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Quintessência - #5

 

Capítulo 5: Prelúdio


“Quintessência... encontre a si mesmo”

A criatura monstruosa se revelou perante os três. Ken e Joji estavam firmes; porém Shizuka estava espantado. Era uma criatura deformada de cor marrom, com grandes braços.

JOJI – Você não tem limites mesmo, Kido? É capaz de vender sua alma para acabar comigo?

CRIATURA – Eu vou te levar comigo, Joji! Vou te levar para o inferno para que faça companhia ao seu irmão!

JOJI – Isso só prova a sua mediocridade, Kido! Meu irmão não está no inferno!

CRIATURA – Como você pode ter tanta certeza?

JOJI – Eu sei.

A criatura, outrora o criminoso conhecido como Kido, avançou contra os três, que saltaram para direções distintas. De dentro do carro mal se escutava algo, já que as janelas estavam fechadas. Kaname decidiu pegá-lo e se afastar por segurança ao ver aquela cena bizarra cujo relato dificilmente teria credibilidade.

KEN – Você sabe no que se envolveu, criatura?

CRIATURA – Isso pouco me importa, eu só tenho um objetivo! (e avançou contra Ken, que desviou)

A criatura seguia avançando contra cada um dos três, sem qualquer sucesso. Enquanto isso, uma figura vestida formalmente de negro observava a uma certa distância, de modo que não podia ser notada pelos envolvidos. Era um rapaz misterioso de longos cabelos negros, pele um pouco parda, esguio e alto.

Enquanto isso, a criatura ficava cada vez mais furiosa. Sua ira consumia cada vez mais o seu corpo, e o fazia se mover mais lentamente.

SHIZUKA – Tudo isso parece loucura. Eu nunca vi nada assim: uma coisa disforme que se move pela força do ódio... será que não percebe?

KEN – Sim... isso afeta a ordem natural das coisas... Um espírito não deveria adotar tal postura por conta do rancor. Por que não busca se redimir de seus erros?

CRIATURA – Já não tenho mais nada a perder! Tudo o que quero é me vingar do Joji Sasaki por ele ter destruído tudo aquilo que planejei!

De repente, o tal rapaz misterioso se revela, posicionado contra o sol, perante aquele combate. Não é nítido o seu rosto, mas a sua silhueta pode ser enxergada, enquanto seus longos cabelos balançam.

RAPAZ – Marionete patética... sequer sabe lutar, ou usar o corpo novo que recebeu... sua falha não atingiu o propósito, porém valeu a experiência... A humilhação que você passa sequer é divertida; talvez seja melhor enviar você à penitência eterna.

CRIATURA – O quê?! Mas quem é você?

Com o movimento do braço, o rapaz fez surgir uma espécie de corrente que fez sibilar no ar e, para a surpresa de todos, atingiu a criatura; de imediato destroçando aquela deformidade ali, que explodiu e se desintegrou num fulgor tão veloz quando o movimento da corrente de volta a mão do seu usuário.

KEN – Quem é você?

RAPAZ – Não adianta explicar agora, vocês nunca entenderiam. Mas posso ver que nos encontraremos novamente.

SHIZUKA – O quê? Mas por que?

JOJI – Ele não me parece estranho...

RAPAZ – Já estive nos seus sonhos, Joji Sasaki. Conheço você e o Dr. Igarashi muito mais do que pensam. Mas terei de fazer um dever de casa referente a este rapaz com vocês. Agora, com sua licença...

Tão súbito quanto surgiu, o rapaz desapareceu. Qualquer um juraria que ele se tornou pó e sumiu com o vento, deixando os três incrédulos. Logo perceberam que, por algum motivo, não estavam mais usando as armaduras.

SHIZUKA – Acho que vou enlouquecer...

JOJI – Não vai, não. Pode nos acompanhar?

Shizuka se calou pela dúvida. Não sabia o que responder, nem como reagir àquilo. Muitas coisas acontecendo em tão pouco tempo, como se não bastassem a ele todas as questões pessoais pelas quais havia passado até então. Ele olhou para o rosto imponente de Joji, e em seguida, o sorriso gentil de Ken, e assentiu com a cabeça. Ken se aproximou dele e apoiou o braço em seus ombros.

KEN – Pessoas sempre serão pessoas, doutor. Conte conosco sempre.

