CRÔNICA
01 – IMPÉRIO GOZMA: CAMPANHAS PRÉ-TERRA (FINAL)
NAVE-MÃE
DE GOZMA, ANO DE 1984 d.C.:
- Seus
idiotas!!
Gaata,
o navegador da gigantesca nave-mãe de Gozma, não consegue esconder o incômodo
de presenciar a cena à sua frente. O Comandante Giluke, quando estava irritado,
ou insatisfeito com a performance de seus subordinados, era uma visão de dar
medo ao nativo verde do planeta Nabi. Medo que só ficava em segundo lugar para
a visão do próprio Rei Bazoo, também quando irritado.
O que
confortava Gaata, no momento, era o fato de que a ira de Giluke não era
direcionada a ele. Mas não podia deixar de sentir pena de seus colegas, Buba e
Shima, alvos da repreensão...
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- Vocês
são os dois oficiais de comando do Império Gozma!! Abaixo apenas de mim e do
Senhor Bazoo!! Como puderam ambos falhar em suas missões? – gritava Giluke,
em sua voz caracteristicamente rouca, apontando seu cetro de comando aos seus
dois subordinados imediatos.
Tais
subordinados se encontravam ajoelhados perante Giluke, com suas cabeças baixas,
numa demonstração de submissão e desonra.
Buba é
o primeiro a se manifestar:
- Comandante,
eu peço perdão! Já tínhamos o planeta Endor na palma da mão, mas o próprio
Satan Goss apareceu e enfureceu o gigante Gorax! Tivemos que sair de lá às
pressas para não ser esmagados...
- E
por causa disso, entregou um planeta rico em recursos naturais para Satan Goss,
de bandeja? – interrompe Giluke, sem paciência para ouvir desculpas. – Como
líder dos Piratas Espaciais, esperava mais de você, Buba!!
Buba
permanece calado, reprimindo sua raiva e frustração. Já conhecia seu superior
há tempo suficiente para saber que nada do que falasse, adiantaria. Giluke,
quando dava uma ordem, queria que fosse cumprida de qualquer maneira, mesmo que
as probabilidades de sucesso fossem ínfimas.
Não
pela primeira vez, Buba desconfiava que Giluke agia desse jeito apenas para
tentar mostrar serviço ao Rei Bazoo. O pirata sabia que Giluke, num passado não
muito distante, liderou um fracassado complô contra o líder de Gozma. Como
punição, teve seu planeta natal, Giraz, destruído (*01). E agora Giluke
tentava, de todas as maneiras possíveis e imagináveis, ganhar o perdão do Rei
Bazoo, e talvez ter seu planeta reconstruído...
E
culpar os subordinados por missões fracassadas era uma maneira de tirar a
responsabilidade das próprias costas, perante Bazoo...
Não
que Buba ousasse falar isso em voz alta, claro. Afinal, Buba também servia
Gozma para proteger seu planeta. Se indispor com Giluke, o comandante do
exército de Gozma, seria extremamente contraproducente para seu objetivo.
E
então Giluke olha para Shima, sua outra subordinada:
- E
você, Shima? – ele a repreende, com irritação. – Não apenas perdeu todas
as suas tropas, e o monstro Guizan que te enviei como auxiliar, como ainda teve
coragem de voltar com o rabo entre as pernas? Depois de perder o planeta Jedha
para aquela escória dos Caçadores Espaciais de Mess?
Shima
se via numa posição muito desconfortável no momento...
Ela
sabia que só estava viva por vontade de Kaura, que podia muito bem tê-la matado
em Jedha. Mas igualmente sabia que, se admitisse isso a Giluke ou a Bazoo,
seria executada na hora por traição...
Então,
ao retornar na nave-caça de Gozma que “ganhara” de Kaura, Shima teve que
mentir, dizendo que o templo fora tomado, e que sobreviveu por um triz,
conseguindo escapar em uma das naves remanescentes...
Consequentemente,
aos olhos de Giluke, Shima agora era uma incompetente que falhou em sua missão,
e que covardemente fugiu do combate...
