Capítulo XVI - A aurora de um reino (parte I)
Durante o velório de Jeff Bogard, Terry, Andy e o mestre Tung
notam a expressão serena do rosto do recém-finado, já deitado em seu caixão
fúnebre de madeira. “No fim das contas, ele sentiu o que estava por acontecer a
ele e aceitou o destino inevitável dele”, conclui o mestre Tung, claramente
abatido e abalado e com a voz embargada, após pensar sobre o que aconteceu ao
pupilo dele. Não resta aos cabisbaixos Terry e Andy concordarem com as palavras
do velho mestre.
No velório de Jeff Bogard, também está presente um famoso
mestre de artes marciais de Southtown, Takuma Sakadzaki. Mestre do estilo
Kyokugen, Takuma era um amigo de longa data de Jeff Bogard, e por vezes os dois
se encontravam na cafeteria Pao Pao, tomavam um chá juntos e lá colocavam a
conversa em dia. Vendo o velho amigo morto, Takuma não apenas se lembrou de
quando anos antes sua esposa Ronnet faleceu em decorrência de um acidente
automobilístico, como também de todos os momentos que teve ao lado de Jeff
Bogard, desde o momento em que o conheceu em um torneio de artes marciais no
Japão até o último encontro que teve com ele, semanas antes de ser morto.
FLASHBACK – DIAS
ANTES
Takuma – “E então, Jeff, como está?”.
Jeff – “Estou com um pressentimento não muito bom, Takuma”.
Takuma – “E por quê? Algum problema, Jeff? Não me diga
que...”.
Jeff explica ao amigo japonês que soube que um amigo chinês
dele, Dubal, foi morto lutando contra uma a organização criminosa chamada
Shadaloo. “Shadaloo, mas que organização é essa?”, pergunta um intrigado Takuma.
Até então Takuma nunca ouvira falar a respeito desta organização. Jeff diz
pouco saber a respeito dessa organização, exceto que sua principal área de
atuação geográfica é o Sudeste Asiático e que seu líder é um homem misterioso
chamado M. Bison.
Jeff também conta que ao morrer Dubal deixou para trás uma esposa
e uma filha pequena. Ele conta a Takuma que ficou muito chocado ao saber que
Dubal morreu, e que durante a viagem de volta aos Estados Unidos ficou muito
pensando nele e no destino que ele teve nas mãos da Shadaloo. “O que será que
isso significa Takuma?”, pergunta Jeff ao amigo. Takuma responde que não sabe
ao certo.
FIM DO FLASHBACK
Tal como o mestre Tung, Takuma também acredita que Jeff
pressentia que o destino vindouro dele era uma questão de tempo, e que o
aceitou de peito aberto. Os discípulos dele, Ryo Sakadzaki e Robert Garcia, lá
também estão, e igualmente ficaram consternados com a morte de Jeff Bogard.
Também lá está presente a jovem Yuri, filha de Takuma e irmã de Ryo. “Até
quando Southtown viverá sob o tacão da máfia?”, pergunta-se a jovem Yuri. “Só o
tempo dirá, maninha”, responde Ryo.
Jeff Bogard é enterrado em um cemitério no centro de
Southtown. Ele foi enterrado no mesmo jazigo em que se encontram outros
familiares dele, incluindo o pai e a mãe dele.
Como Jeff era um mestre prestigiado e querido em Southtown,
muitos são aqueles que homenageiam o finado Bogard logo após seus restos
mortais serem sepultados, entre eles os jovens Terry e Andy e o mestre Tung. Desde
aquele dia, os irmãos Bogard passaram a viajar pelo mundo para treinar e
aprimorar suas habilidades em artes marciais, para um dia terem a vingança
contra aquele que ceifou a vida do pai adotivo deles.
Como não poderia deixar de ser, a notícia da morte de Jeff
Bogard atravessou tanto o Oceano Atlântico quanto o Oceano Pacífico.
Na Alemanha, mais precisamente em Frankfurt am Main (sobre o
rio Main), Krauser estava servindo como guarda-costas a um príncipe da
Jordânia, o príncipe Mohammed bin al-Amin da dinastia Hashemita. Até hoje,
famílias reais da Europa e regiões vizinhas recorrem aos serviços de
guarda-costas da família de Krauser sempre que viajam. E isso ajuda a dar uma
aparência de legalidade aos negócios do nobre germânico.
Enquanto estava no hotel em que estava hospedado, Krauser ficou
sabendo por meio do noticiário da morte de Jeff Bogard nas mãos de Geese. E em
um primeiro momento fica surpreso em saber que o mesmo Jeff Bogard que causou
uma das cicatrizes em sua testa foi morto pelo meio-irmão dele. “É o melhor que
pode fazer Geese? Há, acho que você ainda está muito longe de poder me
enfrentar”, diz o alemão, em um tom sarcástico, que em seguida gargalha.
No Japão, a notícia da morte de Jeff Bogard chega ao
conhecimento do mestre Gōken por meio do senhor Masters, o pai de Ken Masters.
Uma vez ao ano, o senhor Masters vai ao Japão ver o filho e o progresso no
treinamento. Ao chegar ao dodžo de Gōken, o senhor Masters pede para ter uma
conversa em particular com o mestre. E ele o coloca a par de tudo. “Quer dizer
então que o Geese matou o Jeff Bogard?”, pergunta Gōken. O senhor Masters
afirma que sim, que ele matou o senhor Bogard nas ruas de Southtown. “Eu sabia
que isso ia ocorrer, mais cedo ou mais tarde”, o velho mestre responde,
colocando o senhor Masters a respeito do último encontro que teve com Jeff
Bogard.
