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HORIZONTE DE ESTRELAS MISSÃO 14

MISSÃO 14

FANTASMAS DO ESGOTO

A Estrela Perdida rompeu a camada de nuvens espessas de PX-13 como um espectro relutante, envolta por descargas atmosféricas que dançavam ao redor de seu casco corroído. A floresta abaixo parecia um oceano petrificado — árvores de troncos espiralados, com cascas metálicas e copas translúcidas que captavam a luz do céu cinzento e devolviam em tons de âmbar e ferrugem.

Lúcia pilotava manualmente, os olhos firmes no painel. A missão era simples no papel: invadir a base de vigilância em solo e extrair os códigos de acesso para a estação orbital da Liga — onde o verdadeiro alvo os aguardava. Difícil era sobreviver ao plano.

O local escolhido surgia no visor: uma clareira escondida, cercada por formações rochosas irregulares e árvores tão densas que nem satélites de varredura conseguiriam distinguir sua presença do resto da vegetação alienígena.

— Vamos tentar não desmontar no pouso — murmurou, ajustando os propulsores de descida.

A nave tocou o solo suavemente, o atrito com o ar provocando um zumbido grave que desapareceu quando os flaps se abriram com precisão cirúrgica. A fuselagem gemeu ao repousar na clareira. Uma nuvem de poeira metálica e folhas queimadas subiu no ar antes de ser engolida pelo silêncio denso da floresta.

— Pouso concluído — disse Lúcia, soltando os cintos. — E o chão ainda tá inteiro. Milagre.

Nyx, imóvel atrás dela, confirmou sem emoção: — Nenhum sinal de vigilância eletrônica. Camuflagem natural da vegetação é eficaz. Visibilidade térmica reduzida em 92%. Esse ponto é ideal para infiltração.

— Bom saber que pelo menos uma coisa está a nosso favor — respondeu Mako, levantando-se do assento do copiloto. — Agora só falta todo o resto.

Zurgo apareceu do fundo da cabine, coberto de cabos e peças de ignição. — A Estrela aguentou, hein? Eu sabia. Quer dizer... mais ou menos.

— Se ela tivesse explodido, você ia dizer que era pra ajudar na camuflagem — retrucou Lúcia, já indo ao compartimento de armas.

Eles vestiram seus trajes. Roupas escuras, armaduras leves, bloqueadores de sinal, blasters carregados. E, claro, um plano instável o bastante para dar errado de dez formas diferentes.

Nyx ajustava os sensores oculares. — Nenhuma movimentação. A estação está a aproximadamente 3,2 quilômetros, seguindo pelo leito seco de um antigo rio de silício.

Lúcia prendeu o coldre na perna, ajustou a mochila e fitou a silhueta metálica além das árvores. — Três quilômetros de floresta alienígena e uma estação com mais segurança que uma base da Liga. Tranquilo.

— Fácil — disse Mako, sorrindo. — O difícil é o Zurgo ficar quieto por cinco minutos.

— Eu posso! Quer dizer... acho.

A rampa se abriu com um sibilo abafado, revelando a floresta. O ar ali era denso, carregado de partículas metálicas. As árvores pareciam se mover levemente, reagindo à presença deles. Folhas vibravam em tons elétricos. Criaturas invisíveis deslizavam entre galhos, emitindo sons que oscilavam entre o orgânico e o eletrônico.

— Lindo lugar — disse Mako. — Mal posso esperar pra quase morrer aqui.

Lúcia liderou o avanço. A vegetação parecia se abrir por instinto. Nyx caminhava em silêncio absoluto. Mako seguia atento. Zurgo fechava a marcha, anotando dados num dispositivo improvisado que mais parecia uma torradeira com tela.

Mesmo a quilômetros de distância, a estação já se fazia sentir. Um zumbido quase imperceptível vibrava sob os pés, como se a estrutura estivesse viva.

— A estação não tem entradas visíveis — comentou Mako, observando o mapa holográfico. — Nada de docas, nem entradas de ar. Só blindagem e torres.

