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Jogos de Poder Galácticos - Crônicas do Tokuverso - Capítulo 03

 



CRÔNICA 01 – IMPÉRIO GOZMA: CAMPANHAS PRÉ-TERRA (FINAL)

 

NAVE-MÃE DE GOZMA, ANO DE 1984 d.C.:

- Seus idiotas!!

Gaata, o navegador da gigantesca nave-mãe de Gozma, não consegue esconder o incômodo de presenciar a cena à sua frente. O Comandante Giluke, quando estava irritado, ou insatisfeito com a performance de seus subordinados, era uma visão de dar medo ao nativo verde do planeta Nabi. Medo que só ficava em segundo lugar para a visão do próprio Rei Bazoo, também quando irritado.

O que confortava Gaata, no momento, era o fato de que a ira de Giluke não era direcionada a ele. Mas não podia deixar de sentir pena de seus colegas, Buba e Shima, alvos da repreensão...

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- Vocês são os dois oficiais de comando do Império Gozma!! Abaixo apenas de mim e do Senhor Bazoo!! Como puderam ambos falhar em suas missões? – gritava Giluke, em sua voz caracteristicamente rouca, apontando seu cetro de comando aos seus dois subordinados imediatos.

Tais subordinados se encontravam ajoelhados perante Giluke, com suas cabeças baixas, numa demonstração de submissão e desonra.

Buba é o primeiro a se manifestar:

- Comandante, eu peço perdão! Já tínhamos o planeta Endor na palma da mão, mas o próprio Satan Goss apareceu e enfureceu o gigante Gorax! Tivemos que sair de lá às pressas para não ser esmagados...

- E por causa disso, entregou um planeta rico em recursos naturais para Satan Goss, de bandeja? – interrompe Giluke, sem paciência para ouvir desculpas. – Como líder dos Piratas Espaciais, esperava mais de você, Buba!!

Buba permanece calado, reprimindo sua raiva e frustração. Já conhecia seu superior há tempo suficiente para saber que nada do que falasse, adiantaria. Giluke, quando dava uma ordem, queria que fosse cumprida de qualquer maneira, mesmo que as probabilidades de sucesso fossem ínfimas.

Não pela primeira vez, Buba desconfiava que Giluke agia desse jeito apenas para tentar mostrar serviço ao Rei Bazoo. O pirata sabia que Giluke, num passado não muito distante, liderou um fracassado complô contra o líder de Gozma. Como punição, teve seu planeta natal, Giraz, destruído (*01). E agora Giluke tentava, de todas as maneiras possíveis e imagináveis, ganhar o perdão do Rei Bazoo, e talvez ter seu planeta reconstruído...

E culpar os subordinados por missões fracassadas era uma maneira de tirar a responsabilidade das próprias costas, perante Bazoo...

Não que Buba ousasse falar isso em voz alta, claro. Afinal, Buba também servia Gozma para proteger seu planeta. Se indispor com Giluke, o comandante do exército de Gozma, seria extremamente contraproducente para seu objetivo.

E então Giluke olha para Shima, sua outra subordinada:

- E você, Shima? – ele a repreende, com irritação. – Não apenas perdeu todas as suas tropas, e o monstro Guizan que te enviei como auxiliar, como ainda teve coragem de voltar com o rabo entre as pernas? Depois de perder o planeta Jedha para aquela escória dos Caçadores Espaciais de Mess?

Shima se via numa posição muito desconfortável no momento...

Ela sabia que só estava viva por vontade de Kaura, que podia muito bem tê-la matado em Jedha. Mas igualmente sabia que, se admitisse isso a Giluke ou a Bazoo, seria executada na hora por traição...

Então, ao retornar na nave-caça de Gozma que “ganhara” de Kaura, Shima teve que mentir, dizendo que o templo fora tomado, e que sobreviveu por um triz, conseguindo escapar em uma das naves remanescentes...

