Olá,meus amigos!!!
Este
é Descanse em paz, um texto escrito em uma tarde sem nada para fazer. O texto
nasceu de uma reflexão sobre poder e felicidade. Acabou virando uma história de
horror sobrenatural.
Sinopse
Lázaro está inconformado por ter que ir ao enterro de um de
seus funcionários, quando houve uma estranha voz vinda do cemitério, que o leva
de encontro a um destino terrível…
Descanse
em paz
Lázaro
estava indignado, como um desgraçadozinho qualquer podia lhe causar tanta dor
de cabeça. Tudo que o imbecil tinha de fazer, era tomar conta do depósito, quem
lhe deu o direito de ter um ataque cardíaco e morrer durante a noite. Agora ele
“Lázaro Monteiro”, deputado e um dos fazendeiros mais ricos da pequena cidade
de Boa Esperança, tinha de comparecer ao velório de um pé rapado. Se não fosse
véspera de eleição, ele estaria dormindo em sua cama confortável, ou fazendo
amor com uma de suas muitas amantes, que formavam um tipo de coleção, da qual
ele se gabava com os “amigos” (Lázaro não confia em ninguém). Tudo era muito
chato, os familiares e os amigos do morto chorando inconsoláveis, e ele fazendo
de tudo para não dar uma gafe, pois nem mesmo sabia o nome do miserável. A
única coisa que o deixava animado, era a jovem e bela viúva, da qual ele não
desgrudava. Sozinha no mundo, com três filhos para criar, não demoraria muito,
e Lázaro a tornaria mais um item para a sua coleção.
-
Descanse em paz! – Lázaro ouviu uma voz tristonha e envelhecida pronunciar.
Um
arrepio de frio correu pela espinha de Lázaro, ele no entanto preferiu ignorar,
não devia ser nada, talvez até mesmo fosse um truque de sua mente cansada
aquela hora da madrugada.
-
Descanse em paz! – mais uma vez Lázaro ouviu.
Lázaro
sentiu seu coração bater mais rápido, um medo descontrolado tomava conta de seu
ser.
-
Qual é o problema, meu velho! Deu pra ouvir coisas! – Lázaro disse a si mesmo.
-
Está tudo bem? – a viúva perguntou a Lázaro.
-
É claro querida, não se preocupe! – Lázaro pegou suavemente as mãos da viúva e
carinhosamente as beijou, olhando no fundo de seus olhos, ele percebeu então
que ela estremecera por dentro.
Lázaro
era jovem, tinha trinta e dois anos, com cara de vinte e poucos, porte
atlético, pele clara, olhos azuis, cabelos castanhos curtos penteados para
trás, do tipo que era difícil para uma mulher resistir, ainda mais quando punha
sua máscara e era tão atencioso e gentil. Lázaro sabia disso e era uma das
coisas de que mais se orgulhava, seu dom de conquistar as pessoas e fazer com
que elas o seguissem como se ele fosse um tipo de deus.
-
Descanse em paz! – mais uma vez Lázaro ouviu.
Lázaro
já não podia mais ignorar. Tinha que saber de quem era aquela voz que ele sabia
não vir da pequena capela, mas de dentro do humilde cemitério que ficava ao
lado. Tentando conter sua irritação com aquela estranha voz, Lázaro pediu
licença, dizendo que iria ao banheiro, se retirou da Capela, e quando percebeu
que ninguém o olhava, se aventurou no cemitério.
-
Descanse em paz! – mais uma vez Lázaro ouviu.
Lázaro
estava nervoso, aquilo só podia ser uma brincadeira de mal gosto, e ele
trataria pessoalmente para que o responsável fosse punido. Ele pagaria por
fazê-lo entrar naquele cemitério imundo de pobre, que ele tanto odiava. Deu uma
risadinha de deboche, ao pensar que o defunto que a pouco velava, seria
enterrado ali. Lázaro queria ser enterrado em um cemitério na cidade ao lado,
onde descansam as almas das mais altas figuras da sociedade. Um lugar bem
diferente daquele simples cemitério, onde muitos sequer tinham uma lápide
descente, e sim dois pedaços de madeira amarrados em cruz.
-
Descanse em paz! – mais uma vez Lázaro ouviu.
Dessa
vez, Lázaro estava bem perto da origem da voz, e logo avistou um velho senhor,
que reconheceu como sendo zelador e coveiro do pequeno cemitério, parado diante
de uma sepultura simples, que possuía uma cruz feita de paus amarrados e uma
plaquetinha pendura nela, com um nome escrito que a escuridão não lhe permitia
ler.
-
O que está fazendo aqui, meu senhor? – Lázaro perguntou irado.
-
Estou tentando fazer com que essa alma infeliz aqui enterrada tenha sossego!
