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Cavaleiro Exorcista Spectrum´-EX: Festa de Carne


DESAPARECIDOS: FESTA DE CARNE

Cavaleiro Exorcista Spectrum-EX

Escrito por Jeremias Alves Pires


🛡️ Sinopse


Quando um ônibus lotado desaparece misteriosamente em São Paulo, o Cavaleiro Exorcista Spectrum-EX é convocado para investigar. O que começa como um caso sobrenatural se transforma em uma jornada aterradora por Ernac — um mundo sombrio onde humanos são tratados como gado e servem de banquete para uma raça cruel. Armado com magia, coragem e uma aliada improvável, Spectrum-EX enfrenta horrores indescritíveis para salvar os desaparecidos e impedir o macabro Festival da Carne.




PARTE — I: Os Desaparecidos



Jamais diga que já viu de tudo, que sabe de tudo. A vida tem o dom de nos surpreender, seja de modo belo e doce ou de maneira tenebrosa, amarga… 



Eu trilho meus dias combatendo o sobrenatural, tendo o dom de caminhar livremente pelo mundo dos vivos e dos mortos, podendo materializar uma armadura e armas conforme minha vontade, tudo por causa de um anel mágico chamado “Lágrima dos Anjos”, a arma arcana mais poderosa da Terra. Assim sendo eu achava que já tinha visto o mal em todas as suas formas, sendo muito difícil me surpreender e quase impossível me assustar, porém aconteceu. Algo me assustou e assustou muito.



Tudo começou num dia comum, num final de tarde, final do expediente de uma loja de roupas na zona leste de São Paulo. Os clientes e funcionários já haviam partido e a dona já estava baixando a porta de aço, quando um arrepio na espinha a fez olhar para trás e se jogar para o lado, salvando sua vida. Um ônibus desgovernado veio em sua direção, arrebentando a porta de aço, invadindo e destruindo sua loja.



As autoridades foram chamadas e chegaram rapidamente, qual não foi a surpresa ao constatar que o ônibus estava vazio. Motorista, cobrador e passageiros haviam sumido sem deixar rastros. Câmeras revelaram que minutos antes, o coletivo estava lotado.



Ocultar o caso deu muito trabalho a Ordem da Luz. Foi necessário um necromante que conjurou um feitiço para encher o ônibus de corpos e depois os fazer pegar fogo, destruindo o que restou do ônibus e da loja. Uma sereia foi requisitada depois para embutir com seu canto um pesadelo onde o ônibus batia, pegava fogo muito rapidamente e matava todos os tripulantes, restando somente um punhado de cinzas, onde ninguém poderia ser identificado. Um valor significativo foi usado para que o caso não fosse divulgado na imprensa. 



Não gosto disso, assim como não gosto do envolvimento da Ordem da Luz com o governo, mas concordo que histeria coletiva  seria um mal muito maior, talvez até impossível de ser combatido. É muito melhor para a humanidade viver pensando que os piores monstros de sua imaginação, nada são além de contos infantis, ou ela enlouqueceria, nunca mais dormiria.



Tudo estando a contento, o ônibus foi recolhido para um ferro velho de posse da Ordem, e o caso foi passado para mim, já que eu estava ali mesmo na região da zona leste.



Faltavam quinze para meia-noite, o dono do ferro velho, um homem baixinho e barbudo, que se não fossem as roupas modernas, seria com certeza um belo personagem de RPG, me aguardava impaciente, diante do que tinha restado do ônibus.



— Cadê esse cavaleiro de merda… Eu tenho que levantar cedo amanhã… Que droga… — Ele reclamava.



Uma das coisas que aprendi em minhas batalhas é que sempre devo ser cauteloso. Cheguei até antes do horário combinado, mas permaneci na minha forma de fantasma e verifiquei canto por canto do ferro velho, que aliás era bem grandinho, cheio de carros sucateados. Só quando me senti seguro, me materializei diante do homem baixo.



— Boa noite! Sou o “Cavaleiro Exorcista Spectrum-EX”, desculpe fazê-lo esperar, esse é o tal ônibus? — Fui gentil, mas direto ao me manifestar. Não trajava minha armadura, mas uma vestimenta de detetive de quadrinhos antigos, com a qual me sinto muito bem, me sinto heróico.



— Até que enfim, você tava cagando por acaso, veio de ré? Palhaço!!! — O homem baixo se mostra realmente furioso.



— Desculpa, não vai acontecer de novo. Fico te devendo uma cervejinha, ok?



— Daquela importada, não me venha com nada barato..



— Combinado… Qual é o seu nome mesmo?



— Henrique, meu nome é Henrique…



— É um prazer conhecê-lo, Henrique…



Me torno um pouco mais material, para Henrique poder apertar minha mão, o que ele faz ainda um pouco nervoso, mas meu tratamento cordial vai acalmando-o aos poucos.



— Certo… Promessa é divida… Vamos trabalhar… Deixa eu ajeitar as coisas pra você… “Divinum concentus”!



Henrique começa a brilhar e toca o ônibus incendiado, que vai pouco a pouco sendo reconstruído, até ficar como se tivesse saído de fábrica.



— Henrique, seus poderes são realmente incríveis, meus parabéns!



— Obrigado, cavaleiro! Minha reconstrução é tão perfeita que restaura até as energias que já permearam o veículo, assim com seus poderes de fantasma você vai poder fazer uma leitura precisa sobre o que aconteceu. Bem… Eu vou dormir, tenho muita coisa para fazer amanhã cedo, fique a vontade.



Henrique se despede e me deixa sozinho para usar meu dom sem ser interrompido.



