MISSÃO 06
CORRIDA MORTAL
|
— “CORRE!!!” — Lúcia gritou, a voz cortando o som dos alarmes, das faíscas e do tremor do metal.
Zurgo disparou na frente, segurando o módulo como se fosse uma âncora de vida. Mako corria tão rápido que parecia flutuar, os pés batendo no metal com aquele som seco, desesperado.
Nyx e Lúcia ficavam na retaguarda, blasters erguidos, olhos vasculhando cada sombra, cada canto, cada maldito som vindo do teto, do chão, das paredes.
E então... eles vieram.
O som não era de passos.
Era de garras rasgando metal, corpos batendo nas paredes, bocas arfando, chiando, rosnando.
Duas das criaturas surgiram do teto — caindo atrás deles, deslizando nas paredes como se a gravidade fosse uma sugestão.
— “AAAAAAAAAAAH!!! ELAS TÃO AQUI!!!” — Mako gritou, quase tropeçando.
Lúcia girou, disparando rajadas.
Nyx fez o mesmo, os disparos de plasma cortando o corredor estreito.
As rajadas acertaram uma das criaturas em cheio no peito.
O impacto jogou-a meio metro pra trás…
Mas foi só.
A criatura praticamente ignorou.
O plasma queimou a carapaça negra, criou uma crosta esbranquiçada onde o calor tentou abrir caminho... mas não passou da superfície.
Ela tremeu, gritou — e correu ainda mais rápido.
Zurgo olhou pra trás, os olhos arregalados. — “NÃO FUNCIONA!!! OS TIROS NÃO FUNCIONAM!!!”
Mako quase tropeçou em um conduíte quebrado, se agarrou numa viga, chutou uma caixa no caminho. — “MAS QUE MERDA É ESSA?!!”
A primeira criatura avançou, uma massa de membros longos demais, garras afiadas, dentes demais. Ela escalou pela parede lateral, depois pulou, rasgando os cabos do teto, aterrissando a menos de três metros deles.
TOC. TOC. TOC. SSSKRRRAAAAAAA!
O som era um misto de carne molhada, metal rangendo e ossos quebrando — tudo junto, embalado no rugido de algo que não deveria existir.
Lúcia recarregou, disparou outra sequência — mirando nos olhos, nas juntas, na boca.
Nada. Só faíscas. Só queimaduras superficiais.
Nyx disparou um pulso eletromagnético. A criatura cambaleou por meio segundo…
Mas então gritou tão alto, tão grave, que o próprio metal do corredor vibrou.
— “NÃO TEM COMO PARAR ELAS!!!” — Mako berrava, correndo feito louco. — “NÃO TEM COMO!!!”
O corredor parecia se esticar, como se o espaço dobrasse só pra fazer eles sofrerem mais.
A cada curva, mais obstáculos: caixas caídas, cabos arrebentados, poças de fluido que faziam Zurgo escorregar, bater o ombro, quase largar o módulo — mas não largava.
Uma viga desabou do teto, caindo na frente deles.
Lúcia pulou por cima, Nyx deslizou por baixo, Zurgo tropeçou, bateu o ombro, xingou até os ancestrais dos projetistas dessa nave — mas continuou.
08:23.
— “EU NÃO QUERO MORRER!!!” — Zurgo berrava, os pés escorregando, as mãos apertando o módulo. — “ESSA MERDA NÃO FOI FEITA PRA CORRER!!!”
As criaturas não paravam.
Elas escalavam. Corriam nas paredes. No teto. Nos conduítes.
Deslizavam como predadores que conheciam cada milímetro daquele labirinto metálico.
Uma delas avançou tanto que a garra passou rente à cabeça de Mako, arrancando um pedaço da parede.
— “AAAAAAAAAAAAAAH!!!” — Ele gritou, quase perdendo o equilíbrio.
Lúcia viu de relance — uma porta lateral semiaberta.
Apontou. — “ALI! DESVIA!!!”
Eles se jogaram pra dentro, cruzaram por uma sala de manutenção cheia de destroços, quase caindo, escorregando, e saíram do outro lado, de volta pro corredor principal.
Mas as criaturas também.
Elas nem diminuíram. Nem hesitaram.
Uma das garras cortou um tubo de refrigeração no teto. Vapor gelado explodiu, cegando por um segundo — e, nesse segundo, Zurgo quase caiu, Nyx puxou ele pelo braço, Mako bateu de lado numa parede e rolou no chão.
— “VAI!!! VAI!!! VAI!!!” — Lúcia berrava, disparando, sem sequer mirar mais. Só pra atrasar. Só pra ganhar segundos.
