30 - O poder de um piano
NOTA DOS AUTORES: Este capítulo do spin-off deve ser lido após o capítulo 30 de Amizade Estelar.
O dia anterior foi marcado por fortes e intensas emoções para Ryu Asuka.
A reabilitação dos seus poderes e do seu verdadeiro eu mostrara, principalmente para ele mesmo, a sua bravura e determinação...
Houve também o resgate dramático de seus pais, seguido pelo fortalecimento da sua amizade com os Maskman, assim como sua entrada para a organização dos Defensores do Planeta Terra...
Sem contar a conversa emocionante com o seu irmão recém-descoberto, Hiroki “Go” Asuka (o Blue Flash dos Flashman), além do perdão obtido...
O velho Ryu desacreditado de si mesmo começava a ficar no passado.
Uma mudança profunda, um verdadeiro divisor de águas estava ocorrendo em sua vida...
Mas, havia ainda um fator que o deixava triste...
Yuuko...
Sua falecida namorada, morta pelo Império Subterrâneo Tube..., e a razão dele ter deixado o Projeto Maskman anos atrás...
Durante a noite, ao se ver sozinho no seu alojamento, um melancólico Ryu clamava por seu nome em pensamento:
“Yuuko...”
“Meu amor...”
“Eu venho conseguindo superar muitas coisas...”
“Não mais sou o Ryu de antes...”
“Decidi aceitar o meu destino e lutar...”
“Mas ainda não superei a sua perda...”
“Me perdoe por não ter conseguido salvá-la...”
“Yuuko...”
E, no escuro do recinto, certo de que ninguém o veria, Ryu deixa lágrimas silenciosas correrem pelo seu rosto...
-----
O que Ryu não sabia era que, naquele mesmo momento, uma jovem muito especial se sentia fortemente atraída por ele.
E ela já não conseguia disfarçar seus sentimentos...
Essa jovem era ninguém menos que Jun Yabuki, a Yellow Four dos Bioman.
Alguns dos seus companheiros de equipe, inclusive, já haviam percebido isso...
Várias atitudes recentes de Jun apontavam para isso...
Seja por todo o apoio moral e psicológico que ela deu a Ryu desde a última luta contra Kiróz e Wandar...
Seja pela grande solicitude com que ela ajudou Ryu a se ambientar na base dos Defensores, fosse atuando como guia para lhe mostrar todas as instalações, ou até se voluntariando para auxiliá-lo nos treinos...
Jun não estava sendo tão discreta como ela acreditava...
Estava claro o interesse de Jun no novo membro dos Defensores.
Mas, naturalmente, sequer passou pela cabeça de ninguém ali fazer qualquer comentário público sobre isso...
Alguns, por discrição e respeito à privacidade de Jun...
Mas, a maioria simplesmente porque não queria “mexer com a fera”...
A convivência com Jun fez, principalmente os Changeman, perceberem que Mai encontrara uma “rival” à altura em matéria de personalidade.
A Bioman amarela conseguia ser tão invocada e geniosa quanto a Changeman rosada...
Coube então a Hikaru a “missão” de perguntar reservadamente à amiga o que todos já desconfiavam...
Um dia, após o almoço, Hikaru convida Jun para uma caminhada pelo campo de treinamento da base, que ela sabia estar vazio àquela hora do dia.
Jun, é claro, já conhecia Hikaru o suficiente para saber que tal convite teria algum motivo ulterior. Mas o que podia ser, ela não tinha ideia...
De qualquer maneira, ela aceita e as duas parceiras de esquadrão caminhavam pelo campo aberto e vazio, onde teriam privacidade para conversar, sem serem interrompidas.
Até Hikaru dispara:
-Jun, você gosta do Ryu, não é?
Jun, é claro, se surpreende com aquela pergunta tão direta...
Várias perguntas lhe vêm freneticamente à mente:
“Como ela sabe disso...?”
“Será que dei muita bandeira...?”
“Alguém mais sabe disso...?”
Seu primeiro impulso é de negar, não gostando de demonstrar fraqueza...
Até que Jun se lembra que ela estava conversando com Hikaru, sua melhor amiga...
Hikaru jamais tentaria constrangê-la ou zombar de seus sentimentos. Muito provavelmente ela perguntou aquilo apenas porque queria ajudá-la.
Mesmo assim, Jun nada responde num primeiro momento, sua mente em conflito sobre se deveria dizer a verdade ou não...
Hikaru, por sua vez, aguarda pacientemente em silêncio, dando a sua amiga todo o tempo que precisasse para organizar seus pensamentos.