— Confia na chefe — disse Zurgo, tropeçando numa raiz. — Ela acha um buraco.

— E de preferência, um que não cheire como a parte de trás de um Korrathi bêbado — completou Mako.

— Eu avisei que vocês não iam gostar da entrada — disse Lúcia, afiada. — E não tô falando metaforicamente.

Nyx escaneava a área. — Humor detectado. Grau de eficácia: 14%. Possível sarcasmo: 87%.

— Seu sistema tá quebrado, robô — murmurou Mako. — Esse foi no mínimo uns 60%.

Após contornar algumas formações, Lúcia parou diante de um paredão coberto por musgo fosforescente. Afastou galhos e revelou uma grade corroída, com vapor saindo de dentro.

— Toda estação tem uma saída de dejetos. Poucos prestam atenção. Ratos, criminosos e gente desesperada usam. Adivinha em qual grupo a gente tá?

Zurgo farejou e se afastou dois passos. — Eu retiro tudo que disse sobre confiar na chefe. Isso fede como o reator de um cargueiro Orlok cheio de peixe podre!

— Você cheirou um desses? — perguntou Mako.

— Longa história. Termina com hospital.

Nyx se agachou. — Contaminação dentro dos parâmetros toleráveis... desde que não respirem.

— Excelente — disse Lúcia, puxando a grade. — Quem for mais fresco, entra por último.

— Vou lembrar disso quando você precisar de um piloto pra escapar — resmungou Mako.

— Tecnicamente, isso é suicídio lento por compostos voláteis — disse Zurgo. — Mas... também é aventura. Eu odeio aventura.

— É só não lamber as paredes — respondeu Lúcia.

— Por que você diria isso?! — exclamou Zurgo. — Agora é TUDO que meu cérebro quer fazer!

Um a um, eles entraram no túnel escuro e sufocante. O cheiro era indescritível — uma fusão de esgoto químico, óleo reciclado e algo vagamente parecido com queijo alienígena vencido.

— Lúcia... isso é o fundo do poço. Literalmente — disse Mako. — Eu já me escondi num cadáver pra escapar, mas isso aqui é pior.

— Se reclamar mais uma vez, eu te deixo aqui.

— Promessa ou ameaça?

Zurgo escorregou e gritou agudo. — Algo lambeu meu pé! OU EU LAMBI ELE SEM QUERER!

Nyx, indiferente, prosseguia. — Nota positiva: sem risco de sensores térmicos inimigos aqui. Nenhuma vida inteligente se aproximaria disso.

— Exceto a gente — resmungou Mako.

Lúcia parou ao ver luz fraca vindo de uma grade. — Fim da linha. Daqui entramos pelos corredores inferiores.

— Diversão cheira melhor — respondeu Mako.

— Diversão não exige vacinas — murmurou Zurgo.

— Diversão é superestimada — finalizou Nyx, puxando a grade.

Do outro lado, começava o coração da estação. Eles iriam invadir por baixo, como fantasmas saídos do esgoto.

Eles se esgueiraram até uma curva do corredor. Luzes de emergência pulsavam em vermelho suave, projetando sombras dançantes nos cantos da estrutura metálica. Lúcia fez sinal para parar e todos se encostaram na parede, em silêncio absoluto.

À frente, no fim do corredor, dois guardas fortemente armados estavam postados diante de uma porta blindada. Fardas impecáveis, rifles de energia de alta potência, postura treinada. Estavam ali para matar ou, no mínimo, impedir qualquer um de passar.

Mas, por um instante, o destino — ou talvez o cheiro — sorriu para a tripulação.

— “Ah, sério, cara... tu peidou?” — resmungou um dos guardas, franzindo o nariz e se afastando sutilmente do outro.

— “O quê?! Claro que não, seu doente!” — respondeu o segundo, virando a cabeça, ofendido.

