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Quintessência - #7

 

Capítulo 7: Resplendor Ascendente


“Quintessência... descortinam-se os fatos”

O carro de Joji acelerava rumo à escolinha, com os três rapazes dentro e o Sr. Igarashi junto. Tão logo a dimensão criada por Sayaka se desfez, eles se adiantaram em voltar o quanto antes; mas o pai de Shizuka que não havia entendido o que estava acontecendo pediu para ir com eles. Concordaram, desde que ele ficasse dentro do carro.

Em pouco tempo, chegaram ao destino. Pessoas normais não podiam enxergar, mas todos podiam sentir a energia miasmática que agora envolvia todo aquele lugar; era algo pesado, profano, inexplicável. Os três trataram de descer do carro, não sem antes reforçarem ao senhor que os acompanhava que não fizesse o mesmo por sua própria segurança, e avançaram.

Adiante, podiam sentir mais forte aquela energia, que misturada com o desespero que sentiam, lhes dava uma sensação de pânico. Logo na entrada, puderam ver Risa caída com o celular na mão, provavelmente ela havia tentado pedir socorro.

KEN – Isso está me afetando demais. Não sei se consigo entrar assim.

JOJI – Precisamos entrar, Ken. Precisamos salvar o pessoal. Shizuka, por favor, tire a Risa daqui. Ela está viva?

SHIZUKA (averiguando) – Sim, ela está com sinais vitais. Mas, para onde eu a levo? Aqui não tem um lugar seguro...

JOJI – Ponha-a no meu carro! Peça ao seu pai para vigiá-la! Rápido!

Shizuka então, colocou-a no colo e levou-a para o carro. De qualquer forma, estar sob aquela espécie de egrégora maligna havia o afetado bastante, e sua visão começou ficar turva, mas ele fez o que lhe foi pedido.

SHIZUKA – Papai, esta é a Risa, uma amiga nossa. Por favor, fique de olho nela enquanto não voltamos.

SR. IGARASHI – Meu filho, o que está acontecendo? Por que aquele lugar parece ter uma sombra em torno dele?

Shizuka se espantou com a pergunta do pai. Pessoas comuns não poderiam enxergar o miasma; no máximo, senti-lo. Mas não havia tempo para delongas, e ele voltou.

Enquanto isso, Ken e Joji entraram no estabelecimento. Lá encontraram todos desacordados, até mesmo Kokoro e Yuna estavam abraçadas no canto da parede. E na mesa de centro, uma rosa. Era desta rosa que emanava a energia que infestava todo aquele local. Em seguida, Shizuka entra.

SHIZUKA – Uma rosa!

JOJI – Então, é isso. O hospital...

KEN – O que vamos fazer? Precisamos trajar as armaduras...

Mas infelizmente, eles não conseguiram manifestar seus poderes de guardiões e o desespero tomou conta deles. Então, tentaram remover as pessoas daquele interior. Primeiro, Joji pegou Yuna e Kokoro e as levou para fora, enquanto Ken e Shizuka pegaram Sakura e Kaname, respectivamente. Em seguida, só faltava Tomoe e Jun, que Joji e Ken conseguiram retirar. Todos foram postos na calçada externa, um ao lado do outro, e Shizuka averiguou os sinais de um por um. Todos estavam fracos demais, e a tonalidade de suas peles estava acinzentada; algo que o doutor notou que estava acontecendo com ele, Joji e Ken também.

De repente, se ouviram passos em direção a eles, acompanhados de um som de algo batendo contra o chão. Os passos pertenciam a um idoso estrangeiro, cego de um olho e o que batia no chão era a sua bengala.

CHRISTOPH – Há décadas eu não sinto nada como isso. Essa energia desoladora me lembra o holocausto...

KEN – Quem é você?

CHRISTOPH – Me chame apenas de Christoph. Sou o fiel mordomo da Madame Sayaka Hanajima e vim aqui apenas cumprir ordens. O fato de terem retirado essas pessoas de lá não implica na salvação delas, embora se demorassem mais tempo de nada adiantaria.

JOJI – Foi você quem trouxe aquela rosa para cá?

