em alto e bom som. A voz também
era diferente, mais melodiosa.
- Eduardo. E você? – Devolveu ele a pergunta, de maneira
calma e centrada.
- Cintia. – Respondeu a loura secamente e voltando-se para
sua tela e seu teclado, onde voltou a digitar furiosamente, como se nada
tivesse acontecido.
- Sabe onde estamos? – Perguntou Eduardo, simples.
- Você não sabe? – Perguntou Cintia com uma leve indicação
de ironia em sua voz.
- Não. Cheguei aqui, pelo que me consta, há uns 25 minutos.
Posso estar errado, não sei. – Eduardo respondia o leve tom de ironia da sua
interlocutora com honestidade.
Cintia parou de digitar. Não tinha mais como evitar uma
conversa mais longa com ele.
- Como você acha que veio parar aqui? – Perguntou Cintia
mais honestamente.
- Através de uma fenda espaço-temporal... Não sei mais, até
porque minha mente está confusa. – Eduardo jogava com sinceridade, afinal de
contas, era tudo o que ele tinha até o momento.
- Venha comigo. – Convidou Cintia – Vou te levar a um lugar
que, talvez, responda a todas as suas dúvidas.
Ela levantou-se e ele pôde ver um pouco de como ela se
vestia – um moletom largo, tênis de corrida com modelo dos anos 90, cabelo
longo preso em um rabo de cavalo apertado. Os óculos que vestia eram finos e
simples, apenas funcionais para quaisquer defeitos de visão que ela possuísse.
Não usava quaisquer adornos a mais, como anéis, unhas pintadas, colares,
brincos ou até mesmo um prendedor de cabelo mais requintado.
Ela bateu palmas e as luzes se acenderam, mostrando um lugar
atulhado de monitores de todos os tipos, tamanhos e modelos, exibindo todos os
tipos de dados e imagens possíveis a alguém aturdido como Eduardo estava.
Aquele excesso de informação desnecessária confundiu o astronauta a um primeiro
momento, mas depois de algum tempo de foco, notou que se tratava de monitoria
de várias informações ao mesmo tempo.
E ela estava no lado extremo direito daquela sala, onde
tinha dois monitores de grande porte. Ela digitava em um teclado feito de luz,
e as imagens formadas eram do lado de fora do planeta onde estavam. Ao passo em
que ele chegou perto, viu que no espaço abriu-se um portal, várias pods passaram
por ele, sendo que um segundo portal foi aberto e todas as pods, com a exceção
da pod dele, que havia sido desviada por um meteorito natural, tinha ido parar
onde ela trabalhava.
Era como um satélite natural que orbitava outro astro, mas
habitado apenas por ela, sua vigia, sua pesquisadora, sua programadora, e todo
o restante de funções que aquela base de vigilância poderia ter.
- Isso responde as suas perguntas? – Cintia era franca
naquele momento.
- Bem, algumas delas, principalmente a que me trouxe até
aqui, uma das mais importantes, obrigado. – Respondeu Eduardo com um sorriso no
rosto.
- Você tem mais delas? – Perguntou Cintia infantilmente.
- Claro. Quando eu primeiro te encontrei, você usou a
aparência de uma pessoa familiar e querida a mim. Por quê? – A pergunta era
incisiva e cabível. Ele queria saber se passara por um processo de alucinação
ou não.
- Portais espaço-temporais podem causar algumas sequelas às
mentes daqueles que viajam entre eles, mas não foi o seu caso. Eu normalmente
uso um aparelho que distorce a minha verdadeira aparência para uma que mais
afete o meu inimigo, captor ou qualquer coisa que se encaixe no meio. O seu,
infelizmente, foi apenas perda de tempo. Você não é do tipo de pessoa que faria
mal a alguém sem um motivo muito forte. – A análise de Cintia era precisa de
tal maneira que Eduardo ficou surpreso.
- Então eu sou o único que desviou do segundo portal. Sabe o
que tinha naquele segundo portal?