Uma
pecha injusta que a enfurecia enormemente, mas que certamente era preferível a
ser acusada de traidora...
Então,
por mais que desejasse argumentar com seu comandante imediato sobre a falta de
apoio logístico para a campanha, o medo da verdade ser descoberta a fazia ficar
calada.
- Sinto
muito, Comandante Giluke... – era tudo que Shima podia dizer, sem oferecer
muitos detalhes da campanha. – Não tenho explicações para meu fracasso.
Assumo minha responsabilidade nisso...
Giluke,
por sua vez, responde com escárnio e condescendência:
- Acho
que te promovi muito cedo para o posto de oficial de comando... Devo ter
superestimado suas habilidades, se não conseguiu manter nosso domínio sobre um
simples planeta...
Shima
cerra seus dentes de raiva, de modo imperceptível para Giluke.
E, não
pela primeira vez nos últimos meses, Shima se viu perguntando se não seria
melhor ter aceitado a proposta de Kaura, em Jedha.
A reprimenda
de Giluke teria continuado, se uma voz autoritária não tivesse soado por todo o
recinto:
- GILUKE!!
E
todos os agentes de Gozma presentes se voltam para o holograma de uma figura
gigantesca, projetada do lado de fora da nave...
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Falando
no diabo, o maior medo de Gaata se fazia presente naquele instante.
- Senhor
Bazoo! – Giluke saúda o líder supremo de Gozma, se curvando em submissão.
Buba,
Shima e Gaata fazem o mesmo. Somente Gyodai permanecia deitado, como se
estivesse alheio a tudo que se passava. Às vezes, Gaata se questionava se
Gyodai tinha alguma inteligência, ou era simplesmente tapado mesmo.
- Como
está a situação em Endor e Jedha? Algum progresso? – questiona Bazoo.
- Meu
senhor... – Giluke inicia o relatório. Pelo protocolo militar de Gozma,
apenas o comandante podia se dirigir diretamente ao Rei Bazoo. Aos demais
subordinados somente era concedida a palavra, caso lhe fosse perguntado algo
por Bazoo ou o comandante. – Infelizmente, nosso glorioso império perdeu o
controle dos planetas Endor e Jedha para Satan Goss e Mess, respectivamente.
Buba e Shima falharam nas missões que lhes designei.
Como
esperado, Giluke tenta jogar a responsabilidade nas costas de seus
subordinados...
Mas Bazoo
não engolia essa:
- Como
comandante do exército de Gozma, você é o responsável pelos resultados obtidos
em nossas campanhas!! Os erros de seus subordinados são seus erros!!
Giluke
empalidece e, por um instante, teme que levará uma pesada punição.
Entretanto,
Bazoo surpreende a todos:
- Normalmente,
eu te puniria por este fracasso..., mas vou poupá-lo desta vez, pois tenho uma
missão mais importante para todos vocês!
E o
holograma de um planeta surge junto ao de Bazoo...
O
holograma de um planeta azul e verde, com vastidões de terra e água, além de
muita vida...
-
Este é o planeta Terra, localizado no Sistema Espacial de Sol, a muitos
anos-luz daqui. – Bazoo informa aos seus subordinados. – Ele fica numa
região pouco conhecida da galáxia, e fora dos limites de todos os impérios
galácticos existentes...
- A
Terra é muito rica em recursos naturais, com terras férteis e água em
abundância, além de muitas formas de vida...
Uma
expressão de fúria, então, repentinamente aparece no rosto de Bazoo:
- Mas,
mais importante: a inteligência de Gozma reportou que o Império dos Monstros e
o Império Mess também estão interessados neste planeta!! E, pior ainda, é que
há rumores de que MacGaren, filho de Satan Goss, já se encontra no planeta,
agindo em interesse de seu pai!! (*02)
Giluke
fica surpreso:
- Senhor
Bazoo, então quer dizer que um planeta tão valioso como este, dentro da
galáxia, ainda não foi anexado por nenhum dos impérios espaciais? Porém, Satan
Goss e La Deus já estão de olho nele?