O radar de Nyx piscava. — “Doca auxiliar a duzentos metros... e fechando.”
Duzentos metros.
Duzentos metros... com a morte nas costas.
08:00.
E então... uma luz.
Uma porta dupla, o letreiro piscando, falhando, quase apagado:
DOCA AUXILIAR 3 – ACESSO TÉCNICO
Eles atravessaram a porta — quase se jogaram.
Zurgo tropeçou e caiu de joelhos, o módulo batendo no chão com um estrondo surdo.
Mako caiu sentado, rolando pra trás.
Nyx entrou deslizando, sensores piscando em vermelho.
Lúcia veio por último — deu dois passos pra trás, puxou uma alavanca, e trancou a porta na cara das criaturas.
BANG. BANG. BANG. — As garras bateram contra o metal, amassando a porta de dentro pra fora.
Mas, por um segundo... um segundo só... estavam vivos.
Então... olharam ao redor.
A doca.
Vazia.
Zurgo prendeu a respiração. — “...não... não, não, não... CADÊ A ESTRELA PERDIDA?!”
Mako girava no próprio eixo, olhando pra tudo, apertando as mãos na cabeça. — “ELA NÃO TÁ AQUI!!! ELA NÃO TÁ AQUI!!!”
Nyx, fria como sempre, já acessava o terminal. — “Confirmando. Nenhuma nave acoplada. Nenhuma cápsula disponível. A doca está operante... mas vazia.”
O som das garras voltava.
Mais forte. Mais alto. Mais perto.
A porta... não ia aguentar muito.
Zurgo girou, olhando pro teto, pros trilhos de transporte suspensos.
E, como se o universo inteiro cuspisse uma ideia diretamente no cérebro dele…
O sorriso voltou.
— “O trilho de carga. EXTERNO.” — Apontou, olhos arregalados, faíscando. — “Ele conecta essa doca à principal. Dá a volta na carcaça externa da nave. A gente monta numa plataforma de manutenção, ativa o trilho, e...” — respirou — “...voa até a doca onde tá a Estrela Perdida.”
Mako caiu sentado, mãos no rosto. — “Você tá brincando... diz que tá brincando... diz que tá brincando...”
— “TÔ MAIS SÉRIO DO QUE UMA SUPERNOVA, MAKO!” — Zurgo apontou pro terminal — “NYX, ATIVA ESSA COISA AGORA!!!”
O som atrás.
SKRRRAAAAAAAAAA!!!
O cronômetro piscava, implacável:
07:34... 07:33...
O inferno ainda não tinha terminado. E agora... eles iam correr por fora. No vácuo. No espaço. Com uma bomba atrás e a morte na frente.
Nyx enfiou o braço no terminal, cabos se enrolando, faíscas cuspindo da conexão. O painel tremia, rangendo sob o peso de seus próprios erros acumulados nas últimas décadas.
— “Acesso autorizado. Trilho de transporte externo... online. Integridade do campo de contenção... 57%... instável. Alta probabilidade de falha parcial durante o trajeto.”
Zurgo empalideceu. — “Campo de contenção?! ISSO TEM UM CAMPO?! POR FAVOR, DIGA QUE TEM UM CAMPO!”
— “Operacional... mais ou menos.” — respondeu Nyx, sem emoção.
— “Mais ou menos?!” — Mako arregalou os olhos, praticamente pulando na plataforma de carga que desceu rangendo dos trilhos. — “MAIS OU MENOS?!!”
Lúcia girou o blaster no dedo, olhou pros três, e disse com aquele tom seco que não aceitava discussão:
— “Se ficar aqui, morre. Se subir, talvez não. Então... sobe.”
Zurgo empurrou o módulo com força, quase tropeçando nele, e se jogou na plataforma. Mako veio logo atrás, chutando uma caixa no caminho, praguejando em todos os idiomas conhecidos — e provavelmente inventando alguns na hora.
Nyx subiu sem qualquer dificuldade, o corpo biônico se ajustando, travando-se nas barras laterais.
Lúcia foi a última, batendo o painel lateral.
— “VAI! VAI AGORA!!!”
BZZZZZZZZZZZT—KRRRRRRRRRRRRRRRSH!
O trilho disparou.
A porta externa abriu... e eles foram cuspidos pro lado de fora da nave.
E então... o universo.
Puro. Gigante. Aterrador.
O campo de contenção envolveu a plataforma — uma barreira azulada, frágil, trincada nas bordas, que vibrava como vidro prestes a se quebrar.
O ar dentro ficou fino.
O frio mordeu.
As roupas congelaram nas costuras.
O peito apertou. Respirar doía.