- Aquele ‘portal’ pelo qual as outras pessoas passaram não
era bem um portal. Era um buraco negro. – A informação disparada por Cintia era
precisa e causou um baque imenso à mente de Eduardo. Parte de seus colegas,
parceiros de trabalho e muitos inocentes haviam sido tragados por aquele
maldito acidente natural.
Eduardo precisou de algum tempo para digerir aquela notícia.
Cintia percebeu o quanto aquilo o havia afetado, e logo disse algo – ele a
havia tratado com educação até o momento, seria muito descortês somente ela
tratá-lo diferente.
- Me desculpe pela notícia dada sem cuidado. Sinto muito
pela sua perda.
- Não é necessário se desculpar, Cintia. Você sequer sabia
que eu existia há alguns minutos, não sabia de nada sobre o que havia
acontecido. Pode ficar tranquila que não me ofendeu em nada. Mas e você? Como
veio parar aqui? – Eduardo devolvia a pergunta para desviar sua mente daquela
tragédia.
Cintia pensou um pouco. Fazia muito, mas muito tempo mesmo
que ela estava naquele lugar. Foi quando ela se deu conta da passagem do tempo.
- Do mesmo jeito que você, só um pouco antes. Mas embora
sejamos humanos, eu sou de uma dimensão paralela à sua. Sua tecnologia parecia
ser muito menos avançada que a minha.
Eduardo a olhou com certo tom cético, pouco acreditando
naquela bravata que ela contava. Mas a resposta dela era tão confidente que ele
teve que dar um pouco de crédito a ela.
Vendo o olhar de ceticismo dele, ela continuou o discurso.
- Essa base não existia há quinze anos. O que tinha era
apenas os restos de um antigo galpão e este primeiro computador. – Disse ela,
apontando para o que parecia ser a peça mais velha que havia naquela sala - Eu
sempre fui programadora, então comecei a fazer algumas coisas simples no
começo, que facilitassem a minha vida. Conforme materiais foram caindo aqui, eu
fui montando aqui e ali. E você vai perceber que, neste plano, você não sente
fome ou sede até que desmaie por causa disso.
A história era um pouco fantasiosa demais para que ele
acreditasse em um primeiro momento, mas o jeito com que ela foi explicando é de
quem realmente tinha feito tudo aquilo. E muitas coisas preocuparam Eduardo.
Primeiro, a comida era escassa. Segundo, era um espaço
interdimensional em que aparentemente não possuía saída. E quanto mais ele
listava as informações que ele recebia de Cintia, mais preocupado ele ficava.
Mas havia alguma coisa na voz dela que o tranquilizava. Não
sabia se era falta de esperança em sair dali ou se ela estava tão acostumada
que nem se importava mais... Mas ele sentiu a
importância do sentimento de calma. Aquela era uma situação em que ele não
poderia se desesperar, teria que se manter frio até onde desse.
Foi quando seu estômago roncou, fazendo com que uma situação
hilária acontecesse. Ele corou com a situação, repleto de vergonha, e ela riu.
- Venha comigo. Vou levá-lo ao refeitório, eu também estou
com fome.
E Eduardo acompanhou Cintia em uma caminhada leve, sempre
por corredores retos, brilhosos como se fossem feitos de vidro e opacos, não
era possível ver nada do lado de fora.
Quando apareceu a primeira janela, Eduardo viu o espaço e as
estrelas, viu alguns destroços de naves orbitando aquele satélite em que
estavam e que, segundo Cintia, seriam coletados para fazer novos equipamentos
para sobrevivência.
Foi quando Eduardo perdeu o foco em seu olhar e sua mente divagou.
Sua mente se ateve ao fato de que Cintia estava ali havia mais de 15 anos
sozinha, construindo aquele conforto todo ao redor dos dois – oxigênio, lugares
para descanso, enfim... Ela era uma excelente programadora para embarcar
sistemas em construtos que trabalham por ela (fisicamente, claro).
- Chegamos.
O lugar era simples e compacto, cabia cinco pessoas ali em
sua máxima capacidade, para os dois tinha espaço mais do que o suficiente. Ela
abriu uma geladeira e lá tinha alguns ingredientes – legumes, verduras, carne.
E sempre em quantias para umas duas ou três pessoas.