— “Então o que é esse cheiro? Parece que um Gorkon morreu dentro de um container de sabão estragado!”

— “Talvez seja você! Cheirando igual uma lixeira desde o último turno.”

Enquanto os dois discutiam, abanando as mãos e se afastando da porta para tentar identificar a origem da ocasião fétida, Lúcia já se movia, com Nyx logo atrás.

— “Vamos acabar com isso antes que comecem a usar máscaras,” murmurou ela.

Como fantasmas treinados — ou, no caso de Zurgo, um fantasma tropeçando de leve — o grupo avançou.

Nyx foi a primeira a agir. Em silêncio absoluto, ela surgiu pela lateral, agarrou o guarda mais próximo com precisão letal e o puxou para trás, pressionando um ponto na base do crânio. O homem caiu como um peso morto, apagado.

O outro só teve tempo de virar a cabeça, com os olhos arregalados, e sussurrar um confuso “quê...?” antes de Mako surgir atrás dele e aplicar um mata leão — que o derrubou com um estalo e um grunhido.

Lúcia verificou rapidamente os bolsos dos guardas.

— “Nada muito útil. Mas... essa porta deve levar direto ao setor interno da estação.”

Nyx se posicionou ao lado do terminal da porta.

— “Sistema de travamento ativo. Segurança de nível médio. Tempo estimado para hack: 42 segundos.”

Lúcia assentiu, limpando a gosma de dejeto da luva.

— “Então temos 42 segundos pra decidir se vamos pela esquerda ou pela insanidade.”

— “Eu voto na insanidade,” disse Mako, já acostumado.

A porta começou a destravar com estalos metálicos. O caminho estava livre. Pelo menos, por agora.

A iluminação era mínima — apenas lâmpadas de emergência pulsando em tons avermelhados, lançando sombras que se alongavam como garras.

Nyx assumiu a dianteira. Suas lentes filtravam espectros térmicos e infravermelhos. Ela sinalizou para que parassem.

— Duas câmeras fixas e sensores de movimento a trinta metros. Padrão de varredura com intervalo de oito segundos. Posso interferir, mas por tempo limitado.

— A gente só precisa de uma brecha — sussurrou Lúcia, já preparando o campo de distorção.

Mako posicionou um refletor de sinal portátil, desviando os feixes das câmeras. Nyx sincronizou os temporizadores e, em um salto quase coreografado, o grupo atravessou a área de vigilância. Nenhum alarme soou.

— Ok barreira superada — disse Nyx, reconfigurando os sensores.

Chegaram a um corredor circular com portas automáticas fechadas. Mais dois guardas estavam em patrulha. Lúcia se aproximou pela lateral, silenciosa como uma sombra. Em sincronia com Nyx, ela lançou um pulso de choque direcionado.

Os dois homens caíram antes que pudessem reagir. Zurgo correu para arrastá-los para um canto escuro.

— Eles não viram nada. Vão acordar com dor de cabeça e cheiro de esgoto na roupa — disse ele, ofegante.

Nyx acessou o terminal de segurança e isolou a ala por alguns minutos. Tempo suficiente.

— Sala de controle está duas portas à frente. Os códigos devem estar armazenados nos bancos internos.

— Então vamos buscar nosso bilhete pra órbita — disse Lúcia.

O som abafado da porta se fechando atrás deles deixou uma sensação final no ar, como se não houvesse mais volta. O único som era o leve zumbido dos condensadores e... os giros suaves das câmeras de vigilância instaladas no teto. Seus olhos vermelhos piscavam ritmadamente, vasculhando o corredor com precisão cirúrgica.

Tinham sensores de movimento, lasers... e uma programação simples: detectar, disparar alarme, atirar.

Zurgo deu um passo hesitante à frente — e o som metálico de sua bota ecoou como um trovão.

Em um piscar de olhos, Lúcia o agarrou pelo colarinho e o prensou contra a parede.

— “Você quer ser derretido por lasers automáticos, Zurgo?” — sussurrou, quase rosnando no ouvido dele.

