Escrito por Jeremias Alves Pires
Visual da armadura por Kiko Mauriz
🛡️ Sinopse:
Em meio à guerra eterna contra as forças do inferno, o Cavaleiro Exorcista Spectrum-EX luta para salvar almas e enfrentar demônios que se fundem cada vez mais profundamente aos humanos. Inspirado pelos heróis tokusatsu, ele desafia a própria Ordem da Luz com seu estilo irreverente e coração compassivo. Quando uma missão o leva a confrontar perdas, vingança e possessões devastadoras, Spectrum-EX descobre que salvar vidas exige mais do que força — exige fé, empatia e coragem para enfrentar a escuridão dentro de cada um.
PARTE I
Faz alguns meses que estou de volta à guerra eterna contra
as forças do inferno, depois de finalmente ser ordenado como Cavaleiro da Ordem
da Luz.
Estou no auge do domínio da “Lágrima dos Anjos”, a joia que
me permite materializar minha armadura e armas, além de dar a habilidade de me
transformar em fantasma, sendo essa última a que mais desenvolvi.
No começo eu conseguia apenas passar alguns minutos na forma
fantasma, depois conseguia horas, agora consigo passar um dia inteiro, talvez
até mais.
Com essa habilidade sou um espião e detetive quase perfeito.
Até mesmo os demônios conhecem meu nome e o temem. Spectrum-EX é o terror
deles.
Apesar disso, para tristeza no meu coração, não sou bem
visto pelos meus irmãos cavaleiros. Sou visto como bobo, infantil e até
blasfemo, tudo por causa do meu modo de lutar e materializar minhas armas.
Sou um grande fã de tokustasu, em especial os
“Metal-Heroes”, por isso meu jeito de lutar e minhas materializações são todas
inspiradas neles… Mesmo sendo funcional, já que o uso da lágrima dos anjos
exige uma certa criatividade, não sou respeitado por ninguém.
Há também a inveja por causa do meu poder de fantasma,
poucos cavaleiros desenvolvem poderes extras, assim como eu.
Vivo mais com os demônios que combato do que com humanos…
Passo cada vez mais tempo na dimensão fantasma do que no mundo dos vivos…
Quando vago pela dimensão fantasma, posso ouvir pensamentos
e até orações, sendo esse o meio pelo qual escolho minhas missões.
— Vamos lá… Vamos queimar tudo!!! — Ouço esse e outros
pensamentos de ódio.
— Por favor, meu marido está doente, não é culpa dele… — Uma
mulher implora.
Tenho um trabalho para realizar…
Estou em uma cidade de interior, uma pequena multidão está
diante de uma casa humilde, uma mulher está os impedindo de invadir. Ela está
protegendo alguém escondido lá dentro, alguém que está muito mal…
Permaneço como fantasma para tentar entender a situação.
— Sai da frente, Eulália! Desde que seu marido ficou louco,
várias pessoas já desapareceram…
— Vocês não tem provas disso… Vão embora!
— Vimos seu marido andando por aí à noite, como se fosse um
animal! Sai da frente… Agora!!!
Um deles empurra a mulher.
— Já chega… Vão embora!!! — Finalmente me intrometo,
materializando-me já com minha armadura em meio a uma névoa que se dissipa aos
poucos enquanto raios percorrem meu corpo.
— Fantasma!!! — Todos fogem, minha aparição fantasmagórica
nunca falha.
— Não me machuque, por favor… — Diz a mulher assustada.
— Não é nada disso…Eu sou tipo… Tipo um anjo… Vim ajudar…
Não consigo terminar de falar com a mulher, quem suponho ser
o marido dela atravessa a janela e me ataca, como um animal selvagem. Consigo
me esquivar e dou um salto mortal para ganhar distância e avaliar meu inimigo.
Os olhos dele estão completamente negros, rosto
inchado.
— Ricardo… Pára com isso!!! — A mulher está em pânico.
— Não adianta, senhora! Seu marido está possuído por um
demônio.
O possuído avança novamente.
— Spectrum Punch!!! — Dessa vez, ao invés de me esquivar,
carrego meu punho de energia e esmurro o possuído, jogando-o para trás.
Ele se levanta com dificuldade, pra minha sorte é um demônio
muito fraco.
— Spectrum Sword-Pistols! — Materializo minhas armas, duas
“espadas-pistolas” e dou uns passos na direção dele para desferir alguns
golpes.