- Exatamente!
– responde Bazoo, em tom de finalidade. – E nós devemos tomar posse deste
planeta antes deles! A Terra não pode pertencer a ninguém além de Gozma!!
Giluke,
Buba e Shima arregalam os olhos, processando tudo o que acabaram de ouvir: um
planeta cheio de recursos, numa região longínqua, ainda não ocupado por nenhum
império espacial?
Uma
animação toma conta de suas mentes...
Esta
era a oportunidade que esperavam!!
Se conseguissem
capturar uma joia destas para Gozma, seriam muito bem recompensados pelo Rei
Bazoo!! Provavelmente, os seus erros passados seriam redimidos!! Talvez, o
suficiente para ver seus próprios planetas restaurados!!
E,
como um bônus, ao surrupiar a Terra dos impérios rivais, ainda se desforrariam
de Satan Goss, La Deus e seus cupinchas, em retribuição às humilhações que
passaram nas últimas campanhas!!
- Iniciaremos
os preparativos para a invasão da Terra imediatamente, Senhor Bazoo! –
Giluke aceita, ansioso pela missão. – A Terra, muito em breve, pertencerá a
Gozma! Tem a minha palavra!
Sentimento
este que era compartilhado por Buba e Shima, que sorriem sinistramente.
Exceto
por Gaata, que não parecia nada contente...
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- Mais
uma campanha... mais um ano longe da minha família... – pensa Gaata,
desanimado.
Por
sorte, Giluke, Buba e Shima estavam tão focados na perspectiva da nova
campanha, que não notaram o semblante caído de Gaata.
E,
mesmo se notassem, Gaata sabia que não dariam importância. Por que o fariam?
Por que os sentimentos de um reles navegador importariam, de alguma forma, para
Gozma?
Gaata
era o tripulante de mais baixa condição dentro da nave-mãe de Gozma, acima
somente dos soldados Hidler. Até Gyodai, por mais estúpido que fosse, tinha
mais importância estratégica para Gozma do que Gaata. Transformar monstros em
gigantes não era algo que qualquer um podia fazer, afinal.
Discretamente,
Gaata tira de seu bolso um pequeno medalhão e o abre. Dentro do adereço
metálico, havia uma foto. E, nesta foto, estavam ele, sua esposa Zole, e seu
filho Wallage no meio.
Tal
foto fora tirada há mais de um ano atrás, em seu planeta Nabi, antes de ser
convocado para trabalhar nas campanhas de Gozma. Desde então, atuando como
navegador da nave-mãe, Gaata viajou de um lado para outro da galáxia, conforme
as ordens do Comandante Giluke.
Num
momento de nostalgia, Gaata se lembra como foi o último jantar que teve com sua
família, na noite antes de partir...
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FLASHBACK:
Em sua
humilde casa no planeta Nabi, Gaata, Zole e Wallage estavam sentados à mesa,
para o jantar.
- Vamos,
Wallage, coma! – Zole segurava uma colher cheia de um vegetal verde,
tentando fazer com que Wallage comesse.
Mas o
teimoso garoto (que era muito parecido com seu pai, em aparência) se recusava:
- Não
quero! – Wallage diz, cruzando os braços e fazendo birra. – Não gosto
disso! Não vou comer!
Zole,
gentil mas firmemente, insistia:
- Mas,
filho, você precisa comer seus vegetais! Senão, não vai crescer e ficar forte
como seu pai!
E
Wallage continuava se recusando a abrir a boca.
Até
que Gaata resolve intervir:
- Wallage,
se você não comer, saiba que Satan Goss vai vir te pegar à noite!
Isso
chamou a atenção de Wallage.
- Satan
Goss?
- Sim,
Satan Goss... – repete Gaata, num tom sinistro, tentando assustar seu
filho. – Satan Goss é um demônio terrível, negro como a noite, e grandes
olhos vermelhos que brilham na escuridão...
Notando
que Wallage estava começando a ficar assustado, Gaata continua:
- Ele
aparece bem de noite, quando todos estão dormindo... e devora as crianças
fraquinhas...