Ao saber da morte de Jeff Bogard, Gōken fica muito chateado.
E por vários minutos se recolhe ao quarto dele, pensando no amigo morto e em
todos os momentos que passou com ele, desde o momento em que o conheceu em um
torneio de artes marciais no Japão até o último encontro que eles tiveram. O
semblante do mestre claramente mostra isso.
E isso não passa despercebido por Ryu e Ken. “É a primeira
vez que eu vejo o sensei assim, Ryu”, diz Ken. “Eu também, Ken”, Ryu responde.
Minutos depois, o mestre coloca os discípulos a par de tudo. “Quer dizer então
que o tal do Geese matou o pai adotivo daqueles dois meninos que vieram um dia
aqui treinar conosco?”, pergunta Ken. “Sim, Ken. Ele mesmo”, responde Gōken.
“Esse Geese, um dia haverá de pagar pelo que fez”, responde Ryu. O mestre Gōken
nota uma raiva na fala de Ryu que nunca viu antes, e tenta acalmá-lo. “Ryu,
tenho certeza que um dia aparecerá alguém que irá colocar um fim ao reinado de
terror do Geese em Southtown. Vocês devem se concentrar no treinamento,
discípulos”, diz Gōken. O mestre sabe muito que se Ryu ou Ken for enfrentar
malfeitores como Geese, Krauser e Bison no presente momento a derrota é certa.
Como não poderia deixar de ser, o caso da morte de Jeff
Bogard gerou grande repercussão em Southtown. E a impressão que ficou para
muitas pessoas é que se trata de mais um crime que ficou impune desde que a
máfia na cidade foi adquirindo cada vez mais poder. Mas alguns perguntar-se-ão:
como será que Geese Howard alcançou o poder que tem, a ponto de o assassinato
de Jeff Bogard ficar impune e a polícia nada fazer para prendê-lo ou pelo menos
fazê-lo responder ao mesmo na justiça dos homens?
A resposta é um tanto quanto complexa e ao mesmo tempo
simples. Geese não adquiriu o poder e a influência que hoje desfruta do nada, e
muito menos acumulou tamanho poder do dia para a noite. Foi um processo lento e
gradativo, por meio do qual o loiro foi construindo uma rede própria dentro da
máfia de Southtown.
Desde tenra idade, em especial depois do incidente no
castelo Stroheim, Geese colocou na cabeça dele que dali em diante ninguém mais
o colocaria para trás na vida. Em um primeiro, quando deu início à busca pelo
poder supremo, Geese almejava tornar-se o prefeito de Southtown. Mas com o
tempo ele foi vendo que o poder do prefeito de Southtown era muito mais formal
e decorativo que efetivo. Vivendo pelas ruas de Southtown e observando a vida
política de sua cidade natal, ele percebeu que os débeis e fracos prefeitos não
tinham poder algum. Quem de fato mandava em Southtown é a máfia, e os prefeitos
de plantão nada mais são que seus fantoches.
Em outras palavras, em Southtown eleições para prefeitos,
deputados, vereadores e etc... não significam nada. Não passam de uma mera formalidade.
A máfia é quem de fato dá as cartas. E sempre que determinado prefeito resolve
de fato exercer o poder ao qual lhe foi investido por meio do voto popular, a
máfia trata de eliminá-lo e no lugar colocar alguém que lhe seja subserviente.
Com o tempo e vendo a realidade política da cidade em que
vive, Geese passou a almejar se tornar o chefão da máfia local. Para além do
fato de sendo o chefão da máfia local ele seria o verdadeiro senhor de
Southtown, ele, agindo como o fantasma por trás do trono, teria uma série de
outras vantagens. Prefeitos das mais diversas colorações partidárias vão e vêm,
e o loiro ainda assim seria o senhor de Southtown. Quando uma crise
eventualmente estourar em Southtown, ela vai recair nos ombros do prefeito, e
não dele. E de brinde, a possibilidade de remover do poder prefeitos que eventualmente
se mostrem incômodos a ele. Quem sabe até os matando, e o público ainda por
cima acreditar em histórias de que eles foram mortos em circunstâncias
misteriosas.
Ainda no tempo de Frank de Cesaris, houve um prefeito que tentou se livrar das amarras do poder da máfia em Southtown chamado Ethan Rosenberg. Um político de grande popularidade entre as camadas mais baixas da população, Ethan Rosenberg prometia desde o início de sua campanha eleitoral combater a máfia e restaurar a normalidade institucional em Southtown. Ele foi eleito e empossado, mas o ítalo-americano, vendo que Ethan não era um falastrão eleitoreiro como outros prefeitos que fizeram a mesma promessa antes, rapidamente utilizou-se de seu poder e influência na máfia para dar um fim nele. Mostrou ao mundo quem de fato manda em Southtown. Rosenberg foi morto pelos capangas de Frank de Cesaris após ser submetido a uma tocaia. O recado foi bem claro: qualquer um que se levantar contra o poder da máfia será sumariamente eliminado, terá o mesmo destino que o infeliz Rosenberg teve. Rosenberg foi deposto e morto, Frank de Cesaris logo tratou de colocar no poder um preposto seu na prefeitura de Southtown chamado Michael Giuliani.
1 Comentários
Aqui , as conexões com o univers Streer Figther ficam bem evidenciadas. Se eu fosse Krauser se preocuparia com ocrescimento em poder e relevância do seu meio irmão...
ResponderExcluirSua arrogância pode lhe custar caro.