O próprio Šuiči acabou
escrevendo uma biografia a respeito desse pitoresco personagem da história do
Japão que tanto o fascinava, o qual mesmo passado já quase um século de seu
falecimento os órgãos oficiais do governo nipônico e até mesmo a grande maioria
dos livros de história sobre o período ainda fazem questão de esconder sua
existência, no máximo o mencionando bem vagamente.
Nos próprios registros
da época a respeito de seu levante que ainda existem (incluindo arquivos
policiais de Kyoto e Tóquio, escritos por ninguém menos que os policiais Hadžime
Saitou/Gorou Fudžita e Kawadži), o próprio Šišio é tratado como um bandido
louco e inconsequente que ameaçava a paz e a prosperidade que o governo Meidži
trazia para o Japão em seus primeiros anos de existência. E até onde se sabe
mesmo seus antigos subordinados (alguns dos quais passaram a trabalhar para o
Estado Japonês após sua derrota) não deixaram em vida escritos a respeito de
suas passagens pelo Džuppongatana (ou
ao menos escritos que sobreviveram ao tempo e chegaram ao conhecimento dele). Como
diz o velho ditado, a história é escrita pelos vencedores, e o caso Šišio é
mais um bom e emblemático exemplo disso.
A respeito do naufrágio
de sua fragata Purgatório para um disparo de apenas três pequenas granadas de
mão, Šuiči acredita que antes mesmo do plano de Šišio ser posto em ação ela foi
sabotada pela mesma pessoa que a vendeu para o ex-monarquista, Eniši Yukiširo,
um comerciante nipônico de armas baseado em Šanghai que nutria um grande rancor
e ódio para cima do então oponente de Šišio, Kenšin Himura (o qual por sua vez
também deixou algumas memórias a respeito dos enfrentamentos de Šišio alguns
anos antes de vir a morrer), por este ter matado sua irmã mais velha, Tomoe
Yukiširo, por volta de 15 anos antes do levante de Šišio, ainda durante o Bakumatsu.
No entanto, Šuiči
discordava em um ponto essencial de seus inspiradores teórico-filosóficos, em especial
Spencer e Šišio: não são os mais fortes que devem governar a humanidade, e sim
os mais inteligentes e espertos. Em outras palavras, os gênios. Afinal, para se
vencer um combate, a inteligência pode ser tão ou mais decisiva que a força
bruta. Segundo a filosofia que Šuiči desenvolveu nesses anos todos, o mais
importante de tudo é o intelecto humano, que foi capaz de produzir inúmeras
obras ao redor do mundo. Ou seja, Šuiči almeja criar uma humanidade governada
por uma espécie de aristocracia do intelecto, valendo-se uma ênfase um tanto
diferenciada ao dos eugenistas anteriores e deixando fatores como raça e força
em segundo plano. Šuiči, como um bom discípulo do professor Tsugihara, ainda
acredita que não é a força que realmente dá o direito, e sim o conhecimento e a
inteligência. Mais precisamente, que não basta apenas a força, é preciso também
inteligência e conhecimento para isso.
Mas, segundo o próprio Šuiči,
ele sozinho não será capaz disso, e vê em Hideo a pessoa certa para ajudá-lo
nessa empreitada colossal. Hideo, por sua vez, possui alguns interesses tanto
em comum quanto em discordância de seu amigo, não tendo o mesmo interesse em
ciências humanas que Šuiči possui, muito embora tenha um grande fascínio por
Ciência Política, em especial os sistemas políticos monárquicos pré-modernos e
como as dinastias reinantes faziam para suceder um rei ou imperador após esse
morrer. Três leituras em especial lhe trouxeram grande fascínio: o “Mein[1] Kampf” (Minha Luta), do
ditador nazista Adolf Hitler (g. 1933 – 1945), o “O Príncipe” (Il Principe), do
filósofo político italiano dos séculos XV e XVI Niccolò Maquiavel e “O Leviatã”
(Leviathan) do filósofo político inglês do século XVII Thomas Hobbes. Assim
como Šuiči, Hideo também foi aluno do professor Tsugihara, e também nutria
simpatia por suas ideias, mas nem tanto quanto Šuiči.
Além de Ciência
Política, Hideo também tinha grande fascínio por Física, Química e Robótica. Hideo
também tenha o mesmo o ranço em relação aos seres humanos, mas nem era tão
ambicioso quanto Šuiči. Mas, com o tempo e o convívio, as ambições de Hideo
igualmente cresceram, e os dois começaram a traçar planos conjuntos de
dominação mundial entre si. Segundo esses planos, depois de conquistada a
Terra, esta seria dividida entre os dois, que reinariam absolutos a partir de
então. Para isso iniciaram uma série de experimentos dos mais variados,
incluindo a criação de projetos de máquinas robóticas e naves espaciais.
[1] Leia-se Main, pois no alemão, assim em
idiomas como no inglês e norueguês, a partícula ei tem valor de ai.
1 Comentários
As inspirações filosóficas podem inspirar tanto para o bem , quanto para o mal.
ResponderExcluirEsse cuidado é importante pois podemos nos tornar obcecados e fanáticos por certas verdades ditas.
No caso de Man e Bias, parece que foi o que ocorreu.