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Carcará Negro 01 - Ataque do Carcará

 



 E ae galera!


Aqui vai mais uma loucura da minha cabeça, o “Carcará-Negro”. Como gosto muito de fazer a ideia é misturar gêneros. Teremos então tokusatsu, terror e aventura. 
 O personagem não está 100% definido na minha cabeça, então a opinião de vocês é muito importante. 


Sinopse


Para salvar os negócios da Família, Ana procura um jovem talentoso construtor de brinquedos incríveis que vive em um ferro-velho. Ao chegar ela se depara com uma mulher agredida e quando menos espera, está no meio dos atos de vingança e sadismo do Carcará-Negro.


O Ataque do Carcará-Negro


Cristovão varria sua loja, construída ao lado do ferro-velho. As prateleiras estavam lotadas dos brinquedos que concertava e dos que ele mesmo fazia. Suas criações eram impressionantes. Cães, heróis, princesas, todos robóticos e tão caprichados que chegavam a ser melhores dos que os feitos por grandes marcas. Tudo feito da sucata que recolhia. Raramente eram vendidos. Havia uma placa em sua loja, “Mostre boas notas e leve qualquer brinquedo”.  Cristovão era grandalhão, musculoso, moreno, cabeça raspada e com uma cicatriz de tiro acima da sobrancelha esquerda. Deveria ser intimidador, mas abria um grande sorriso pra quem quer que se aproximasse dele. Gentil e prestativo era do tipo fácil de gostar. Surpreendeu-se quando uma moça loira de cabelos longos entrou em sua loja. 
- Bom dia!
Cristovão se perdeu um pouco naquele olhar azul como o mar. Ela usava roupas caras e cheirava a perfume importado.
- Desculpe... bom dia! Como posso ajudar?
- Você faz esses brinquedos?
A loira apanhou um cão robô e ligou. Ficou admirada ao vê-lo agir quase como um cão normal.
- Sou eu sim senhora, e esse é um dos meus favoritos.
- Ana, pode me chamar de Ana... – Ana estendeu a mão.
- Cristovão... – Cristovão apertou a mão de Ana delicadamente, meio sem jeito.
- É só minha mão, não precisa ficar nervoso...
- Desculpe...
Ana estava encantada com a timidez do rapaz grandalhão. Cristovão nunca tinha estado diante de uma mulher tão bonita, se sentia perdido, coração acelerado. Ficaram parados olhando um para o outro.
- Você já pode soltar minha mão, ou quer me levar pra algum lugar...
- Oh, desculpe, desculpe... O que a senhora quer mesmo?
- Ana, me chame de Ana... Você é muito fofo...
Cristovão ficou ainda mais vermelho.
- Bem, vamos aos negócios. Tenho ma fábrica de brinquedos e quero comprar seus projetos. Quanto você quer pelo cachorro robô?
- Eu agradeço, mas não estou interessado. 
- Como?
- Tudo que você está vendo, tudo que faço, pertence às crianças do bairro. 
Ana se irritou. Estava acostumada a sempre ter o que queria.
- Vamos lá, faça seu preço! Quer passar o resto da vida nessa lojinha?
- Quero! Estou em paz aqui, perto daqueles que precisam de mim.
Ana não esperava aquela resposta, ainda mais com aquela sinceridade. Os olhos de Cristovão tinham um brilho que ela jamais havia visto.
- Mas...
- Cris!!!
Um menino de uns sete anos entrou correndo pela loja e se jogou nos braços de Cristovão, assustando Ana. 
- Filho olha a educação! Ele estava conversando... – a mãe do menino entra logo em seguida.
“Puta merda, ele é casado”, pensou Ana.
- Tudo bem Clarice, como está seu esposo?
- Bem...
“Graças a Deus”, pensou mais uma vez Ana.
-Cris, Cris, hoje vou levar o robô lutador!
- Cadê suas notas?
- Aqui, tudo azul.
- Pode pegar o robô, amigão!
O menino correu até um robô que estava numa das prateleiras. Foi só então que Ana reparou na placa. Era verdade, ele não estava negociando, os brinquedos eram mesmo para as crianças. Sentiu seu coração bater de um modo diferente. Os olhos se encheram de lágrimas. “Se segura mulher”, disse a si.
- A senhora está bem mesmo, dona Clarice?
- Estou...