— “Não... mas eu só... eu não—”

Ela ergueu o queixo dele com o dedo.

— “Olha pro teto.”

Zurgo levantou os olhos lentamente. Foi aí que viu as câmeras. Três... não, quatro. A quarta girava agora mesmo, bem devagar, como um predador farejando no escuro.

Ele engoliu em seco. O suor escorreu pela lateral da cabeça.

Silêncio.

A câmera parou, como se tivesse percebido alguma coisa. A luz vermelha piscou. Depois... voltou ao padrão.

Mako soltou o ar e sacudiu a cabeça.

— “Lasers e sensores. Uma piscada errada aqui e essa estação vira um tiroteio.”

Nyx se aproximou, analisando a cobertura do corredor.

— “Não há rotas alternativas. Este é o único caminho até o setor interno. Precisamos desativar as câmeras ou evitar todas elas.”

— “Evitar quatro câmeras em um corredor de vinte metros? Impossível,” disse Lúcia, já calculando riscos.

— “Não impossível,” disse Mako.

Todos olharam pra ele.

Ele deu um passo à frente. Seu olhar havia mudado. O tom zombeteiro sumira. Agora, só havia foco.

— “Deixa isso comigo.”

— “Você tá brincando,” disse Lúcia.

— “Eu brinco com fogo. Isso aqui é só um corredor.”

Sem esperar resposta, Mako se agachou, puxou as luvas com mais firmeza e ajustou a respiração.

A tensão caiu sobre o grupo como um manto de chumbo. Até o ar parecia mais denso.

Mako se moveu.

Primeiro passo — para a sombra projetada por uma falha na iluminação. A câmera girava para a esquerda. Ele congelou. Os olhos fixos na luz vermelha.

Contagem mental. Um. Dois. Três... agora.

Deslizou para frente. Encostado à parede. O som do tecido raspando no metal parecia ensurdecedor. A luz da câmera o tocou por meio segundo — mas ele já havia mergulhado sob um cano suspenso, desaparecendo da linha de visão.

Coração acelerado. Cada batida mais alta que a anterior.

O suor escorria por suas costas. Os segundos passavam como horas.

Ele alcançou o meio do corredor. A próxima câmera estava parada, fixada no centro.

Ele não tinha como passar diretamente por ela. Mas havia uma pequena caixa de manutenção na parede, baixa. Mako se abaixou lentamente... deslizou... e se escondeu atrás dela.

A câmera moveu.

Ele estava seguro — por centímetros.

Mais à frente, o terminal de controle estava ali. Embutido na parede, discreto, mas claramente conectado ao sistema de vigilância.

Mako sacou uma pequena ferramenta de decodificação — uma mistura de cartão magnético antigo, grampo de cabelo e uma peça de brinco com fio condutor que havia improvisado.

Respira. Foco. Um só movimento errado e tudo termina aqui.

Ele abriu o painel devagar. Tão devagar que até o rangido da tampa parecia uma explosão. Os fios estavam ali — azuis, vermelhos, dois verdes. Ele reconheceu o padrão. Já tinha visto aquilo em uma estação da Liga. Quase morreu tentando.

Primeiro fio, corta. Luzes piscam. Segundo fio, conecta. Espere. Terceiro...

Bip.

O visor acendeu com uma notificação:

“MODO DE MANUTENÇÃO ATIVO – 10 SEGUNDOS”

Só isso.

Mako fez um sinal para o grupo:

— “Agora. Corram.”

O grupo se lançou.

Lúcia correu primeiro. Passos suaves, olhos fixos nas câmeras inertes. Nyx logo atrás — silenciosa, precisa como uma máquina de infiltração. Zurgo... hesitou, mas seguiu.

O tempo apertava. Dez segundos. O som dos pés ecoava nos painéis. O corredor parecia mais longo. Mais sufocante.

Cinco segundos.

Zurgo quase caiu. Mako agarrou-o pelo braço e puxou com força.