Começo simplesmente andando pelo ônibus, sentindo sua egrégora. Vejo o motorista, vejo pessoas entrando e saindo, nada fora do comum. Então, de repente, uma luz vermelha intensa e um cheiro terrível que não consigo reconhecer, todos desaparecem. 



Volto a cena várias vezes, até que noto que segundos antes da luz vermelha, um tipo de escrita luminosa surgiu na lataria. A escrita me é estranha, como se não fosse do nosso mundo.



Concentro energia do meu anel, a Lágrima dos Anjos e a redireciono para as marcas, refazendo-as, ativando-as. Meu corpo todo se arrepia, sinto uma leve tontura, como se meu corpo tivesse acabado de girar, sinto um frio intenso, estou entrando em um outro mundo… Um choque, levo um violento choque e perco os sentidos.



PARTE — II: Homem Cinzento



Quem nos protege quando já não somos donos de nossos sentidos e estamos entregues a um forçado adormecer, onde não podemos distinguir o passar de segundos com o de horas, sujeitos a toda sorte de infortúnios, sem que possamos esboçar qualquer gesto de defesa? Qual força olha por nós? Quem nos vale? Seja quem for, tem minha total gratidão.



Acordei na minha forma humana, acontece quando sou nocauteado, momento no qual posso ser morto facilmente, meus poderes dependem de muita concentração. Sinto o chão frio, metalizado, logo reconheço nele as mesmas runas que tolamente ativei no ônibus. 



Ao olhar em volta vejo paredes com pequenas luzes em formas geométricas perfeitas e variadas, sua textura parece muito com a pele enegrecida de odor forte, enjoativo, desconhecido. Reconheço o que parecem ser portas  e grandes formas arredondadas, metalizadas como o chão.



Estou numa área grande, caberiam tranquilamente umas cem pessoas e confortavelmente todos os desaparecidos do ônibus.



A luz é fraca, mal consegue vencer a escuridão, como se algo quisesse devorar qualquer esperança. Meu corpo está arrepiado de um modo diferente, me sinto como um peixe retirado do oceano e posto em um aquário, estranhando totalmente o ambiente. 



Fico em pé com dificuldade, levei um choque dos bons, sinto uma certa dificuldade para respirar, não por qualquer condição física afetada, mas pelo ar ser algo diferente do que estou acostumado.



Onde estou? Onde estão os desaparecidos? Confusão e medo me tomam. Ouço barulho de engrenagens, um pouco atrás de mim. Um alçapão se abre e dele sai o que deveria ser um homem, mas sua pele é cinzenta, cabelos curtos vermelhos, alto e anormalmente magro. Usava uma roupa azul cromada, que parecia ser feita sob medida, deixando apenas a cabeça e as mãos de dedos longos para fora.



— Graurarrr! – Ele disse, ou somente rosnou, não sei dizer, mostrando dentes pareciam os de um tubarão, com uma expressão confusa. Estava claro que eu não deveria estar ali.



— É… Oi! Que lugar é esse? — Sem saber o que fazer, decidi tentar abrir um diálogo cordial com a coisa…



Ele mexe a boca de um jeito estranho, para lá e para cá, como se estivesse fazendo um ajuste e no meu idioma ele diz:



— Carne… Como você chegou aqui sozinho? Carne, carne, como você pode ainda estar vivo!!! — A coisa dá um toque no próprio peito com a mão direita, ativando alguma coisa.



A Lágrima dos Anjos brilha, me avisando que algo irá atentar contra a minha vida. O chão metálico se ilumina, como se tivesse luz própria. Salto e assumo por puro instinto minha forma fantasma, escapando de uma descarga elétrica mortal, que rapidamente se dissipa e o chão volta ao normal.

  

— Se você não quer conversar, vai mais é apanhar!!! — Seguindo o desejo ardente por combate da minha alma, a Lágrima dos Anjos se transforma em um cinto e materializa minha armadura de batalha, que me dá proteção física e minha capa vermelha, cheia de inscrições mágicas, me dando proteção espiritual, na sequência soco meu inimigo declarado, jogando-o contra a parede.



— Carne, você sabe lutar… Que bom!!! — O humanoide magrelo toca novamente o traje e seu corpo fica mais forte, com músculos exagerados, ao final uma espada de energia surge em sua mão direita e um outro som me diz que o lugar está trancado, tornando-se uma arena.



— Eu aceito seu desafio… Spectrum Sword-Pistols! — A Lágrima dos Anjos, agora transformada em cinto, atende mais uma vez meu desejo e minhas armas favoritas, um híbrido de pistola laser e sabre de luz,  surgem em minhas mãos.



Eu e o humanoide partimos na direção um do outro e nossas espadas se chocam várias vezes em total frenesi. Sou forçado a admitir que adoro lutar e meu oponente se mostra digno, dedicado a batalha. 



Eu não sou um entusiasta, mas sim um guerreiro vindo de muitas vitórias de batalhas duras e sangrentas, o humanoide logo é desarmado e posto de joelhos, devendo agradecer ao céu por eu não ter nenhum motivo para ceifar sua vida.



— Você me chamou de “carne”, eu sou o “Cavaleiro Exorcista Spectrum-EX” e acabo de te vencer em um duelo justo… Sua vida me pertence… Onde estão os meus iguais? — Cruzo minhas espadas na garganta do humanóide, ameaçando-o ferozmente.



— Não me mata, car… Quero dizer, Spectrum. — O humanóide implora, sua coragem o havia abandonado-o vergonhosamente e ele volta a ter uma aparência fraca.



— Onde eu estou? Que lugar é esse? Fale!!!