Até que, visivelmente encabulada, Jun acaba confessando:
-Hikaru..., eu tô na dele sim...
-Ele me salvou... e em mais de uma ocasião... – ela diz, se referindo às lutas contra La Snakeryn e a última contra Wandar e Kiróz.
-E, desde então, eu senti algo diferente...
-No fundo, eu sabia que por trás daquele comportamento distante e omisso, existia uma pessoa valorosa...
-Confesso que isso me atraiu muito no Ryu...
-E, quando percebi, estava encantada por ele...
Jun então engole em seco e, tensa, imediatamente emenda:
-Mas, não gostaria que ninguém mais soubesse disso...
Hikaru sorri, deixando escapar uma leve risada.
Jun, um pouco ofendida com aquela atitude, pergunta:
-Qual é a graça, Hikaru?
Hikaru responde:
-Todos já sabem, Jun...
-Você deu muita bandeira...
Jun sente o rosto corar, cobrindo-o com as mãos:
-O quê!?
-Sério!?
-Meu Deus! Que vergonha!
Hikaru faz uma pequena repreensão de leve:
-Deixe de besteira, amiga!
-Ninguém aqui está te julgando!
-Olhe para a Mai e o Hayate...
-Olhe para o Jin e Nana...
-Se apaixonar por alguém é a coisa mais normal do mundo...
-O que tem de errado nisso?
-Isso não é nenhuma fraqueza ou pecado!
-Fico feliz por você, amiga... – ela completa, com um sorriso genuíno.
Jun, mais tranquilizada com as palavras de sua amiga, finalmente sorri:
-Obrigada, Hikaru...
-Você está certa!
-Isso não é algo para sentir vergonha...
-É que..., passei tanto tempo focada apenas na minha carreira esportiva..., que nunca aprendi direito a lidar com sentimentos...
-Isso é meio que território novo para mim...
A expressão de Jun então fica mais séria:
-Será que tenho alguma chance? – ela pergunta, sua voz denotando um pouco de insegurança.
-Ele é tão quieto, parece tão sério...
Hikaru pisca para Jun e responde:
-Talvez seja timidez...
-Nem todos os rapazes são “atirados” como o Hayate...
-Não custa tentar...
As duas sorriem.
-----
No dia seguinte, após os exercícios matutinos (uma rotina diária dos Defensores para manterem a forma), Jun andava pela base e, meio que por acaso, acaba adentrando na sala de recreação da base dos Defensores...
No local, que estava vazio, ela encontra um piano que normalmente era tocado por músicos contratados para confraternizações.
Sem muito o que fazer naquele momento, Jun se senta ao piano e começa a tocar para passar o tempo.
Do lado de fora da sala de recreação, Ryu também perambulava pela base, sem nenhum destino em mente...
Era seu terceiro dia na base dos Defensores e ele ainda estava se familiarizando com o local.
Até que ouve um tocar de piano e, atraído pelo som, segue em direção à sala de recreação.
Curioso, ele se pergunta:
-Um pianista...?
-Que toca tão bem como a Yuuko...?
Ao adentrar no recinto, ele nota uma garota sentada ao piano, tocando-o...
Como ela estava de costas para ele, a garota não o percebe de início...
Mas, mesmo pelas costas, Ryu reconhece imediatamente quem era a pianista...
Difícil não a reconhecer, considerando como ela tem lhe sido tão prestativa desde que ele chegou à base.
“Jun...?” – ele pensa.
“Não sabia que ela tocava piano...”
Ele até reconhece a música sendo tocada: a Nona Sinfonia de Beethoven...
Que, coincidentemente ou não, era uma das favoritas da Yuuko.
Não querendo interrompê-la, Ryu permanece em silêncio, apenas apreciando o som.
Jun, concentrada, não havia percebido a presença de Ryu, que a olhava admirado.
Enquanto ouvia, uma estranha sensação começa a tomar conta do rapaz...
Uma sensação que ele não sentia há muitos anos...
Ryu não conseguia identificar de imediato o que era. Porém, se tivesse que descrever a tal sensação, era como se uma chama, há muito tempo apagada dentro dele, começasse a arder novamente...
Alguns minutos se passam e a música se aproxima do final...
Quando Jun termina de tocar, ela ouve palmas.
Ela se vira e fica surpresa ao ver que Ryu estava lá, ouvindo-a tocar:
-Ah, Ryu? É você...? – a guerreira amarela diz, tentando disfarçar o nervosismo ao descobrir que o rapaz estava lá esse tempo todo, sem ela notar.