CHRISTOPH – Não foi difícil, afinal, o jovem Jun me conhece. Apenas vim com o pretexto de entregar-lhe documentos empresariais, e a rosa nada mais foi do que um mero souvenir. Apenas ouçam: vocês podem salvar a todos aqui (estendendo uma rosa), basta que absorvam o miasma dos corpos destas pessoas todos juntos. Pode ser que haja algum efeito colateral nelas após, mas decerto sobreviverão. Já vocês...

SHIZUKA – Sayaka não estava blefando... ela realmente quer nos destruir, mas que interesse ela tem por trás disso? Por mais dinheiro que ela tenha, não pode conseguir poder para confrontar aquilo que representamos...

JOJI – Eu não sei, Shizuka... pela primeira vez desde que me descobri guardião, me sinto impotente...

Internamente, Christoph estava satisfeito. O plano de Sayaka parecia estar funcionando. O lado humano dos rapazes sucumbiria ao desespero por salvar seus entes queridos e eles se sacrificariam para tanto, assim não havendo mais guardiões para buscar o equilíbrio novamente. Ken pegou a rosa da mão do estranho, e se decidiu.

KEN – Não vou deixar minha família morrer. Eu não aguentaria viver com essa dor.

JOJI (segurando a mão de Ken) – Eu não tenho medo da morte.

SHIZUKA (fazendo o mesmo) – Eu jurei salvar vidas. E, se eu morrer, vou poder conhecer minha mãe lá do outro lado.

Os três então manifestaram o desejo e a rosa começou a absorver o miasma daqueles corpos inertes ali na calçada para os corpos dos rapazes. Eles sentiam um misto de sentimentos negativos que os traziam uma agonia aparentemente infinita. Por alguma razão, Risa despertou durante o processo. Ela abriu os olhos e pôde ver nitidamente toda aquela cena.

RISA – “Deus, se você existe mesmo, faça alguma coisa. Eu lhe peço, faça alguma coisa!”

Uma sombra envolveu o trio por completo durante alguns instantes. Em seguida, ela foi se dissipando e os revelando novamente, porém agora trajados com suas armaduras. No entanto, as armaduras não pareciam estar em sua totalidade de poder por alguma razão. Por sorte, ou não, apenas Risa, o pai de Shizuka e o mordomo Christoph viram tal cena.

CHRISTOPH – Não sei até que ponto a resistência vai adiantar.

O velho homem se lembrou de seus tempos como soldado nazista, sempre vendo a agonia dos prisioneiros em campos de concentração. Quantos pereceram das mais diversas maneiras ante seus olhos, quando possuía ambos. Há quanto tempo ele não via algo parecido; era simplesmente indiferente para ele. Uma vez declarado criminoso de guerra, teve de fugir da sua pátria e durante a fuga empreitada, perdeu um dos olhos lutando contra os oficiais. Ele devia à Sayaka sua devoção, já que sob a proteção dela nunca pôde ser encontrado, e sabia que jamais poderia retornar para suas origens. Na verdade, seu verdadeiro nome nem lhe era mais familiar. Dadas as circunstâncias, ele era apenas uma pessoa anônima, que para o mundo era inexistente. Viver ou morrer era indiferente.

O Sr. Igarashi então começou a rezar. Ele rogava que, de alguma maneira, seu filho e os amigos dele se salvassem, mesmo tendo limitada compreensão do que acontecia ali. Sabia que o seu filho corria risco, e isso bastava. Então, ele abriu a porta do carro e desceu caminhando a passos lentos com apoio da bengala em direção a Christoph, com um olhar decidido.

SR. IGARASHI – O que você quer para parar com isso? Não vê que estão todos sofrendo?

CHRISTOPH – Sim, eu vejo. Mas para mim é indiferente, senhor. Mesmo que fosse de minha vontade, a interrupção do processo de nada adiantaria; os três estão condenados.

SR. IGARASHI – É o meu filho que está ali! Eu não vim até aqui para vê-lo morrer assim!

O mordomo de Sayaka nada respondeu. De repente, a expressão do Sr. Iagrashi mudou como se ele tivesse ouvido algo, e repentinamente foi em direção dos rapazes. Ao se aproximar, seu corpo imediatamente escureceu, mas ele conseguiu tomar a rosa que estava nas mãos de Ken, apoiada pelos outros dois e logo foi ao chão. Naquele momento, os rapazes, mesmo enfraquecidos e terrivelmente afetados pelo miasma voltaram a si. Shizuka, ao ver o pai no chão, se ajoelhou perante ele e pôs a mão em seu peito.