O som... sumia. Voltava. Sumia. Voltava.
A cada oscilação do campo, era como se o universo piscasse — e no intervalo, só existia vácuo absoluto.
A carcaça da nave se estendia abaixo deles, um tapete de aço retorcido, perfurado, rasgado, coberto de cicatrizes de batalha, impactos e décadas de decadência.
E além…
Espaço.
Acima, uma nebulosa azulada serpenteava no vazio, seus filamentos dourados dançando lentamente, como se assistissem tudo de muito, muito longe.
À direita, o planeta gasoso girava, seus anéis quebrados refletindo luz violeta, verde e cinza.
Abaixo, bilhões de estrelas pulsavam, olhavam, brilhavam... indiferentes.
Por um segundo — um microsegundo só — todos esqueceram de respirar.
Não pelo medo.
Pela beleza.
Mako arfou, segurando-se na barra até os dedos doerem. — “Cara... isso é... isso é lindo...” — tossiu — “...e eu vou morrer aqui...”
O campo piscou.
Por um instante, o som sumiu.
O ar sumiu.
O vazio mordeu.
Os olhos arderam.
O peito travou.
E então — voltou.
Fraco. Instável.
Mas voltou.
Zurgo tremia, segurando-se como se aquilo fosse tudo o que existia no universo. — “SE ESSE CAMPO QUEBRAR... AAAAAAH, EU VOU SURTAR!!!”
A plataforma correu pelo trilho.
Faíscas voavam das conexões magnéticas.
Cada curva parecia que ia lançar todos direto pro abismo do nada.
O frio entrava pelas roupas, pelas luvas, pelo osso.
O vento — que não deveria existir, mas existia graças ao campo — batia no rosto como lâminas geladas.
— “SEGURA!!! SEGURA!!!” — Zurgo berrava, os olhos quase pulando da cara. — “ESSA COISA VAI DESMONTAR ANTES DE CHEGAR!!!”
O campo vibrou de novo.
Sumiu por meio segundo.
O vazio apertou os pulmões.
A visão ficou turva.
E voltou.
O horizonte da nave começou a se curvar.
O trilho fez uma curva apertada em torno de uma das antenas principais da carcaça.
A estrutura metálica rangeu, chiou, cuspiu faíscas.
E então... uma luz.
A doca principal surgiu no horizonte.
Grande. Aberta. A casa. A esperança. A salvação.
E, ali, estacionada na plataforma 07…
A Estrela Perdida.
Zurgo apertou os olhos. — “TÁ LÁ!!! TÁ LÁ!!!” — gritou, quase rindo, quase chorando. — “A NAVE TÁ LÁ!!!”
Mako se segurou com tanta força que parecia querer arrancar a barra da plataforma. — “EU NUNCA MAIS RECLAMO DAQUELA LATA VELHA!!! NUNCA!!!”
A plataforma começou a desacelerar.
Os trilhos chiavam.
O campo de contenção piscava mais forte, quase falhando de vez.
O frio subia pelas pernas.
O ar rarefeito fazia o coração bater mais forte.
O som ia e vinha, numa dança cruel entre existir e desaparecer.
O cronômetro piscava, batendo, vibrando no visor de Zurgo:
05:00.
04:59.
A plataforma rangeu, parou, soltando uma última nuvem de faíscas antes de travar completamente no fim da linha.
O campo de contenção oscilou mais uma vez, piscou... e se apagou de vez.
O ar voltou, denso, sujo, abafado, com aquele cheiro agridoce de ozônio queimado e graxa velha da doca principal.
Zurgo praticamente pulou pra fora da plataforma, segurando o módulo como se fosse uma extensão do próprio corpo. — “NUNCA MAIS! EU NUNCA MAIS FAÇO ISSO!!!”
Mako tropeçou, caiu de joelhos, arfando, batendo no chão metálico. — “Eu... eu quero... eu quero férias. Muitas. Longas. E bebidas.”
Lúcia saltou, rolando no ombro, já com o blaster erguido. Nyx desceu deslizando, sensores girando, analisando tudo.
O olhar de Lúcia foi direto pro que mais importava:
A Estrela Perdida.
Linda. Maravilhosa. Feia. Perfeita. A casa. A salvação.
Estava ali. Intacta. Rampa aberta, iluminação de bordo piscando no modo de espera.
— “VAI! PRA DENTRO! AGORA!!!” — Lúcia berrou, batendo no ombro de Zurgo, já apontando pra nave.
Mas então…
O som.
Aquele som.
SKRRRRAAAAAAAAAAA.
Mako congelou.
O sangue gelou.
O mundo pareceu travar por um segundo que durou tempo demais.