-Nem percebi que você estava aí...
Ryu, para quebrar o gelo, comenta:
-Que surpresa agradável! Não sabia que você tocava piano...
-Onde você aprendeu?
Jun responde, um pouco encabulada:
-Uma amiga muito querida, já falecida, gostava de tocar e me ensinou um pouco, quando ainda era viva...
-Sumire era o nome dela...
-E a Hikaru, que é flautista profissional, também me ensinou algumas técnicas...
-Claro, não pretendo ser tão boa quanto elas, mas...
-Embora a arquearia seja a minha grande paixão, nas horas vagas, eu toco um pouco de piano para relaxar...
-Depende do meu humor no dia...
Ryu então pergunta:
-Essa música que você tocou... é a Nona Sinfonia de Beethoven, não é?
Jun responde, empolgada ao descobrir que Ryu conhecia a música:
-Sim, é sim...
-Você também gosta de piano?
Naquele momento, Ryu decide falar um pouco sobre a sua vida:
-Minha falecida namorada era uma exímia pianista...
-Apesar da minha paixão ser as artes marciais, eu também aprendi a tocar um pouco com ela...
Ryu, em pensamento, admite que o piano era, na verdade, apenas uma desculpa para passar mais tempo com Yuuko. Mesmo assim, depois de algumas sessões, ele acabou aprendendo uma coisa ou outra.
-Éramos muito felizes... – ele prossegue.
-Até que...
Ryu abaixa a cabeça...
-Ela foi morta pelo Império Tube e eu nada pude fazer para impedir...
-Yuuko...
O sorriso no rosto de Jun morre...
Ela havia se esquecido que, quando ela foi com Mai e Hikaru visitar a casa da senhora Ohana Asuka, mãe de Ryu, esse fato trágico havia sido mencionado.
Sem graça, Jun diz:
-Eu sinto muito...
Ryu, com semblante triste, diz:
-Essa é uma parte da minha vida que não superei ainda...
-Até pouco tempo atrás, eu não suportava ver nenhuma mulher tocar piano...
-As memórias da morte da Yuuko sempre acabavam por vir à tona...
-As memórias da minha incapacidade de salvá-la...
-Eu me sentia muito frustrado...
-Às vezes, eu até me enfurecia injustamente com a pessoa... – ele admite, envergonhado do seu antigo comportamento.
Jun nada fala, permanecendo em silêncio. Ela sabia que Ryu precisava desabafar o que carregava no peito.
Ryu então olha para Jun e diz, num tom meio tímido:
-Não sei explicar, mas... dessa vez, com você, foi diferente...
-Eu, pela primeira vez, não senti frustração, nem raiva...
-Pela primeira vez..., eu senti paz...
Jun sempre foi uma garota decidida e segura de si, mas mesmo ela não pôde evitar um leve rubor em seu rosto ao ouvir aquilo de Ryu.
Um silêncio um tanto constrangedor paira entre os dois...
Felizmente, Ryu quebra o silêncio, tentando mudar de assunto:
-Mas, deixemos essas coisas tristes no passado...
-Ainda mais porque tivemos tantas alegrias recentemente...
-Como a descoberta de nossos irmãos, não é mesmo?
Ao ouvir aquilo, o sorriso volta aos rostos de Jun e Ryu.
Daquele momento em diante, os dois conversam sobre seus respectivos irmãos, Dan e Go.
Ambos estão muito felizes por terem reencontrado seus familiares, há tanto perdidos. E conversam sobre como foram suas vidas desde o rapto de seus irmãos até agora.
Jun já sabia de boa parte da vida pregressa de Ryu (afinal, ela havia conversado anteriormente sobre isso com a mãe dele, além do Mestre Sugata, que fora mentor de Ryu), então foi mais ela falando, e ele ouvindo...
Durante a conversa, Jun conta sobre sua amizade com a falecida Sumire, sua carreira esportiva em arquearia e, obviamente, sua luta ao lado dos Bioman contra o Doutor Man e o Império Neo Gear...
Jun também confidencia a Ryu que a relação dela com a própria mãe, a senhora Yukari Yabuki, também não foi boa por muito tempo. Ela admite que as duas viviam brigando, tendo como motivo principal o fato de Jun ter deixado sua carreira esportiva de lado para se juntar aos Bioman...
A situação entre elas só melhorou depois da descoberta de Dan como o irmão desaparecido de Jun.
