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Man e Bias, os dois gênios a serviço do mal (Capítulo III)

                                                Capítulo III - Inspirações filosóficas

O próprio Šuiči acabou escrevendo uma biografia a respeito desse pitoresco personagem da história do Japão que tanto o fascinava, o qual mesmo passado já quase um século de seu falecimento os órgãos oficiais do governo nipônico e até mesmo a grande maioria dos livros de história sobre o período ainda fazem questão de esconder sua existência, no máximo o mencionando bem vagamente.

Nos próprios registros da época a respeito de seu levante que ainda existem (incluindo arquivos policiais de Kyoto e Tóquio, escritos por ninguém menos que os policiais Hadžime Saitou/Gorou Fudžita e Kawadži), o próprio Šišio é tratado como um bandido louco e inconsequente que ameaçava a paz e a prosperidade que o governo Meidži trazia para o Japão em seus primeiros anos de existência. E até onde se sabe mesmo seus antigos subordinados (alguns dos quais passaram a trabalhar para o Estado Japonês após sua derrota) não deixaram em vida escritos a respeito de suas passagens pelo Džuppongatana (ou ao menos escritos que sobreviveram ao tempo e chegaram ao conhecimento dele). Como diz o velho ditado, a história é escrita pelos vencedores, e o caso Šišio é mais um bom e emblemático exemplo disso.

A respeito do naufrágio de sua fragata Purgatório para um disparo de apenas três pequenas granadas de mão, Šuiči acredita que antes mesmo do plano de Šišio ser posto em ação ela foi sabotada pela mesma pessoa que a vendeu para o ex-monarquista, Eniši Yukiširo, um comerciante nipônico de armas baseado em Šanghai que nutria um grande rancor e ódio para cima do então oponente de Šišio, Kenšin Himura (o qual por sua vez também deixou algumas memórias a respeito dos enfrentamentos de Šišio alguns anos antes de vir a morrer), por este ter matado sua irmã mais velha, Tomoe Yukiširo, por volta de 15 anos antes do levante de Šišio, ainda durante o Bakumatsu.

No entanto, Šuiči discordava em um ponto essencial de seus inspiradores teórico-filosóficos, em especial Spencer e Šišio: não são os mais fortes que devem governar a humanidade, e sim os mais inteligentes e espertos. Em outras palavras, os gênios. Afinal, para se vencer um combate, a inteligência pode ser tão ou mais decisiva que a força bruta. Segundo a filosofia que Šuiči desenvolveu nesses anos todos, o mais importante de tudo é o intelecto humano, que foi capaz de produzir inúmeras obras ao redor do mundo. Ou seja, Šuiči almeja criar uma humanidade governada por uma espécie de aristocracia do intelecto, valendo-se uma ênfase um tanto diferenciada ao dos eugenistas anteriores e deixando fatores como raça e força em segundo plano. Šuiči, como um bom discípulo do professor Tsugihara, ainda acredita que não é a força que realmente dá o direito, e sim o conhecimento e a inteligência. Mais precisamente, que não basta apenas a força, é preciso também inteligência e conhecimento para isso.

Mas, segundo o próprio Šuiči, ele sozinho não será capaz disso, e vê em Hideo a pessoa certa para ajudá-lo nessa empreitada colossal. Hideo, por sua vez, possui alguns interesses tanto em comum quanto em discordância de seu amigo, não tendo o mesmo interesse em ciências humanas que Šuiči possui, muito embora tenha um grande fascínio por Ciência Política, em especial os sistemas políticos monárquicos pré-modernos e como as dinastias reinantes faziam para suceder um rei ou imperador após esse morrer. Três leituras em especial lhe trouxeram grande fascínio: o “Mein[1] Kampf” (Minha Luta), do ditador nazista Adolf Hitler (g. 1933 – 1945), o “O Príncipe” (Il Principe), do filósofo político italiano dos séculos XV e XVI Niccolò Maquiavel e “O Leviatã” (Leviathan) do filósofo político inglês do século XVII Thomas Hobbes. Assim como Šuiči, Hideo também foi aluno do professor Tsugihara, e também nutria simpatia por suas ideias, mas nem tanto quanto Šuiči.

Além de Ciência Política, Hideo também tinha grande fascínio por Física, Química e Robótica. Hideo também tenha o mesmo o ranço em relação aos seres humanos, mas nem era tão ambicioso quanto Šuiči. Mas, com o tempo e o convívio, as ambições de Hideo igualmente cresceram, e os dois começaram a traçar planos conjuntos de dominação mundial entre si. Segundo esses planos, depois de conquistada a Terra, esta seria dividida entre os dois, que reinariam absolutos a partir de então. Para isso iniciaram uma série de experimentos dos mais variados, incluindo a criação de projetos de máquinas robóticas e naves espaciais.


NOTA:

[1] Leia-se Main, pois no alemão, assim em idiomas como no inglês e norueguês, a partícula ei tem valor de ai.


 

1 Comentários

  1. As inspirações filosóficas podem inspirar tanto para o bem , quanto para o mal.

    Esse cuidado é importante pois podemos nos tornar obcecados e fanáticos por certas verdades ditas.

    No caso de Man e Bias, parece que foi o que ocorreu.

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