Tudo ia bem na vida de Gori II. Os primeiros anos em Virunga foram verdadeiros anos de ouro para ele: Além de tirar ótimas notas e mostrar-se o aluno mais inteligente de sua turma, começou a publicar artigos em revistas da Universidade de Virunga todo semestre (artigos esses que recebiam altas avaliações até mesmo dos professores mais conceituados da faculdade) e até a participar de projetos em conjunto com os professores de sua turma. Logo, foi questão de tempo de ser convidado por seus próprios professores a participar de conferências científicas, tanto em Virunga quanto em universidades mais distantes.
Até que aos
20 anos de idade, Gori II, ainda em seu terceiro em Virunga, sofreu um grande
baque em sua vida. Seu amado pai, Gori I, foi acometido por uma terrível
doença. E, o que é pior, uma doença não apenas terrível, como rara. Uma doença
pulmonar, que surge de forma sorrateira e que ataca os pulmões de forma
fulminante, causando em suas vítimas dificuldades de respiração e agonia muito
forte. Tentou-se por várias vias tratar a doença, mas foi tudo em vão, e no fim
das contas Gori pai veio a falecer dessa doença. Grande ironia do destino: Gori
I teve sua vida ceifada por uma das mesmas doenças que ele tanto lutou para que
se fosse encontrada uma cura.
E isso,
obviamente, deixou Gori II muito abalado e chateado. Ver o seu próprio pai, que
para ele era mais que uma mera figura paterna – era um verdadeiro herói a ser
seguido e que cujos atos deveriam servir de exemplo a todos, foi uma tristeza
sem igual nesse mundo. Com o prestígio de sua família em Virunga, ele tentou
angariar fundos para que se fossem feitas maiores pesquisas para um tratamento
ainda mais eficaz e uma cura contra a contra a doença que acometeu seu pai.
Mas, no fim das contas, todo o esforço de nada adiantou. Foram duas semanas
agonizantes até que Gori I viesse a falecer.
Essa, diga-se
de passagem, foi a primeira de uma série de decepções que Gori II teve com o
sistema de Épsilon, que como veremos mais adiante, terá consequências
ulteriores muito importantes. Os senadores de Épsilon alegavam que isso era um
projeto inútil, que de nada ia servir e que no fim das contas só seria um
sorvedouro de recursos públicos. Ao ouvir tais afirmações, Gori II simplesmente
se enfureceu. Afinal, um dos principais cientistas do Planeta Épsilon estava
deixando este mundo nas mãos de uma doença terrível e eles não iam fazer nada,
iam ficar de braços cruzados e deixa-lo morrer como se fosse um zé ninguém?
No enterro de
seu pai Gori, que estava acompanhado de sua mãe (ainda mais abalada com a morte
de seu marido, com o qual foi casada por várias décadas), alguns de seus mais
queridos tios e amigos próximos como Sun e Wukong, chorou copiosamente durante
vários minutos perante o túmulo dele. E, antes de deixar o local, proferir as
seguintes palavras ao vento: “adeus, meu pai, meu herói. Jamais irei te
esquecer, e enquanto eu viver te honrarei”. Com essas palavras Gori II
despediu-se de seu querido e amado pai.
Mas o período
em questão não foi só de tristezas e decepções para Gori II. Na mesma época em
que o pai de Gori II adoeceu e veio a falecer, a profecia de sua mãe tornou-se
realidade: uma companhia muito especial surgiu na vida de Gori II para ajudar a
superar essa fase difícil. Gori II conheceu o amor de sua vida, uma jovem
chamada Obez. Que igualmente se apaixonou perdidamente por esse chimpanzé
reumático.
Na verdade,
conhecer Obez foi a melhor coisa que poderia acontecer a Gori naquele momento
angustiante para ele. Graças ao carinho dela, as feridas no coração de Gori
foram pouco a pouco se fechando, e logo superar a tristeza decorrente da morte
do pai foi questão de tempo. Assim como foi questão de tempo Gori II chegar à
conclusão de que estava diante do amor da vida dele. Obez idem.
E, por
incrível que pareça, Obez pensa igual a seu amado no que tange às questões
relativas ao sistema político de Épsilon. Com ele concordava com o fato de que
se tratava de um sistema apodrecido que cedo ou tarde teria que ser destruído
para dar lugar a um novo, assim como no fato de que Épsilon precisa de uma política
expansionista interplanetária e que só assim conservará sua independência
frente a conquistadores como Satan Goss, Bazoo e Jark. Dessa forma, a própria
Obez começou a participar das reuniões e encontros dos círculos políticos de
Gori.
E o curioso é
que Obez tem uma irmã, chamada Yana, que não apenas discorda de tudo o que a
irmã pensa em política, como também não vai com a cara de Gori. Para Yana, Gori
é muito careta e não combina em nada com Obez. Yana, na verdade, é como Baboon.
Acredita em todo tipo de lorota pacifista e diz ter asco de armas, e afirma que
sua religião é a ciência. A ciência que descobre tudo e que tudo vê e que deve
ser defendida de todos aqueles que a questionem, ainda que minimamente. Uma fé
tão cega na ciência, que se recusa a ver que a dita ciência não se autoproduz,
só para começo de conversa.
E, de diversas formas, Yana tentou atrapalhar e até mesmo azedar a relação amorosa entre Gori e Obez (relação essa que era apoiada por amigos de Gori como Sun e Wukong e por Hou). Felizmente, todos esses esforços revelaram-se inúteis. Na verdade, foram tiros que saíram pela culatra, já que a relação entre Gori e Obez fortaleceu-se ainda mais, e no fim das contas Yana parou de implicar com a relação dos dois. Pois, no fim das contas, a ela não restou outra alternativa a não ser aceitar o relacionamento entre os dois pombinhos.
1 Comentários
A perda do pai...
ResponderExcluirO amor da vida...
Como pano de fundo, o negacionismo radical da elite política de Épisilon.
Acontecimentos que marcariam a personalidade de Gori começam a ganhar corpo.
Muito bom !