Ryu não pode deixar de perceber o quanto a situação deles era inusitadamente similar:
-Pelo visto, temos mais coisas em comum do que o gosto pelo piano...
Ele começa a enumerar nos dedos:
-Nós dois tivemos irmãos raptados muito tempo atrás...
-Nós dois tivemos problemas com nossos pais por muitos anos...
-Nós dois passamos pela dor de perder pessoas queridas e importantes em nossas vidas...
Um lampejo de tristeza passa momentaneamente pelos rostos de Ryu e Jun, mas é rapidamente contido, e Ryu continua:
-Nossos irmãos são amigos e, o que é mais intrigante...
-Ambos são integrantes dos Flashman...
Jun sorri:
-É verdade...
-Tantas coincidências...
Até que, por alguma razão inexplicável, Jun sente um impulso momentâneo de ousadia...
À sua mente, vem a conversa que teve com Hikaru no dia anterior:
“Talvez seja timidez...”
“Nem todos os rapazes são “atirados” como o Hayate...”
“Não custa tentar...”
E, antes que pudesse racionalizar melhor, ela comenta:
-Se bem que..., Lorde Titã do Planeta Flash sempre diz que “não há coincidências no universo”...
-Será que isso tudo é coincidência mesmo?
Jun imediatamente arregala os olhos e leva a mão à boca, ao perceber o que tinha acabado de falar...
“Meu Deus! De onde veio isso...?” – ela pensa, chocada.
“Por que fui falar aquilo...?”
“E se ele pensar que estou “avançando o sinal”...?”
Do seu lado, Ryu sente seu rosto corar levemente ao ouvir aquelas palavras de Jun.
Tendo passado boa parte de sua vida sozinho, Ryu não era exatamente um especialista em entender os sentimentos de outras pessoas...
Mas, mesmo ele não podia deixar de questionar o significado daquelas palavras...
“O que ela quer dizer com...?” – ele pensa, sua mente frenética.
“Será que ela...?”
“Não, não deve ser isso..!” – sua mente imediatamente nega.
“Nós acabamos de nos conhecer...”
“Eu é que estou imaginando coisas...”
Novamente um silêncio incômodo paira entre os dois...
Até que, mais uma vez, por alguma inexplicável razão, uma frase que Ryu ouvira antes de Takeru, o Red Mask, lhe vem à mente:
“Pare de olhar para o passado, Ryu! Construa um novo futuro!”
E tais palavras parecem injetar um impulso momentâneo de ousadia em Ryu, que então diz:
-Jun...
-Você ficaria brava se eu tocasse uma música ao piano junto com você?
Agora é a vez de Jun ficar vermelha.
Seu coração bate forte...
Mas, ela rapidamente disfarça:
-Claro que não...!
-Seria muito bacana...
-O que vamos tocar?
Ryu responde:
-Eu quero que você escolha a canção...
Jun pensa um pouco e decide tocar “Tocata e Fuga em Ré Menor” de Sebastian Bach, que é aceito por Ryu...
E, sentados lado a lado, eles começam a tocar juntos o piano...
-----
Enquanto Jun e Ryu tocavam, sem que percebessem, os dois eram espionados por Mai e Hikaru, que estavam atrás da porta da sala:
Em voz bem baixa para que o casal não percebesse, Mai cochicha ao ouvido de Hikaru:
-Danadinha a Jun, não acha...?
-Ela não perde tempo...
E Hikaru cochicha ao seu ouvido em resposta, sorrindo:
-Pois é...
Alguns minutos se passam e Hikaru cochicha novamente:
-Deixemos os pombinhos em paz...
-Vamos dar uma volta...
-Se a Jun souber que estamos espiando, ela vai ficar brava com a gente...
-Eu já a conheço a tempo suficiente para saber que ela é assim.
Mai concorda e sussurra:
-Tem razão, amiga...
-Eu também não posso falar nada...
-Eu tô enroscada com o Hayate... e também ficaria brava se pegasse alguém nos espionando...
-É melhor deixarmos o “casalzinho” se conhecer melhor...
E as duas guerreiras rosadas se retiram.
Já longe, em outra parte da base, Mai pergunta:
-Acha que vai rolar algo entre eles, Hikaru?
Hikaru balança a cabeça, em negativa:
-Beijo não deve rolar não, Mai... Tá muito cedo...
-Dificilmente ela vai queimar etapas..., por mais que ela esteja na dele...
-A Jun só parece brava... Mas, na verdade, ela é bem tímida...
-Eles acabaram de se conhecer...