- D-devora
as crianças? – Wallage gagueja, tremendo de medo.
- Sim,
mas somente as crianças fraquinhas, aquelas que não comem todo o seu jantar, e
por isso não crescem. Já as crianças grandes e fortes, Satan Goss passa bem longe
delas!
O
resultado é imediato: Wallage rapidamente come os vegetais que sua mãe tentava
lhe dar. Em pouco tempo, todo o prato de Wallage estava limpo.
Zole
sorri para seu marido. Gaata sabia, melhor que ninguém, como lidar com seu
filho.
- Papai...
– chama Wallage, curioso. – A mamãe disse que, quando eu crescer, vou ficar
forte como o senhor. Então o senhor não tem medo de Satan Goss?
Gaata
dá uma gargalhada, e responde:
- Claro
que não, filho! Seu pai não tem medo nenhum de Satan Goss!
FIM DO
FLASHBACK
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Gaata
suspira de saudades de sua família. Tinha vontade de chorar, ao pensar que
passaria mais um sem-número de anos longe de casa, ajudando Gozma na conquista
de mais um planeta longínquo, do qual ele nunca ouvira falar. Quem poderia
imaginar que uma campanha militar de Gozma seria tão longa?
E,
ironicamente, iria disputar tal planeta com ninguém menos que Satan Goss, o
líder do Império dos Monstros. Ainda que nunca o tenha visto em pessoa, Gaata
já ouvira o suficiente a seu respeito. Sabia como era terrível o grande Demônio
Galáctico.
E não
estava nem um pouco ansioso para conhecê-lo.
- Perdoe-me,
Wallage... – Gaata comenta tristemente, em pensamento. – No final, seu
pai também tem medo de Satan Goss...
E
guarda o medalhão de volta no bolso.
(*01) Ideia baseada na obra “O complô de Giluke e Ahames contra Bazoo”, do autor Tripa_Seca, disponível na plataforma Spirit.
(*02) Ideia baseada na obra “O Grande Encontro”, que junta os eventos de Jaspion e Changeman, do autor Jirayrider_Decade, disponível nesta mesma plataforma Mindstormpro.
4 Comentários
Outro grande episódio.
ResponderExcluirDesta vez retratando o modo de pensar e agir de Giluke , que não deu condições para seus subordinados e ainda sim, exige vitória.
O episódio também fala do dilema de Gaata, cada vez mais distante de Zolle e Wallage.
O medo o paralisa.
Uma coisa que curto é ver as emoções dos personagens.
Aqui ficou claro.
Parabéns por seu trabalho!
Está matando a pau!!
Olá, Jirayrider. Você está certo em relação a Giluke e Gaata. Giluke sempre foi meio incompetente como comandante. Tanto que foi suplantado por Ahames, e só ficou mais esperto depois de se fundir ao Monstro Espacial Zadoz e virar Super Giluke. Já a saudade de Gaata de sua família é retratada várias vezes em Changeman (no episódio 27 inclusive, Zole atrai os heróis para uma armadilha, apenas para poder ficar junto de seu marido novamente).
ExcluirTambém curto as cenas que mostram as emoções dos personagens. Tento trabalhar bem estas cenas, já que são elas que tornam a história mais visual, que aproximam mais os leitores dos personagens. Agradeço pelo comentário.
Interessante mostrar o ponto de vista do Gatta, já mostrando como seria a mudança de lado no futuro.
ResponderExcluirAgradeço pelo comentário, Norberto. Se, nos capítulos anteriores, os enfoques eram em Buba e Shima, neste é em Gaata. Estes três vilões mereciam ter suas histórias mais exploradas, então foram o foco desta primeira crônica do Tokuverso. Aliás, de todas as séries do Tokuverso, Changeman foi a que melhor explorou este lado dos vilões, dedicando vários episódios para mostrar suas histórias e dramas pessoais. Talvez pelo fato de que serviam Gozma porque eram forçados, e não por serem realmente maléficos.
ExcluirObrigado por acompanhar minha obra.