— Ernac… Império de Luerc…



Não consigo terminar meu interrogatório, as portas de onde antes eu lutava empolgado são destrancadas e me vejo cercado por mais homens cinzentos,  todos em forma de combate, com músculos saturados e armados com o que parecem ser canhões laser.



— Não se mexam!!! — Eu digo, tentando usar o humanoide que derrotei como refém.



— Carne… Você não nos conhece… — O que parece ser o líder diz sendo o primeiro a disparar, matando o próprio companheiro, acertando sua cabeça que explode como um balão cheio de sangue negro ao ser atingido. 



Os homens cinzentos tem alma de demônio… E agora estou cercado por eles.



PARTE — III: Processamento



Quantas vezes será que minha forma de fantasma irá salvar minha vida, mais que minha armadura e capa mágica? Penso nisso enquanto vejo os disparos das armas de meus inimigos passarem por mim, atingindo paredes e até alguns deles, cujos corpos com buracos do tamanho de uma maçã no corpo,  jazem no chão, tingindo-o do negro de seu sangue.



Conto oito homens cinzentos caídos e vinte e dois em pé. Não sinto no meu coração desejo de matar, por isso minhas armas, sendo uma extensão de mim mesmo, disparam raios atordoantes. Chega a ser um combate covarde para eles, acerto todos sem sofrer um arranhão. Meus inimigos não possuem uma grande efetividade contra inimigos que usam magia, isso é muito bom, me acalma um pouco.



Não tenho dúvidas que logo vão haver mais homens cinzentos para enfrentar, assumo mais uma vez minha forma de fantasma, de modo mais profundo, não podendo mais ser visto ou tocado. 



Preciso explorar o lugar, saber onde estou. “Ernac… Império de Luerc”, foi o que eu ouvi. Flutuo atravessando o teto calmamente, se estiver em uma nave, posso ficar perdido no espaço. Há três brilhos no céu, sois tentando vencer o espírito sombrio que cobre a tudo. 



Estou bem alto, de modo que a vista pode alcançar longe. Abaixo de mim vejo um amontoados de domos, ligados por túneis de diferentes tamanhos, são muitos, sai de um dos menores. É um tipo de cidade pós apocalíptica no meio de um deserto.



Meu coração está gelado, nunca estive fora da Terra. Preciso me acalmar, continuar explorando. Escolho outro domo e… Meu Deus? Como posso descrever o horror do que vi?



Imagine que você é um boi, entrando em um matadouro… Essa visão medonha foi a que tive. Nesse domo em que entrei, corpos humanos eram “processados” de forma organizada.



Os corpos chegavam e eram postos em uma mesa, onde todo o sangue era retirado e armazenado em garrafas, parecidas com nossas garrafas de vinho. Depois eles eram limpos, depilados, a pele era retirada e posta em um pote. Um pequeno robô levava o pote e as garrafas. Finalmente o corpo era desossado e a carne era dividida em outros potes que robôs pequenos também levavam.



Tudo era feito de um modo industrial, tão organizado quanto frio. O domo era enorme de modo que uns cem corpos podiam ser processados ali de uma única vez.



Começo a passar mal e quase passo da minha forma de fantasma para minha forma normal. Saio desse domo desesperado. 



O próximo é um tipo de Shopping de carne. Há quiosques que vendem coração, outro vende pulmão, tripas e até o que parece ser um tipo de doce feito de dedos humanos. 



Vejo uma senhora cinzenta comprar uma cabeça completa e colocar em um carrinho-robô. Numa praça de alimentação, há cinzentos degustando sopas de olhos, sanduíches de dedos, espetinhos de língua com copos grandes de sangue para acompanhar.



Eu também tinha que sair dali e fui para outro domo. Era um viveiro, onde seres humanos vivos pareciam zumbis sem vontade, claramente drogados. Eram separado homens para um lado e mulheres para o outro, completamente pelados. Um som tocou e um tipo de ração caiu do teto e eles comeram do chão, como animais. 



Fiz contato mental com eles. Todos estavam tendo um sonho propositalmente tranquilo, ainda vivendo suas vidas cotidianas. Eram muitas pessoas, eu tinha que salvar todas de algum modo, mas não era hora.



Próximo domo, um tipo de igreja. Os cinzentos vestiam túnicas brancas e pareciam rezar, a frente deles um cinzento mais alto que o normal, com uma expressão assustadora usava um tipo de coroa vermelha, sentado em trono dourado olhava a todos imponente. Só podia ser o Luerc, o chefe da bagaça. Meu coração queimava de ira, mas eu tinha que me conter.



De repente ele faz um gesto com a mão e surge um portal gigante e um grupo de humanos, sim humanos sai dele. Todos vestidos com ternos brancos caros. Juro que um deles eu já havia visto em algum jornal.



— Servos leais! Graças a vocês nossa festa anual da carne será um sucesso! — A voz de Luerc era assustadora.



— Nosso mestre, divino Luerc! Nos orgulhamos em servir ao senhor e ao povo de Ernac! — Disseram os homens com profundo respeito.



— Servos leais… Recebem a prova de nossa gratidão! — Luerc estalou os dedos.



Belas mulheres cinzentas entraram com potes cheios de diamantes.



— Obrigado, Divino Luerc! Supremo Mestre! Viva Ernac!!! — Os homens pegaram os potes.



— Agora vão, meus fieis seguidores.



O portal se abriu mais uma vez e os homens desapareceram.



Tive vontade de acabar com todos ali mesmo, mas eu ainda não tinha informações suficientes, eu tinha que esperar, para poder salvar e também vingar…



PARTE — IV: Mundo Morto



Deste ponto em diante preciso dizer que perdi a noção de quanto tempo se passou e nem tudo que vi poderei descrever, tanto por ser terrível demais, quanto por não ter nada igual na Terra para comparar. 