Ali.
Na base da rampa de acesso da Estrela Perdida.
Parada.
Imensa.
A terceira criatura.
O corpo negro, liso, pulsante, refletia as luzes vermelhas de emergência da doca.
Membros demais. Garras longas, afiadas, batendo lentamente no chão metálico, produzindo aquele som molhado, úmido, que vibrava direto nos ossos.
A mandíbula tremia. As mandíbulas. Uma interna, outra externa, dentes circulares girando, abrindo e fechando como uma armadilha viva.
Olhos... ou orifícios sensoriais — difíceis de dizer — piscavam, se contraiam, focavam neles.
Ela esperava.
Não atacou imediatamente.
Ficou lá.
No caminho. Na porta. Na única saída.
O cronômetro de Zurgo apitou no pulso.
04:48.
04:47.
— “N-n-não... não... não...” — gaguejou Mako, recuando, batendo as costas numa caixa. — “ELA... ELA SABE. ELA TÁ ESPERANDO. ELA SABE!!!”
Lúcia apertou o blaster, cerrou os dentes, olhos duros, quase cuspindo as palavras:
— “Ela... tá guardando a nossa nave.”
O silêncio que veio depois…
Não era silêncio.
Era o som da própria morte... esperando.
Por um segundo, ninguém se mexeu.
Nem a criatura.
Nem o grupo.
Ela estava lá.
Postada.
Guardando a rampa da Estrela Perdida.
As garras arranhando lentamente o piso metálico, cabeça baixa, as mandíbulas trêmulas abrindo e fechando, emitindo aquele ruído úmido e grave que parecia vibrar direto dentro do crânio.
E então…
Ela avançou.
— “AAAAAAH!!!” — Zurgo jogou o módulo no chão, sacou o blaster e disparou à queima-roupa, quase sem mirar.
Lúcia e Nyx fizeram o mesmo, rajadas cruzando o ar, acertando, queimando, ricocheteando, mas...
Nada.
A coisa não parava.
A criatura veio como um borrão negro de garras, membros demais e dentes que não deveriam existir.
Rugindo.
Rasgando o ar.
O caos se instalou.
Zurgo tropeçou, rolou pra trás, derrubando uma caixa.
Nyx se jogou pro lado, disparando rajadas de pulso direto nas juntas da criatura.
Lúcia puxou uma granada de concussão, ativou e jogou.
A criatura voou dois metros pra trás — MAS LEVANTOU.
E VOLTOU.
— “NÃO VAI!!! NÃO CAI!!! NÃO MORRE!!!” — Zurgo gritava, disparando sem parar, suando tanto que parecia ter saído de um banho.
Foi então que…
Mako sumiu.
No meio do fogo cruzado, no meio das rajadas, das garras, das faíscas…
Ele sumiu.
Lúcia percebeu primeiro.
Olhou pro lado, apertou os olhos. — “CADÊ O MAKO?!!”
— “ELE... ELE... AAAAAAAAAAAH!!!” — Zurgo desviou de uma garra, rolando pelo chão. — “ELE SUMIU!!! ELE FUGIU!!!”
A criatura girou, bateu a garra no chão, arrancando uma placa metálica que voou, quase decepando Nyx.
Ela respondeu com dois tiros de plasma direto nos sensores faciais da coisa — que gritou, mas não parou.
Então…
Um som.
Um som diferente.
O zumbido crescente. O som dos reatores de ignição. O som da Estrela Perdida... LIGANDO.
E, de dentro da nave…
O canhão de faser da torre ventral girou. Baixou. E apontou.
Lúcia olhou, arregalou os olhos.
— “...não... NÃO ACREDITO...”
Mako.
MAKO TINHA ENTRADO NA NAVE.
Tinha ignorado tudo, todo mundo, e ido direto pro painel de comando.
— “VAI, MAKO!!! VAI, VAI, VAI!!!” — Zurgo gritava, desviando, quase perdendo uma perna.
O som dos capacitores carregando ficou mais alto.
Mas..
Demorou.
DEMAIS.
A criatura avançou, pulando, derrubando Lúcia no chão, que se arrastou pra trás, chutando, disparando.
Nyx socou a criatura com força, usando toda a potência dos braços hidráulicos — rachou parte da mandíbula dela. Zurgo atirava, gritava, se escondia, atirava de novo, escorregava...
— “MAAAAAKOOOOO!!!” — Lúcia berrou, disparando no rosto da criatura. — “SEU DESGRAÇADO!!!”
E então…
O TIRO VEIO.
O feixe de energia disparou da torre inferior da Estrela Perdida, acertando em cheio a lateral da criatura.
