Capítulo XV - A articulação do complô
Como não
poderia deixar de ser, a derrota da investida de Vyram elevou ainda mais a
moral de Gori perante a população de Épsilon. Foi um verdadeiro cala boca em
cima daqueles que tanto o criticam e acham que tal programa não passa de um
grande sorvedouro de recursos.
Determinada
hora, Gori, de seu gabinete, olha para o céu e lá vê a imagem de sua amada
Obez, assim como de seus filhos gêmeos. E, inevitavelmente, se emociona. Pela
expressão do rosto, percebe-se que Obez está orgulhosa de seu amado. Afinal,
graças aos esforços de seu amado, a incursão de Vyram foi repelida. “Você está
orgulhosa de mim né, Obez? Como sinto tua falta, querida... Um dia, tenho
certeza que a Ahames ainda vai pagar muito caro!”, diz Gori à imagem de sua
querida esposa cuja vida foi ceifada pela rainha de Amazo-Giraz.
Inevitavelmente, lágrimas de felicidade escorrem dos olhos de Gori.
Após o
fracassado ataque de Vyram, Gori resolveu passar para o próximo passo de seu
plano: o rearmamento do exército de Épsilon, a muito tempo sucateado. Como ele
vem falando há muito tempo, já está mais que na hora de Épsilon abandonar seu
pacifismo secular e usar-se de todo seu potencial tecnológico para criar um
exército poderoso, o exército mais poderoso que o cosmos já viu em milhões de
anos de história, que levará o estandarte do Planeta Épsilon e seu poder aos
quatro cantos do Universo!
Tal plano
seria acompanhado de um programa de redução das desigualdades sociais
existentes em Épsilon e a continuação de seu programa de obras públicas. Que,
como não poderia deixar de ser, recebeu a hostilidade dos opositores de sempre:
políticos velhacos representantes da velha ordem existente em Épsilon,
intelectualidade pacifista e imprensa tradicional. Todos eles acusando Gori,
mais uma vez, de gastar recursos em projetos onerosos e inúteis.
Entretanto, a
vitória sobre as forças comandadas por Radiguet não significou o fim do jogo
político em Épsilon entre Gori e os políticos venais que há tempos governam o
planeta. Pelo contrário, eles não vão se dar por vencidos tão cedo e, como
veremos mais abaixo, estão preparando uma nova jogada. Uma jogada para dar um
xeque-mate em Gori e derrubá-lo de uma vez por todas.
Ante a
situação, começa a se articular nas sombras da política de Épsilon um plano, que
envolve uma grande articulação entre os principais políticos do planeta dos
simióides visando derrubá-lo, sob a liderança dos demais senadores. “Gori está
indo longe demais com essa loucura”, certa vez disse na tribuna do senado o
mesmo Maymun com o qual Gori teve uma forte discussão meio ano antes.
O complô vai
mais além: o aparato repressivo de Épsilon, comandado em sua maioria por
pessoas que não vão com a cara de Gori, também resolve participar massivamente
em tal complô. Muito embora as forças armadas de Épsilon esteja há muito tempo
sucateadas, o mesmo não se pode dizer de seu aparato repressor. Afinal, ele é o
braço armado que sustenta o poder das elites que comandam o planeta Épsilon que
sempre é acionado quando levantes sociais ameaçam a posição senhorial delas.
Como não
poderia deixar de ser, a imprensa venal de Épsilon aderiu ao complô, e
manifestações massivas por parte dos pacifistas de plantão são convocadas nas
ruas. Os veículos comumente bradam palavras de ordem como as de que Gori
precisa ser deposto, ou do contrário ele tomará todo o poder para si e levará
Épsilon à ruína.
Foi questão
de tempo Gori ficar sabendo do complô que se articula contra ele, com vistas a
derrubar de sua posição. Gori prepara uma contraofensiva, e diante dessa encruzilhada
não resta outra escolha ao chimpanzé reumático a não ser tornar-se o governante
supremo de Épsilon!
Agora para
Gori é tudo ou nada: ou ele se torna o Grande Simiano de Épsilon (em outras
palavras, tomar para si o governo central de seu planeta natal) e conquista o
poder total em suas mãos, ou ele será derrubado de sua posição. Na verdade,
esse é o plano de Gori desde o início. Entretanto, ele pretendia fazer isso não
de uma tacada só, mas de passo em passo, em doses homeopáticas, até chegar ao
tão sonhado poder supremo.
O jogo
político em Épsilon se fecha, e agora é tudo ou nada: ou Gori toma o poder
total em suas mãos, ou ele é derrubado e preso. Em outras palavras, ou ele
aplica um xeque-mate nos políticos venais de Épsilon, ou quem tomará o xeque-mate
será ele.
Grandes
manifestações de ruas são convocadas por Gori para desbaratar o complô contra
ele. Isso ao mesmo tempo em que manifestações contrárias a ele também ocorrem.
E nisso o aparato repressivo de Épsilon é mobilizado contra os partidários de
Gori nas ruas primeiro.
Sob a
alegação de manutenção da ordem pública e de conter focos de violência, a
polícia de Épsilon prende muitos dos partidários de Gori e assim neutraliza as
manifestações a favor dele. E o curioso é que sob esse mesmo pretexto a polícia
não agiu da mesma maneira com os atos de baderna e violência perpetrados pelos
opositores de Gori.
Muitos dos
partidários foram presos nas prisões do planeta dos simióides e pegaram penas
pesadas sob o pretexto de perturbação da ordem pública de Épsilon. A punição
foi tão severa que alguns deles ficarão nas masmorras de Épsilon por mais de
cinco anos pela simples participação em tais manifestações.
Já os poucos
manifestantes a favor da queda de Gori que foram presos no máximo pegaram penas
leves que vão de seis a doze meses. Resumindo a ópera: dois pesos, duas
medidas. É evidente da forma mais cristalina possível que nesse caso houve toda
uma atuação politicamente enviesada da parte da polícia e dos aparatos
repressores (que são muito bons para reprimir tais levantes e motins, mas
inúteis quando invasores vindos do cosmos invadem o espaço de Épsilon), com a
óbvia intenção de beneficiar o lado contrário a Gori.
1 Comentários
A elite política de Épsilon tenta contra-atacar, tramando um golpe contra Gori.
ResponderExcluirSerá este o seu desterro?
Uma guerra civil se torna cada vez mais iminente.
Aguardemos!