Consequentemente, aos olhos de Giluke, Shima agora era uma incompetente que falhou em sua missão, e que covardemente fugiu do combate...

Uma pecha injusta que a enfurecia enormemente, mas que certamente era preferível a ser acusada de traidora...

Então, por mais que desejasse argumentar com seu comandante imediato sobre a falta de apoio logístico para a campanha, o medo da verdade ser descoberta a fazia ficar calada.

- Sinto muito, Comandante Giluke... – era tudo que Shima podia dizer, sem oferecer muitos detalhes da campanha. – Não tenho explicações para meu fracasso. Assumo minha responsabilidade nisso...

Giluke, por sua vez, responde com escárnio e condescendência:

- Acho que te promovi muito cedo para o posto de oficial de comando... Devo ter superestimado suas habilidades, se não conseguiu manter nosso domínio sobre um simples planeta...

Shima cerra seus dentes de raiva, de modo imperceptível para Giluke.

E, não pela primeira vez nos últimos meses, Shima se viu perguntando se não seria melhor ter aceitado a proposta de Kaura, em Jedha.

A reprimenda de Giluke teria continuado, se uma voz autoritária não tivesse soado por todo o recinto:

- GILUKE!!

E todos os agentes de Gozma presentes se voltam para o holograma de uma figura gigantesca, projetada do lado de fora da nave...

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Falando no diabo, o maior medo de Gaata se fazia presente naquele instante.

- Senhor Bazoo! – Giluke saúda o líder supremo de Gozma, se curvando em submissão.

Buba, Shima e Gaata fazem o mesmo. Somente Gyodai permanecia deitado, como se estivesse alheio a tudo que se passava. Às vezes, Gaata se questionava se Gyodai tinha alguma inteligência, ou era simplesmente tapado mesmo.

- Como está a situação em Endor e Jedha? Algum progresso? – questiona Bazoo.

- Meu senhor... – Giluke inicia o relatório. Pelo protocolo militar de Gozma, apenas o comandante podia se dirigir diretamente ao Rei Bazoo. Aos demais subordinados somente era concedida a palavra, caso lhe fosse perguntado algo por Bazoo ou o comandante. – Infelizmente, nosso glorioso império perdeu o controle dos planetas Endor e Jedha para Satan Goss e Mess, respectivamente. Buba e Shima falharam nas missões que lhes designei.

Como esperado, Giluke tenta jogar a responsabilidade nas costas de seus subordinados...

Mas Bazoo não engolia essa:

- Como comandante do exército de Gozma, você é o responsável pelos resultados obtidos em nossas campanhas!! Os erros de seus subordinados são seus erros!!

Giluke empalidece e, por um instante, teme que levará uma pesada punição.

Entretanto, Bazoo surpreende a todos:

- Normalmente, eu te puniria por este fracasso..., mas vou poupá-lo desta vez, pois tenho uma missão mais importante para todos vocês!

E o holograma de um planeta surge junto ao de Bazoo...

O holograma de um planeta azul e verde, com vastidões de terra e água, além de muita vida...

- Este é o planeta Terra, localizado no Sistema Espacial de Sol, a muitos anos-luz daqui. – Bazoo informa aos seus subordinados. – Ele fica numa região pouco conhecida da galáxia, e fora dos limites de todos os impérios galácticos existentes...

- A Terra é muito rica em recursos naturais, com terras férteis e água em abundância, além de muitas formas de vida...

Uma expressão de fúria, então, repentinamente aparece no rosto de Bazoo:

- Mas, mais importante: a inteligência de Gozma reportou que o Império dos Monstros e o Império Mess também estão interessados neste planeta!! E, pior ainda, é que há rumores de que MacGaren, filho de Satan Goss, já se encontra no planeta, agindo em interesse de seu pai!! (*02)

Giluke fica surpreso:

- Senhor Bazoo, então quer dizer que um planeta tão valioso como este, dentro da galáxia, ainda não foi anexado por nenhum dos impérios espaciais? Porém, Satan Goss e La Deus já estão de olho nele?