— Não machuca ele!!! — A esposa do possuído acerta uma pedra
grande na minha nuca, em um ponto desprotegido da minha armadura difícil de
acertar. Um golpe de sorte.
Minha vista se apaga no que parece ser para mim um segundo.
Quando eles se abrem, me levanto pronto para me defender. Então percebo que
naquele instante em que perdi os sentidos, não fui o alvo… O possuído sabendo
que não podia me derrotar, matou a mulher e arrancava suas entranhas.
— Desgraçado!!! – Faço vários disparos de laser no infeliz,
abrindo buracos fumegantes em seu corpo.
— Você perdeu, Cavaleiro… Você perdeu!!! Hahahahaha…
— Spectrum Final Justice! — Com as lâminas laser, faço um
corte vertical e outro horizontal no possuído.
Fico pensando no que vou dizer ao possuído quando estiver
liberto, como vou explicar que deixei a mulher dele morrer…
Para minha surpresa, ao invés de desaparecer levando consigo
os ferimentos da batalha, o demônio e o possuído queimam juntos.
Que tipo de demônio é esse? Preciso encontrar essa resposta
custe o que custar…
PARTE II
Sempre me vi como um herói que salva a vida das pessoas,
nunca como um assassino… Agora tenho nos meus ombros a morte de duas pessoas.
Quanto a Ordem, foi essa a mensagem que recebi:
“Entendemos seus sentimentos, no
entanto estamos em guerra contra os demônios que devem ser exorcizados a
qualquer custo. Em uma guerra sempre há baixas, não é possível salvar a todos.
Seja mais cauteloso e se acostume com as duras verdades que a batalha irá lhe
impor. Não se esqueça jamais, somos ANJOS DA MORTE…”
Fiquei chocado com a frieza da resposta. Como uma santa
ordem pode não se importar com a vida das pessoas? Tristonho desiludido, me
escondi na dimensão fantasma.
Ir para dimensão fantasma não é um processo simples, é como
se perder em uma maré de pensamentos. Imagine um estádio de futebol inteiro
gritando com você. Há os pensamentos dos vivos, há os pensamentos dos mortos,
falando de uma vez só. Mais do que ouvir, você vê, você sente. É maravilhoso, é
terrível. Para não enlouquecer, preciso focar em mim mesmo, na minha própria
frequência. É como sintonizar uma estação de rádio.
Por conta da tristeza, levo um pouco mais de tempo para me
sintonizar numa frequência em que posso ver os vivos, mas não posso ser visto
ou tocado.
Fico andando por aí, apenas por andar, sem querer chegar em
lugar nenhum, sem querer parar, quando sinto uma brisa suave e o nascer de uma
certa paz de espírito.
— Cavaleiro… Você precisa de nós… — Ouço uma voz suave,
alguém acaba de acessar minha frequência.
— Quem é você? — Perguntou ao que parece ser um homem de
cabelos longos feito de luz que se aproxima de mim amigavelmente.
— Pode me chamar de “Guardião da Paz”, venho em nome
daqueles que vivem na luz, aos quais a ordem que você serve venera. Ouvimos os
lamúrios de sua tristeza e nos compadecemos… — O tal Guardião me diz com um tom
paternal.
— Aquele homem, porque ele queimou junto do demônio que eu
exorcizei? Isso nunca tinha acontecido antes… Sinto como se eu o tivesse
matado… — Pergunto ao guardião cheio de dor.
— As possessões estão ficando mais fortes na terra, conforme
a humanidade vai tendo cada vez mais dificuldade para amar. Os demônios estão
conseguindo se ligar aos mortais de modo cada vez mais profundo. Se você quer
salvar vidas, deve aprender a salvar corações e aceitar que certas vezes,
quando você se deparar com indivíduos verdadeiramente comprometidos com o mal,
pouco ou nada poderá fazer… Lamentamos por isso, mas pedidos que por favor não
desista. Não se esqueça, amamos vocês…
Tendo dito tudo o que queria dizer, o Guardião da Paz
desaparece. Me sinto reconfortado, tudo por causa da presença do ser de luz.
Encontrar com algum deles é raro, eles vivem em uma dimensão longínqua
acessível apenas por homens bons, que vivem em profunda felicidade.
