Olá a todos. Trago aqui a vocês mais uma história que eu escrevi originalmente em 2012, uma história envolvendo o Doutor Man e o Grande Professor Bias, os vilões supremos dos seriados Super Sentai Bioman e Liveman, que como todos nós sabemos são inéditos no Brasil e fizeram muito sucesso na França. Espero que gostem.
Capítulo I - Bakumatsu: antepassados, o começo de tudo
Era uma vez dois grandes
gênios do mal, os quais se destacavam entre muitos outros que já passaram pela
face da Terra e do Universo. Seus nomes Doutor Man (vulgo Hideo Kageyama[1]), o líder do Novo Império
Gear, e o Grande Professor Bias (vulgo Šuiči Kitamura), o líder do Exército
Cerebral Armado Volt. Mas, nem sempre os dois, muito carismáticos e ao mesmo
tempo muito ardilosos, foram assim. Ambos nasceram no Japão no período entre as
duas Guerras Mundiais. Man em 1937 na cidade de Osaka e Bias em 1938 na cidade
de Fukušima.
Ancestrais de Man e Bias
lutaram juntos em episódios da história do Japão como as invasões mongóis (1274
e 1281), a invasão à Coréia sob a liderança de Hideyoši Toyotomi (1592 a 1598)
e a repressão ao levante cristão de Šimabara[2] (1638). Entretanto, durante
o Bakumatsu (guerra civil do final do
Período Tokugawa, c. 1853 – 1868), as duas linhagens lutaram em lados opostos
da contenda: o bisavô por parte do avô materno de Bias, Šigeru Kitamura, foi um
membro de médio escalão do Šinsengumi, um dos principais e mais ativos grupos
pró-Xogunato do conflito. Não raro Šigeru acompanhava altos membros do Šinsengumi
em suas missões, incluindo até mesmo os capitães das três primeiras divisões,
Soudži Okita, Šinpači Nagakura e Hadžime Saitou (futuro Gorou Fudžita), e o
líder supremo Isami Kondo.
A linhagem de Man, por
sua vez, também esteve presente nas lutas do Bakumatsu, mas do lado dos
monarquistas (em japonês Išin Šiši, “os leões da Revolução”), que eram a favor
de centralizar o poder nas mãos do imperador, que até então era uma figura mais
decorativa dentro da política japonesa, ao passo que o poder real cabia ao Šogun.
E um deles era um hitokiri
(retalhador) a serviço dos monarquistas. Seu nome Ičiro Kageyama, nativo de
Satsuma (um dos principais redutos monarquistas à época) e bisavô por parte da
avó paterna de Man. Sob as ordens de líderes monarquistas como Kogoro Katsura[3] e Takamori Saigo[4], Kageyama participou de
várias missões, em especial contra grupos a favor do Xogunato. Šigeru Kitamura
nasceu em Kyoto (à época capital do Japão e o grande reduto do Šinsengumi),
enquanto que Ičiro Kageyama nasceram em Osaka.
Era o ano de 1868. Um
enfrentamento entre os monarquistas e o Šinsengumi se deu em Aizu, a batalha de
Aizu, parte da guerra Bošin[5]. Durante a batalha de
Aizu, teve lugar um enfrentamento entre Šigeru e Ičiro. Ičiro resolveu desafiar
Saitou, mas Šigeru se interpôs em seu caminho, enfrentando o monarquista em seu
lugar. Uma sangrenta luta entre os dois teve início. Determinados, os dois
trocaram golpes por vários minutos, até que ao final Ičiro venceu o embate,
degolando-o ao final do embate. Meses mais tarde, Ičiro também foi morto por
outro retalhador das sombras dos monarquistas, cujo nome não ficou registrado
na história. Ou seja, um ano antes de a era Tokugawa chegar ao fim e da aurora
da Era Meidži (1868 – 1912), ambos morreram, mas não antes sem deixar descendência.