- Exatamente! – responde Bazoo, em tom de finalidade. – E nós devemos tomar posse deste planeta antes deles! A Terra não pode pertencer a ninguém além de Gozma!!

Giluke, Buba e Shima arregalam os olhos, processando tudo o que acabaram de ouvir: um planeta cheio de recursos, numa região longínqua, ainda não ocupado por nenhum império espacial?

Uma animação toma conta de suas mentes...

Esta era a oportunidade que esperavam!!

Se conseguissem capturar uma joia destas para Gozma, seriam muito bem recompensados pelo Rei Bazoo!! Provavelmente, os seus erros passados seriam redimidos!! Talvez, o suficiente para ver seus próprios planetas restaurados!!

E, como um bônus, ao surrupiar a Terra dos impérios rivais, ainda se desforrariam de Satan Goss, La Deus e seus cupinchas, em retribuição às humilhações que passaram nas últimas campanhas!!

- Iniciaremos os preparativos para a invasão da Terra imediatamente, Senhor Bazoo! – Giluke aceita, ansioso pela missão. – A Terra, muito em breve, pertencerá a Gozma! Tem a minha palavra!

Sentimento este que era compartilhado por Buba e Shima, que sorriem sinistramente.

Exceto por Gaata, que não parecia nada contente...

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- Mais uma campanha... mais um ano longe da minha família... – pensa Gaata, desanimado.

Por sorte, Giluke, Buba e Shima estavam tão focados na perspectiva da nova campanha, que não notaram o semblante caído de Gaata.

E, mesmo se notassem, Gaata sabia que não dariam importância. Por que o fariam? Por que os sentimentos de um reles navegador importariam, de alguma forma, para Gozma?

Gaata era o tripulante de mais baixa condição dentro da nave-mãe de Gozma, acima somente dos soldados Hidler. Até Gyodai, por mais estúpido que fosse, tinha mais importância estratégica para Gozma do que Gaata. Transformar monstros em gigantes não era algo que qualquer um podia fazer, afinal.

Discretamente, Gaata tira de seu bolso um pequeno medalhão e o abre. Dentro do adereço metálico, havia uma foto. E, nesta foto, estavam ele, sua esposa Zole, e seu filho Wallage no meio.

Tal foto fora tirada há mais de um ano atrás, em seu planeta Nabi, antes de ser convocado para trabalhar nas campanhas de Gozma. Desde então, atuando como navegador da nave-mãe, Gaata viajou de um lado para outro da galáxia, conforme as ordens do Comandante Giluke.

Num momento de nostalgia, Gaata se lembra como foi o último jantar que teve com sua família, na noite antes de partir...

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FLASHBACK:

Em sua humilde casa no planeta Nabi, Gaata, Zole e Wallage estavam sentados à mesa, para o jantar.

- Vamos, Wallage, coma! – Zole segurava uma colher cheia de um vegetal verde, tentando fazer com que Wallage comesse.

Mas o teimoso garoto (que era muito parecido com seu pai, em aparência) se recusava:

- Não quero! – Wallage diz, cruzando os braços e fazendo birra. – Não gosto disso! Não vou comer!

Zole, gentil mas firmemente, insistia:

- Mas, filho, você precisa comer seus vegetais! Senão, não vai crescer e ficar forte como seu pai!

E Wallage continuava se recusando a abrir a boca.

Até que Gaata resolve intervir:

- Wallage, se você não comer, saiba que Satan Goss vai vir te pegar à noite!

Isso chamou a atenção de Wallage.

- Satan Goss?

- Sim, Satan Goss... – repete Gaata, num tom sinistro, tentando assustar seu filho. – Satan Goss é um demônio terrível, negro como a noite, e grandes olhos vermelhos que brilham na escuridão...

Notando que Wallage estava começando a ficar assustado, Gaata continua:

- Ele aparece bem de noite, quando todos estão dormindo... e devora as crianças fraquinhas...