- Quero agradecê-la adequadamente por me salvar e me
abrigar. Pode deixar que eu faço a refeição. – Eduardo disparou com um sorriso
a frase que faria, pela primeira vez desde que os dois se encontraram, que ela sorrisse
em resposta.
Assim que ele se pôs ao trabalho, ela percebeu que, a
despeito de ser um militar técnico, Eduardo também possuía habilidades de
sobrevivência em sociedade, e que elas permitiriam que vivesse sozinho, se
assim desejasse. Ele tomava suas ações com precisão, mostrando que estava
acostumado àquilo, que ele não se importaria a
cozinhar para uma mulher.
Após alguns minutos do procedimento ter
sido iniciado, Cintia já sentia o aroma emitido pela refeição com preparo em
andamento, o que comprovava as habilidades dele.
Não demorou muito para que ele terminasse; E tão logo isso
ocorreu, ele pegou a travessa e levou para a mesa onde os dois estavam
sentados, servindo parte do prato que tinha criado: uma linda lasagna de
legumes com uma salada e um suco de frutas como acompanhamento.
Tão logo ele colocou a refeição em um prato para ela, com a
quantia regulada conforme ela moderou, e para ele, com moderação direta, o
aroma da refeição completa inundou as narinas dela. E era melhor do que
qualquer coisa que ela pudesse fazer para si mesma.
O sabor inundou suas papilas gustativas com uma intensidade nunca
experienciada por ela. Só sua reação de corar com o que sentia já fez com que
Eduardo sorrisse. Apenas para comprovar o que analisara pelo comportamento de
Cintia, ele dispara...
- Gostou?
Cintia não sabia como expressar aquilo em palavras. Falar
que estava ‘bom’ não era o suficiente, e não queria exagerar. Era o primeiro
contato dos dois e ele já tinha presenteado ela com algo tão maravilhoso...
Mandou o cuidado às favas...
- Está muito melhor do que qualquer coisa que eu possa
pensar em ter feito... Nunca cozinhei, aprendi por estar sozinha e nunca ficou
tão boa assim.
- Se quiser, eu posso te ensinar, afinal de contas, não tem
nenhuma indicação de que eu vá sair daqui tão rápido.
Cintia olhou para Eduardo com certa pena, porque ele já se
conformava, assim como ela, de que não sairia mais daquele lugar.
Então, algo que a faria mudar de ideia aconteceu.
Uma nuvem de destroços de uma nave aterrissou no planetoide
onde estavam, e eram da tecnologia que Eduardo entendia muito, muito bem.
Eram pedaços da nave em que Eduardo estava, e que ele reconheceu
assim que pôs os olhos nos destroços. Quando Cintia analisou os destroços, viu
que a tecnologia dele era, sim, mais atrasada que a dela.
Mas não era muito, não.
Estava muito perto. A diferença seria algumas décadas de
estudo intenso. Ele poderia entender a tecnologia dela, se assim quisesse, e
poderia ajudá-la, e muito, a sair dali.
Depois de entender a situação que se encontravam, Cintia
pediu ajuda a Eduardo para que pudessem, entre os destroços, escolher o que
seria mais útil. Claro que o olhar seria dela, mas ele poderia dizer a ela o
que seria mais útil.
Os dois passaram algumas horas observando tudo o que havia
caído no planetoide, e ele olhou, com pesar, que parte de seu próprio
escritório havia caído ali, máquinas que ele havia escolhido a dedo estariam
com ele mesmo naquele momento em que ele não tinha esperança de nada.
Que brincadeira o destino fazia com sua mente naquele
momento.
Porém, o que ele não sabia, era o que acontecia na Terra de
seu tempo, naquele exato momento.
Planeta Terra, alguns milênios antes do tempo do
planetoide
Uma cerimônia era hospedada em um dos maiores estádios dos
estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. A notícia de que a nave pesquisadora que
fora para Marte fora destruída já havia se espalhado, e todos os parentes dos
cientistas da equipe tripulante já tinham sido informados, fosse pelo Governo
Brasileiro de maneira sutil, ou mesmo, por atraso deles, através da mídia,
principalmente da sensacionalista.