-Mas, no demais... torço para que a relação entre eles dê certo, Mai...
Mai concorda, fazendo figa com as mãos:
-Sim, com certeza...
-----
Ainda na sala de recreação, uma sintonia melódica perfeita se estabelece...
As notas ao piano são executadas com ótima precisão.
Internamente, ambos se surpreendem.
Afinal, era a primeira vez que Ryu e Jun tocavam piano juntos...
Mas a sincronia no teclado entre eles era tão boa que parecia que já praticavam juntos há anos...
Alguns olhares, inevitavelmente, são trocados...
Após a finalização da música, Ryu faz menção de sair, mas não sem antes agradecer por aquele momento e destacar que gostaria de repetir a dose em breve.
Jun não sabia o que pensar...
Seu coração parecia não caber dentro de seu peito...
Aquela tarde seria inesquecível para a Bioman amarela.
xxxxx
Mais tarde, antes do jantar, Hikaru chama Jun para conversar reservadamente:
-E então, Jun...?
-Como foi a tarde com o Ryu?
Jun fica pasma com aquela pergunta e, antes que ela questionasse, Hikaru já se antecipa e responde:
-Eu passei em frente à sala de recreação hoje à tarde...
-E vi você e o Ryu tocando piano juntos...
Jun já ia esbravejar, mas Hikaru mais uma vez se antecipa ao que ela ia dizer:
-Mas, fique tranquila que não fiquei espiando vocês...
-Tão logo percebi que vocês estavam lá, eu me retirei do local.
Claro, Hikaru diplomaticamente decide não mencionar que, além dela, Mai também estava presente, e que elas observaram a cena por alguns minutos antes de se retirarem...
Melhor não irritar a “fera”...
Já mais tranquilizada, Jun pensa um pouco e, após alguns momentos, responde:
-Foi... bom...
-Na verdade... foi muito bom!
Hikaru permanece em silêncio, pois sabia que sua amiga ainda tinha mais a dizer. Jun estava apenas tentando encontrar as palavras certas para descrever o ocorrido...
Após alguns minutos, Jun prossegue:
-Eu fiquei feliz..., em saber que o Ryu também aprecia tocar piano...
-E me surpreendi ao ver que ele conseguia me acompanhar no teclado...
-Saber que ele tem um bom gosto musical..., mostra que ele tem uma alma sensível debaixo daquele semblante arredio...
-A conversa que tivemos depois só reforçou minha visão sobre ele...
-Realmente... fiquei muito feliz... – Jun finaliza, com um sorriso tímido.
Hikaru, por sua vez, esboça um largo sorriso ao ver que sua amiga deu um grande passo na sua relação, e pergunta:
-Mas e aí...?
-Acha que vai rolar algo entre vocês em breve?
A expressão no rosto de Jun fica mais séria e ela responde, num tom mais indeciso:
-Ah... Hikaru, sabe...?
-Eu tinha esquecido..., que ele perdeu a namorada de uma forma traumática...
-Durante nossa conversa, ficou claro que ele ainda pensa nela...
-Superar algo assim não será tão fácil...
Segurando as mãos de Hikaru, ela continua:
-Admito que fiquei meio chateada do Ryu, mesmo após tudo o que passou, ainda permanecer preso ao passado assim...
-Eu entendo a dor dele, mas ele ainda tem a vida inteira pela frente...
-Você sabe como eu sou...
-Sempre fui da opinião que ficar se lamentando do passado não adianta, e acabar se fechando para outras oportunidades...
-Mas, não posso e não tenho o direito de forçá-lo a mudar...
-Isso tem que partir dele..., e no ritmo dele...
-Ele é uma alma boa e generosa...
-No entanto, é também um cara cheio de grilos e culpas...
-Eu tenho que ter cuidado...
-Não quero correr o risco de estragar tudo, por agir de modo apressado e rude...
Hikaru assente com a cabeça e, após pensar um pouco, a aconselha:
-É, Jun...
-Relacionamentos não são fáceis...
-Vocês mal acabaram de se conhecer...
-É natural essa dificuldade...
-Se você acredita no seu sentimento, fez bem em se conter e ser prudente...
-Acho que você está no caminho certo...
-Eu sei que você é intensa...
-Mas, lembre-se que o Ryu acabou de passar por um momento de grande turbulência emocional...
-Além dele ter ficado muito tempo afastado de contato humano, o que o tornou meio antissocial...
-Mas, dê tempo ao tempo...
-Pouco a pouco, ele deve sair do “casulo” e abrir o coração a novas pessoas...