SHIZUKA – Papai... isso foi loucura...

Infelizmente ele não obteve resposta. O corpo do pai estava gelado, e sem vida. Sua armadura desapareceu naquele instante, e ele se deitou sobre o peito do pai, enquanto chorava a dor daquela perda. Seus amigos, debilitados como estavam, se arrastaram para junto dele e choraram também. Risa ainda estava atordoada, mas as lágrimas escorriam de seus olhos, já que ela mal podia se mover.

Então, mais uma vez, surge Sayaka, desta vez de dentro de uma luxuosa limusine.

SAYAKA – Eu só vim para ver de perto o fim de vocês, mas houve um elemento surpresa... Acho que eu mesma vou ter que cuidar disso.

E ela sacou uma adaga e foi em direção aos rapazes. Súbito, Ken ergueu sua espada num último esforço perante o sorriso debochado de Sayaka, que não recuou em momento algum.

SAYAKA – Resistir é inútil. De qualquer maneira, vocês já estão mortos. (apontando para os demais) Todos vocês. Só estou garantindo que nenhum outro elemento surpresa aconteça.

Quando Sayaka ergueu a adaga para atacar Ken, dos fundos da construção da escolinha um resplendor se manifestou e algo como um pássaro se fez ouvir. Aquele fenômeno foi tão poderoso que até mesmo aqueles afetados pelo miasma abriram os olhos por um instante enquanto ele irradiava por todo aquele lugar.

Os três rapazes se sentiam flutuando num espaço, como se nada houvesse além deles três.

JOJI – Estou me sentindo leve...

SHIZUKA – Eu também... estou em paz...

KEN – Nós morremos?!

SHIZUKA – Acho que não...

JOJI – Estão ouvindo?

KEN – É o...

SHIZUKA – Mantra!

JOJI – Sim, é o mantra!

KEN – Isso quer dizer que...

JOJI – ...o quarto guardião...

SHIZUKA – ...enfim...

Os três logo voltaram a si. Desta vez, Sayaka estava atordoada graças ao resplendor emanado dos fundos da escolinha. Todos olharam naquela direção e viram então de onde a luz havia se manifestado surgir o ovo, que desceu e pairou a alguns centímetros do chão.

SAYAKA – Mas o que diabos é isso?!

E lançou a adaga contra o ovo, que imediatamente a repeliu de volta para ela fazendo com que a mesma lhe atravessasse a mão e lhe causando uma dor imensurável. Christoph a ajudou a remover a adaga cravada de sua mão, e enrolou um lenço na mesma.

VOZ MISTERIOSA – Estendam vossas mãos, guardiões! Recebam suas bênçãos!

Joji, Ken e Shizuka prontamente fizeram e receberam uma energia em forma de luz que mutuamente retornou ao ovo, fazendo-o aumentar de tamanho a ponto de eclodir e gerar um fulgor intenso, revelando então mais uma bela armadura carmesim com detalhes dourados. Ao contemplarem essa visão, mais uma vez os três trajaram suas armaduras em pleno poder. Agora, os quatro guardiões estavam enfim reunidos.

SAYAKA – Não acredito! Agora, os quatro... Os quatro guardiões estão reunidos! Christoph, eu sinto muito... mas chegou a hora.

Sayaka então pegou a adaga e cravou no peito de Christoph, que gemeu com a dor e caiu no chão. De seu corpo, surgiu um demônio de braços fortes e dois metros de altura, garras afiadas e pele vermelha.

KEN – O que ela fez?

JOJI – Eu já li sobre isso. Ela fez um contrato com esse demônio e usou uma alma humana para servidão. O que será que essa mulher esconde tanto?

SAYAKA – Você não faz ideia, Joji Sasaki! Não cheguei até aqui para perder, jamais aceitarei perder! Você e os seus não terão sossego enquanto eu estiver viva!

SHIZUKA – Ela libertou o demônio de dentro do corpo hospedeiro. Eu achava que isso era história.