FOGO. PEÇAS. OSSO. CARNE. GARRAS. TUDO VOOU.
A criatura voou de lado, se arrastando, deixando um rastro de líquido negro fervendo no chão da doca.
Queimaduras enormes. Membros pendendo. Mandíbulas arrancadas.
— “EU ACERTEI!!! EU ACERTEI!!!” — A voz de Mako explodiu nos alto-falantes da nave. — “EU SOU UM GENIOOOOOOOOO!!!”
Zurgo quase jogou o blaster no chão. — “GENIAL ERA SE TU TIVESSE FEITO ISSO TRÊS MINUTOS ATRÁS!!!”
— “NÃO ENCHE, EU TAVA AJEITANDO O PAINEL!!!”
— “MAKO, SUA LINGUIÇA SEM PERNAS!!!” — berrou Lúcia. — “ABRE ESSA RAMPA!!! AGORA!!!”
A criatura — mesmo arrasada, destruída, sangrando vapor e líquidos pretos — não caiu.
Se levantou.
Cambaleando. Roçando o chão. Mas levantou.
E AVANÇOU.
A rampa da Estrela Perdida começou a descer.
Devagar.
DEVAGAR DEMAIS.
— “VAI! VAI! VAI!!!” — Zurgo empurrou o módulo pra dentro da nave.
Nyx subiu logo atrás, disparando até o último segundo.
Lúcia deu cobertura, atirando, chutando uma caixa na cara da criatura, rolando no último segundo.
A rampa subiu.
No EXATO SEGUNDO em que a criatura pulou.
O corpo dela bateu contra a parte externa da rampa, derrapando, escorregando, arranhando, até cair no chão, gemendo, gritando, urrando.
Na cabine, Lúcia pulou na poltrona do capitão, batendo nos controles.
— “VAI!!! VAI!!! VAI, MAKO!!! ACELERA ESSA LATA VELHA!!!”
Os motores cuspiram fogo.
A nave tremeu.
O casco rangeu.
O cronômetro piscava:
00:08... 00:07... 00:06...
A Estrela Perdida acelerou, subindo.
A gravidade artificial falhou por meio segundo — todos flutuaram no cockpit, batendo nas laterais, até os motores estabilizarem.
00:04... 00:03...
Lúcia apertou os dentes, segurando no painel. — “VAI, VAI, VAI, VAAAAAAI!!!”
00:02...
A ISV KRONOS EXPLODIU.
Uma esfera de fogo azul, branco, laranja e verde se abriu no vácuo, engolindo tudo.
Por dois segundos, a Estrela Perdida SUMIU dentro da explosão.
O painel piscou, os alarmes gritaram, o casco tremeu tanto que parecia rachar.
E então...
Ela saiu.
Viva. Inteira.
Queimada. Com metade das antenas arrancadas. Dois painéis laterais pendendo.
Mas viva.
O radar apagou.
A luz da explosão se dissipou.
O silêncio voltou.
A ISV KRONOS... não existia mais.
Zurgo caiu sentado no chão da cabine, arfando. — “NUNCA MAIS. EU... NUNCA. MAIS. Faço ISSO.”
Mako ergueu as mãos, sorrindo. — “Tá vendo? Tá vendo?! EU SALVEI GERAL! FALA SE EU NÃO SOU O HER—”
— “MAKO...” — Lúcia virou, olhos duros, um sorriso cínico no canto da boca. — “Se você abrir essa boca de novo... eu te jogo no espaço. Sem traje.”
O silêncio ficou.
Por uns cinco segundos.
E então Lúcia respirou, olhou pra frente, puxou os controles.
— “Certo...” — apertou os olhos. — “A ISV Kronos se foi... mas nossa missão ainda não acabou.”
4 Comentários
Olha!!!
ResponderExcluirA agonia seguiu escalando até o último segundo , fazendo o coração quase sair pela boca...
Só acabou aos acréscimos da prorrogação e com a sensação de Ufaaa!
Conseguiram!
Maravilhoso episódio!
O melhor até aqui!
Confessa que tu achava que algum deles ia morrer né....
ExcluirAchei sim...
ExcluirDe fato...
Não achava que fosse a Lúcia, nem a Nyx...
Mas os outros dois,.com certeza.
Mais um capítulo tenso do começo ao fim. Muito bom o modo como você foi construindo esses obstáculos no caminho dos personagens, todos muito bem bolados, nenhum parecia forçado apenas para "encher linguiça".Tudo ficou extremamente orgânico e natural.
ResponderExcluirO bacana também foi a criatura, cuja descrição permite visualizá-la perfeitamente.
Meu parabéns por mais esse capítulo.