Aos cavaleiros em início de suas atividades aconselho a prestarem muita atenção nas aulas de encantamentos arcanos, de certo que em algum momento eles irão salvar sua vida. No caso a que me valeu foi a de transformar mana em pão e água, caso você precise segue o encantamento completo:



“Angeli custodes qui in caelis habitatis, nolite me esurire aut sitire, date mihi cibum et potum.”



Sobre nosso permanecimento na forma fantasma, por ter perdido a noção do tempo, não posso dizer com exatidão qual seu limite. Posso dizer que o uso de mana para tanto é absurdo, inalcançável para quem pouco pratica meditação ou orações. Em nossa santa guerra, contra o mal em todas as formas que ele pode se manifestar, disciplina é sobrevivência. As horas dedicadas ao treino do corpo, devem ser as mesmas para mente e espírito. 



Um dos lucros a se obter por se treinar arduamente as habilidades psíquicas é a de quando na forma fantasma poder ler e até embutir pensamentos, sendo essa a habilidade que me foi mais útil no processo de espionagem. 



O tempo em demasia na forma de um ser intangível e invisível, quase destruíram meu corpo e despedaçaram minha mente… Não recomendo que o façam, eu o fiz por estar em um mundo desconhecido e por fim se lembrem, não se pode derrotar o inimigo que não se conhece. Segue uma citação para que vocês possam refletir.



“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.”

— Sun Tzu, A Arte da Guerra



Tendo dito essas coisas, farei a seguir uma descrição do lugar terrível onde estive e de seu povo sombrio, digo por fim que todas as informações que obtive foram conseguidas como “Espião Fantasma”, tão somente por observação e leitura de pensamentos, sendo o pensamento uma linguagem universal, idioma não foi um problema para mim.



Ernac, é o nome desse mundo escondido de nós por uma barreira dimensional, que para os Ernaquianos nada mais é do que uma porta de livre acesso. 



Ernac já foi um mundo cheio de vida como o nosso, porém a má exploração de seus recursos naturais e guerras o tornaram um gigantesco deserto, onde o céu é coberto por uma nuvem eterna de poluição, como se em algum momento tudo tivesse pegado fogo. Atualmente só é possível sobreviver em “domos”, que são ligados entre si por túneis, visto do alto eles lembram uma cadeia de moléculas.



Os domos possuem diferentes tamanhos, tendo cada um uma função voltada para sobrevivência. Há desde domos muito pequenos, do tamanho de uma casa e os gigantescos que abrigariam um bairro inteiro. 



Tudo nesse mundo é escasso e a grande maioria dos habitantes é extremamente violenta. Os Enarquianos são normalmente magros de pele cinzenta, olhos e cabelos vermelhos, bocas parecidas com as de um tubarão. Quando nervosos ou em perigo, seus músculos incham e eles se tornam muito fortes. Usam um tipo de segunda pele metálica azul que se expande e se contrai conforme suas transformações. São mau humorados, violentos e perversos por natureza…Vivem de modo robótico, trabalham, comem e dormem, isentos de sentimentos de sonhos, não vivem, apenas sobrevivem. Não possuem alegria, não possuem tristeza, não possuem nada… 



Confesso que cheguei a ter pena e rezei para que nosso mundo não se torne um dia uma Ernac…



A parte mais assustadora desse mundo é sua relação com os humanos. Como já disse anteriormente, nós somos para eles apenas gado, alimento saboroso e nutritivo.



É possível que em algum ponto da história já estivemos lado a lado, momento no qual os veneramos como deuses, minha investigação não foi profunda o bastante para esclarecer isso, no entanto, assim como disse anteriormente, há humanos no nosso mundo que ainda os cultuam em troca de diamantes, tão abundantes em Ernac que são quase lixo. Esses humanos são chamados de “Vores”, uma palavra para eles muito depreciativa. Vores são traidores de sua própria raça em troca do lixo de Ernac.



Encontrei dois grupos de humanos nesse mundo em domos diferentes mais próximos um do outro, por comodidade logística. Em um domo haviam humanos criados no próprio planeta, mas parecendo não ter nenhuma inteligência, vivendo em celas apertadas, completamente nús, sendo alimentados na hora certa, postos para dormir na hora certa… Esses humanos, quando estão suficientemente gordos, são levados a um domo onde recebem um choque violento que os mata e são levados para os domos de processamento. 



O outro domo é o domo dos humanos da terra, onde eles também permanecem nús em pequenas celas e parecem ter recebido algum tipo de droga, estando em um estado dormência mental. Pude ler seus pensamentos e todos eles estão presos em um sonho agradável que os mantém pacíficos, acham que estão na Terra, vivendo seus melhores dias, realizando todos os seus sonhos. É cruel demais.



Nos pensamentos dos Ernaquianos tenho ouvido mundo falar de Luerc, o imperador desse mundo e um “Festival da Carne”, para o qual os humanos da Terra estão sendo guardados. Meu próximo passo é saber mais a respeito disso.



PARTE — V: Família Real



Nunca antes eu trabalhei tanto minha forma de fantasma e nunca antes ela me foi tão útil, posso dizer que se não fosse ela eu teria perecido naquele mundo e me tornado refeição daquele povo medonho. Vivendo eles em uma sociedade voltada somente para tecnologia, não tinham qualquer defesa contra um usuário de magia como eu. Pude transitar livremente e minha telepatia evoluiu ao ponto de eu poder embutir-lhes pensamentos podendo até manipulá-los. 