Meu dom me permite vagar apenas por dimensões próximas a da
terra, onde vagam as almas perdidas. Será que devo falar desse encontro com a
ordem? Salvar corações para salvar vidas, o que essas palavras querem dizer?
— Meu Deus, por favor, me ajude… Permita que seus bons anjos
intercedam por mim…
Ouço uma oração. Uma oração de uma mãe aflita.
— Ajude… Apenas ajude a quem precisar e você sempre estará
no caminho certo…
Ouço por fim a voz do Guardião da Paz. Não tenho dúvidas que
não foi o acaso quem me trouxe a oração que acabei de ouvir. Devo ir em direção
da prece tão sincera e desesperada. Espero que dessa vez não falhe na missão.
PARTE III
Na dimensão fantasma, ir em direção a uma prece, é como
“nadar” em direção a uma praia. Para facilitar, faço uso de um veículo, um tipo
de moto-foguete, a “Moto-Spectrum”.
As leis normais da física não podem ser aplicadas com
exatidão. Milhas podem ser percorridas em milésimos de segundos. De repente
estou em um bairro da zona leste de São Paulo, em frente a uma casa humilde. A
moto se desmaterializa e como ainda estou no modo fantasma, atravesso as
paredes da casa até a fonte das orações.
Uma senhora que tem por volta setenta anos discute com uma
garota que aparenta não ter mais que vinte anos.
— Mãe, pára com isso… Você tem que parar com essa rezadeira…
Isso não leva a lugar nenhum… Isso não salvou a vida dos meus irmãos e não vai
mudar nada do que estamos vivendo — A garota rebelde critica a mãe que passou a
madrugada de joelhos rezando, implorando ajuda do céu.
— Já está difícil, se perdemos a fé vai ficar pior ainda…
Tenha certeza disso, minha filha… — A mulher se levanta divagar, seus joelhos
estão machucados.
Resolvo me manifestar vestindo minha armadura, não quero
revelar minha identidade ou aparência humana.
— Bom dia! Sou o Cavaleiro Exorcista Spectrum-EX. Eu vim
ajudar… — Me curvo diante delas, como um súdito a seu rei.
— Que porra é essa? — A garota se espanta. Mãe e filha se
encolhem de medo. Cometi um erro.
Minha armadura brilha, emanando energia positiva, do mesmo
modo que o “Guardião da Paz”.
— Seja bem vindo… Eu sou Miranda e essa é minha filha
Roberta — A senhora se acalma, enquanto a garota continua agitada.
— É um prazer conhecer vocês, como posso ser útil? —
Pergunto apertando a mão da Dona Miranda.
— Você ressuscita os mortos? — Roberta ignora meu aperto de
mão, ela está muito revoltada.
— Sinto muito, mas isso eu não tenho poder para fazer… Mas
quem eu deveria ressuscitar? — Continuo sendo o mais gentil possível.
— Meus dois filhos… Jorge e Matheus… Perdi os dois em menos
de um mês… Os dois de modo terrível… Os dois… — Dona Miranda derrama uma
lágrima muito sentida.
— Deixe-me ver o que houve… — Coloco minhas mãos nos ombros
de Dona Miranda e ativo meus poderes de fantasma para ler sua mente.
Escolho Dona Miranda por ela estar mais receptiva do que a
filha cheia de revolta.
Eu vejo uma festa de bairro. Jovens se divertem, bebem
desregradamente.Vejo um rapaz, Jorge… É Jorge… Está muito bêbado, dançando de
modo desengonçado, totalmente entregue à euforia. Ele esbarra em um homem alto
e forte, feições perversas, o mal corre em suas veias, também está bêbado. Os
dois discutem. Meu Deus… O homem alto saca uma faca e começa a esfaquear Jorge
enquanto ri. “Para Alexandre!”, as pessoas gritam. Alexandre não ouve, apenas
fura Jorge, rindo a cada golpe.
Quase perco a conexão, mas preciso ir mais longe. Vejo o
enterro de Jorge. Há tristeza. Há revolta. “Eu vou te pegar, seu
desgraçado!!!”, Matheus ameaça Alexandre, ele ousou ir ao velório para zombar.
Todos o temem no bairro, Alexandre se sente intocável.
Passam alguns dias, estou na frente da casa de Dona Miranda.