Então, pela primeira vez desde que se revelou, a quarta guardiã se manifestou.

GUARDIÃ – Teremos que combate-lo e enviá-lo de volta ao plano inferior. Eu sou a guardiã de Suzaku, o pássaro de fogo sagrado. Despertei para auxiliá-los a restaurar o equilíbrio e compreender melhor o seu elo com o mundo espiritual. Minha jornada até aqui foi longa.

KEN – Não pode dizer quem é você?

GUARDIÃ – Vocês saberão. Vamos agir agora.

Prontamente o combate começou. O demônio libertado por Sayaka era poderoso, possuía longas garras e a todo o tempo tentava atingir os quatro, que desviavam e o golpeavam há medida que conseguiram. Os três rapazes pareciam desesperados, enquanto a guardiã parecia mais concentrada.

GUARDIÃ – Vocês estão cometendo um erro. E logo entenderão o porquê.

Em seguida, ela abriu os braços e concentrou sua energia, quando asas etéreas se revelaram majestosamente atrás dela.

GUARDIÃ – Yi!

E lançou delas uma tempestade de fogo que atingiu o demônio, fazendo-o recuar. Sayaka observava afastada, e vendo que a situação estava desfavorável, pensou em fugir; mas não contava com Risa, que a esta altura já estava lúcida.

RISA – Vai a algum lugar, Madame Hanajima?

SAYAKA – Não se atreva a me confrontar, maldita! Eu mesma sou capaz de matá-la!

RISA – Então, tente, senhora.

Sayaka avançou para cima de Risa com a adaga, mas logo foi desarmada e imobilizada pela policial. Infelizmente a satisfação de Risa durou pouco. Uma corrente repentinamente envolveu seu pescoço e a puxou para trás, fazendo-a perder o equilíbrio e o controle sobre Sayaka, levando ambas ao chão. Por trás da corrente estava Yashiro, que surgiu em socorro da mãe.

YASHIRO – Sabe, moça bonita, não devia ter agredido a minha mãe. Isso só colocou sua vida em minhas mãos.

E com isso, ele puxou mais a corrente, apertando o pescoço de Risa. Vendo-a sufocar, Shizuka então rapidamente agiu e laçou a corrente com o seu poder, assim libertando Risa da mesma.

SHIZUKA – Lou!

YASHIRO – E agora, doutor?

SHIZUKA – Hoje ninguém mais vai morrer!

YASHIRO – Acha certo usar os seus poderes de guardião contra um humano?

Naquele momento, Shizuka cedeu. Ele realmente não sabia com quem estava lidando, e aquelas palavras o perturbaram: um guardião não deve usar seus poderes contra os humanos, mas sim protege-los. No entanto, realmente eles lidavam com humanos? O tal estrangeiro havia perecido e dado lugar a um demônio que estava sendo combatido por eles ali, logo, era algo a ser questionado. Quem eram eles, afinal?

YASHIRO – Hesitando, doutor? Saiba que isso pode lhe custar caro!

E lançou sua corrente contra Shizuka, mas o guardião mais uma vez lançou-se contra ele, convicto de que precisava agir.

SHIZUKA – Yashiro e Sayaka Hanajima, é melhor que se retirem. Por ser um guardião, não posso ignorar suas ações. Em breve, vocês responderão por isso.

SAYAKA – Não vou deixar que vocês me subjuguem agora!

Sayaka avançou contra Shizuka armada com a adaga, mas de súbito uma labareda se lançou contra ela. A labareda queimou sua mão direita, que empunhava a adaga e o mesmo lado de seu rosto, gerando nela um grito de dor.

YASHIRO – Malditos! Isso não fica assim! Eu juro que os farei pagar por isso!

E de imediato, ele subiu na moto com a mãe na garupa e partiu, seguido pela limusine.

Naquele momento, os quatro já estavam com total atenção voltada ao demônio totalmente fora de controle. A preocupação maior era que ele não atacasse as pessoas que ainda estavam adormecidas, com exceção de Risa que testemunhava todo aquele combate.

JOJI – Precisamos acabar logo com isso.

KEN – Temos os poderes das chaves, precisamos confiar neles.

A guardiã de Suzaku nada disse. Então, eles cercaram o demônio e concentraram sua energia, afim de invocar o poder das chaves que possuíam.