Foi só então que Ana reparou nos óculos escuros de Clarice e no tom triste de sua voz.
- Será mesmo?
Cristovão retirou os óculos de Clarice carinhosamente. Ana levou à mão a boca. O menino que segurava o brinquedo deixou de sorrir. Lá estavam dois olhos roxos, que imediatamente foram justificados.
- Cai da escada...
Não houve tempo de dizer nada. Um sujeito mal encarado entrou na loja, totalmente bêbado.
- Que porra!!! Que demora é essa?!!
- Aristeu... já estamos indo...
- Quem disse que você podia tirar os óculos, sua vagabunda...
A pequena Clarice girou no ar, sangue espirrou de sua boca, sujando alguns brinquedos. 
- Caralho... Viu como meu soco é bom? Quase botei a vaca em orbita... hahahahaha
Cristovão sacou do bolso uma pistola de brinquedo, cheia de água.
- Cristovão, fora daqui! Agora!!!
- Hahahaha!!! Atira, atira!!! Atira bem aqui na minha cara.
- Você que sabe...
Cristovão espirrou água por todo o rosto de Aristeu.
- Argh!!! Que porra é essa?
- Melhor correr pro hospital enquanto você ainda tem cara...
- Desgraçado eu vou voltar!!! Você me paga!!!
O valentão saiu correndo com as mãos no rosto.
- Calma gente, é minha mistura de água com pimenta e limão...
Clarice começa chorar, abraçando os joelhos, ficando em posição fetal.
- Ele vai voltar... Vai voltar e nos matar...
O menino largou o brinquedo no chão e abraçou a mãe. Ana estava paralisada pelo choque do que acabava de ver. Cristovão sentiu a cicatriz doer. “Ele tem que pagar... tem que pagar... me deixe sair”. Cristovão ficou tonto.
- Cristovão, o que foi?
Preocupada, Ana segurou o braço de Cristovão, que olhou pra ela confuso.
- Cris, tudo bem? – Ana temia que ele fosse desmaiar.
Cristovão volta a si.
- Estou bem,não se preocupe – coloca as mãos no rosto de Ana confortando-a – Minha cicatriz dói quando fico nervoso, só isso.
Cristovão foi para trás do balcão, abriu uma gaveta, pegou um cartão, e se dirigiu a Ana.
- Você está de carro?
- Estou?
- Pode levar Clarice nesse endereço? É uma ONG, vão ajuda-la a recomeçar a vida. O canalha vai mata-la se voltar pra casa. Já vi acontecer.
- Claro... Mas e você?
- A ONG vai cuidar de tudo, com certeza esse babaca vai ser preso. Só tenho que fechar a loja por uns dias.
- Tudo bem então...
- Espera um pouco.
Cristovão pegou o cachorro robô e entregou a Ana.
- É seu, faça o que quiser com ele. 
- Está me dizendo adeus...
Cristovão beijou a testa de Ana. 
- Cuida deles, tenho que fechar a loja...
- Vem comigo...
- Quem sabe um dia? Agora vai...  eles precisam de você...
 Ana obedeceu prontamente. O coração acelerado como nunca esteve. Que sentimentos eram aqueles queimando em sua alma? Entrou correndo no carro com a mãe e o menino. Saiu cantando pneu. Tinha que salvá-los a todo custo.
Cristovão acompanhou o carro com os olhos. “Será que vou vê-la de novo?”, se perguntou. A cicatriz, a maldita cicatriz, começou a doer.
- Esqueça... Temos trabalho a fazer... Pecadores pra punir...
A voz, de novo aquela voz.  Não gostava dela, das coisas que o obrigava a fazer, mas ela tinha razão, sempre tinha. Fechou a loja, e foi para sua casa que ficava nos fundos. 
- Vamos lá, me deixe sair. 
A voz o conduzia. Chegou ao quarto. A adrenalina era tamanha que virou a cama com tudo, revelando o alçapão que dava para o seu esconderijo, repleto de computadores e um tipo de câmara de transformação, o projeto de toda sua vida. Digitou a senha numérica na câmara que se abriu. Entrou e ela se fechou.
- Iniciar transformação!!! – ordenou.
- Iniciando transformação... – uma voz robótica atendeu as ordens.
Pedaço por pedaço, a armadura foi sendo posta em seu corpo.
- Transformação completa!!! Carcará pronto para ação!!! – finalizou a voz robótica.
- Ainda hoje, o mal será exposto e punido... – disse o carcará, Cristovão não existia mais...
...........................................................