Muitos anos se passaram,
até que chegamos a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Nessa conflagração
global de proporções épicas, o Japão lutou no bloco do Eixo, ao lado da
Alemanha de Adolf Hitler e da Itália de Benito Mussolini. Após vários sucessos
iniciais em locais como a Manchúria, costa chinesa, Birmânia, Sudeste Asiático
e Indonésia, o Japão, a partir do final de 1941, entrou em guerra contra os
Estados Unidos na sequência do ataque a Pearl Harbor, e dai em diante passou a
sofrer uma série de revezes, até que em 1945 se rendeu após a intervenção
soviética na Manchúria, sul da ilha Sakhalin[6], ilhas Kurilas e norte da Coréia
e o bombardeio atômico perpetrado pelos EUA nas cidades de Hirošima e Nagasaki.
Nessa época Hideo tinha 8
anos e Šuiči, 7 anos. Ambos nasceram em famílias tradicionalistas e que não olhavam
com bons olhos o fato do Imperador Hirohito, por imposição das potências
vencedoras da guerra, ter abandonado o caráter divino de seu cargo e ter se
transformado em uma monarquia constitucional ao estilo ocidental (a exemplo de
países como Inglaterra, Suécia, Noruega e Holanda), além de se desapontarem com
a crescente ocidentalização dos costumes da população japonesa (embora isso
fosse algo que viesse desde a era Meidži e sua política de abertura ao Ocidente),
o abandono das velhas políticas imperialistas em voga desde a Era Meidži e o fato
de o Japão ter se transformado em um satélite dos EUA. O pai de Hideo, Džuniči
Kageyama, admirador de Stalin, Mao e Kim il-Sung, era favorável a uma maior
aproximação do Japão para com a China, a Coréia do Norte e a União Soviética.
Já o pai de Šuiči, Hideki Kitamura, acreditava que o melhor para o Japão seria
adotar um modelo próprio e um maior alinhamento com os países do bloco
não-alinhado, tais como o Egito de Nasser e a Indonésia de Sukarno. É nesse
ambiente tradicionalista de desapontamento para com os rumos que o Japão tomava
que nasceram e cresceram tanto Hideo quanto Šuiči.
[1] Leia-se Kagueyama, pois no japonês,
assim como em outros idiomas como o russo e o alemão, a partícula g,
independente da vogal que a segue, tem valor de g.
[2] A título de curiosidade, esse levante em questão, encabeçado pelo samurai cristão Širo Amakusa, serviu de inspiração a criação da trama da saga dos cristãos de Samurai X, que vai dos episódios 67 a 76 e que é exclusiva do anime. E que em minha humilde opinião é a melhor saga da terceira parte do anime de Samurai X. Širo Amakusa, por seu turno, serviu de inspiração para a criação de Šogo Amakusa, o principal antagonista do arco dos cristãos.
[3] Mais uma curiosidade: Kogoro Katsura
pode ser visto em Samurai X, tanto no mangá na saga da vingança quanto na
primeira série de OVAs, baseados nas memórias de Kenšin dos tempos do
Bakumatsu.
[4] Mais uma curiosidade, parte II,
Takamori Saigo, que foi um dos três principais artífices da Revolução Meidži
junto com Tošimiči Ookubo e Kido Takayoši, foi a figura histórica que serviu de
inspiração para a concepção do personagem Katsumoto do filme “O Último Samurai”
(2003), interpretado por Ken Watanabe e dublado no Brasil por Mauro Ramos.
Saigo que anos após a Restauração Meidži levantou-se contra o mesmo regime
Meidži que ele mesmo ajudou a erigir durante a Guerra Seinan (1877), no
sudoeste do Japão.
[5] Enfretamento final do Bakumatsu,
opondo de um lado os monarquistas e de outro grupos a favor do Xogunato como o
Šinsengumi, ocorrido no norte do Japão entre 1868 e 1869, depois que o
Imperador Meidži declarou sua intenção de abolir o Xogunato e impor o comando
direto da corte imperial. Os monarquistas saíram-se vencedores após vencerem os
últimos partidários do Xogunato em Hokkaido.
[6] Leia-se Sarralin, pois a partícula kh
(cirílico х) no russo, assim como em outros idiomas como o persa, o árabe e o
mongol, tem valor de rr.
1 Comentários
Uma nova saga relatando sobre o Doctor Man e Professor Bias, dois grandes vilões!
ResponderExcluirVamos ver o que você nos reserva!
Parabéns por mais esse trabalho!