Sou um defensor fervoroso de que as adversidades da vida nos tornam mais fortes e melhores, sendo importante ter diante delas uma postura de resignação e não de revolta, a fim de passarmos por nossas provações adquirindo méritos com a própria vida.



Uma dúvida que eu precisava esclarecer era o porquê os humanos do ônibus estarem sendo preservados e a resposta que eles me davam era sempre a mesma “Festa da Carne”. Descobri que essa tal festa era um evento muito importante onde o imperador mostraria a eficiência de seu governo, devendo providenciar um banquete para o povo. O não cumprimento dessa formalidade chegou muitas vezes a gerar rebeliões de tão importante. Para sua realização eles precisavam não somente dos humanos sem mente, gerados na própria Ernac, mas dos vindos da Terra, vistos como um produto importado de alto valor.



Luerc era o imperador do momento e o povo não estava satisfeito com sua atuação. Ele precisava agradar, mostrar que os problemas que tinham vinham das condições de seu mundo falecido, contra os quais muito pouco podia fazer. Considerei que já estava na hora de conhecer o tal imperador.



Obviamente não fui capaz de mapear um mundo inteiro, mas apenas a parte que me era importante, dentre as quais o domo-palácio. A essa altura eu já estava ansioso, queria deixar aquele mundo e salvar os abduzidos. Passei sem problemas pelos guardas e encontrei o imperador e seus dois filhos jantando.



O Imperador era muito alto, vestia uma segunda pele dourada, enquanto seu filho, que parecia uma cópia sua mais jovem vestia-se de uma pele vermelha e a filha, uma bela humanóide de cabelos longos vestia branco. Todos tinha a pele em tons de cinza, olhos vermelhos e dentes de tubarão como é comum dos habitantes de Ernac.



— Vamos ter o maior banquete de todos os tempos e calaremos todo o conselho de anciões… — O Imperador mordia uma cabeça humana assada, arrancando pedaços grandes que engolia alvoroçadamente.



— Deviamos matar todos eles em praça pública bem devagar… — Cluer, filho mais velho do imperador, degustava um ensopado de tripas.



— … Ou podiamos tentar um caminho de entendimento com eles, afinal suas queixas são todas justas… Nosso povo tem passado dificuldades… — Disse Laeb que comia uma sopa escura.



— Sua fraca… Vou matar sim todo o conselho, logo após a festa da carne. Quanto a fome do povo, podemos oferecer a eles essa sua sopa nojenta, do que é feita mesmo? De lixo? — O imperador olhou com desdém para a filha. 



— É uma fórmula minha… É muito mais nutritiva que a sua carne, que alias, poderiamos gerar por genética sem precisar matar… Inclusive, minha sopa seria sim uma ótima solução para a fome, mas você só pensa em poder e em matar… Um dia você encontrará justiça por seus atos hediondos… — A princesa olhou bem no fundo dos olhos do pai.



Luerc se enfurece, era muito alto e magro e num segundo os seus músculos se incharam e ele se tornou ainda mais monstruoso, jogando a cabeça humana contra a parede, destruindo-a, tamanha a força do lançamento.



— Como você ousa?! Filha maldita!!! Vergonha da linhagem!!! Suma da minha frente.. Suma!!! — O imperador gritou.



Cluer gargalhou e Laeb se levantou, ajeitando os cabelos longos. 



— Acho acima de tudo, mais cruel o sequestro de vida consciente que você faz… — Laeb deixou o recinto dirigindo-se para seus aposentos.



Ficou claro naquele momento que eu tinha achado uma parceira.



Assim que se viu sozinha a princesa apanhou o retrato de uma humanoide muito parecida com ela, jogou-se no chão e começou a chorar.



— Mãe… Que falta você me faz… Como pode me deixar sozinha com aqueles dois monstros — A tristeza que ela emanava era tamanha preencheu todo o ar.



Dei alguns passos em direção a ela, me perguntando como faria para me comunicar, quando ela me surpreendeu:



— Não é educado espiar uma dama, meu querido. Não se preocupe e se manifeste de uma vez, seja quem for! Senti sua presença lá mesmo no nosso jantar…



Em poucos segundos assumi minha forma normal, mas com o cuidado de estar vestindo minha armadura.



— Você conseguiu me sentir? Porque não me denunciou?



— Posso te ver… Sou uma das poucas pessoas nesse mundo que cultivam dons espirituais… E não sei porque me calei… Talvez seja só curiosidade. Há uma lenda urbana que corre sobre sua existência. Um fantasma humano, assombrando os domos… Qual é seu objetivo? Porque não fugiu desse lugar? Não tem medo de ser nossa próxima refeição?



Tirei meu capacete, para olhar direto nos olhos dela.



— Eu já podia ter fugido desse lugar, mas vocês “sequestram” pessoas inocentes. Pessoas pobres que tem até mesmo família. Por favor, me ajude a salvá-los… Você é a única nesse mundo que pode, é a única que se importa…



— Sim, eu vou ajudar. Pra falar a verdade eu já estava planejando ajudar aqueles coitados. Acredito que o grande arquiteto do universo nos uniu e está conspirando a nosso favor. Qual é seu nome, herói? — Gentilmente a princesa colocou suas mãos em meus ombros.



— Meu nome é Spectrum-EX. Você é Laeb, correto? Posso ler mentes quando estou na minha outra forma… Desculpe…



— Não precisa se desculpar… Apenas me responda uma pergunta. Se você pode ler mentes, pode conhecer o interior de nossas almas, saber quem somos verdadeiramente… 



— Sim… Acho que sim…



— Então me diga, meu pai e irmão são mesmos tão perversos quanto imagino? Há esperança para eles?