Matheus está discutindo com Alexandre. Dona Miranda abraçada a Roberta muito
assustada, pede para os dois pararem. Alexandre saca uma pistola e atira em
Matheus várias vezes, rindo muito.
Perco o elo psíquico com Dona Miranda… Toda a dor da alma
dela passa pra mim. É insuportável… Prendo a respiração. Tenho que segurar o
choro, não posso desabar, eu vim ajudar.
— Tudo bem ai, cara?! — Roberta pergunta com deboche.
— Seus irmãos, sinto muito… — Quase não consigo falar.
— Então você viu mesmo… Vai me ajudar na vingança? Vai matar
aquele filho de uma puta do Alexandre? — O ódio de Roberta transborda.
— Não… Chega disso, Roberta. Já perdi dois filhos nessa
confusão toda. Senhor Spectrum, por favor, tira esse sentimento imundo de
dentro da minha filha… — Dona Miranda me implora de joelhos.
— Não posso matar pessoas e não consigo manipular suas
mentes. Lamento — um sentimento de inutilidade toma conta de mim, deixando-me
envergonhado.
— Pra que caralho você serve?!!! — Roberta grita.
— Você veio do além, não é? Consegue falar com meus filhos?
— Dona Miranda me encara cheia de esperança.
— Vou fazer isso agora mesmo… Vou entrar em contato com os
dois — Dou uns passos para trás e começo a me concentrar.
Invocar os mortos é proibido, mas tenho que fazer algo para
aplacar as dores dessa família. Rapidamente percebo que não preciso fazer muito
esforço. Jorge e Matheus se tornaram espíritos atormentados e partem pra cima
de mim…
PARTE IV
O quarto de Dona Miranda já está todo destruído. Estou no
meu modo fantasma, trocando socos com os espíritos perturbados de Jorge e
Matheus, os filhos assassinados de Dona Miranda.
Espíritos nesse estado são completamente loucos e violentos.
Eles despejam toda sua raiva em mim. Quando espíritos lutam acontece o fenômeno
que os vivos chamam de “poltergeist”, já que ela se reflete no mundo material.
Dona Miranda e Roberta estão encolhidas no canto. Preciso
acabar com isso rápido para que elas não se machuquem. Não quero usar minhas
Sword-Pistols e mandá-los de vez para o outro mundo. Preciso apenas para-los
por um segundo.
— Spectum Punch!!! — Desfiro um soco carregado de energia
que joga o fantasma de Jorge contra a parede.
Jorge cai quase perdendo os sentidos.
— Spectrum Kick! — Com um chute energético jogo Matheus na
parede do outro lado.
Vendo que meu golpe enfraqueceu os dois, conjuro minhas
armas, apenas para intimidá-los.
— Essa luta acaba agora! O lugar de vocês não é mais nesse
mundo, não percebem que estão fazendo mal para sua mãe e irmã? Partam agora
mesmo! — Ordeno aos dois, ameaçando-os com minhas Sword-Pistols.
No estado em que estão, os dois não conseguem falar. Eles
grunhem e apontam para Roberta.
— O que vocês querem me dizer? — Nesse instante, recebo os
pensamentos dos dois que me revelam um segredo.
Volto para o mundo dos vivos, deixando os dois fantasmas
para trás e me volto para Roberta.
— Cadê a arma?!!! — Pergunto a Roberta.
— Do que você está falando? Eu não sei de arma nenhuma!!! —
Roberta age como uma criança cuja travessura acaba de ser descoberta.
— O revólver que você comprou com um traficante para matar o
Alexandre… Onde ele está? — Olho diretamente nos olhos de Roberta, invadindo
seus pensamentos.
Me dirijo até o quarto de Roberta e encontro a arma em cima
de um guarda-roupa.
— Que merda é essa, Roberta?!!! — Dona Miranda se indigna.
— O que foi? Você vai me dizer que não quer que o Alexandre
pague pelo que ele fez?!!! — Roberta berra com a mãe.
— Prefiro ter uma filha viva… Vingança não vai trazer seus
irmãos de volta, Roberta!!! Põe a cabeça no lugar!!! — Dona Miranda tenta
chamar Roberta a razão.
Minha armadura volta a brilhar para tentar acalmar a
situação, estou com o revólver de Roberta na mão.
— Roberta… Ouça sua mãe… Seus irmão estão perturbados não
por causa do Alexandre, mas de preocupação com você. Pare com isso já, por
favor… — Eu tento persuadir Roberta gentilmente.