E lá se foram os três para o carro de Joji, onde Kaname e Kokoro esperavam para voltarem para casa.

 

Na região norte da cidade, havia uma enorme propriedade bastante conhecida por conta de um roseiral que a rodeava. Era como o reino da Rainha de Copas do País das Maravilhas. As rosas carmesins eram vívidas e majestosas, e diversos operários as cultivavam dia após dia. No centro, havia uma mansão construída no pós-guerra, ainda nos tempos do Imperador Showa. A mansão era amarela de aspecto diferenciado, provavelmente inspirado em arquitetura europeia. Pelo conjunto de tudo, ela era conhecida como a Mansão das Rosas Vermelhas. Em seu interior, havia uma belíssima e luxuosa decoração, de tapeçarias e objetos valiosos, além de uma grande biblioteca.

A dona de toda aquela propriedade peculiar era uma mulher radiante e refinada, aparentando pouco mais de quarenta anos. Seu nome: Sayaka Hanajima. Ela se encontrava no salão degustando vinho de ótima safra em taças de cristal. Era atraente e sedutora, possuía cabelos negros como a noite, olhar fatal e lábios carnudos. Era nítida a sua fixação pelo vermelho, pois era a cor com a qual pintava os lábios e as unhas, e também a sua preferida para vestir, tanto que era vermelho o robe que usava.

O rapaz que outrora interagiu com o trio de heróis adentra a sala tranquilamente. Sua presença logo é notada pela mulher, que sorri levemente.

SAYAKA – Vejo que retornou, Yashiro. Aceita uma taça?

YASHIRO – Não, mamãe, obrigado. A experiência de usar uma alma com rancor não funcionou. O rancor não basta se não há instrução necessária para agir devidamente.

SAYAKA – Bem como eu imaginei. Sabe, meu filho, como eu sempre digo: tudo depende de decisões. Para cada decisão que tomamos, se há algo que almejamos, devemos estar conscientes de que teremos que abrir mão de algo de igual valor nesse caminho; porém nem sempre as decisões valem a pena. Uma alma cheia de rancor muitas vezes é guiada pela ignorância e toma decisões para as quais não está preparada para as consequências. Você ainda tem muito o que aprender.

YASHIRO – Eu compreendo, mamãe. Agora vou me retirar, preciso descansar um pouco.

O rapaz subiu as escadas em direção ao quarto, deixando mais uma vez a mãe sozinha. A mulher levantou-se e se dirigiu à biblioteca, e lá parou em frente à janela, observando o céu.

SAYAKA – Sim, meu filho. Eu mesma sou a prova de que decisões devem ser conscientes.

E então, curvou a cabeça observando o seu imenso roseiral, que para ela era um sonho de toda uma vida; ou melhor, de toda uma existência.


Enquanto isso, o tal rapaz Yashiro se refrescava em sua banheira após aquele dia atribulado. Era uma pessoa muito intimista e procurava ser independente de todos, inclusive da própria mãe. Com uma frieza surpreendente, ele apenas analisava os fatos ocorridos anteriormente e pensava em como poderia encontrar quaisquer informações relevante sobre o jovem ruivo que acompanhava Joji e Shizuka.

YASHIRO – Apesar de eu não conhecer aquele rapaz cheio de vida, tenho certeza de que não será difícil descobrir quem ele é. Não entendo porque mamãe me preveniu sobre os quatro guardiões regidos pelos Quatro Deuses Bestiais, mas preciso averiguar.

De súbito, batem à porta. Um funcionário do escritório chegara com os relatórios contábeis. Yashiro se levanta e veste o roupão, ordenando que o funcionário fosse até o quarto. O mesmo adentra e encontra o chefe de pé, próximo a uma poltrona no canto do aconchegante e luxuoso aposento.

YASHIRO – Aproxime-se, Jun.

O rapaz obedece. Era sempre muito estranho para ele estar perto de alguém tão reservado e sério como o seu patrão, e ainda mais naquela situação. Nunca havia entrado em um quarto alheio, e ainda mais naquelas circunstâncias.

JUN – Com licença, Sr. Yashiro, aqui estão os relatórios contábeis desta semana. Subi porque a Sra. Hanajima sugeriu e, desde já peço desculpas.