A pergunta me pegou de surpresa, olhos vermelhos de Laeb fitavam os meus sinceros, esperançosos. Com um profundo pesar respondi sua pergunta:



— Eles são tão malignos que eu só vi esse o padrão de comportamento deles nos piores demônios do inferno…



Laeb chorou…



— Por favor, descanse aqui. Mais tarde trarei um pouco da minha sopa nutritiva, ela serve até mesmo para humanos. Teremos muito a conversar.



Aceitei o convite de Laeb, eu tinha mesmo que me recuperar. Tinha conquistado uma parceira e logo teria um plano.



PARTE — VI: Paraíso no Inferno



Era arriscado demais confiar na princesa, mas eu tinha que tentar. Me alimentei da tal sopa e ela me falou de seu domo pessoal, um pequeno palácio somente dela, onde eu poderia ficar com menos riscos. Até ali eu estava sobrevivendo em um domo abandonado, vendo minhas forças se acabarem dia após dia, se continuasse lá ia acabar sendo apanhado sem forças para me defender. Resolvi que tinha de partir para o tudo ou nada… Por mim e por aqueles que pretendia salvar.



O domo onde verdadeiramente vivia a princesa era de tamanho considerável, sendo uma pequena cidade. O lugar era um verdadeiro paraíso, onde humanos e enarquianos viviam em harmonia. Haviam muitas áreas verdes, parques onde se via até mesmo crianças. Os cinzentos que viviam debaixo do zelo da princesa eram diferentes dos que viviam nos outros domos, tinham um olhar doce e emanavam bondade.



— Um paraíso em meio ao inferno… — Deixei escapar, enquanto desfazia minha armadura, vestindo meu traje de detetive clássico, tamanha foi a paz que me envolveu.



— Finalmente… Se me permite dizer, você fica bem melhor sem medo e sem sua casca de metal… — A princesa me olhava nos olhos de forma amável, sorrindo feito um doce anjo, tocando meu coração.



— É difícil acreditar que em Ernac exista um lugar assim, eu vi o pior que seu mundo tem a me oferecer — Disse ainda tendo algo armado na alma.



— Por favor, não nos julgue tão severamente. Sabe… Eu gosto muito de observar seu mundo, somos muito parecidos. Vocês tratam seus irmãos animais da mesma forma que nós aqui… Assim como lá, aqui há quem os ame e proteja. Meu sonho é que toda a Ernac seja desse jeito, transformando-se num mundo belo e cheio de vida, como nossas escrituras dizem que foi um dia — Por um instante a princesa se perdeu em um sonho tão doce quanto seu coração.



— A Terra… Será que um dia seremos um deserto sem vida, habitado por pessoas sem alma… Como Ernac? — Uma terrível tristeza tomou conta de mim.



Um silêncio constrangedor se faz mas de repente, a princesa me abraçou com força e me deu um beijo longo no rosto.



— Quer saber, só por hoje, nada de pensamentos sombrios… Você precisa de um pouquinho de felicidade… Não vou deixar você partir achando que aqui só tem coisas assustadoras… — Como seu eu fosse uma criança a princesa me fez cócegas. 



Eu ri alto, como há muito tempo eu não fazia, mesmo na Terra. Dali pra frente, parecia que eu estava de férias com uma amiga de anos, em alguns momentos com uma namoradinha de escola, tal o espírito jovial da princesa.



— Oi… Esse é meu amigão da Terra, dá um abraço nele, por favor! — A princesa dizia para todo mundo.



Os Aliens de lá me trataram com amor e igualdade, quanto aos humanos, nenhum deles falava, apenas sorriam.



— O que há com eles? — perguntei a princesa, a essa altura andávamos de mãos dadas e nos tratavamos como se fossemos velhos conhecidos.



— Esses coitados foram produzidos com as faculdades mentais extremamente reduzidas, para serem dóceis e fáceis de conduzir. Eles morrem sorrindo, como se estivessem em uma brincadeira cruel.. Resgato tantos quanto posso e nesse domo somos todos amigos da carne. Meu pai não liga para o que faço aqui e jamais vem pra cá, você poderia viver aqui para sempre… Comigo… — Leab pegou minhas mãos e me encarou seriamente.



Demorei um pouco para responder, mesmo sendo Alien, a princesa era bela a ponto de fazer meu corpo queimar. Ela era do tipo que vivia a vida com a mais plena intensidade, como se não houvesse amanhã, totalmente guiada pelos sentimentos de um coração que pulsava num ritmo vivo, quase sem controle.



— Não posso… Tenho que salvar as pessoas daquele ônibus, elas têm família… Gosto de levar a vida como se fosse um herói, jamais poderia abandoná-los… Jamais — Eu disse prendendo a respiração, ela aproximou seu rosto do meu, chegando muito perto, me deixando sem fôlego.



— Não é só isso… Tem alguém esperando você na Terra e você é muito honesto para trair alguém.



Pensar nas desventuras do meu coração me deixou um pouco triste e Leab percebeu.



— Entendi… É um amor mal resolvido… Pena… Tenho uma coisa pra te mostrar, a prova de que realmente sou fã do seu povo… — Leab me puxou pelo braço.



Não demorou muito chegamos a uma área que era uma cópia de um pequeno parque de diversões da Terra, onde passamos a tarde, juntamente com os súditos da princesa.



O domo onde vivia a princesa tinha essa ilusão de dia e noite, não era só escuridão como os demais domos. Estava anoitecendo, estávamos exaustos de nos divertirmos como duas crianças. Nos sentamos em um banco, a princesa deitou sua cabeça no meu colo e eu acariciava seus cabelos.