— Não se mete na minha vida!!! — Roberta me empurra contra a
parede com uma força sobre-humana.
Roberta está na verdade possuída por um demônio.
PARTE V
— Eu vou me vingar! Eu vou me vingar!!! — A possuída emite
um urro sobrenatural a arma antes na minha mão, flutua para a mão dela.
— Filha, não faça isso!!! — Dona Miranda grita, chamando a
atenção da possuída.
— Vai se fuder, velhota! – A possuída aponta a arma para
Dona Miranda.
— Spectrum Shield!!! — Materializo um escudo e me ponho na
frente de Dona Miranda.
— Morre, morre, morre… — A possuída descarrega o revólver,
felizmente atingindo somente o escudo.
— SPECTRUM PUNCH!!! — Esmurro a possuída, fazendo-a
atravessar a parede, indo parar na rua vazia, para minha sorte.
Dou um pequeno choque em Dona Miranda deixando-a
desacordada, não quero cometer o mesmo erro de antes. Não quero que ela
interfira, nem que se machuque.
— Spectrum Sword-Pistols! — Materializo minhas
Espadas-pistolas e faço vários disparos lasers na possuída, passando através do
buraco na parede, aproveitando que ela ainda estava atordoada.
A possuída revida esticando a língua que se transforma num
tipo de chicote. Recebo alguns golpes que soltam faíscas ao tocar minha
armadura, depois consigo me defender com as lâminas das Sword-Pistols.
— Spectrum Jet! — Propulsores nos meus pés me levam para o
alto, saindo do alcance da língua chicote.
A possuída tenta me pegar mas não consegue. Está na hora de
usar um ataque especial.
— Spectrum Storm! — Carrego minhas armas com energia máxima
e do alto faço diversos disparos.
Acerto todos os tiros laser na possuída, em diversas partes
do corpo.
— SPECTRUM KICK! — Me lanço contra a possuída, acertando-a
com um chute carregado de energia.
Uma explosão elétrica acontece, a pele da possuída começa a
rachar. A energia dela está no limite. Chega a hora do golpe final, mas eu
hesito… Sinto em Roberta o mesmo padrão do meu exorcismo anterior, se eu
finalizar, ela vai queimar junto do demônio.
— Qual é o problema, Cavaleiro? Não me diga que você quer
salvar a vida dessa humana? Vamos deixar a coisa mais interessante. Roberta, na
nossa forma atual eu não posso vencer esse babaca, me dê controle total para
que possamos nos vingar. Se entregue inteiramente a mim — O demônio tenta
Roberta.
— Roberta, não faça isso… — Eu tento intervir.
É em vão, Roberta aceita a proposta do demônio. Roberta some
e o demônio assume uma nova forma, muito mais poderosa. Asas surgem em suas
costas e os olhos se tornam vermelhos em brasa. Ele joga várias bolas de
energia em mim que explodem como se fossem granadas. Tudo se apaga…
— Roberta… — Volto a mim, um tanto confuso, armadura
rachada.
Olho em volta, não vejo Roberta. Pra onde ela foi. Agora sou
eu quem está com pouca energia. Ao invés de me curar e consertar a armadura,
conjuro a “Moto Spectrum”. Preciso achar Roberta.
— Onde você está? — Fico um pouco desesperado.
Finalmente ela aparece no meu radar, ela está em uma
residência próxima. Não tenho dúvidas, é a casa do Alexandre. O demônio quer
completar o contrato para ficar no nosso mundo para sempre.
— Ainda não desmaie, quero brincar mais, vocês humanos são
muito frágeis, quebram muito fácil! — O demônio diz enquanto quebra um dos
braços de Alexandre, que já está muito arrebentado.
Pra minha sorte, o demônio resolveu brincar com sua presa,
ao invés de matá-lo logo. Atropelo o demônio, levando-o para longe de
Alexandre, atravessando mais algumas paredes indo parar de novo na rua.
Quando paro a moto, o demônio cai um pouco à minha frente.
Desmaterializo a moto, vou precisar da energia dela e da minha capa, que é na
verdade energia reserva. Conjuro um novo escudo, um bem grande.
O demônio lança de novo seu ataque de bolas de energia
explosiva freneticamente. Dou uns passos para trás, o escudo começa a rachar, o
demônio não para.