YASHIRO – Eu não sou nenhum monstro, Jun. Mamãe deve ter achado melhor não me privar de descansar, ela sempre procura me poupar. (Folheando os relatórios) Pois muito bem, sua equipe fez um ótimo trabalho como sempre. As vendas estão estáveis, mas a época não é favorável para maiores lucros.

JUN – Sim, senhor, agradeço pelo elogio. Agora, se me der licença, devo voltar ao escritório e terminar alguns pormenores.

Educadamente, Jun o cumprimentou. Yashiro não tinha o costume de observar rostos, mas naquele momento, ele viu com clareza o do rapaz diante dele e mudou totalmente sua expressão fria.

YASHIRO – Jun, quando você se candidatou à vaga de auxiliar, disse que vinha de uma família grande, não?

JUN – Sim, senhor, mas... o que isso pode importar agora?

YASHIRO – Não é por nada, mas, quantos irmãos você disse que tinha?

JUN – Eu nunca disse, não me perguntaram.

YASHIRO – E de onde você veio mesmo?

JUN (assustado) – Senhor, eu não estou entendendo...

YASHIRO – Não estou fazendo perguntas difíceis de serem respondidas, Jun. Sou seu empregador e apenas quero saber melhor sobre quem trabalha para mim. Apenas responda as minhas perguntas.

JUN – Bom, senhor... eu... venho de um vilarejo ao norte de Quioto. Eu sou o quinto de seis irmãos, sendo que dois já são falecidos.

YASHIRO – Há quanto tempo não fala com a sua família?

JUN – Isso... desde que eu saí de lá.

YASHIRO – Quanto tempo, Jun...?

JUN – Cinco anos, senhor.

YASHIRO – Cinco anos, sem notícias de nenhum dos lados, sem saber como estão seus pais, ou seus irmãos... e isso não incomoda a você?

JUN – Senhor, juro que não compreendo esse interesse repentino no meu passado. O senhor sabe de algo que eu precise saber?

Yashiro então se conteve. Sua curiosidade o deixou afoito a ponto de inquirir o jovem Jun sobre coisas particulares, uma atitude que ele jamais havia tido e sequer aprovado em outra pessoa. Mas, como uma cobra sorrateira, ele saberia agir para atingir o seu objetivo de esclarecer uma suspeita.

YASHIRO – Está tudo bem, Jun. Eu soube de um roubo ocorrido na empresa de um velho amigo da mamãe, no qual alguns funcionários estavam envolvidos e, fiquei cismado com isso. Espero que compreenda que é normal ficar preocupado. Mas, me diga só mais uma coisa: dentre seus irmãos, quantos são homens?

JUN – Bom... éramos três homens. O mais velho é falecido, então somos só eu e o caçula, o Ken...

YASHIRO – Ken?! Muito bem... Pode ir, Jun, está tudo bem. Se superarmos as metas, haverá uma boa bonificação para você. Agradeço pelo bom serviço prestado. Agora, com licença, preciso descansar.

Jun o cumprimentou novamente e se retirou. Por alguns momentos, questionava para si mesmo a razão daquelas perguntas do chefe; mas era um rapaz ambicioso, e de pronto resolveu focar em superar as metas de lucros propostas pelo patrão e conseguir a bonificação. Com o tal dinheiro, poderia comprar uma moto nova como tanto queria.

 

Enquanto isso, Ken, Joji e Shizuka acabaram de retornar, com Kaname e Kokoro em segurança. Tomoe e Sakura estavam ansiosas e as receberam com muita alegria: Kokoro era uma menina doce e gentil, mas também muito amorosa e já havia se afeiçoado bastante às irmãs Mizushima.

SAKURA – É tão bom ter vocês de volta, em segurança. Depois da volta do nosso caçula, faltavam vocês aqui.

KANAME – Sim, também estou muito feliz por estar de volta; mas infelizmente, nem sinal da Hotaru... É como se ela tivesse se tornado poeira e sumido com o vento. Mas, Joji e seu irmão me falaram sobre a menina recém-chegada. Não há problema nenhum em ficarem aqui, mas precisamos ampliar o espaço para que todos fiquem confortáveis. Infelizmente não tenho verba para reformas.

TOMOE – Não se preocupe, ajudaremos no que for necessário. Pensaremos em algo para arrecadar o dinheiro e comprarmos material de construção, e podemos ajudar também no serviço.

KANAME – Eu agradeço. Bom, vamos conhecer a nova moradora?