— Herói… Prometa que você vai salvar aquelas pessoas, vai resolver seu amor e que nunca, mais nunca mesmo você vai se esquecer de mim…



— Eu juro… Nunca vou me esquecer de você… — Ficamos quietos por um instante, um aproveitando a presença do outro, tão somente isso…



 De tão bem tratado ganhei até meu próprio quarto. A tal Festa de Carne, aconteceria em sete dias terrestres. Como estava muito debilitado, tinha menos que esse tempo para deixar meu corpo em forma e elaborar um plano junto a princesa. O horror estava prestes a acabar…



PARTE — VII: Fugas e Recomeços



Chegou o dia. Os humanos mantidos vivos já estavam gordos o suficiente, prontos para o abate, para o banquete do imperador, que gostava de carne fresca.



Toda Ernac estava eufórica. Os trabalhos em todos os domos foram relaxados, exceto nos domos cozinha. 



O abate dos humanos criados na própria Ernac bateu um recorde, de modo que nenhum ernaquiano ficaria sem seu pedaço suculento de carne, da maneira que preferisse, assada, cozida ou até mesmo crua, sangrando. Havia carne suficiente para comer um dia todo.



Tinhamos que agir rápido e executar o plano com perfeição cirúrgica.



— Princesa… O que vossa alteza faz aqui? — Disse o guarda ao ver a Princesa, curvando-se.



— Vim garantir que os humanos importados tenham um fim sem dor… Vou conferir pessoalmente… Você se opõe? — A princesa usou um tom áspero contrário ao seu caráter gentil.



— De modo algum, alteza… Vejo que trouxe sua equipe de resgate, mas temo que dessa leva não podemos nos desfazer de nenhum…



— Eu sei, mas nós estamos aqui para verificar se eles foram bem tratados, não ouse nos impedir de vê-los. 



— Não… Não… Eles estão na sala de abate para receber o choque mortal…



— Me leve até lá e não me dirija mais à palavra… Saiba que meus subordinados substituirão os técnicos da sala de abate…



A equipe da princesa era formada por cinco “Amigos da Carne”, todos fieis e com treinamento de combate, armados com pistolas laser, o que não pareceu estranho, pois bastava dizer que era para segurança da própria princesa. Da minha parte eu estava em minha forma de fantasma, vestido com minha armadura e armado com minhas armas favoritas, as “Pistolas-Espada”, pronto para atirar e cortar em quem atrapalhasse o resgate.



Chegamos a sala de abate, os humanos nus dormiam tranquilamente aglomerados uns por cima dos outros, na mais profunda paz. Todos estavam obesos e saborosos…



Alguns dias antes, visitei todos os domos com humanos e embuti uma programação especial em suas mentes. Algo “divertido”, que estava prestes a ser ativado. Aquela seria com certeza a maior Festa de Carne de todos os tempos…



— Rápido… Vistam os humanos com as vestimentas de resgate… Desativem o mecanismo de choque da sala — Ordenou a princesa.



— Mas o que significa isso? Argh… — Golpeei o guarda, nocauteando-o, não mato se não houver necessidade.



— Princesa… O sinal e as bombas, chegou a hora… — Eu estava já estava na minha forma tangível, pronto para lutar.



— Sim, meu querido, chegou a hora da revolução… —A princesa tocou o pulso, dando o comando que começaria um dia de horror para os Ernaquianos.



Nos domos de energia, bombas fizeram turbinas gigantes pararem de funcionar e tudo caiu na mais absoluta escuridão. No domos dos humanos, gaiolas se abriram e uma espécie de apito soou. Minha programação estava ativa, os cativos antes pacíficos, despertaram cheios de ódio… Eles eram centenas e começaram a destruir tudo o que viam pela frente. 



Os enarquianos foram pegos de surpresa e eram mortos de modo brutal, sendo esmagados e despedaçados. Os humanos de Ernac, criados por eles para servirem de comida, tinham uma força descomunal, sendo difíceis de abater pelas armas laser de qualquer guarda, que logo era derrubado no chão e desmembrado. 



Aos humanos da Terra, além da programação bestial, que lhes dei para se defenderem, coloquei também uma rota de fulga. Eles partiriam para um domo igreja, onde um portal para casa seria aberto. No caminho eles matariam qualquer coisa que os tentasse impedir. Infelizmente para os guardas que encontrariam no caminho, o tratamento de engorda também os deixou muito fortes e resistentes.



— Adeus Laeb… Minha princesa, nunca vou me esquecer de você… — 

Era a hora de partir, me despedi e me preparei para correr entre os humanos enfurecidos, para protegê-los no caminho e também escapar.



— Espera… Eu vou pra Terra com vocês. Depois do que fiz não posso mais viver aqui. Você aceita? — A princesa por um segundo me pareceu uma criança carente.



— Claro… Lá vou te levar num parque de diversões de verdade… — Meu coração estava alegre, tinha adquirido um grande carinho por Laeb.



Fiz muito bem em ter programado os humanos com selvageria, quase não tive que defender os da Terra pelo caminho, sendo eles na verdade que eliminavam os guardas. O resto de toda Enarc estava sofrendo sua própria versão de um apocalipse de zumbis super fortes. Chegamos sem problemas ao domo igreja, onde um portal já estava aberto. Quase todos os humanos haviam passado e eu e Laeb íamos passar… Mas fomos atingidos por um raio e jogados para trás.



— Filha maldita! Eu sabia que isso era culpa sua… Sabia que você traria seus protegidos para cá… Vou me banquetear com sua carne… MALDITA!!! — O imperador, o príncipe e alguns guardas nos surpreenderam.



— Spectrum… Foi maravilhoso conhecer você… Fuja! — A princesa encarou o próprio pai e seus músculos incharam, ela pretendia lutar.