Três segundos.

Todos atravessaram. Mako fechou o painel, reconectou os fios, e com o último segundo... a luz vermelha das câmeras reacendeu. A vigilância voltou.

O corredor voltou a ser letal.

Eles estavam a salvo.

Entraram em uma sala ao lado, respiravam em silêncio. O suor escorria, os corações disparados. Até Nyx piscou mais do que o normal.

Lúcia olhou para Mako, ainda recuperando o fôlego.

— “Isso foi... suicídio controlado.”

— “Eu prefiro chamar de arte performática sob pressão.”

Zurgo sentou no chão, tremendo.

— “Meu corpo ainda acha que vai morrer. Acho que... acho que perdi o controle de algum órgão.”

Lúcia olhou para frente. O próximo setor esperava.

— “Vamos. Isso foi só o começo.”

Eles se levantaram e avançaram.

E, atrás deles, o corredor voltou ao seu ciclo mortal... como se nada tivesse acontecido.

Nyx foi a primeira a falar, com um tom cortante:

— “Probabilidade de descoberta dos corpos: alta. Patrulhas em rotação a cada 15 minutos. Estamos no terceiro minuto. Precisamos nos mover. Agora.”

Lúcia não hesitou.

— “Todos comigo. se seguirmos por esse corredor a esquerda, vamos chegar no hangar externo. Se encontrarem resistência, não atirem a menos que não haja escolha. Ainda estamos na sombra — mas isso pode mudar num segundo.”

O grupo se lançou pelo corredor, passos rápidos, firmes, mas silenciosos. As luzes do teto piscavam de forma irregular, algumas quebradas, outras pulsando com o cansaço de décadas de uso. O som das botas no metal ecoava demais. Cada curva podia ser a última. Cada som podia ser uma patrulha.

Zurgo suava tanto que parecia prestes a evaporar.

— “O que a gente tá procurando mesmo? Qual porta? Qual módulo? Eu tô indo só porque vocês tão indo!”

— “O hangar externo,” respondeu Mako, com os olhos escaneando cada entrada lateral. “Segundo a planta do holograma, o módulo de pesquisa — deve ter os códigos de acesso pra estação em órbita — provavelmente vigiado.”

Nyx interrompeu.

— “A vigilância está se concentrando no setor seis. Interceptei um sinal secundário. Os guardas provavelmente encontraram algo anormal.”

— “Espero que não sejam os corpos,” disse Lúcia, acelerando. “Os que a gente apagou.”

— “Temos cerca de cinco minutos antes que redesenhem as rotas de patrulha. Depois disso, talvez tenhamos problemas.”

Eles dobraram um corredor e quase bateram em dois drones de manutenção flutuantes. Lúcia fez sinal para que todos se abaixassem atrás de uma tubulação lateral. Os drones passaram sem alertas, mas deixaram no ar um zumbido agudo que parecia perseguir os batimentos cardíacos do grupo.

Zurgo mal respirava.

— “Se eu morrer aqui, digam à minha mãe que eu tentei ser engenheiro... mas errei o planeta.”

— “Se você continuar falando, vou te ajudar a morrer antes,” rosnou Lúcia, enquanto deslizava até uma porta de segurança.

Ela passou o pulso no leitor — nada. Nyx se aproximou e, com um toque de sua ferramenta, abriu a trava com um estalo abafado. Eles entraram. Do outro lado, o hangar externo se revelava.

Era amplo. Frio. Feito de placas de aço desgastadas pelo tempo e pelo uso militar. Enormes braços mecânicos estavam estacionados nas laterais. Veículos de carga repousavam em suportes magnéticos, e no centro da plataforma, havia uma pequena espaçonave onde mal cabiam mais de 2 pessoas — o módulo de pesquisa.

Era ali que estavam os códigos de acesso da estação em órbita. A última peça que faltava.

Lúcia avançou até uma mureta elevada e se abaixou, analisando o espaço.