Então, Sakura, Kaname e Kokoro entraram em busca de Yuna. Do lado de fora, Tomoe aguardou para poder falar a sós com os três rapazes; sua sensibilidade já havia sinalizado o que acontecia ali.

KEN – Minha irmã mais velha é sensitiva: ela enxerga e sente as coisas. Ela sabe de tudo, assim como Sakura. Minha família é devota de Genbu há gerações, então nós temos uma grande ligação com esse lado da espiritualidade.

TOMOE (para Shizuka) – Eu entendo perfeitamente a sua dúvida, mas também entendo o motivo de custar a compreender. Sua existência é nova, doutor. Você outrora fez parte de outra distinta, assim como todos nós um dia fizemos e nos tornamos centelhas pouco a pouco uma da outra.

SHIZUKA – Eu confesso que para mim é difícil compreender.

TOMOE – Somos estranhos para você, doutor?

Aquelas palavras ressoaram o interior do jovem médico. Realmente, estar com Joji e Ken para ele não era como algo novo, e sim como se sempre tivesse sido assim. Ele sentia paz e segurança. Sentia coisas inexplicáveis. Sentia que ali era onde ele queria estar. Não admitia, mas o abraço de Ken o revigorava, e as palavras fortes de Joji o motivavam a isso.

SHIZUKA – Eu passei a minha vida inteira, sozinho...

De repente, uma luz cintilou de cada um dos três, e eles se viram em meio ao céu, as nuvens... E então, podiam ver estrelas cruzando a atmosfera, e muitos brilhos ao seu redor.

Então, as três divindades bestiais se revelaram diante deles.

SEIRYU – É quase chegada a hora, guardiões.

GENBU – Firmais teus desejos.

BYAKKO – E não hesitais.

Subitamente, puderam ver mais adiante um fulgor e uma explosão, que revelaram brevemente um bater de asas. Shizuka sentiu vontade de se aproximar daquele fenômeno e impetuosamente começou a flutuar naquela direção. Os três o seguiram num impulso, quando Ken parou e olhou para baixo. Naquele momento ele pôde enxergar quilômetros abaixo alguém e reconhece-lo prontamente.

KEN – Jun!

Imediatamente, o rapaz desceu como um raio acerca de alguns metros de onde o outro estava. Caía uma chuva moderada na cidade. O outro rapaz pensou haver escutado algo; mas como sempre, não deu importância, também pelo barulho das gotas de chuva. Ken então começou a se aproximar dele pelas costas e mais uma vez, parou.

KEN – Jun...

O outro logo percebeu: não era impressão. Ele realmente ouviu algo, e ali se repetiu mais claramente. Pela segunda vez naquele dia, a insegurança o havia tomado e o deixado imóvel ali onde estava. Jun então virou-se para direção da voz.

JUN – Ken... o que... mas como?!

KEN (avançando na direção dele) – Desgraçado!

E Ken então lhe deu um golpe no rosto, que o desestabilizou. Aquilo foi inesperado para Jun, que olhou fixamente o rosto do seu agressor, cheio de revolta e tristeza.

JUN – O que você pensa que eu sou, Ken? Vem até aqui, me encontra e me dá um soco na cara?!

KEN – É pouco perto do que você merece, seu ingrato! Você sempre teve ar de superioridade, e quando foi embora nem olhou para trás! Você nem sequer pode imaginar o quanto todos sofreram, e sem notícias suas!

JUN – O que você queria que eu fizesse, Ken? Eu queria ir embora daquele lugar: nossos pais nunca me apoiaram, nem ninguém nunca me apoiou! Como eu iria embora de outra maneira? A vida que eu queria não estava ali no pé daquela montanha!

KEN – Você poderia ter dado notícias! Nossos pais sentiram muito a sua falta! Todos os dias eles esperavam alguma coisa sua, para saber se você estava bem! Nem que fosse um pedido de socorro! E as manas, até hoje elas sentem sua falta, ficam se perguntando sobre você!