JOJI – Jiao!

Das mãos de Joji, surgiu uma espécie de estaca energética que trespassou o demônio.

KEN – Dou!

Ken fez surgir de suas mãos um turbilhão de água e o lançou contra o demônio, visivelmente afetando-o e fazendo-o perder as forças.

SHIZUKA – Kui!

Shizuka abriu os braços, e seus dedos fizeram movimentos como se fossem garras, deu um salto e as lançou contra o demônio. Tal movimento gerou um deslocamento de ar desproporcional que o retalhou de diversas formas.

GUARDIÃ – Xing!

O corpo da guardiã gerou um fulgor resplandecente, como se fosse uma estrela de fogo que ao atingir o demônio o purificou imediatamente, fazendo com que ele se tornasse apenas cinzas.

Os quatro podiam sentir seus poderes irradiando mediante aquela vitória. Parecia que só pelo fato de estarem juntos, se sentiam mais fortes e vivos. Súbito, podiam ouvir e sentir as energias de suas divindades guardiãs.

GENBU – Me regozijo pela tua vitória, jovem.

SEIRYU – Porém, quase sucumbistes.

BYAKKO – Não compreendem o que lhes faltou.

Os três então ficaram em silêncio, realmente não sabiam o que dizer.

SUZAKU – Foi o desespero. Aprendeis a confiar em vossos poderes. Aprendeis a confiar em nós.

SEIRYU – Ao confiarem em nós, podereis enfrentar qualquer mal.

GENBU – Lembrais que fostes escolhidos pelo espírito justo e a vontade de evoluir.

BYAKKO – Jamais vos esqueceis, nós somos teus guardiões.

SUZAKU – E vós sois os guardiões do equilíbrio.

TODOS – Da Quintessência!

JOJI – Quintessência?

KEN – Já ouvi falar a respeito de algo assim, é o centro de todo o poder.

SHIZUKA – Tudo ainda é muito novo para mim.

BYAKKO – Vais compreender no momento certo.

SUZAKU – Primeiro, as chaves de cada um.

SEIRYU – Depois, as revelações.

GENBU – Mas confiem em nós.

Aquela visão desapareceu rapidamente, e os guardiões voltaram as suas formas civis. Mas quando a armadura de Suzaku desapareceu, apenas se viu uma pessoa totalmente coberta por um manto branco, de modo que não se podia ver qualquer parte de seu corpo. Os três rapazes a observaram, mas não ousaram se aproximar.

KEN – Por que não se revela a nós? Somos companheiros agora!

Mas ela não respondeu.

JOJI – Você não pode falar?

Então, ouviu-se um choro. Shizuka estava desolado, prostrado sobre o corpo do pai. Ken e Joji foram acudi-lo, e Risa se aproximou deles. Enquanto isso, os outros afetados pelo plano nefasto de Sayaka começaram a despertar e aos poucos se deram conta daquela cena; mas a misteriosa guardiã já não estava mais lá.

No meio da noite, todos estavam reunidos na casa de Kaname aguardando o retorno de Risa e Shizuka, que foram resolver os trâmites do funeral do Sr. Igarashi.

KANAME – Doutor, sei que está sendo difícil, mas espero que tenha tudo dado certo.

RISA – Bom, tivemos que dizer que ele faleceu em decorrência da doença. O doutor aqui teve que escrever isso no atestado de óbito.

KEN (abraçando o amigo) – Shizuka, você não está só.

SHIZUKA – Eu quero ir para casa, Ken.

KEN – Então, me deixa ir com você. Eu não quero te deixar sozinho num momento desses.

Sim, de fato todos ali tiveram perdas significativas no decorrer da vida. Joji já não tinha mais nenhum parente vivo. Na família Mizushima, tanto os pais quanto a irmã Kaoru eram falecidos. Kaname era órfã, foi criada pela avó até a adolescência. Risa era filha de policiais, ainda criança perdeu o pai durante uma ação. Shizuka, apesar de tudo, sempre se sentiu solitário; mas ele na verdade nunca desejou isso. Portanto, aceitou a companhia de Ken e juntos foram embora para o apartamento dele.