Clarissa não entendia o que sentia naquele momento.
Sabia que aquele anúncio da mídia podia ser exagerado, mas
significava que Eduardo estava morto, uma vez que nem a nave retornou, apenas
uma cápsula com a caixa preta havia retornado – por causa de um sistema de
segurança que foi instalado para notificar os donos do equipamento caso tivesse
sido deliberadamente destruído.
Ninguém havia escapado. Segundo a notícia, os que não haviam
morrido no planeta vermelho, haviam explodido com a nave, e os que haviam
escapado desta tragédia haviam sido engolidos por uma fenda tempo-espacial. Não
tinha como saber se todos os engolidos haviam sobrevivido, porque ela havia
sido aberta de maneira aleatória e não teriam as coordenadas para resgatar quem
houvesse sobrevivido – isso é, se houvesse alguém para resgatar.
Uma cerimônia de velório pública foi marcada para dali a uma
semana, tempo o suficiente para que um exército fosse ao planeta vermelho
reclamar os corpos de quem havia morrido lá. Circulava também a notícia da
aparição dos marcianos, que sabiam dos terráqueos como vida inteligente e não
quiseram sequer interagir.
E que haviam sido extremamente violentos.
E Clarissa não sabia se sentia falta do marido que
aparentemente morrera, ou se estava aliviada de se livrar, de maneira quase
milagrosa, de um relacionamento estagnado. Como sempre, sua mente estava presa
entre a razão e a emoção. Ela gostava dele, sim...
Mas sua relação de casal estava muito similar à uma fraterna... Não rolava mais
sequer um beijo. E isso era por causa dela.
Ela sabia disso.
Seu trabalho era mais importante do que suas relações
pessoais desde sempre, mas ela tentou se dar uma chance de ter alguém para
chamar de seu, mas seu pensamento pragmático só a fazia pensar que era perda de
tempo. Se ele não houvesse morrido, poderia acontecer o divórcio. E conhecendo
Eduardo do jeito que ela conhecia, ele aceitaria e ia embora. Não porque não a
amasse, mas porque queria vê-la feliz.
Mesmo que isso custasse sua própria felicidade.
Foi quando Clarissa se pegou trazendo suas memórias com o
marido à tona, desde que se conheceram até o fatídico dia em que ele conversou
com ela, falando da missão, e que ele voltaria em alguns meses...
Porém, agora aparentemente ele não voltaria mais.
Segundo a notícia, a chance de alguém sobreviver depois de
sugado por uma fenda espaço-temporal eram cem mil vezes mais difíceis do que a
chance de se ganhar em uma Mega Sena.
Depois das memórias, ela descobriu que não era mais tão
apegada à carreira...
Porque ela começou a chorar.
Primeiro, algumas poucas lágrimas...
Depois, um choro copioso, cheio de culpa e dor de ter
perdido alguém tão precioso para ela.
Os amigos entenderam que Eduardo, mesmo com sua morte, havia conseguido algo que ninguém havia... Amolecer o coração da Dama de Gelo da Sociedade de Advocacia Paulista. Graças a isso, ela ganhou uma licença de uma semana para chorar a morte do marido e tentar se recuperar neste período.
2 Comentários
Um capítulo com o viés dramático intenso e primoroso na firma como foi concebido e narrado!
ResponderExcluirO drama de Eduardo, por mais treinado que fosse, comoveu.
Como lidar com a falta de perspectiva de absolutamente nada?
Estar preso numa dimensão diferente da sua, em um planetóide ermo, habitado por uma única pessoa ,sem saber como voltar é algo bem complicado.
Não bastasse isso , temos a esposa dele na Terra.
O conflito interno entre a dor, culpa e, por vezes ,um certo alívio , pelo fato de sua relação com seu marido ter se desgastado devido s ausência de ambos ,foi algo muito bem retratado por você.
Parabéns, Jorge pelo excelente capitulo!
Obrigado por acompanhar, caro companheiro.
ResponderExcluirEu tava bem inspirado quando eu escrevi este capítulo.
Espero que curta os próximos!