— Você não lutará sozinha… Luerc, seu covarde, lute comigo!!! — Desafiei o imperador.



— Filho, cuide da traídora… Guardas, não interfiram… Eu vou mandar esse fantasma maldito de uma vez por todas para o mundo dos mortos… — O imperador também se transformou em um monstro de músculo, seguido por seu filho, ambos com espadas laser em punho, sedentos por sangue.



Os humanos conseguiram fugir, eu fiquei com Laeb para lutar por nossas vidas.



A batalha foi difícil, o imperador era muito forte e eu estava preocupado com Laeb, que lutando contra o próprio irmão não dava tudo de si. O príncipe, ao contrário, se divertia ferindo a irmã.



— Vou transformar você em concubina, traidora… — O príncipe ria e eu podia ver o nojo no rosto de Laeb.



— Preste atenção em mim, seu idiota!!! — O imperador consegue fazer um corte no meu peitoral.



— Preocupe-se com você mesmo!!! — Me esquivo de um golpe e revido, fazendo dois cortes no peito e no rosto do imperador.



— Maldito! Maldito! Maldito! — O imperador começa a lutar descontroladamente, desferindo golpes seguidos dos quais consigo esquivar, mas não revidar.



— Você é nojento, irmão! — Laeb consegue acertar um bom chute nas partes baixas do príncipe.



— Mudei de ideia… Quero usar sua cabeça de enfeite do meu quarto! — O príncipe começa a levar a luta a sério e Laeb acaba ficando de joelhos, ele vai decapitá-la.



— Não! — Faço um corte nas costas do príncipe, salvando Laeb, mas abrindo minha guarda.



— Você é mesmo um tolo! — O imperador consegue me atingir com vários golpes, quase despedaçando minha armadura, agora sou eu quem está de joelhos.



— Confesso que você lutou bem… Vou fazer um tapete da sua pele… — Antes que o imperador faça algo, é a cabeça dele que rola no chão…


 


— Viva a Cluer, o novo imperador de toda Ernac! Viva! — O príncipe havia acabado de matar o próprio pai para assumir o poder.



— Cluer… Você não tem honra! Desgraçado!!! — Laeb começa a chorar.



— Cluer, não é? Ele era seu pai… Seu pai!!! — Meu coração se enche de indignação.



— E dai… Eu tive uma oportunidade e aproveitei. Agora sou eu quem quer sua pele e uma concubina… No seu estado, vai ser fácil — Cluer quase não segurava a vontade de rir.



— Fácil? Eu sou o “Cavaleiro Exorcista Spectrum-EX” e vou banir você desse mundo.



Vou pra cima de Cluer com tudo que tenho. As habilidades de combate dele são inferiores as de seu pai, ele acaba perdendo o braço direito, que segurava a espada.



— Spectrum Final Justice! — Desfiro um golpe horizontal, depois um vertical. Cluer cai no chão e explode.



Estou exausto, quase não conseguindo ficar de pé. Laeb me abraça e chora.



— Me desculpe, não podia deixar alguém tão perverso vivo, é meu dever como cavaleiro… — Só então noto que acabo de dar fim ao irmão de Laeb.



Laeb, não diz nada, apenas me abraça com mais força.



— Salve Spectrum-EX, imperador de Ernac!!!! Salve!!!



— Oxi… — Sem entender nada, vejo os guardas se curvarem.



— Você matou o imperador… Agora você é o novo regente… — Laeb me explica.



Fico tonto, sem saber o que fazer por um momento.



— Se é assim, faço de você agora não mais a princesa e sim a Imperadora Laeb, soberana de toda Ernac. Você reinará no meu lugar.

 

— Salve Laeb!!! Salve Laeb!!!



A imperadora emitiu um sinal que findou o ataque zumbi. Os humanos de Ernac, voltaram a ser doceis e voltaram calmamente para suas prisões, banhados de sangue. Mais tarde eu ainda me valendo de meus poderes psíquicos, daria a Laeb o controle total sobre eles. 



— Agora você pode ficar aqui comigo, para sempre… — Laeb, agora a imperatriz me olha com ternura.



— Eu não posso… Mas nunca vou te esquecer… Eu juro…



— Ao menos prometa que vai voltar um dia para me visitar…



— Eu prometo… — Retiro minha armadura e abraço Laeb, firmando uma amizade eterna.



Laeb começou uma nova era para os Ernaquianos, onde sua sopa matou a fome e gentileza foi introduzida como lei maior. O portal levou a mim e aos humanos para uma fazenda da Ordem da Luz, que acolheu a todos e um novo grupo de inimigos foi incluído na nossa lista de combate as forças do mal, Vores, os mercadores de humanos.



FIM?

6 Comentários

  1. Parabéns, prezado Jeremias, por mais um assustador episódio de Spectrum-EX.

    E bota assustador nisso!


    O mundo de Ernac assustou em muitos momentos.

    Felizmente, Miguel estava lá, firme e forte para colocar as coisas nos seis devidos lugares.

    Mandou bem demais!

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  2. Ps: A relação de quase affair de Miguel com Laeb, pode trazer problemas para o heroi em relação à Miriam.

    Embora, ela seja do bem, creio que, em algum momento aeu sebtimento por Miguel falará mais forte.

    A conferir!

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    1. É meu amigo a chapa vai esquentar... rs. Obrigado pela leitura.

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  3. Uma one shot bem interessante, gostei do mundo apresentado e da princesa. Queria ter visto mais desse lugar.

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  4. Valeu, meu amigo. A intenção era fazer uma história curta, mas acho que eu devia ter esticado mais.

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