Jun cedeu. Há cinco anos ele havia tomado uma das decisões mais drásticas da sua vida: sempre dizia que um dia deixaria o vilarejo e todo aquele modo de vida rústico para seguir mundo afora e conquistar o que tanto almejava. No entanto, fez de maneira radical: simplesmente, antes do amanhecer de um dia comum, arrumou sua bagagem e partiu sem nem se despedir. A partir dali: decidiu começar uma nova vida deixando tudo para trás. Tinha receio de se comunicar com a família para que eles não insistissem com seu retorno. No início, sentia falta; mas à medida que tudo começou a se direcionar para onde ele queria (lar novo, emprego, pequenas conquistas, novas relações interpessoais), simplesmente deixou a saudade de lado e passou a viver como se o passado não existisse. E de fato, ele raramente lembrava de sua origem. Mas naquele momento, algo o fez repensar.

JUN – E os nossos pais, Ken?

KEN – Eles morreram, Jun! Morreram cerca de um ano depois que você partiu! Adoeceram, definharam, e acabaram nos deixando! (Seus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez) Nós três ficamos sozinhos lá, mas infelizmente não dava mais para viver! Passamos necessidades, adoecemos, e as coisas ficaram piores quando a maldição se tornou forte!

JUN – A... maldição?! Aquela... maldição?!

KEN – Sim! A maldição causada pela Umi! Quando vimos que era inútil resistir, deixamos tudo o que um dia fomos para trás, e agora estamos aqui!

Os irmãos, Jun e Ken, embora ainda atordoados por todas aquelas revelações, caíram em prantos. Ken sentia uma grande mágoa do irmão, e de certa forma acreditava que a partida dele tinha a ver com todos os outros infortúnios que caíram sobre sua família. Jun procurava ser cético referente a fé que sua família sempre teve, mas ele ainda temia que muito daquilo fosse real. Então, ambos os irmãos puderam sentir uma energia diferente que apaziguava aquela tensão.

GENBU – Irmãos, uni-vos! Abraçai-vos! Perdoai-vos! Somente o amor pode mostrar o caminho.

Ambos pensaram em relutar, mas mesmo que cada um tenha uma característica distinta do outro, o sangue é o mesmo e eles sempre foram ensinados a jamais ignorarem os laços de sangue criados pelo amor. Primeiro o amor de seus pais, depois o amor entre todos os irmãos. Ken e Jun se aproximaram e se abraçaram firmemente, e em seus íntimos, se perdoaram. A luz dourada brilhou entre eles, e a Chave Celestial do Copo foi recebida pelo espírito de Ken.

KEN – Vamos ver Tomoe e Sakura. Elas vão ficar felizes em te ver!

JUN – Não sei o que dizer a elas, Ken.

KEN – Diga que as ama. Isso basta.

E os dois seguiram juntos em direção ao destino planejado.

 

Joji ficou no plano astral, e em algum momento, parou de seguir Shizuka. Logo olhou para baixo, e notou um lugar em particular: o cemitério. Lá, jaziam seus pais, seu irmão Osamu e também um túmulo específico ao qual repentinamente ele quis visitar. Assim como Ken, ele desceu como um raio e já estava diante do túmulo. A chuva ainda caía moderadamente, e Joji leu a inscrição talhada “Ai Ito.”

JOJI – Não sei porque senti vontade de vir aqui agora, Reina. Não sei porque depois de tanto tempo ainda sinto essa dor diante de você.

O homem então chorou. Começou a lembrar do rosto daquela jovem moça, de cabelos curtos e franja, sempre com um sorriso no rosto, mas, com um fardo tão complexo. Joji chegou a nutrir um carinho por ela, carinho esse que nitidamente ainda perdurava. Era uma das culpas que ele ainda carregava.

JOJI – Eu juro que, se eu pudesse, teria te protegido melhor. Teria feito o impossível...

Parecia uma espécie de delírio, mas Joji podia vê-la nitidamente ali, sentada em seu túmulo, vestida de branco e violeta e sorrindo para ele como nos velhos tempos. Um rosto tão cândido... Joji caiu de joelhos.

JOJI – Espero que me perdoe, Reina...

VOZ – Ainda não superou mesmo, não é, Joji?

JOJI – Risa?

RISA – Em pensar que ela foi o estopim para você jogar a sua brilhante carreira fora... você era mesmo apaixonado por ela, não é, Joji?

Joji nada respondeu. A oficial Risa naquele momento estava fora de plantão, usando roupas convencionais e por alguma razão foi até o cemitério.

RISA – Naquela época, eu me senti péssima por perder você para ela, mesmo sabendo que dificilmente daria certo entre vocês. Joji, eu te amava... eu teria morrido por você no meio de toda aquela confusão. Mas eu sabia que uma coisa que começou errada jamais se acertaria no final. A começar por nós dois...