— “Quatro guardas perto do módulo. Armados.

Nyx ativou sua leitura infravermelha.

— “Há sensores térmicos nas colunas. E... há uma patrulha a caminho. Devem estar fazendo varredura do setor. Tempo estimado para a chegada: cinco minutos e vinte e oito segundos.”

— “Então temos pouco tempo pra neutralizar os guardas, acessar o módulo, extrair os códigos e sumir,” disse Mako, resfolegando. “Tranquilo. Isso é praticamente uma manhã de segunda-feira pra gente.”

Zurgo já se arrastava até uma tubulação suspensa.

— “Se eu conseguir chegar até aquele painel lateral, posso causar uma descarga elétrica violenta que vai desativar os sensores das colunas por uns 2 minutos... o suficiente pra vocês avançarem.”

— “Dois minutos?” disse Lúcia. “Você inventa esses números ou faz cálculo real?”

— “Sim,” respondeu ele, sorrindo nervoso.

Lúcia fez um gesto rápido.

— “Nyx, comigo. Mako, cubra a retaguarda. Zurgo... se errar esse cálculo, eu vou usar sua cabeça como travesseiro no espaço.”

— “Justo,” engoliu Zurgo.

O grupo se preparou. Cada um em sua posição.

Lá fora, no hangar, os guardas estavam distraídos. Um verificava um tablet, o outro inspecionava um console de energia, os outros dois conversavam sobre qualquer coisa.

Zurgo contava baixinho.

— “Cinco... quatro... três... dois...”

Ele ativou o painel. As luzes das colunas piscaram.

— “Vai, vai, vai!”

Lúcia e Nyx dispararam.

Correram como fantasmas, como sombras afiadas. Lúcia deslizou por trás de uma pilha de caixas e saltou sobre o primeiro guarda, socando-o com precisão no pescoço. Ele caiu sem emitir som. Nyx, ao mesmo tempo, atravessou os trilhos suspensos e agarrou o segundo, aplicando uma descarga precisa com um dispositivo de pulso eletromagnético que o derrubou como um boneco.

Os dois corpos foram puxados para trás da pilha.

Mako já havia eliminado as outras duas ameaças, fazia tempo que não usava suas habilidades em combate aprendidas no tempo de cadete da frota. Mas para derrubar dois inimigos distraídos serviu bem.

— “Limpo,” disse Lúcia, já acionando o console do módulo.

Nyx inseriu seu dispositivo no painel e começou a extrair os dados.

— “Decodificando. Tempo estimado: três minutos e cinquenta e dois segundos.”

— “Vocês têm dois respondeu Mako. “A patrulha tá vindo. Já ouvi passos.”

O som metálico dos soldados se aproximava do outro corredor. O alarme ainda não havia disparado, e eles estavam ficando sem tempo.

Uma luz começou a piscar em vermelho no console —“acesso não autorizado”.

Zurgo suava em jatos.

— “Isso é só uma mensagem padrão... certo? Certo?”

— “Cala a boca, Zurgo,” rosnou Lúcia.

— “Dados coletados,” disse Nyx, retirando o dispositivo. “Temos os códigos.”

— “Então vamos sumir daqui.”

Ao fundo, o som das botas da patrulha se aproximava.

— “Movimento no hangar! Confirmado! Contato hostil!” — gritou uma voz metálica.

— “MERDA!” — gritou Mako. “AGORA!”

Lúcia guardou o dispositivo. Nyx ativou um pulso de interferência para atrasar os sensores.

E juntos, os quatro correram para o acesso lateral do hangar, com alarmes piscando atrás deles e guardas gritando ordens que cortavam o ar como lâminas de luz.

Mas o núcleo... o núcleo com os códigos estava nas mãos deles.

Agora só restava escapar com vida.



1 Comentários

  1. A coisa , a cada capítulo fica mais tensa...
    O coração parece querer sair pela boca!!!

    Sinal que seu texto prende a atenção do leitor.

    Parabéns!!

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