Aristeu chegou em casa sóbrio, o que era raro, porém como sempre ardia em ódio. Rosto todo enfaixado. 
- Aquele miserável!!! Vou rasgá-lo de cima a baixo!!! – gritou se lembrando do que lhe fizeram.
Os médicos lhe disseram que teria cicatrizes pelo resto da vida.
- Eu vou matar!!! Juro que vou matar!!!
Quase não conseguiu abrir a porta de tão nervoso.
- Que breu da porra!!! Cadê você vaca!!! O que foi que fez com a luz? Vou estoura seus córneos...
O interruptor não funcionava. Deu-se conta de que estava sozinho na pequena casa. “Aquela vagabunda... será que fugiu com o doido do ferro-velho... vou matar os dois...”, sua raiva fazia seu corpo todo tremer. Tropeçou em um móvel, dando de cara no chão.
- Que porra!!! Porra!!! Porra!!! O que foi que aquela vaca fez com a luz? Cadê a luz dessa porra?
- A luz não é pra gente da sua espécie...
Uma voz demoníaca se fez ouvir da escuridão.
- Ai caralho... Quem tá ai?
Aristeu sentia o medo devorar suas entranhas. A escuridão respondeu.
- Eu sou o Carcará, o anjo da punição... Eu sei o que você tem feito...
Feito louco Aristeu atira pra todos os lados.
- Você não vai me pegar... Morre... Morre...
As balas acabam.
- Fudeu... – desabafa Aristeu.
- Minha vez...
Aristeu se vira. Das sombras algo se levanta. Uma sombra corpulenta. Olhos vermelhos em brasa. Tão negro que se mistura com a escuridão. Um longo par de asas se abre. Ele vai atacar. Sem piedade. Sem remorso.
- Não... Não... Por favor...
Aristeu está paralisado pelo medo. O vulto negro de asas longas avança. Sangue e alguns dentes de Aristeu voam pelo ar, depois mais sangue e mais dentes. Uma, duas, três costelas se quebram, depois o braço esquerdo, o direito... Não termina, é apenas dor e mais dor. Aristeu chora, se mija, tenta implorar, pedir perdão, a voz não sai mais, só os grunhidos de uma boca totalmente detonada. A perna esquerda se quebra, depois a direita. Testículos são pisados e repisados. Aristeu ouve sirenes. Salvação, finalmente salvação.
- Eles não podem ajudar... Ninguém pode...
 A escuridão esmaga as esperanças da alma de Aristeu.
- Deixe-os em paz. Deixe todos em paz. Suma. Nunca mais volte. Se voltar, eu vou te caçar de novo, e de novo, tantas vezes quanto eu quiser. Você foi marcado pelo Carcará. Não te concedo a benção da morte. Dor, só dor, é tudo que sempre terei pra você.
Os policiais param na porta da casa velha. Antes que possam fazer qualquer coisa, um corpo é jogado pela janela, acertando em cheio a viatura. O vulto negro de asas longas sai voando na velocidade de um raio pela mesma janela. 
- Finalizar vídeo, iniciar postagem em massa!
O trabalho do carcará está pronto. O mal foi punido e será exposto...


Continua


Jeremias Alves Pires

4 Comentários

  1. Tá um texto muito bom!
    O Carcara é o tipo de personagem que pode render muitas histórias incríveis pois só nesse capítulo já abriu um leque vasto de possibilidades.
    Cristovão já ganha o leitor de cara pelo modo como leva a vida, nesse lance de ajudar as crianças do local onde ele mora... Ana e o plot da fábrica fábrica brinquedos, bem como o modo com que ela parece se interessar pelo Cristóvão também pode geral ótimos plots.
    E, a cereja do bolo, o próprio Carcará e todos os caminhos que se abrem... ele é fruto de magia? Possessão? Ou reflexo de sérios problemas psicológicos?
    Gostei bastante cara. Quero mais

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  2. Eu curti e curti muito!! Quando o carinha entrou na loja agredindo a mulher, eu pensei "cacete, agora vai tudo pelos ares", mas depois lembrei que é como se fosse o Hulk e o Banner, o Carcará tá lá, querendo sair, querendo assumir e o Cristóvão contém ele... Porém o acontecido foi demais, Cristóvão sucumbiu e o Aristeu se ferrou... Outra coisa legal e bem macabra, não teve a morte, achei muito legal dentro do contexto dark da personalidade do Carcará, ele não matar, apenas causar dor e deixar vivo pra sentir mais dor, caso volte de novo, simplesmente muito bom! Parabéns meu amigo, eu achei simplesmente show de bola, que venham mais episódios! \0/

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  3. Em consonância com meus amigos Norberto e Lanthys, digo que o capítulo está incrível e muito bem escrito, com violência e terror na medida certa.


    Carcará, o justiceiro obscuro é diferente do hospedeiro , Cristóvão, um cara do bem que faz as coisas sem nada pedir em troca.

    Duas faces da mesma moeda.


    Parabéns!

    Muito bom!

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  4. Maravilhoso episódio.

    O carcara é mesmo sombrio e cruel. Ele e a antítese do que Cristóvão é.

    Muito interessante!

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