No final das contas, sou apenas um humano comum. Assim que o
escudo quebrar e minha armadura for destruída, será o meu fim. O que devo
fazer? Como eu saio dessa?
Como se atendesse ao meu pensamento a Lágrima dos Anjos que
quando estou transformado orna o meu cinto, brilha como se fosse responder.
“Por favor, salve nossa irmã”, ouço as vozes dos irmãos de Roberta. Vejo
esferas de energia azul, que a Lágrima dos Anjos absorve. São lembranças.
Lembranças dos espíritos de quando era crianças. Por um segundo viajo enquanto
minha armadura se recarrega completamente.
Vejo Dona Miranda gripada, dormindo enquanto os três filhos
tomam conta dela.
— Galera, sei que nosso pai foi embora, mas nós estamos aqui
e temos que tomar conta da mamãe, certo? Vamos jurar… — A pequena Roberta
estufa o peito para falar.
— Certo… Nós vamos cuidar da mamãe daqui para frente! —
Promete Matheus.
— Isso ai, nunca vamos deixar nossa mãe sozinha! — Jorge se
junta aos irmãos num caloroso abraço em grupo.
A visão termina, estou carregado de uma nova energia, a
energia do amor entre irmãos. Minha armadura brilha, as rachaduras se fecham, a
capa ressurge em um vermelho luminoso. Os ataques do meu inimigo sequer podem
me arranhar. Preciso de uma nova arma,
imediatamente eu a imagino.
— Spectrum Mega Blade! – Uma poderosa claymore surge em
minhas mãos.
— Desgraçado, o que significa isso? — O demônio se preocupa.
— Roberta, nesse estado, como você vai cumprir sua promessa…
SPECTRUM FINAL JUSTICE!!! — Aplico um golpe horizontal e um vertical que emana
uma onda de energia em cruz.
Ao ser atingido, mais do que ferir o demônio mortalmente,
meu golpe traz de volta a consciência de Roberta. O demônio queima sozinho,
deixando para trás a alma inocente.
Uma Roberta arrependida abraça os irmãos, cujas almas se
iluminam. Eles já não são mais almas perturbadas e poderão ir para luz. Acabou,
hora de ir embora e fazer meu relatório para ordem, omitindo uma parte.
Alexandre tenta se levantar, não e consegue.
— Me ajuda ae, seu herói de merda! – Ele me diz.
— Vou te ajudar sim. Vou te ajudar a ver todo mal que você
tem no coração, talvez assim você se torne uma pessoa melhor — Levanto minha
Mega Blade.
— Perae, cara! Não faz isso, não… — Alexandre implora.
Carrego minha arma com todo o sofrimento que Alexandre já
causou aos outros e golpeio sua alma. Outrora eu posso ter perdido, mas hoje eu
venci completamente e tenho um novo poder. As forças do mal que me aguardem…
FIM
Escrito por Jeremias Alves Pires
Arte da armadura por Kiko Mauriz
2 Comentários
Véio do céu!
ResponderExcluirQue texto forte e poderoso!
Escrito em primeira pessoa ( o que dá uma dimensão muito maior ao personagem e herói Miguel), a gente entra na alma do protagonista, conhecendo seus anseios, temores e vulnerabilidades, mostrando sua humanidade.
Como é meu estilo de escrita colocar os personagens no centro da trama, foi uma grata surpresa ver você usar desse expediente.
Mandou bem demais!
Miguel, de modo visceral, expões suas tormentas e, ao mesmo tempo, seu heroísmo, tornando-um personagem riquíssimo e instigante, além de carismático.
Mas, o episódio tem várias camadas que foram exploradas com maestria.
Abordou a inveja dos Cavaleiros da Ordem da Luz, mostrando que, quando alguém se destaca, há sim o desprezou, o ciúme que acaba levando a exclusão de quem se destaca.
Uma crítica contundente.
Temos ainda as vibrações trevosas das pesdoas que atraem demônios obsessões sintonizados nessa baixa frequência e como o sentimento de vingança pode gerar problemas maiores e o perdão pode representar a redenção de quem está nas trevas.
Essa dualidade de emoções e suas consequências foram muito bem descritas por você !
Texto irretocável!
Valeu, meu amigo. Precisei de um pouco de coragem pra abordar alguns temas
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