Descanse em paz! – o velho voltou a repetir sem nem mesmo olhar para Lázaro.
Lázaro
sorriu, o velho era louco, imaginou então que seria divertido interrogá-lo.
-
E quem está enterrado ai, algum amigo seu? – Lázaro perguntou em deboche.
-
O homem enterrado aqui não tinha amigos, nunca confiou em ninguém, sua vida
inteira tudo o que fez foi usar e magoar as pessoas, muitos tinham ódio dele.
Descanse em paz! – o velho repetiu sem dar atenção a Lázaro.
-
E ele não tinha família? – Lázaro continuou com a brincadeira.
-
Sim, foi casado varias vezes e teve muitos filhos, tinha muitas amantes, mas
ele nunca se importou com ninguém, nunca amou ninguém, e um homem que não
consegue amar, não pode ser amado. Descanse em paz!
-
Então quem está enterrado ai foi uma péssima pessoa, não foi? – Lázaro quase
não podia conter o riso.
-
Foi, enganou e prejudicou muita gente.São tantas pessoas com ódio dele, que sua
alma agoniza todos os dias. Descanse em paz!
-
Se ele pelo menos tivesse tido dinheiro, mesmo com tudo isso, teria tido uma
vida feliz e estaria enterrado num lugar muito mais descente. – Lázaro estava a
ponto de começar a gargalhar.
-
Ele teve muito dinheiro, foi deputado, tinha muitas fazendas, por muito tempo
dinheiro não faltou a ele. Descanse em paz!
-
E como ele acabou desse jeito, deve ter sido um imbecil?! – Lázaro deu uma
risada de deboche.
-
Ao contrário do que você pensa, o dinheiro não fez esse homem feliz, conforme
foi envelhecendo, a vida promiscua que levava, o fez adquirir diversas doenças.
Ele já estava velho, as mulheres não mais o queriam, a não ser as prostitutas
que ele pagava, e ainda assim, tinham nojo do homem viu que era, ele percebia
isso nos olhos delas. Logo a doença o deixou debilitado demais para os prazeres
da carne, e lhe restava apenas à bebida, aos poucos ele foi perdendo tudo. Como
se fosse um castigo de Deus, a doença o acompanhou e o fez sofrer por anos, e
não o matou. Descanse em paz!
-
Se a doença não o matou, como foi que ele morreu?
-
Ele não suportava mais a vida. Havia se tornado um indigente, odiado por todos,
sem mais nenhuma sombra de seu antigo orgulho. Um dia o desespero atingiu seu
ápice, e ele se matou. Depois da morte, ele não encontrou a paz, e sua mente
volta ao passado e ele vive em um mundo de ilusões onde ainda é um homem
importante e jovem. Todas as noites devo vir até sua sepultura para que ele
possa acordar de seus sonhos e voltar a descansar, treze vezes devo dizer:
“Descanse em paz”!
-
E qual era o nome desse infeliz?
-
Lázaro! – o velho respondeu e olhou para Lázaro, que só então notou que o homem
não tinha olhos.
Lázaro
olhou para a cruz de madeira, e um estranho vento soprou e lá estava seu nome.
Sua barba começou a crescer e se tornar branca de idade, mas escurecida pela
sujeira, suas roupas se tornaram velhas e rasgadas, e ao olhar suas mãos, as
viu se enrugarem, e seus pulsos explodiram sangue em seu rosto, revelando dois
cortes profundos.
-
Não! Velho maldito! Eu não quero me lembrar, pare com isso! – Enfurecido o
velho espectro de Lázaro gritou.
-
Seu lugar não é mais nesse mundo, Lázaro! Descanse em paz! – o velho pronunciou
pela ultima vez.
Lázaro
foi sugado de volta pra seu tumulo.
FIM
por: Jeremias
Alves Pires
4 Comentários
Grande Jeremias !
ResponderExcluirQue tapa na cara !!!!
Que soco no estômago !
Uma alma penada ,presa na ilusão da soberba e da arrogância.
O plano astral tem formas de trabajar e o encontro com a verdade é algo dolorido.
Que o iracundo Lázaro reflita, mude e descanse em paz...
Se superou ,Jeremias!
Aplaudo de pé!
Opa, meu amigo. Muito obrigado... Fiquei sem palavras... Vamos usar a Mind para mudar o mundo...Vamos por as pessoas para pensar
ResponderExcluirEsse conto foi muito bem narrado e escrito.
ResponderExcluirVocê conseguiu destacar como Lázaro é um humano desprezível, dessa forma logo o leitor compra qualquer que seja a punição pela qual ele passará e o horro do texto vai numa crescente perfeita, começando com os "descanse em paz" quase como num sussurro para explodir na cena final.
Mandou bem demais! Parabéns!
Muito, obrigado, meu caro. Misturar terror com crítica sociais costuma render bons textos.
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