JOJI – Risa, eu sei muito bem que te magoei involuntariamente. Eu sempre gostei de você, eu gostava da sua companhia, você foi e ainda é muito importante para mim, acredite. Mas errei em te fazer crer que poderíamos ir além...

RISA – Já sou mulher o bastante para entender, Joji. Cada um é dono de si, mas os sentimentos não escolhemos. Eu teria sido a mulher mais feliz do mundo se tivéssemos nos casado naquela época, mas e depois? Como seriam as nossas vidas? Será que eu conseguiria conquistar o seu amor? Será que estaríamos juntos até hoje? Não há como saber, mas... já estou conformada. Admito que não gosto da ideia, mas já estou conformada. Não quer ir tomar um café comigo aqui perto?

JOJI – Acho melhor não, Risa. Preciso voltar para a escola e conversar melhor com a Kaname; aliás, era isso que eu já devia ter feito.

RISA – Não está de carro? A escolinha não é perto daqui.

JOJI (percebendo a situação) – Não... não estou...

RISA – Bem... te dou uma carona, espero que a Kaname faça um café para aliviar nessa chuva. Vamos!

Joji seguiu Risa para fora do cemitério e ambos foram para o carro dela.

 

Ao mesmo tempo que Risa e Joji, Ken e Jun chegaram à escola. Kaname foi recebê-los na entrada com Kokoro e Yuna devidamente apresentadas e já se tornando próximas.

KANAME – Por onde vocês andaram? Sumiram do nada daqui da entrada! (Para Risa e Jun) Boa tarde para vocês, sejam bem-vindos! Tomoe e Sakura foram comprar coisas para fazer o lanche da tarde.

KEN – Srta. Kaname, este é o meu irmão, Jun.

KANAME – Nossa, o seu outro irmão? Elas vão ficar tão felizes! Vamos entrar, aqui está chovendo! A propósito, cadê o doutor?

Só então Joji e Ken se lembraram de Shizuka.

JOJI – Talvez, ele tenha voltado para casa.

Ken assentiu, e então o grupo estava se dirigindo para dentro da escola, quando a pequena Kokoro olhou para a rua e viu algo a caminho dali.

KOKORO – Olhem, é o doutor!

Todos olharam. O jovem estava com um semblante desolado, como quem havia chorado bastante e, em seus braços ele carregava alguém envolto em um enorme lençol branco. Joji e Ken foram até ele para socorrê-lo.

KEN – Shizuka, o que houve? O que é isso?

JOJI – Está tudo bem, Shizuka?

SHIZUKA (em prantos) – Ela... está aqui.

Ken então descobriu parcialmente o rosto daquela pessoa nos braços do jovem médico. Joji também olhou, e ambos se espantaram.

JOJI – Mas... como?!

 

CONTINUA...

2 Comentários

  1. Grande Lee Yu!

    Percebe-se claramente que a carga dramática da narrativa vai ganhando em intensidade.

    As conexões se estabelecendo...
    Os encontros ocorrendo...
    O passado vindo a tona...

    O reencontro dos irmãos Ken e Jun, foi bem tenso e emocionante.

    Mas, o capítulo também traz o que , suponho ser os vilões da trama: Sayaka a dona do roseiral e seu filho Yashiro.

    É muito bom ver a narrativa ascendendo e começando a dar algumas respostas para o quebra-cabeça proposto.

    O final,deixou um ponto de interrogação : quem é a moça morta que Shizuka carregava nos braços?

    A conferir.

    Parabéns pelo excelente capítulo e pelo belo trabalho !


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    1. Salve, meu amigo Jirayder!
      Agora os desdobramentos tomaram início, e muito em breve as coisas começarão a ficar agitadas. Apesar de tudo, a família Mizushima foi criada com muito amor, e apesar das diferenças, os irmãos fazem isso valer.
      O passado de Joji vai além de tudo isso e muito mais que eu estou esperando para contar, e inclusive o do Shizuka começará a se desdobrar muito em breve.
      Sayaka é uma mulher realmente excepcional, e tudo o que planejei sobre ela será ainda mais surpreendente.
      Te agradeço muito por me acompanhar e, com certeza muito mais surpresas virão!

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