-Pode demorar, mas se você acredita mesmo nessa relação, então vale a pena ser paciente.
Jun e Hikaru se abraçam.
Jun agradece:
-Obrigada pelos conselhos, Hikaru...
-Saiba que esses anos de amizade com você me ensinaram muito...
-Eu era, e ainda sou meio bruta... Mas, aprendi com você que uma mulher pode sim ser forte, sem, no entanto, perder a delicadeza...
-Por mais difícil que seja, eu vou perseverar nesse caminho...
-Não posso avançar o sinal...
xxxxx
À noite, antes de dormir, Ryu, da janela de seu alojamento, olhava a lua cheia que iluminava o céu...
Ele estava confuso...
Ele continuava a pensar em Yuuko...
Um grande amor não se esquece assim, tão facilmente...
Mas, naquela noite, havia algo diferente...
Uma outra pessoa começava a dividir o espaço de sua mente...
Por mais que ele quisesse negar, essa outra pessoa lhe chamara por demais a atenção.
Seu nome?
Jun Yabuki...
Isso só prova o quão poderoso pode ser um tocar de piano...
 
 


 




 
			




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 Comentários
E mais um casal se forma em Amizade Estelar (como a formação de casais é narrada principalmente no spin-off, ele deveria mudar o nome para "Crônicas de Romance Estelar" rsrs)... O fato da Jun ter sido salva pelo Ryu, além de toda aquela atenção que ela vinha dando a ele em capítulos passados, não foram à toa...
ResponderExcluirPercebe-se que a dinâmica da formação desse terceiro casal (Jun e Ryu) foi diferente da dos dois casais anteriores (Mai e Hayate, Jin e Nana). Cada casal teve um desenrolar próprio, mais adequado para as personalidades de cada um...
Mai e Hayate são mais diretos e ousados, além de terem uma certa preocupação com reputação pessoal (Mai não gostava de parecer fraca, e Hayate se via como um galã conquistador). Então o desafio para eles era superar o orgulho e permitirem-se baixar a guarda um para o outro...
Jin e Nana são mais tímidos e inexperientes no que se refere a relações pessoais, além deles terem uma certa baixa auto-estima (Jin se via como um líder Red "inferior", e Nana se tornou adulta muito rápido, sem tempo para amadurecimento emocional). Então o desafio para eles era superar a timidez e a insegurança, e admitirem seus sentimentos um para o outro...
Jun e Ryu são mais arredios e "ariscos", devido a experiências passadas (Jun teve uma relação que não deu certo com Shota, e Ryu perdeu a namorada de forma trágica). Então o desafio para eles era superar o medo de se ferir de novo e se permitirem abrir um para o outro...
Note o contraste com o comportamento usual da Jun nesse capítulo, com a quantidade de vezes que ela ficou corada enquanto conversava com o Ryu. O fato dela agir de modo diferente quando o Ryu está presente é o que "entrega o jogo". Note também que foram exatamente os "momentos de impulsividade" de Jun e Ryu (ao lembrarem de palavras ditas por amigos no passado), o gatilho que aproximou os dois. Sem essa "ajuda externa", os dois provavelmente não sairiam do lugar.
Grande trabalho, Jirayrider!
Grande foi o teu comentário, meu amigo e parceiro de fanfic, prezado Pokemon!
ExcluirVocê traçou, de modo prefeito, as personalidades dos três casais que se formaram em Amizade Estelar
Cada casal ( Jin/Nana , Hayate/Mai e Ryu/Jun) tiveram uma construção diferente.
Você foi no cerne da questão.
Além dos laços familiares entre os 4 Esquadrões presentes nessa história, temos os laços amorosos, integrando-os ainda mais.
Agradeço uma vez mais pela parceria e por me presentear com as melhorias que tornou esse capítulo ainda melhor.
Gratidão
Muito legal a menção à Nona Sinfonia de Beethoven, que é a música que toca na luta entre o Change Dragon e o Buba no episódio 52 de Changeman. E também à Toccata e Fuga em Ré Menor, uma das minhas músicas favoritas da era do barroco na música clássica. E quanto ao Ryu, acho que ele passa pelo mesmo dilema que o Kenshin passou em Samurai X quando começou a se envolver com a Kaoru e toda a questão envolvendo a Tomoe, que ele mesmo matou na época em que era Battousai o retalhador. Vamos ver como que ele vai descascar o abacaxi. Acho que ele é um que tem bom gosto para garotas, no fim das contas.
ResponderExcluir