- D-devora as crianças? – Wallage gagueja, tremendo de medo.

- Sim, mas somente as crianças fraquinhas, aquelas que não comem todo o seu jantar, e por isso não crescem. Já as crianças grandes e fortes, Satan Goss passa bem longe delas!

O resultado é imediato: Wallage rapidamente come os vegetais que sua mãe tentava lhe dar. Em pouco tempo, todo o prato de Wallage estava limpo.

Zole sorri para seu marido. Gaata sabia, melhor que ninguém, como lidar com seu filho.

- Papai... – chama Wallage, curioso. – A mamãe disse que, quando eu crescer, vou ficar forte como o senhor. Então o senhor não tem medo de Satan Goss?

Gaata dá uma gargalhada, e responde:

- Claro que não, filho! Seu pai não tem medo nenhum de Satan Goss!

FIM DO FLASHBACK

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Gaata suspira de saudades de sua família. Tinha vontade de chorar, ao pensar que passaria mais um sem-número de anos longe de casa, ajudando Gozma na conquista de mais um planeta longínquo, do qual ele nunca ouvira falar. Quem poderia imaginar que uma campanha militar de Gozma seria tão longa?

E, ironicamente, iria disputar tal planeta com ninguém menos que Satan Goss, o líder do Império dos Monstros. Ainda que nunca o tenha visto em pessoa, Gaata já ouvira o suficiente a seu respeito. Sabia como era terrível o grande Demônio Galáctico.

E não estava nem um pouco ansioso para conhecê-lo.

- Perdoe-me, Wallage... – Gaata comenta tristemente, em pensamento. – No final, seu pai também tem medo de Satan Goss...

E guarda o medalhão de volta no bolso.



(*01) Ideia baseada na obra “O complô de Giluke e Ahames contra Bazoo”, do autor Tripa_Seca, disponível na plataforma Spirit.

(*02) Ideia baseada na obra “O Grande Encontro”, que junta os eventos de Jaspion e Changeman, do autor Jirayrider_Decade, disponível nesta mesma plataforma Mindstormpro.

4 Comentários

  1. Outro grande episódio.

    Desta vez retratando o modo de pensar e agir de Giluke , que não deu condições para seus subordinados e ainda sim, exige vitória.

    O episódio também fala do dilema de Gaata, cada vez mais distante de Zolle e Wallage.

    O medo o paralisa.

    Uma coisa que curto é ver as emoções dos personagens.

    Aqui ficou claro.

    Parabéns por seu trabalho!

    Está matando a pau!!

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    1. Olá, Jirayrider. Você está certo em relação a Giluke e Gaata. Giluke sempre foi meio incompetente como comandante. Tanto que foi suplantado por Ahames, e só ficou mais esperto depois de se fundir ao Monstro Espacial Zadoz e virar Super Giluke. Já a saudade de Gaata de sua família é retratada várias vezes em Changeman (no episódio 27 inclusive, Zole atrai os heróis para uma armadilha, apenas para poder ficar junto de seu marido novamente).

      Também curto as cenas que mostram as emoções dos personagens. Tento trabalhar bem estas cenas, já que são elas que tornam a história mais visual, que aproximam mais os leitores dos personagens. Agradeço pelo comentário.

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  2. Interessante mostrar o ponto de vista do Gatta, já mostrando como seria a mudança de lado no futuro.

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    1. Agradeço pelo comentário, Norberto. Se, nos capítulos anteriores, os enfoques eram em Buba e Shima, neste é em Gaata. Estes três vilões mereciam ter suas histórias mais exploradas, então foram o foco desta primeira crônica do Tokuverso. Aliás, de todas as séries do Tokuverso, Changeman foi a que melhor explorou este lado dos vilões, dedicando vários episódios para mostrar suas histórias e dramas pessoais. Talvez pelo fato de que serviam Gozma porque eram forçados, e não por serem realmente maléficos.

      Obrigado por acompanhar minha obra.

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