Chegando lá, tomou banho e engoliu um calmante para que pudesse dormir. Ken se deitou próximo e vigiou o seu sono até que ele mesmo adormecesse.

Logo, Shizuka estava em um parque florido. Crianças brincavam ali das mais diversas brincadeiras. Ele sentou-se no balanço a convite de uma delas e continuou observando a alegria delas ao seu redor. Então, ele viu o pai diante de si; mas não tinha o mesmo aspecto que ele o vira antes de falecer. Na verdade, talvez ele nunca tenha visto o pai daquela maneira. Ele estava belo, feliz, e irradiava uma energia aconchegante.

SR. IGARASHI – Meu filho, não sofra. Aquele foi o meu destino e não poderia ter sido melhor: eu morri em nome do amor. O amor que eu e sua mãe tivemos, o amor que gerou você. Eu fiz e faria de novo, por você, meu filho.

SHIZUKA – Pai... me perdoa por não ter te protegido.

SR. IGARASHI – Meu filho, você é um homem nobre. Você possui uma alma pura. Não faz ideia do orgulho que eu tenho de você. Sabe, eu não estou aqui sozinho.

Então, aquela moça que ele sempre via em seus sonhos surgiu. Ela se aproximou do Sr. Igarashi e sorriu para o rapaz ali naquele balanço.

SHIZUKA – Mãe?

PAULA – Meu filho... estou tão feliz por estar aqui. Provavelmente, esta será a última vez que nos veremos até chegar o dia do nosso reencontro. Digo isso porque, felizmente, você não está mais sozinho.

SHIZUKA – Obrigado, mãe.

Então, os três passaram um tempo juntos brincando naquele parque; ora no balanço, ora no escorregador... parecia que o menino Shizuka realmente havia realizado um sonho de ter uma família feliz, nem que fosse uma única vez.

SR. IGARASHI – Bom, meu filho, é chegada a hora. Seja feliz, eu bem acredito que você será. Eu e sua mãe continuaremos velando por você do outro plano. Enfim, eu e ela poderemos ficar juntos.

PAULA – Sim, meu amor. (Para Shizuka) Meu filho, acredite em si mesmo, sempre. Você se esforçou muito para se tornar o que é, e sei que conseguirá também ser um valoroso guardião. Converse com seu mentor e peça esclarecimentos. E não se esqueça que o amor é o que nos transforma. Ele está por perto, apenas reconheça-o quando chegar a hora.

SHIZUKA – Eu?!

SR. IGARASHI – Sim, meu filho. Assim como eu e sua mãe nos encontramos, você também encontrará o amor. Basta reconhece-lo quando esse momento chegar. Agora, adeus, meu filho. Até um dia.

PAULA – Adeus, meu menino. Eu sempre te amarei.

SHIZUKA – Eu também, mãe, sempre amarei você. E a você também, pai. Adeus.

E assim, eles se despediram até que chegasse o dia no qual todos deverão se reencontrar no plano superior.

 

CONTINUA...

2 Comentários

  1. Grande Lee Yu!

    Parabenizo-o pelo retorno de Quintessência, essa obra prima de sua seara fictor!

    O episódio traz em seu bojo, vários acontecimentos importantes, recheados de drama e suspense.

    A estratégia da vilã Sayaka se mostrou nefasta e ,graças ao surgimento da nova e misteriosa guardiã; num momento onde tudo parecia perdido e o pai de Shizuka ter se sacrificado por amor ao filho; não obteve êxito.

    Curti muito o alerta das entidades sobre seus tutelados.

    É necessário confiança no poder que receberam.

    Isso ficou bem posto.

    Ressalto ainda ,a qualidade narrativa feita através de uma escrita impecável e fluida.


    Parabéns, meu amigo!

    Esse, foi um dos melhores episódios dessa saga!

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    1. Gratidão, Jirairyder, fico muito feliz!
      Realmente foi um dos episódios mais difíceis de escrever, mas no fim, valeu à pena.
      A evolução deles acontece gradativamente em diversos âmbitos, e ainda muita coisa precisa ser feita até que se deparei com o que virá em seguida.
      Espero trazer o próximo mais em breve do que este.
      Mais uma vez, te agradeço pelo carinho de sempre e até a próxima!

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